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REVOLUÇÃO VERDE E MODERNIZAÇÃO AGRÍCOLA

militar: da modernização conservadora à formação dos

REVOLUÇÃO VERDE E MODERNIZAÇÃO AGRÍCOLA

O termo “modernização agrícola” está associado a modificações nas bases técnicas de produção com a introdução de máquinas, equipa- mentos, insumos com elevado grau de incorporação tecnológica, entre outros. O Brasil conheceu essa modernização a partir da década de 1960, quando passou a adotar políticas agrícolas voltadas para o aumento da produtividade no campo, desconsiderando, diga-se de passagem, a complexa realidade agrária nacional, marcada pela multiplicidade de formas de organização camponesas.

INTRODUÇÃO

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Figura 6.2: A partir de 1960, o Brasil começou

a adotar técnicas de modernização no campo visando à elevação da produtividade com intro- dução de máquinas, equipamentos e insumos com elevado grau de incorporação tecnológica.

A adoção de políticas agrícolas ditas produtivistas, ou seja, voltadas apenas para o aumento da produção agrícola, só foi possível graças ao conjunto de inovações que surgiram no mundo especialmente a partir da década de 1950, em um processo que ficou conhecido como Revolução Verde.

A Revolução Verde foi um processo de criação de novas sementes e a inovação de práticas agrícolas com o intuito de aumentar a produ- tividade de cereais básicos como trigo, arroz e milho. A modernização da base agrícola derivada desse conjunto de inovações, notadamente financiadas com capital norte-americano, trouxe, para países pobres como o Brasil, alterações drásticas nas relações sociais de produção, tanto no campo quanto na cidade.

Como vimos nas aulas anteriores, o Brasil era um país latifundiá- rio, monocultor, voltado para a exportação; contudo, tinha, nas pequenas propriedades, uma agricultura assentada em bases tradicionais que pra- ticava a diversificação da lavoura, mas com técnicas rudimentares. Essas propriedades passaram a ceder rapidamente espaço para a agricultura capitalista, caracterizada cada vez mais por suas fortes relações interseto- riais com a indústria, geralmente em uma nítida relação de subordinação.

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Mais uma vez o latifúndio se sobressaiu, pois a viabilidade do modelo empresarial de agricultura preconizada por essa modernização privilegiou a grande propriedade e a monocultura pelo seu caráter extensivo, que, ao mesmo tempo que se mecanizava, negava trabalho.

Segundo dados dos Censos Agropecuários elaborados pelo IBGE, houve um crescimento muito mais significativo de tratores do que de trabalhadores. Em 1960 existiam aproximadamente 254 trabalhadores para cada trator em uso; já em 1980, por exemplo, eram apenas 39 por trator. Podemos perceber o crescimento do número de tratores no Brasil pelo gráfico a seguir:

Figura 6.3: O gráfico representa o crescimento do número de tratores na agro-

pecuária entre os anos de 1960 a 2006.

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1960/2006 apud Carvalho (2011)

Em síntese, como resultado desse denso processo de alteração na base técnica da agricultura, a produção passou a depender cada vez menos dos recursos naturais propriamente ditos e passou a depender cada vez mais do setor industrial. Em outras palavras, o uso de máquinas e equipamentos, fertilizantes, defensivos químicos, corretivos do solo, rações e concentrados passaram a ser fundamentais para o crescimento agropecuário.

É fato que a utilização de máquinas pesadas, insumos específicos, adubação química e consequente aumento da produtividade são carac- terísticas dessa modernização agrícola, mas precisamos ressaltar que os aumentos da produção e da produtividade não diminuem a concentra- ção da terra e da renda no Brasil, muito menos a qualidade de vida dos trabalhadores e trabalhadoras do campo.

Mesmo apresentando significativas inovações no modo de produ- ção do setor agrícola, a modernização da agricultura deve ter um escopo de análise maior que a simples incorporação tecnológica. Como já foi

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dito aqui, essa modernização trouxe alterações drásticas nas relações sociais de produção, tanto no campo quanto na cidade.

A negação de trabalho no campo, com a maior utilização de insumos, máquinas e equipamentos, teve impactos que transcenderam os limites das propriedades rurais. Essa modernização desembocou na criação de um nutrido contingente de volantes ou boias-frias, inseridos precariamente na economia urbana, “em busca de uma das variadas formas de subemprego ou de trabalho na chamada ‘economia informal’” (RANGEL, 2005, p. 228).

A rápida inversão demográfica entre a população rural e urbana é um bom exemplo dos impactos da modernização da produção agrícola no país. Quando observados os dados populacionais das décadas de 1940 e 1950, o país apresentava 69% e 64% de residentes no meio rural do total nacional, respectivamente. A transição para um país majoritariamente urbano se deu entre as décadas de 1960 e 1970. No censo de 1970, o Brasil registrava 56% de residentes urbanos, contra 44% rurais. Entre as décadas de 1960 e 1970, a taxa de crescimento rural foi de apenas 0,5% e, no auge da modernização agrícola, entre 1970 e 1980, ficou negativa (− 0,6%), sendo 4,4% o crescimento da população urbana no mesmo período, segundo informações dos censos do IBGE. De modo mais ilustrativo tem-se o gráfico a seguir.

Figura 6.4: O gráfico demonstra o crescimento populacional do Brasil entre as déca-

das de 1940 a 2010. Observe o momento em que o país deixa de ser considerado rural para se tornar majoritariamente urbano.

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É fato que o êxodo rural é um fenômeno antigo, mas com o pro- cesso de modernização da agricultura ele adquiriu maior intensidade e passando a ser, para os trabalhadores expulsos do campo, uma alter- nativa de sobrevivência. Isto por sua vez contribuiu com o aumento da informalidade nas atividades urbanas, gerando verdadeiros amontoados nas grandes e médias cidades (BENJAMIN, 1998, p. 88).

Apenas para efeito comparativo, segundo o Censo de 2010, o Brasil conta hoje com 190,7 milhões de habitantes, dos quais 84% residem na área urbana e apenas 16% estão na área rural. Para mais infor- mações demográficas do Brasil, ver o site do IBGE: www.ibge.com.br.

Faça uma análise crítica do processo de modernização da agricultura e suas consequências.

Reposta Comentada

É notório que o processo de modernização da agricultura trouxe efetivas melhoras para a produção e produtividade rural. Introduziram-se novas bases técnicas, novas máquinas e equipamentos que ajudaram a aumentar a produção; entre- tanto, estas inovações foram introduzidas desconsiderando a estrutura agrária existente no país marcada pela multiplicidade de formas camponesas. Nesse sentido, as consequências mais visíveis foram o desemprego rural, o aumento da concentração fundiária, o êxodo rural e, decorrente disto, o aumento do desem- prego e a informalidade nas áreas urbanas. Por ser um processo de moderniza- ção que ratificou a concentração da renda, da riqueza e da propriedade, ficou conhecido como modernização conservadora.

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