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2. A PARTICIPAÇÃO DO UTILIZADOR E A PRODUÇÃO DE CONTEÚDO NAS

2.1. A participação do utilizador nas webrádios

2.1.2. Os recursos interativos textuais e imagéticos

A digitalização permitiu a hibridização de conteúdos; ou seja, permitiu que em um mesmo suporte pudessem ser dispostos áudio, vídeo, imagem entre outros (Manovich, 2001; Beiguelman, 2003, Santaella, 2004a), os quais foram possíveis graças ao processo de digitalização (Santaella, 2004a).

Ao migrar para a Internet, as rádios passaram a ter novos recursos digitais oriundos da digitalização dos conteúdos. Entre estes recursos estão os recursos interativos visual-verbais, que se materializam como recursos textuais e imagéticos. Estes recursos quebram um conceito fundamental da rádio, que era ser baseado apenas no áudio. Com eles são explorados novos formatos de comunicação bidirecional.

São vários os recursos interativos textuais e imagéticos. Os primeiros a serem utilizados pelas webrádios para a interação com a audiência foram o e-mail e o chat, ambos presentes nas primeiras emissoras de webrádio, na segunda metade da década de 1990. Esta época é distinguida pela “navegação unidirecional, caracterizada pelo aumento exponencial dos nódulos de rede e pela estruturação de canais de comunicação entre esses nódulos através da evolução acelerada dos mecanismos de busca e das comunidades digitais” (Santaella e Lemos, 2012, p.57). O quadro atual da interação entre produtores de rádio e utilizadores só se torna real na década de 2000, com a emergência dos recursos de interação utilizados atualmente pelas emissoras.

Os media sociais, também chamados de softwares sociais, são na atualidade bastante difundidos na vida dos indivíduos de nossa sociedade, sendo utilizados para os mais diversos fins. Mary Burns (2011, p.93) afirma que eles são considerados uma subcategoria da web 2.0 e se caracterizam por serem aplicações web que utilizam técnicas de composições e publicações simples permitindo aos utilizadores a interação e a comunicação. Esta habilidade permite a conexão e a colaboração entre indivíduos e/ou grupos por meio da rede, ação que se tornou comum no universo da relação entre ouvintes e radialistas a partir da década de 2000.

Entre os diversos tipos de media sociais temos as redes sociais, também chamadas de social networking sites (SNS), as quais são entendidos por Selwyn (2009, p.157) como espaços pessoais e personalizáveis para conversas em linha e

para a partilha, baseado na manutenção e/ou partilhamento de perfis nos quais utilizadores podem representar-se por meio de informações, como dados pessoais, interesses, exibição de fotografias ou vídeos, redes de amizades entre outros. Boyd e Ellison (2007, p.221) definem os SNS como

“web-based services that allow individuals to (1) construct a public or semi- public profile within a bounded system, (2) articulate a list of other users with whom they share a connection, and (3) view and traverse their list of connections and those made by others within the system”38.

Boyd e Ellison (2011, p.221) afirmam que o que torna únicos os websites de redes sociais é que eles permitem tanto o encontro com estranhos, como também a articulação entre utilizadores e visibilidade das redes sociais feitas entre membros.

Durante a década de 2000 os recursos interativos de redes sociais, como o Facebook, o Orkut e o Google+, e de serviços de microblog, como o Twitter, passaram a ser explorados pelas emissoras. Esses serviços foram agregados à mensagem veiculada, com os radialistas passando a utilizá-los para se comunicar com os utilizadores, e ligados ao website da emissora39. No âmbito da participação do

utilizador nos recursos da webrádio, geralmente os utilizadores fazem dois tipos específicos de postagem: respondem a estímulos (na forma de postagem) feitos pelos radialistas ou postam conteúdos visíveis para radialistas no intuito de serem respondidos.

A adesão dos websites de redes sociais representam o fim da era do público como uma massa 'cega', invisível, passiva e que não demonstra emoções, com os utilizadores visíveis como profiles, que emitem as suas opiniões e emoções a partir das caixas da área de comentários, as quais passam a ser mensuradas (Bonini, 2012, p.17-18).

Muitos destes recursos interativos permitem ao utilizador o partilhamento do conteúdo. Ao partilhar um conteúdo o utilizador põe novamente ele em circulação, o qual passa a ser visualizado por outros utilizadores e ser novamente partilhado,

38 “serviços baseados na web que permitem aos indivíduos (1) construir um perfil público ou semi- público dentro de um sistema limitado, (2) articular uma lista de outros utilizadores com quem eles compartilham uma conexão, e (3) ver e percorrer a sua lista de conexões e aquelas feitas por outros dentro do sistema” [Tradução do autor].

39 Os sites de redes sociais são muito populares. No Brasil, por exemplo, de acordo com pesquisa publicada pela secretaria de comunicação da presidência do Brasil (2014, 56) o Facebook é o site, blog ou rede social mais acedido do Brasil, em todos os dias da semana. O site aparece em primeiro lugar também como fonte de informação dos brasileiros. O You Tube, o Twitter, o Instagram e o Orkut também aparecem entre os vinte sites mais visitados pelos brasileiros.

realimentando o sistema. Neste caso esta ação, no âmbito do partilhamento de material da webrádio, é análogo à recirculação jornalística citada por Zago (2013, p.159), na qual esta recirculação de conteúdo pode ser percebida como uma modalidade de participação do público no jornalismo (ou também no entretenimento, no caso da webrádio), na qual utilizadores se apropriam do conteúdo do emissor e inserem as suas intervenções, sejam, por exemplo, comentários ou filtros de informação, republicando-os como partilhamento ou intervindo como comentário na postagem, dotando novos sentidos aos conteúdos originalmente postados (no caso, pela webrádio), com o conteúdo ganhando, por exemplo, contornos humorísticos ou críticos (Zago, 2013, p.159).

A relação da rádio com os websites de redes sociais muda a relação vertical radialista/ouvinte pré-existente, tornando-a horizontal, aproximando-a do tipo da cultura peer-to-peer, numa relação bidirecional na qual membros dos dois lados podem navegar nos conteúdos e/ou entrar em contacto com o outro (Bonini, 2012, p.18).

Chiumbu e Ligaga (2013, p.247) afirmam que os programas de rádio são efémeros, o que leva a audiência a querer responder à rádio durante o tempo da emissão, mas que, graças às possibilidades dos websites de redes sociais, um aspeto de arquivo foi institucionalizado e as pessoas passaram a ter a possibilidade de se engajar com os programas, mesmo depois de suas emissões.