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3. A METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO

3.5. Técnicas de análise de dados utilizadas

3.5.1. Análise das ações observadas

O primeiro tipo de análise das técnicas de recolha de dados utilizados na presente pesquisa será utilizado para as ações das observações diretas, nas quais são feitas a observação não-participante e a observação participante, e da observação indireta por meio de entrevista.

Quivy e Van Campenhoudt (2008, p.226-227) afirmam que

“a análise de conteúdo em ciências sociais não tem como objectivo compreender o funcionamento da linguagem enquanto tal. [...] É sempre para obter um conhecimento relativo a um objecto exterior a eles mesmos. Os aspectos formais da comunicação são então considerados indicadores da atividade cognitiva do locutor, dos significados sociais ou políticos do seu discurso ou do uso social que faz da comunicação".

Wimmer e Dominick (apud Rosales, 2013, p.254) a análise de conteúdo, quando percebida como uma técnica, é empregada nos estudos sobre media devido a algumas vantagens como ser útil na descrição do conteúdo, possibilitar o tese de hipóteses de características de mensagens, comparar o conteúdo investigado com o ‘mundo real’, possibilitar o acesso a imagens de grupos na sociedade e estabelecer um ponto inicial para os estudos dos efeitos dos media na sociedade.

A análise de conteúdo, de acordo com Quivy e Van Campenhoudt (2008, p.227) é dividida em duas categorias, a análise de conteúdo quantitativos e os métodos qualitativos, em que a primeira é extensiva (incluindo a análise de muitas informações sumárias e a apresentação de informações de base com a frequência da emergência de determinadas características ou da correlação entre elas) e a segunda é intensiva (com uma análise de poucas informações, as quais se apresentam de forma complexa e são pormenorizadas, e a apresentação de informação de base em que é observada a presença ou não de determinada característica e como os elementos do que é relatado estão relacionados uns com os outros). Recomenda-se,

na presente pesquisa, a análise de dados quantitativa para os dados recolhidos pela observação não-participante, a qual trabalha com diversas respostas, e a análise qualitativa para a observação participante e a entrevista, o que será pormenorizado mais adiante.

Quivy e Van Campenhoudt (2008, p.228-229) citam que as três grandes categorias de análise são a temática, que revela as representações sociais ou os juízos dos indivíduos de acordo com o que é apresentado em seu discurso (dividida em análise categorial e análise da avaliação); a formal, que incide sobre as formas e os encadeamentos do que é investigado (dividida em análise de expressão e análise da enunciação); e a estrutural, que analisam como os elementos da mensagem estão dispostos (dividida em análise de coocorrência e análise estrutural propriamente dita). Gil (1999, p. 90-91) afirma que um dos aspetos que depende a qualidade de uma investigação científica é da mensuração dos dados que foram empregados. Ele explica que a mensuração é sempre feita por comparação, sendo simples para variáveis físicas e complexas para variáveis sociais, pois torna-se complicada a medição de conceitos abstratos, o que implica o uso de uma série de operações, como a definição de conceitos, dimensões e indicadores e também uma escala apropriada, composta de valores ordenados entre dois pontos, um inicial e outro final, estabelecendo entre eles valores intermediários e que deve apresentar dois requisitos básicos, fidedignidade e validade. O primeiro trata da capacidade de discriminação de forma constante entre um valor e outro. O segundo trata da capacidade de realizar medições reais das qualidades as quais foi construída.

Para a realização da análise de conteúdo seguimos os passos da crítica histórica, dividida em duas etapas, interna e externa de documentos, como descritas por Saint-Georges (2005). A crítica interna do documento é uma fase de análise na qual

“trata-se simplesmente de efectuar uma leitura atenta do texto, procurando compreende-lo em profundidade para apreender o seu sentido preciso. É o que se chama interpretar o texto. [...] Após esta leitura pormenorizada [...] realizamos um inventário de declarações e das questões que formulamos a propósito destes documentos. Essas questões visam o que é dito, o significado de certas passagens, os pormenores apresentados, as possibilidades de deformações voluntárias ou inconscientes, em suma qualquer indício que possa eventualmente permitir provar - ou, em qualquer caso, verificar - as informações contidas no documento, a fonte desse documento e a qualidade dessas observações, dado que, com efeito, essas

questões irão alimentar a investigação das duas fases seguintes” (Saint- Georges, 2005, p.42-43)102.

Já a crítica externa ou crítica de testemunha é, de acordo com Saint-Georges (2005, p.43) uma fase de análise na qual "o que vai ser examinado já não é a mensagem, o texto, mas os aspectos materiais do documento". O autor (2005, p.43) cita que este ato serve para ver, por exemplo, se o material não é uma montagem adulterada, ou editada etc; ou seja, vê as qualidades do material investigado.

Para a análise das ações observadas são aplicados três diferentes tipos de análise, cada uma destinada a uma técnica de recolha adotada. A análise categorial é utilizada para a observação não participante, a análise da expressão é utilizada para a observação participante e a descrição simples é utilizada para a entrevista.

A observação não participante recolhe informação dos dados das postagens dos utilizadores das emissoras investigadas. As informações recolhidas são na casa da dezena ou centena de postagens, por isso sugere-se uma análise que leve em conta a quantidade destes dados. Para analisar os dados da observação não participante sugere-se a utilização da análise categorial, a qual “consiste em calcular e comparar as frequências de certas características [...] previamente agrupadas em categorias significativas. […] O procedimento é essencialmente quantitativo" (Quivy e Van Campenhoudt, 2008, p.228). No caso da presente investigação calcula-se e compara-se a frequência das postagens realizadas pelos utilizadores e pelos produtores da webrádio, organizando-as em categorias significativas, o que pode ser visto no capítulo 4.

A observação participante recolhe informação sobre a resposta do radialista para o estímulo do investigador, que no caso desta presente investigação é também uma postagem (como, por exemplo, um pedido musical). Para analisar os dados da observação participante sugere-se a utilização da análise da expressão, a qual

"incide sobre a forma da comunicação, cujas características [...] facultam uma informação sobre o estado de espírito do locutor e suas tendências ideológicas" (Quivy e Van Campenhoudt, 2008, p.228-229).

No caso da presente pesquisa, a análise verificará apenas se o radialista responde ao estímulo e quanto tempo o radialista levou para responder ao

102 Saint-Georges (2005, p.43) lembra que "[...] a análise de conteúdo (pelo menos sob algumas formas) é um dos instrumentos da crítica interna. No entanto, é também, evidentemente, uma técnica de investigação em si quando visa explorar as fontes documentais, insistindo particularmente no seu caracter de 'emanações sociais'".

investigador. A razão desta ação é a limitação do que pode ser visto na observação, pois nas redes sociais apenas verifica-se o que é postado, podendo-se circunscrever esta postagem no cenário em que ela foi criada e partilhada. Deste tipo de recolha obtém-se as ações dos radialistas, mas é importante para a compreensão do que é partilhado também observar o contexto em que a mensagem está inscrita, ação que também deve ser feita na recolha e análise.

Para a entrevista, segundo Albarello (2005, p.63), “o tratamento de dados tem [...] por finalidade fornecer ao investigador [a] distanciação indispensável em relação ao que é dito para chegar a reconstruir o que é”.

Há vários modos de analisar uma entrevista. Sugere-se utilizar uma descrição simples (straight description) daquilo que foi dito, um dos três tipos de objetivos em relação ao tratamento das entrevistas citadas por Shatzman e Strauss (apud Maroy, 2005, p.119), na qual utiliza-se uma teoria existente na disciplina para elaborar um esquema de análise a priori que possibilite realizar a classificação do material, destacando segmentos que correspondem aos conceitos e 'categorias' da teoria (na presente investigação, correspondente ao modelo de análise), tendendo a articulá-los na lógica desta teoria.

Ruquoy (2005, p.90) nos lembra que

“independentemente da própria situação de entrevista e das influências recíprocas entre os interlocutores, vemos que qualquer discurso deve ser considerado pelo que é: enquanto meio de apreender práticas, fornece uma imagem do real correspondente à percepção selectiva que o locutor tem dele; na apreensão das representações, está ligado ao grau de expressão do locutor e às capacidades que o entrevistador tem para levar o interlocutor a falar, de modo a exprimir com o máximo de exactidão o que realmente pensa”.

Maroy (2005, p.119) esclarece que

“a operação básica de uma análise qualitativa de materiais de entrevistas consiste essencialmente em descobrir 'categorias', quer dizer, classes pertinentes de objectos, de acções, de pessoas ou de acontecimentos. Seguidamente, trata-se de definir as suas propriedades específicas e de conseguir construir um sistema ou um conjunto de relações entre as classes. Esta operação pode, evidentemente, assumir aspectos diferentes, consoante os objectivos atribuídos à análise”.

A utilização de perguntas abertas, como é o caso da presente pesquisa, traz um desafio a mais. Ela faz “o seu apuramento [ser] mais complexo, uma vez que implica uma fase prévia de pré-codificação” (Albarello, 2005, p.53), por outro lado traz toda a ótica do inquirido sobre aquilo que ele disserta, que no caso da presente

pesquisa é muito útil por ser um relato de um universo no qual o investigador não pertence.