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CAIO PRADO JÚNIOR E A AGRICULTURA CAPITALISTA NACIONAL

a questão agrária nacional

CAIO PRADO JÚNIOR E A AGRICULTURA CAPITALISTA NACIONAL

Caio Prado Júnior (1907-1990), advogado, político e historiador paulista que elaborou importantes estudos sobre a formação histórica do Brasil, participou ativamente da Revolução de 1930, filiando-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) no mesmo período. Foi eleito deputado federal nos anos 1940, mas teve seu mandato cassado por ser marxista. Também foi militante e vice-presidente da Aliança Nacional Libertadora (ANL). Sua história é marcada por militância, perseguições, prisões e exílios, mas sua produção intelectual marcou decisivamente as interpretações do desenvolvimento brasileiro.

Figura 5.3: Para Caio Prado Júnior,

não havia nada de feudal em nosso processo de colonização. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Ficheiro:Caio_Prado_Junior.jpg

Discordando categoricamente de Alberto Passos Guimarães, para Caio Prado Júnior não havia nada de feudal em nosso processo de colonização. O trabalho escravo, a produção mercantil e as relações de trabalho baseadas na meação e parcerias, mesmo que desiguais em desfavor do trabalhador, eram suficientes para não configurar a produção colonial como feudal.

Segundo Kageyama (1993, p. 8) a questão agrária em Caio Prado Júnior tem dois momentos demarcados pelos acontecimentos de 1964. Antes da ditadura militar (e da opção produtivista, que veremos na pró- xima aula), os seus escritos caminhavam no sentido de situar as causas

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da miséria da população rural na concentração da terra, que impedia os pobres do campo de exercer suas atividades de modo livre. Para Caio Prado Júnior, nesse primeiro momento a questão agrária brasileira estava na relação de efeito e causa que se tem entre a miséria da população rural e o tipo latifundiário e monopólico da estrutura agrária do país, ou seja:

Ela se resume nisto: que a grande maioria da população rural bra- sileira, a sua quase totalidade, com exclusão unicamente de uma pequena minoria de grandes proprietários e fazendeiros, embora ligado à terra e nela exercer sua atividade, tirando daí seu sustento, se encontra privada da livre disponibilidade da mesma terra em quantidade que baste para lhe assegurar um nível adequado de subsistência (PRADO JÚNIOR apud KAGEYAMA, 1993, p. 9).

O desenvolvimento do capitalismo na agropecuária brasileira não aumentaria, para o autor, os padrões de vida da massa trabalhadora. “Essa elevação somente virá através da luta desses trabalhadores, sejam quais forem suas relações de trabalho e natureza de remuneração que recebem, por melhores condições de trabalho e vida” (PRADO JÚNIOR, p. 79).

A reforma agrária seria, para o autor, uma alternativa derivada do enfrentamento por parte do governo do uso especulativo das terras, enfrentamento este dado pela sobrecarga tributária. A reforma agrária também ajudaria o mercado de trabalho rural, especialmente para aqueles que ofertam a força de trabalho. A reforma agrária era uma opção, sim, contudo, melhor opção seria, segundo o autor, a luta por reivindicações imediatas por melhores condições de trabalho.

Este diagnóstico baseado na luta por melhores condições de tra- balho e vida por parte da classe trabalhadora não é unanime entre os autores que estamos vendo, contudo maior controvérsia surge quando Caio Prado Júnior apresenta os mecanismos dos quais o Estado deveria se valer para a superação dessa realidade que, segundo ele, parte da tri- butação da terra. Esse diagnóstico foi apresentado como argumentação crítica ao PCB, quando este partido considerou reformistas as posições defendidas pelo autor no tocante à tributação da terra como forma de dificultar seu uso especulativo e, portanto, barateá-la.

Caio Prado desenvolveu seu argumento de modo a mostrar que a tributação territorial forçaria o barateamento e a mobilização comercial da terra, tornando-a acessível à massa trabalhadora, e indiretamente melhorando as condições de vida dos trabalhadores. Sendo assim, e a

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partir do aumento de investimentos no campo, o resultado seria o desen- volvimento capitalista da agropecuária. Tal desenvolvimento, resultante desse processo, seria acompanhado, segundo o autor, por uma melhora na posição dos trabalhadores rurais em sua luta por melhores condições de vida, em processo crescente de estímulos ao progresso capitalista.

É bom ressaltar que isso só seria possível caso não houvesse nenhuma ação de estatização ou mesmo coletivização do uso da terra, que, segundo ele, dada a conjuntura político-econômica da época, não era possível. Mas não podemos esquecer os princípios marxistas do autor, sendo bom ressaltar também que este desenvolvimento capitalista, que para ele passava pela valorização da força de trabalho, de modo dialético, levaria a economia agrária para sua transformação socialista. Nesse sentido, o autor é taxativo: “É assim que em termos marxistas e revolucionários se propõe a questão agrária no Brasil e no atual momento histórico” (2005, p. 87).

Em síntese, em sua primeira fase a questão central era a exploração dos trabalhadores rurais e o desamparo legal dos mesmos. Portanto, a reforma agrária nesses marcos deveria se dar não nos marcos de uma transformação instantânea e sim em áreas de meação e/ou parceria e também na regulamentação das relações de trabalho para eliminar o poder extraeconômico dos proprietários latifundiários.

Na segunda fase do pensamento de Caio Prado Júnior, notada- mente no pós-1964, a ênfase recaiu com mais intensidade nas baixas condições de vida e nos baixos salários da classe trabalhadora rural e na completa falta de legislação trabalhista. O autor partiu da premissa de que já existia na agricultura brasileira um mercado de trabalho capitalista e, portanto, eram necessárias melhores condições de emprego e renda. A análise se dá nos traços capitalistas da questão agrária nacional. De modo esquemático, temos:

1. As relações de produção capitalista deterioram os padrões materiais de existência da classe trabalhadora;

2. isto é um grande obstáculo ao desenvolvimento, pois restringe o mercado interno e a industrialização;

3. a solução, portanto, não esta na reforma agrária e sim na melhoria das condições de emprego da classe trabalhadora, notadamente, a rural.

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