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2.4 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA A

2.4.3 A metodologia da elaboração conceitual

Ao iniciarmos o processo de familiarização dos alunos com a elaboração conceitual, tomamos, como base teórica, os estudos de Cabral (2010), Ferreira (2007, 2009a, 2009b), Núnez (2009), Sousa (2011), Vygotsky (1991, 2008), dentre outros. A intenção era indicar caminhos para que nossos alunos conseguissem conhecer e produzir conhecimentos.

Ferreira (2009a, p.17) afirma que “[...] na atividade prática ou mesmo no ensino de crianças e adolescentes todos operamos com conceitos, sem nos preocuparmos com o seu conteúdo”, embora nem sempre seja evidente como ocorre os processos mediante os quais o conhecimento é produzido.

No desenvolvimento dos processos mentais superiores, o que é produzido no meio externo passa por um processo de internalização, provocando mudanças comportamentais no indivíduo.

Vygotsky (2008) desenvolveu estudos sobre o desenvolvimento do pensamento verbal nas crianças, concluindo que sua evolução se efetiva também através do processo de formação de conceitos que, por sua vez, é influenciado pelos instrumentos linguísticos do pensamento e pela experiência sociocultural. Sua pesquisa constata que a aprendizagem do homem é de natureza social.

A linguagem e pensamento, portanto, tem origem social. Sendo uma atividade humana, a linguagem e o pensamento são produzidos historicamente. O homem se constitui e se transforma com esse processo. Nessa transformação, Vygostsky (2008) destacou o papel da função mediadora dos instrumentos e dos símbolos, por sua vez, inventados pela cultura e dominados pelo homem ao se socializar.

Como enfatiza Núnez (2009), Vygotsky, ao estudar as funções psíquicas superiores do homem, entende que elas se originam no entrelaçamento de fatores biossocioculturais e são produtos de atividades cerebrais que, por conseguinte, tem uma origem na relação do homem com o seu mundo exterior, ou seja, com o social, estando, portanto, inserida num processo histórico com a mediação de sistemas de símbolos.

Todas as funções psíquicas superiores são processos mediados, e os signos constituem o meio básico para dominá-las e dirigi-las. O signo incorporado à sua estrutura como uma parte indispensável, na verdade a parte central do processo como um todo. Na formação de conceitos, esse signo é a palavra, que em principio tem o papel de meio na formação de um conceito e, posteriormente, torna-se o símbolo. (VYGOTSKY, 2008, p. 70).

Assim, os estudos de Vygotsky acentuam que a formação de conceitos é resultado de uma atividade complexa e requer que todas as funções intelectuais básicas sejam envolvidas.

No entanto, o processo não pode ser reduzido à associação, à atenção, à formação de imagens, à inferência ou às tendências determinantes. Todas são indispensáveis, porém insuficientes sem o uso do signo, ou palavra, como meio pelo qual conduzimos as nossas operações mentais, controlamos o seu curso e as canalizamos em direção à solução do problema que enfrentamos. (VYGOTSKY, 2008, p. 72-73).

Vygotsky estudou duas linhas de evolução conceitual: a primeira “relacionada com a forma de pensamento que a criança desenvolve espontaneamente na vida cotidiana e outra com a que desenvolve no contexto escolar.” (NÚÑEZ, 2009, p.33).

Conforme Ferreira (2009a, p. 62), os conceitos espontâneos estão ligados à forma inicial do pensamento, a partir das vivências e experiências dos indivíduos e as relações de generalidades reduzidas. Os nexos são empíricos e factuais e partem de uma experiência direta. “As abstrações imbricadas em sua elaboração se dão a partir da percepção imediata das propriedades externas dos fenômenos, sem separá-las da totalidade da experiência da qual fazem parte”. A respeito dos conceitos científicos, complementa a autora com muita propriedade:

Os conceitos científicos são elaborações que expressam as propriedades, os nexos e as relações essenciais dos fenômenos, a lei do seu movimento e da sua evolução, o nível em que esses elementos são abstraídos da experiência perceptível, da qual fazem parte, e sintetizados em termos de generalizações formuladas num estágio de abstração em que não se estabelece referência a nenhuma impressão ou situação sensório-perceptível. Refletem o conteúdo

que os fenômenos encerram – o concreto pensado. (FERREIRA, 2009a, p.62).

Os conceitos científicos estabelecem uma conexão entre o universal em relação com o particular e o singular, o que possibilita uma inter-relação entre conceitos, revelando o grau de generalidade, o conteúdo e os processos e procedimentos do pensamento que apreendem esse conteúdo.

O processo de elaboração conceitual desencadeado pelos alunos se desenvolveu no decorrer de nossas oficinas de poemas, visto que houve vários momentos de estudo dos conteúdos, pesquisas, discussões e situações de ensino e aprendizagem, oportunizando a reflexão sobre o conteúdo, os processos e procedimentos do pensamento para que pudessem entender e elaborar os textos poéticos.

No estudo da Língua materna, sempre estamos lidando com noção, definições e conceitos dos fenômenos. Nos procedimentos para a elaboração conceitual em nossa pesquisa, entre os conceitos estudados, delimitamos aprofundar os conceitos de poema e poesia utilizando a seguinte metodologia:

1. Construção das redes dos significados conceituais; 2. Sondagem das competências e conhecimentos prévios; 3. Sistematização dos conceitos em estudo:

a) enumeração das propriedades e atributos múltiplos, gerais, particulares e distintivos dos conceitos;

b) precisão das propriedades ou atributos para expressar as relações de generalidade e particularidade e singularidade;

c) aplicação a novas situações.

O estudo com os alunos, a respeito do processo de elaboração conceitual, no caso o de poema e de poesia, acarretou a necessidade de elaboração uma rede de conhecimentos que nos permitisse clareza quanto os nexos e as inter-relações que se efetivam entre os conceitos.

Para iniciarmos o processo de familiarização dos alunos com os atributos dos conceitos selecionados para estudo, procuramos diagnosticar em primeiro lugar que conhecimentos os alunos já haviam internalizado sobre o poema e a poesia.

Após meses de estudo, interagindo os atributos gerais, particulares e singulares próprios da elaboração conceitual, explorando o sentido de poema e de poesia; praticando a escrita poética e estudos relacionados, nos quais solicitamos aos alunos que reelaborassem os

referidos conceitos, voltamos a questioná-los a respeito desses conceitos, visando identificar a evolução de seus respectivos significados.

Tanto para os conceitos prévios, como para os reelaborados, pedimos que os partícipes pensassem e escrevessem o que eles entendiam por poema e poesia. Além da escrita, obtivemos gravações e MP4 de algumas falas dos partícipes.

Prosseguindo os estudos, atentamos a um procedimento que, além de escrever e produzir, também ajudasse os partícipes a pensar sua prática e seus estudos a respeito do gênero poema, bem como o processo de colaboração. Para isso, nos valemos das sessões reflexivas.