• Nenhum resultado encontrado

A QUESTÃO AGRÁRIA NA DÉCADA DE

agrícola e a questão agrária em um contexto de recessão econômica

A QUESTÃO AGRÁRIA NA DÉCADA DE

Apresentado o contexto mais geral da economia brasileira na década de 1980, podemos afirmar, em resumo, que, na tentativa de garantir o pagamento da dívida externa, houve por parte do governo a manutenção, pelo menos em parte, de subsídios e incentivos às expor- tações, contribuindo uma vez mais para a manutenção da estrutura lati- fundiária do país. Entretanto, esse processo não se deu de modo pacífico. A capitalização da agricultura não ocorreu sem traumas – haja vista o elevado grau de excludência, concentracionismo e desigualdade envolvido no processo –, trazendo consigo o ressurgimento da mobilização social, seguida de repressão e assassinatos (MENDONÇA, 2006).

Segundo Delgado (2005, p. 38),

De fato, os anos 1980 terão sido para a questão agrária brasileira um momento de transição e contradição. Com o fim do regime militar, abre-se uma temporada de oxigenação às forças sociais submetidas a duas décadas de domínio autoritário da modernização conservadora da agricultura. Durante o regime militar, o debate da “questão agrá- ria” não teve espaço para se exercitar, nem teórica nem politicamente.

Com a consolidação da redemocratização, não havia mais possibili- dade de “maquiagem” da realidade agrária nacional. Tornaram-se visíveis os novos movimentos sociais de luta pela terra e por reforma agrária, bem como institucionalizaram-se e tornaram-se mais fortes os movimentos contrários às reformas no campo. Esse é o caso do Movimento dos Tra- balhadores Rurais Sem Terra do Brasil (MST) e da União Democrática Ruralista (UDR), respectivamente. Segundo Oliveira (2001, p. 197),

A análise da realidade agrária brasileira do final do século XX mostra, de forma cabal, a presença dos conflitos de terra. Se por um lado a modernização conservadora ampliou suas áreas de ação, igual e contraditoriamente os movimentos sociais aumentaram a pressão social sobre o Estado na luta de terra.

O ressurgimento das discussões sobre a estrutura agrária no Brasil não é responsabilidade apenas dos novos movimentos organizados no campo, notadamente o MST, muito menos um modismo acadêmico. É resultado de um processo I D I O S S I N C R Á T I C O ao longo do tempo que, à

medida que dava respostas à questão agrícola, agravava a questão agrária (CARVALHO, 2011, p. 36).

ID I O S S I N C R Á T I C O

CEDERJ 115

AULA

7

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e a UDR

O MST começa a se formatar como é hoje a partir do final da década de 1970, quando contradições do modelo agrícola se tornam mais intensas, ressurgindo a ocupação de terras como instrumento de pressão dos trabalhadores rurais para conquistarem terras. Em 1984, os trabalhadores rurais que protagonizavam as ocupações de terras e o enfretamento direto por melhores condições de vida no campo organizaram um encontro nacional na cidade de Cascavel, no Paraná. Data daí o surgimento do MST

como movimento nacional organizado para lutar pela terra, pela reforma agrária e por mudanças sociais no Brasil (MST, 2010, p. 9).

É difícil afirmar o exato momento do surgimento da União Democrática Ruralista (UDR); contudo, pelas informações disponíveis, pode-se dizer que essa agremiação nasceu em 1985, a partir de reuniões com importantes pecu-

aristas de Goiás. Nasceu com o objetivo de organizar a classe proprietária e assessorá-la, entre outras coisas, contra a desapropriação de suas terras. Outra versão dá conta de que a UDR também se envolvia em compra de armamentos e formação de milícias privadas, visando a responder violenta-

mente às ações dos movimentos sociais em prol da reforma agrária, nota- damente às ocupações de terras (MENDONÇA, 2006, p. 126).

Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/ File:MST_06142007.jpg

?

Wilson Dias/Abr

Desde o início da Nova República, houve um aumento expressivo das mobilizações sociais em torno de questões nacionais relevantes; dentre elas, a reforma agrária. Contudo, a repressão sobre os movimentos sociais, especialmente sobre os movimentos camponeses, foi maior que a envergadura do debate sobre a necessidade de mudanças na legislação e na Constituição.

Economia Agrária | Década perdida: a política agrícola e a questão agrária em um contexto de

recessão econômica

CEDERJ

116

É nesse contexto que nasceu o primeiro Plano Nacional de Refor- ma Agrária (PNRA), coordenado por José Gomes da Silva e uma equipe notoriamente favorável à reforma agrária.

O PNRA beneficiava posseiros, parceiros, arrendatários, assala- riados rurais e minifundiários. Contudo, diante da intervenção direta da UDR, o plano aprovado pelo governo Sarney, alguns anos depois, era muito distinto do que tinha sido proposto por Gomes da Silva, o que, por sua vez, impediu legal e institucionalmente a efetiva distribuição de terras. Se, por um lado, a Constituição de 1988 garantiu a inclusão da função social da propriedade, por outro dificultou a utilização dos instrumentos de desapropriação. Contradição essa que, em síntese, beneficiou o latifúndio improdutivo, prevendo indenizações em Títulos da Dívida Agrária (TDA), com cláusula de preservação do valor real independentemente do grau de produtividade da propriedade.

O primeiro Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA), levado a cabo durante o primeiro governo da Nova República (1985- 1989), tinha como princípio básico para a sua realização a função social da propriedade. Contudo, revelava o caráter contraditório das políticas fundiárias nacionais, reforçando o direito à propriedade, garantindo a não desapropriação das empresas rurais, além de desapropriações pagas mediante indenizações.

Um olhar mais detalhado sobre o I PNRA nos dá a dimensão limitada das ações estatais em prol da reforma agrária.

Tabela 7.1: Metas do PNRA na Nova República Metas do PNRA na Nova República

(1985 – 1989)

Anos Metas de famílias assentadas

1985/86 150.000

1987 300.000

1988 450.000

1989 500.000

Total 1.400.000

CEDERJ 117

AULA

7

As metas eram ambiciosas: assentamento de 1,4 milhão de famílias em quatro anos. Infelizmente, o programa não foi acompanhado nem por vontade política nem por verbas públicas condizentes, resultando em apenas 515 projetos com capacidade de assentamento de 83.625 famílias.

Quais as consequências da crise e das políticas de enfrentamento da crise para a dinâmica agrária nacional?

Reposta Comentada

Do ponto de vista agrícola, os produtores mais capitalizados conseguiram melhor desempenho no período, pela manutenção dos subsídios ao setor para manter elevadas as exportações. Entretanto, a redução gradativa da ação estatal no enfrentamento da desigualdade de acesso à terra foi visível. Se, por um lado, a temática entra na pauta do governo como Programa Nacional de Reforma Agrária, por outro lado sua inércia cul- mina com o aumento dos conflitos agrários e com a polarização das forças no campo, expressa pelo surgimento do MST e da UDR. As metas ambiciosas de assentamento do governo não foram cumpridas e a reforma agrária foi abandonada como política pública de desenvolvimento socioeconômico.

Atividade Final

Economia Agrária | Década perdida: a política agrícola e a questão agrária em um contexto de

recessão econômica

CEDERJ

118

Após um período de elevado crescimento econômico, iniciamos os anos de 1980 com um crescimento do endividamento externo e da inflação, ao passo que as taxas de crescimento da economia passam a ser inexpressivas. A opção governamental foi garantir o pagamento do endividamento externo e, para isso, valeu-se de estímulos à exportação agrícola; entretanto, a incapacidade de manter crescimento nesse contexto foi patente. Ao final do período, a grande produção agrícola mais uma vez foi beneficiada com estímulos do governo, mas o setor não resolveu as questões seculares que o perseguiam, como a concentração e o empobrecimento dos pequenos produtores. A década terminou com a saída gradativa do Estado e a assunção do mercado nas funções de estímulo à produção agropecuária com as contradições inerentes a isso.

R E S U M O

INFORMAÇÕES SOBRE A PRÓXIMA AULA

Na próxima aula, focaremos nossa análise na política agrícola e nas manifestações da questão agrária em um contexto marcado pela orientação neoliberal na condução da política econômica mais geral. Entender os mecanismos que contribuíram para o fortalecimento do agronegócio no país será uma das preocupações centrais.

objetivos

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:

reconhecer as alterações do modelo de acumulação de capital no setor agrícola; identificar a magnitude da luta pela terra, as ocupações e a violência decorrente deste processo;

avaliar as ações públicas em um contexto marcado pelo neoliberalismo.

8

Comportamento agrícola a partir

Documentos relacionados