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A LUTA PELA TERRA NO BRASIL: ANTECEDENTES HISTÓRICOS

Movimentos e conflitos sociais no Brasil: passado e presente

A LUTA PELA TERRA NO BRASIL: ANTECEDENTES HISTÓRICOS

É bem visível, atualmente, as ações dos movimentos sociais que lutam pela terra e por reforma agrária no país, especialmente as ocupações de terras e prédios públicos, passeatas e marchas. Entretanto, esta não é uma novidade que nasceu com os atuais movimentos. Segundo Morissawa

INTRODUÇÃO

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(2001, p. 86), da Abolição da Escravatura, em 1888, até o Golpe Militar, em 1964, esta luta se fez presente no Brasil, tendo configurações bastante interessantes e particulares, a saber: de 1888 até 1930, caracterizaram-se como lutas de caráter messiânico, com forte sentido religioso; de 1930 até meados da década de 1950, tornaram-se mais espontâneas, mais radicais e localizadas; da década de 1950 até o golpe de 1964, ganharam organi- zação, caráter ideológico e abrangência nacional.

Como exemplo das lutas messiânicas, Morissawa (2001) cita Canu- dos e a Guerra do Contestado. A primeira, em fins do século XIX, tinha como líder Antônio Conselheiro, que, em cinco anos de pregação, reuniu cerca de 10 mil pessoas no sertão da Bahia que criticavam a República e recusavam-se a pagar impostos. Após algumas incursões do Exército, a comunidade foi massacrada por aproximadamente 5 mil soldados.

Já a Guerra do Contestado ocorreu no início do século XX, entre os estados de Santa Catarina e Paraná, envolvendo o pregador José Maria e seus seguidores com a elite agrária da região, beneficiada pela constru- ção da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande do Sul por uma empresa norte-americana. O conflito se estendeu até 1915, quando cerca de 20 rebelados declararam “guerra santa” contra o governo, os coronéis e as empresas estrangeiras, sendo duramente esmagados por cerca de 7 mil soldados, mil policiais e 300 jagunços (MORISSAWA, 2001, p. 86-88).

Com a Revolução de 30 e a tomada do poder por Getúlio Var- gas, a luta pela terra ganha um caráter mais espontâneo, ocorrendo em diversos estados da Federação, geralmente impulsionada por processos de expulsão de posseiros de suas antigas áreas de ocupação, por parte de jagunços a mando de fazendeiros, tendo como resultado, quase sempre, a violência contra os camponeses, seja por expulsão, seja por morte.

A partir de meados da década de 1950, o país passou a conhecer uma realidade nova, marcada pela industrialização e pelo aumento do consumo em massa. Mas, em que pese o expressivo crescimento da economia nacional, ele não foi suficiente para arrefecer as históricas pendências nas relações sociais e produtivas do campo. Ilustra esse fato o nascimento das Ligas Camponesas, da União dos Lavradores e Traba- lhadores Agrícolas e do Master – Movimento dos Agricultores Sem Terra. O movimento das Ligas Camponesas é, sem dúvida, o principal movimento de luta pela reforma agrária no país até o golpe de 1964. Sua importância no embate político fica patente quando se analisa a

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capacidade de articulação e movimentação social de que as Ligas foram capazes. Nascidas em Pernambuco, logo se estenderam à Paraíba, Rio de Janeiro, Goiás, entre outras regiões, e tiveram forte influência no período compreendido pelos governos de Juscelino Kubitscheck e João Goulart. O Master surgiu no final da década de 1950, no Rio Grande do Sul, e já em 1962 começou a organizar acampamentos no estado, recebendo apoio político de Leonel Brizola, então governador. O movimento era composto por assalariados, parceiros e também pequenos proprietários. Com o Golpe Militar de 1964, foi aniquilado pela ditadura.

A União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas (Ultab) foi fundada em São Paulo, em 1954, por Lindolfo Silva, militante do PCB. A partir de 1960, as associações ligadas à Ultab foram se transformando em sindicatos, culminando com a criação, em 1963, da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). Com o Golpe de 64, a Ultab foi oficialmente extinta.

As interpretações divergentes não impediram esses três movimen- tos de buscar unidade de ação; tanto que, em 1961, houve o Congresso Unitário, em Belo Horizonte, reunindo cerca de 1.600 delegados, culmi- nando em uma declaração marcada pela importância da reforma agrária para a superação do crônico subdesenvolvimento nacional. Lê-se na declaração, segundo Veiga,

a reforma agrária não poderá ter êxito se não partir da ruptura imediata e da mais completa liquidação do monopólio da terra exercido pelas forças retrógradas do latifúndio e consequente- mente estabelecimento do livre e fácil acesso à terra dos que a queiram trabalhar (1981, p. 74).

Fato relevante a ser levado em consideração no debate agrário/ agrícola foi a constituição do Plano Trienal de Desenvolvimento Eco- nômico e Social, elaborado durante o governo de João Goulart, por Celso Furtado, então ministro do Planejamento, para os anos de 1963 a 1965. Seus objetivos mais gerais consistiam em propostas denominadas de “reformas de base”, sendo a principal delas a reforma agrária. Cabe destaque também o estímulo, por parte do governo Goulart, para a sin- dicalização rural, o que, por sua vez, culminou na criação de centenas de novos sindicatos, federações estaduais e a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).

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Dentro desse contexto, caracterizado pela crescente organização social, enfrentamentos políticos, tensões militares e elevadas pressões inflacionárias, foi que se desencadeou um dos principais debates sobre a questão agrária nacional, levado a cabo por intelectuais, organizações sociais e partidos políticos, com fortes implicações sobre as análises da problemática agrária que se deram posteriormente e que tivemos a oportunidade de ver na Aula 5.

Desde a década de 1980 e, mais intensamente, a partir dos anos 1990, o país tem assistido a diversas ações de movimentos sociais que têm a bandeira da reforma agrária como lema. Esses movimentos são novidade no Brasil?

Resposta Comentada

Mesmo antes de o Brasil ser um país de fato, já existiam movimentos que lutavam por uma distribuição mais justa da terra e da riqueza aqui produzida.

Esses movimentos, em que pese não terem logrado sucesso, não ficaram isola- dos no tempo e, de tempos em tempos, o Brasil assistia ao nascimento de novos movimentos, novas demandas de justiça social de um lado e repressão de outro. Lembremo-nos das Ligas Camponesas, do Master, da Ultab, que, nascendo nos anos 1950, foram duramente sufocados pela ditadura militar após o Golpe de 1964. O fato é que a luta por terra e reforma agrária sempre foi pauta social no Brasil, que, a partir das décadas de 1980 e 1990, ganhou novos atores e elementos e, por consequência, nova conflitualidade, reconfigurando a questão agrária nacional.

Atividade 1

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A LUTA PELA TERRA E REFORMA AGRÁRIA:

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