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3. A METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO

3.6. A operacionalização da pesquisa

No presente tópico é apresentado a operacionalização desta pesquisa de doutoramento. Nela são descritas as ações feitas para o desenvolvimento dos trabalhos. Cada uma será pormenorizado nos tópicos a seguir103.

A primeira ideia para a investigação doutoral era a pesquisa das estratégias de empowerment dos utilizadores de rádio em linha que operam em um contexto transmedia. A primeira etapa da investigação foi a elaboração da pergunta de partida, a qual foi feita com a supervisão do tutor desta presente pesquisa e a partir dela toda a pesquisa foi estruturada. Esta pergunta foi reformulada três vezes durante a pesquisa para relacionar os conceitos fundamentais da presente investigação. No primeiro momento envolvia estratégias de empowerment do utilizador e produção da webrádio que opera no cenário transmedia; foi reformulada para relacionar a participação em linha do utilizador e a produção da webrádio que opera no cenário transmedia; e, por fim, foi reformulada para relacionar a participação em linha do utilizador e a produção da webrádio em geral, seja transposta ou nativa.

O passo seguinte foi a realização da revisão de literatura, a qual foi realizada durante o primeiro e o segundo ano de desenvolvimento da pesquisa doutoral. O conteúdo desta revisão pode ser vista nos capítulos 1,2 e 3.

Após a elaboração da pergunta de partida e o início da elaboração da revisão bibliográfica foram iniciadas as entrevistas exploratórias ainda no ano letivo de 2011/2012 e que foi continuada até o início do ano letivo de 2012/2013. Os interlocutores que foram abordados são aqueles que Quivy e Van Campenhoudt (2008, p.71) classificam como dois grupos distintos: docentes, investigadores e peritos no domínio da investigação relacionado pela questão inicial; e testemunhas privilegiadas, as quais são entendidas como pessoas que conhecem bem o problema, por pertencer ao público no qual a investigação aborda ou ser exterior a este público, mas bastante relacionado com ele. Foram escolhidos docentes de rádio, que correspondem ao primeiro grupo citado, e profissionais do rádio, que correspondem ao segundo grupo. A partir do diálogo com professores de rádio e radialistas exploram- se mais dados sobre a problemática da pesquisa esclarecendo possíveis dúvidas

existentes. Esta ação já foi iniciada com a exploração de depoimentos sobre a participação ou empowerment do utilizador nas webrádios e de sugestões de emissoras que possam servir como exemplos deste cenário comunicativo. Como resultado destas entrevistas exploratórias o conceito do empowerment do usuário foi substituído pela participação em linha do utilizador. Isto aconteceu após conversas com profissionais acadêmicos e do rádio, que alertaram que talvez um empowerment não seja possível no universo da webrádio, mas que a participação em linha do utilizador era um fenômeno real que poderia ser observado e analisado. Ou seja, o conceito de empowerment do usuário pode apresentar dificuldades de observação, mas o conceito participação do utilizador traz elementos que são mais visíveis como fenómenos sociais.

Durante a período de desenvolvimento do projeto de tese (entre fevereiro e junho de 2012) foram definidos pontos importantes, como a primeira versão da pergunta de investigação (“Como a participação em linha do utilizador se manifesta e influencia a produção das webrádios em contexto transmedia?”) e desenvolvido da metodologia de pesquisa a ser adotada para a recolha de dados. Esta metodologia parte do desenvolvimento de um modelo de análise (Quivy e Campenhoudt 2008), no qual os conceitos observados na pergunta de partida (utilizador, participação em linha do utilizador e produção da webrádio em contexto transmedia) são desconstruídos até a obtenção de indicadores. A partir do modelo de análise foram desenvolvidos os instrumentos de recolha e as técnicas de análise dos dados.

Em relação às técnicas de recolha foram estipulados quatro técnicas distintas para a recolha: a observação não-participante; a observação participante; o inquérito por questionário e o inquérito por entrevista. Em relação às técnicas de análise de dados foram estipuladas duas técnicas distintas: a análise das ações observadas e a análise estatística. Nesta fase da preparação do projeto de tese também foi estipulado o cronograma de operacionalização da pesquisa, a qual serve de guia para os passos da pesquisa.

Para a defesa da pesquisa no projeto de tese foi escolhida apenas uma emissora brasileira, a Campina FM de Campina Grande, emissora na qual o estudante já estagiou no passado e que conhece os seus profissionais e sua história e modus operanti. Essa escolha foi anterior à aprovação da bolsa de doutoramento pleno no

exterior pela CAPES. Esta aprovação fez com que a ideia de estudo de emissoras do Brasil e de Portugal proposto à CAPES na proposta de investigação submetida fosse retomado. Além da Campina FM, a Rádio Comercial foi escolhida como parte da amostra de emissoras da investigação. As duas emissoras tem perfis diferenciados, o que contribui para um estudo multicaso com casos bem distintos, o que deixa o estudo mais abrangente. A pergunta de investigação então ficou definida da seguinte forma: “Como a participação em linha do utilizador se manifesta e influencia a produção das webrádios transpostas?”. A partir dela foram estruturadas as componentes teóricas, como a definição de elementos conceituais e a definição de metodologia, e as componentes práticas, como a recolha e interpretação dos dados. Esta definição da pergunta de partida ocorreu no segundo ano da investigação e com ela definida foi possível colocar em prática os instrumentos de recolha e a estruturação do texto da tese, com a ordem dos capítulos a ser publicados.

Fragoso, Recuero e Amaral (2012, p.196) alertam que

“uma questão importante no que tange à divulgação dos resultados da pesquisa etnográfica diz respeito ao anonimato ou à divulgação das identidades dos informantes. Essa opção deve ser tomada pelo pesquisador de acordo com critérios que garantam a privacidade dos informantes, ora de acordo com os consentimentos ou não dos mesmos, ora definidos pelas normas do Conselho de Ética das instituições às quais eles estão vinculados, sem desconsiderar pontos polêmicos que possam ter emergido a partir das categorias observados em campo”.

Em relação aos dados a serem recolhidos para a pesquisa, decidiu-se não utilizar mensagens privadas nas redes sociais e e-mail para não invadir a privacidade dos investigados. Apenas os perfis públicos dos investigados foram utilizados para a recolha de informação, os quais também são utilizados pelos investigados como ferramenta para a interação com o público.

A partir de 2012 ocorreu a 'entrada no terreno', na qual o investigador passou a ter contacto com o universo pesquisado. “A entrada no terreno tem uma importância crucial para o desenvolvimento empírico e teórico do campo de estudo, não é um mero problema a resolver no plano técnico[...]” (Flick, 2013, p.150). Já havia um contato anterior com a Campina FM, emissora na qual o investigador estagiou no passado (final da década de 1990) e a qual o investigador já seguia a sua fan page. A partir da ‘entrada em campo’ o investigador passou a seguir todas as suas redes sociais na Internet. Já a entrada no campo da Rádio Comercial só ocorreu após a escolha da emissora como objeto de estudo.

Para o segundo e o terceiro ano da presente investigação foram colocados em prática os instrumentos de recolha, e, após a recolha de todos os dados, a aplicação das técnicas de análise. Até Junho de 2013 foram postos em prática os instrumentos de recolha observação não-participante (durante outubro e novembro de 2012) e observação participante (durante maio e junho de 2013) para a Campina FM. No caso da observação participante apenas foi realizada a recolha dos dados relativos ao programa Noite dos namorados.

No final de Junho de 2013 o autor participou do Summer Doctoral Consortium 2013, evento realizado na cidade de Arouca e propiciado pela Universidade de Aveiro e pela Universidade do Porto, no qual os inscritos submetem suas teses a apreciação de um júri, o qual avalia erros e acertos. No caso dos erros, o júri sugere soluções. Na apreciação do júri no Summer Doctoral Consortium algumas correções foram sugeridas, como a retirada do termo ‘transposta’ na pergunta de partida, pois pode- se, com a metodologia apresenta, investigar qualquer tipo de webrádio, e a revisão da fundamentação teórica da recolha de dados, com a sugestão do uso da etnografia como método de recolha. Desta maneira, a pergunta de partida, em sua versão final, se confirma da seguinte forma: “Como a participação em linha do utilizador se manifesta e influencia a produção das webrádios?”.

A partir de Agosto de 2013, até o mês de Outubro de 2013, foram realizadas as observações não-participantes da Rádio Comercial e de algumas redes sociais da Campina FM e a observação participante do programa As 12 mais da net da Campina FM. Logo em seguida, entre Outubro e Novembro de 2013 foram realizadas a observação participante referente ao programa Tirando onda da Campina FM. Entre Novembro de 2013 e Dezembro de 2013 foi feito a observação não participante do horário comandado por Ana Isabel Arroja e entre Dezembro de 2013 e Fevereiro de 2014 (com uma pausa em janeiro de 2014 pela ausência da locutora no ar) a observação participante, na qual o investigador enviava um estímulo e aguardava uma resposta. Por fim, foi realizada a observação das postagens do Twitter entre agosto e setembro de 2014 após a verificação do serviço Tweetstats, que foi utilizado como base de dados para a adição e comparação de informações.

Entre 08 de outubro de 2013 e 20 de março de 2014 foi aplicado o questionário em linha para os utilizadores da Campina FM e da Rádio Comercial. Os utilizadores

não puderam ser contactados a partir das redes sociais os quais estão inscritos, pois há limitações para a comunicação para diversos utilizadores por meio de mensagem. A solução encontrada foi utilizar grupos de discussão no Facebook que possuem muitos utilizadores. O foco foram os grupos de universidades, tanto em Portugal, quanto no Brasil, por ser o espaço virtual no qual há milhares de utilizadores e potenciais utilizadores das emissoras pesquisadas. Em Portugal foram utilizados os grupos da Universidade de Aveiro, da Universidade do Porto, do ICSTE-IUL, da Universidade do Minho, entre outros grupos de universidades e faculdades portuguesas, além de grupos de concelhos, como o de São Mamede de Infesta. No Brasil foram utilizados os grupos da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Campina Grande (FACISA), e do Centro de Educação Superior Reinaldo Ramos (CESREI), além dos grupos relativos à cidade de Campina Grande.

Em 12 de novembro de 2013 foi realizada a primeira entrevista com radialista da Rádio Comercial. As entrevistadas nesta data foram Ana Isabel Arroja (loco- operadora e produtora da emissora) e Ana Delgado Martins (loco-operadora e produtora da emissora). Curiosamente foi um dia de muita festa na emissora, pois foi a data na qual obtiveram a marca de 1 milhão de cliques ‘gosto’ na fan page da emissora. Outra entrevista com Ana Martins foi realizada em 22 de novembro de 2013. O motivo foi a impossibilidade dela de terminar a entrevista na data anterior por estar com outro compromisso marcado.

Em 16 de janeiro de 2014 foi realizada a primeira entrevista com radialista da Campina FM. A entrevista nesta data foi com Nixon Motta (loco-operador e contato comercial da emissora, apresentador do programa Noite dos namorados). No dia seguinte foi realizada outra entrevista, desta vez com Alan Ferreira Paulino (loco- operador e produtor da emissora, apresentador do programa Tirando onda).

A fase seguinte, a última da pesquisa, a qual foi realizada nos últimos meses de investigação, foi a da realização da análise dos dados e cruzamento de informações, com o objetivo de observar possíveis generalizações ou casos específicos do que foi analisado.

Todos os entrevistados assinaram um documento no qual declaram permitir a publicação da entrevista na tese, seguindo o modelo apresentado no anexo P. Todos

aqueles que tiveram seus programas investigados foram avisados sobre a investigação e permitiram que o estudo fosse publicado, seguindo o modelo apresentado no anexo K. Cópias dos documentos de liberação estão disponíveis no CD-ROM anexo da tese.