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2. A PARTICIPAÇÃO DO UTILIZADOR E A PRODUÇÃO DE CONTEÚDO NAS

2.2. A produção de conteúdo nas webrádios

2.2.1. A produção de conteúdo sonoro-verbal

2.2.1.2. A sonoplastia

Bourriaud (2007) em seu livro sobre pós-produção nas artes, em que trata de processos como processos sobre material gravado como montagens, a inclusão de outras fontes de voz (como a voz em off) ou de imagem (como subtítulos), aponta algumas obras de arte que podem ser geradas pelo processo da pós-produção, como, por exemplo, o conteúdo produzido pela mixagem dos DJs, que encadeiam músicas, mixando-as e com isso criando uma nova obra, que é o set, obra que é percebida como uma unidade singular e que traz o seu recorte pessoal para as obras de outros que inseriu em sua obra. Van Haandel (2009, p.91) afirma que esta ação também ocorre nas transmissões que são baseadas na tecnologia streaming, entre elas a webrádio, em que na produção de conteúdo é feita a apropriação de obras produzidas por terceiros como músicas, jingles, espotes, efeitos etc.

De acordo com Van Haandel (2009, p.91),

"o produtor [de conteúdo para as transmissões baseadas na tecnologia streaming] traz a sua visão de mundo, seu conhecimento, suas experiências, que são colocadas no tom de voz, na seleção musical e nas mixagens do conteúdo sonoro. O sonoplasta tem seu trabalho análogo ao DJ enquanto o locutor tem o seu trabalho análogo ao do MC. Enquanto o DJ 'enlaça' o repertório musical, o MC improvisa textos para transmitir para a audiência. O trabalho conjunto dos dois gera uma obra só. Da mesma forma, o sonoplasta 'enlaça' músicas enquanto o locutor improvisa textos. Contudo, é necessário lembrar que nos dias atuais a função do sonoplasta e do locutor é feita por um único radialista, o loco-operador".

Dunaway (2000, p.35-36) afirma que na produção de áudio e de rádio há um grande efeito da tecnologia digital na gravação, processamento, edição e mixagem, em que as etapas fundamentais continuam as mesmas (como, por exemplo, a sonorização de uma faixa e a checagem de pontos iniciais e finais e do volume), mas que há uma reposição dos elementos estéticos, como, por exemplo, a manipulação dos blocos de continuidade e de realidade dos programas. O suporte digital oferece, por meio da interface gráfica, controles para a manipulação não linear do conteúdo, o que possibilitou um novo cenário na construção da programação de uma emissora de rádio a partir da década de 1990.

No quadro atual da rádio as emissoras operam a sonoplastia utilizando os recursos da digitalização de dados, com o seu acervo musical em arquivos bitstream (popularmente conhecidos como ‘mp3’), o que possibilitou a automação de sua programação. Em outras palavras, as emissoras de rádio passaram a utilizar o computador para operar a sonoplastia de suas transmissões. A automação trouxe diversas vantagens para os radialistas, entre elas o fácil acesso ao todo o banco de dados da emissora, a otimização da sonoplastia pelo uso do computador e a rápida atualização da base de dados46.

Por outro lado a automação da programação das emissoras levou ao quadro relatado por Kischinhevsky (2008) no qual profissionais são demitidos e substituídos pela máquina, que ocupa os espaços vazios deixados pela ausência dos radialistas realizando a sonoplastia musical automática, no qual são exibidas músicas e vinhetas, estas últimas servindo como uma referência icônica da presença do radialista. Outro ponto negativo é que a automação do material de áudio que vai ao ar deixou o radialista menos atento e dedicado ao conteúdo que vai ao ar. Antes ele tinha que estar concentrado para realizar, com a sua agilidade, a sonoplastia de long plays, compact discs, mini-discs e cartucheiras. Com a automação muitas vezes toda a programação vem programada, fazendo com que o loco-operador apenas tenha o

46 Em relação ao universo da sonoplastia também tem que ser observado a questão da base de dados da emissora. Ela se refere ao conteúdo musical que a emissora possui, a qual é exibida no ar por meio da sonoplastia. Esta base consiste na discoteca da emissora, na qual são arquivados os seus conteúdos. Hoje esta discoteca é virtual, pois o acervo, que antes era em LP e depois passou a ser em CD, foi digitalizado para os computadores da emissora e salvo em arquivos compactados de acordo com a lógica de arquivamento da emissora, que pode, por exemplo, organizar o conteúdo musical por pastas por ordem alfabética ou por género musical.

trabalho de abrir e fechar o microfone para fazer a locução. A programação pode também não vir programada previamente, fazendo que seja feita pelo loco-operador durante o seu horário de irradiação de conteúdo, podendo ser tanto bem pesquisada, com o sonoplasta olhando as diversas opções da base de dados da emissora, ou apresentar, por exemplo, sequencias de músicas com artistas de mesmo nome, o que pode sugerir que ele não pesquisou nada e apenas colocou as primeiras opções que apareceram para ele ao consultar a base de dados.

Neste cenário atual a sonoplastia do rádio é facilitada pelos recursos do suporte digital, que possibilitam uma segurança na colagem dos elementos, pois os processos são automatizados, e uma otimização em relação ao acesso, pois todo o material fica disponível na máquina na qual o radialista trabalha, o que possibilita um acesso muito mais fácil a um determinado conteúdo que procura. Além disso, para a pesquisa de material, o suporte digital permitiu também uma otimização do trabalho, graças às várias fontes de informação disponíveis pela Internet, sejam websites, wikis ou softwares como a Last FM, que possibilitam o fornecimento de informações preciosas para a operacionalização da emissora, como, por exemplo, biografias de cantores, fofocas sobre artistas ou informações sobre as canções que dominam as paradas de sucesso no seu país e em outros.

A edição de conteúdo, outro ato de sonoplastia, o qual é feito geralmente fora do estúdio de locução, na cabine de gravação de peças publicitárias, também sofre alteração com a popularização dos recursos digitais. As edições, que eram lineares em fitas de rolo, e mais no mini-disc (MD), passaram a ser não-lineares nos computadores, o que facilitou o trabalho do técnico de gravação de estúdio. Pode-se gravar previamente as locuções com o locutor da emissora, aplicar efeitos para a distorção ou melhoramento da qualidade da voz, escolher um BG na sua ampla discoteca virtual (muitas vezes partilhada com a discoteca dos radialistas da cabine de locução), mixar os elementos e desfazer algum elemento ou parte da mixagem que não tenha ficado bom. Antes da inserção dos computadores o trabalho não podia ser editado uma vez que tivesse sido misturado, com a edição não linear o ato tornou-se possível.