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O PROCESSO DE EXPROPRIAÇÃO CAMPONESA, DESCRITO POR MAR

Que campesinato?

O PROCESSO DE EXPROPRIAÇÃO CAMPONESA, DESCRITO POR MAR

Em fins do século XIV, com o fim da servidão inglesa, a maioria da população firmou-se como camponeses livres, economicamente autô- nomos, com acesso às terras comunais, onde, entre outras atividades, recolhiam lenha e pastavam os animais de sua propriedade. Também havia, é verdade, trabalhadores livres e assalariados no campo; contudo, estes trabalhadores eram também camponeses, com tempo livre para trabalhar em grandes propriedades. O século XV chega e com ele o florescimento das cidades e também das bases do que viria a ser o modo de produção capitalista.

No processo de desagregação do sistema feudal, com a sucessão de gerações de senhores feudais, o dinheiro passou a ter mais importância que o número de súditos sob sua proteção, o que explica em parte a violenta expulsão de uma massa de camponeses, que passa a se dirigir às cidades como proletários livres.

A raiz desse êxodo rural está na valorização da lã, com preços altos, que atendiam ao mercado manufatureiro europeu em expansão. Nas pala- vras do próprio Marx (1996, p. 343), a nova burguesia “era uma filha de seu tempo, para a qual o dinheiro era o poder dos poderes. Por isso, a transfor- mação de terras de lavoura em pastagens de ovelhas tornou-se sua divisa”.

Figura 3.2: As pastagens de ovelhas obtiveram grande impulso na época.

Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Tasburgh%27s_ancient_earthworks_ enclosure_-_now_sheep_pasture_-_geograph.org.uk_-_1355699.jpg?uselang=pt-br

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Os donos das terras, na tentativa de aumentar as pastagens e ace- lerar o processo de expulsão dos camponeses – que ainda residiam em suas vastas áreas –, passaram a demolir casas, igrejas e até vilas inteiras instaladas em suas terras. A destruição foi tamanha que até o Rei Hen- rique VII, em Decreto Real, no ano de 1489, teve de intervir, proibindo a demolição de casas, com o argumento de que as massas populares, nas cidades, estavam ficando incapazes de sustentar a si e suas famílias. Mesmo com o apoio de Henrique VII, manifestado no Decreto Real, e das quei- xas do povo, a expulsão dos camponeses continuou de forma acelerada.

Gradativamente, com o avanço do capitalismo no campo, a terra deixava de ser um local de moradia das famílias camponesas, passando a ser apenas um fator de produção de matéria prima (a lã), e o camponês expulso transformava-se em outro fator (trabalhador assalariado da indústria). Como resultado desse longo processo, podemos observar que os camponeses independentes, que foram bastante numerosos no final do século XVII, tinham desaparecidos por volta de 1750.

Os proprietários rurais (uma nova aristocracia fundiária que surgia na mesma velocidade em que desapareciam os antigos senhores feudais) estavam aliados ao recém-nascido sistema financeiro e também aos grandes manufatureiros. Os capitalistas burgueses contribuíram sobremaneira com esse processo, uma vez que, dia a dia, a terra passava a ter caráter de mercadoria, usada duplamente: primeiro para expandir as áreas de exploração agrícola e, segundo, para multiplicar a oferta de proletários livres (e pobres) provenientes do campo.

Se, no século XV, o rei tentou impedir a demolição das casas dos camponeses, no século XVIII, ao contrário, o Estado contribuiu para este violento processo de expulsão. Segundo Marx (1996, p. 348), “O progresso do século XVIII consiste em a própria lei se tornar agora veículo do roubo das terras do povo, embora os grandes arrendatários empreguem paralelamente também seus pequenos e independentes méto- dos privados”. Em outras palavras, por decretos, os grandes proprietá- rios fundiários poderiam eles mesmos executar a expropriação do povo de suas terras comunais para acelerar os seus C E R C A M E N T O S visando à

produção agrícola em larga escala.

CE R C A M E N T O S

(do inglês enclousures) Fenômeno ocorrido na Inglaterra nos séculos XVII e XVIII, que consistiu na expulsão dos servos camponeses de terras comunais para seu posterior arrendamento para pastagens de criação de ovelhas.

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AULA

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No século XIX, a propriedade comunal, onde servos e pequenos agricultores independentes produziam seus meios de subsistência, já não existia mais. Em vez disso, as grandes extensões de terras, nas mãos de uma pequena burguesia agrária, passaram a necessitar de cada vez menos trabalhadores. Aumentou expressivamente o número de miseráveis nas cidades que, em busca de trabalho, chegavam a aceitar, na maioria das vezes, valores tão baixos por seus serviços que eram suficientes apenas para satisfazer suas necessidades vitais.

E assim o mosaico social composto por burguesia e proletariado foi se moldando. Derivam daí muitas das análises que se baseiam na polarização social, ou seja, de um lado os donos dos meios de produção (burgueses) e de outro aqueles que vendem sua força de trabalho para viver (proletários). Estas interpretações desconsideram, portanto, a presença do modo de produção camponês.

Vale a pena assistir Germinal. Este filme, baseado no romance de mesmo nome de Émile Zola, passa-se na França do século XIX e mostra bem as condições de trabalho dos proletariados daquele período.

Outro excelente filme é Daens, um grito de justiça. Ele é ambien- tado no norte da Bélgica do século XIX e mostra as condições deploráveis de trabalhadores da indústria de tecidos.

O que aconteceu com o campesinato inglês, na visão de Marx?

Resposta Comentada

Para Marx, houve um processo histórico de expulsão do camponês que traba- lhava a terra comunal. A terra passou a ser utilizada como pasto para ovelhas, por conta da produção de lã, e os trabalhadores migraram para as cidades em busca de trabalho nas fábricas, recebendo salários baixos e trabalhando em péssimas condições.

Atividade 2

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