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3 UM DIÁLOGO SOBRE POEMA E POESIA NO MICROESPAÇO-TEMPO SALA

3.2 A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS E SIGNIFICADOS: O CONCEITO DE POEMA E

3.2.1 Sondagem dos conhecimentos prévios dos conceitos de poema e poesia

3.2.1.1 Conhecimentos prévios de poema

Para iniciarmos essa conversa, trouxemos, em “Power point”, o poema “Convite”, de José Paulo Paes e “Tem tudo a ver”, de Elias José e declamamos os referidos poemas para eles.

CONVITE Poesia

é brincar com palavras como se brinca

com bola, papagaio, pião. Só que

bola, papagaio, pião de tanto brincar se gastam. As palavras não: quanto mais se brinca com elas

mais novas ficam. como a água do rio que é água sempre nova. como cada dia

que é sempre um novo dia. Vamos brincar de poesia? Paes (1991).

TEM TUDO A VER - Elias José A poesia

tem tudo a ver

com tua dor e alegrias,

com as cores, as formas, os cheiros, os sabores e a música

do mundo. A poesia tem tudo a ver

com o sorriso da criança, o diálogo dos namorados, as lágrimas diante da morte, os olhos pedindo pão. A poesia

tem tudo a ver

com a plumagem, o voo e o canto, a veloz acrobacia dos peixes, as cores todas do arcoíris, o ritmo dos rios e cachoeiras, o brilho da lua, do sol e das estrelas, a explosão em verde, em flores e frutos. A poesia

- é só abrir os olhos e ver - tem tudo a ver com tudo. José (2002).

Em seguida, solicitamos uma leitura coletiva e, de forma voluntária, perguntamos se alguém gostaria de ler novamente. Alguns leram apenas. Outros declamaram os poemas. Em seguida, discutimos o conteúdo dos textos e colocamos algumas questões para que eles opnasse sobre os poemas. Como esses textos são metalinguísticos, expressando muitas ideias sobre o que é poesia, os alunos foram externando o seu entendimento com palavras dos poemas conforme o extrait da aula do dia 13 de julho de 2012, gravada na sala de vídeo da EMPZ.

[...]

Professora: Agora é o seguinte, nós vamos passar pra uma outra parte. Eu gostaria de fazer perguntas individuais, mas é lógico que quem quiser responder pode responder, só precisa... Não dá pra responder todo mundo junto que senão a gente não compreende, né?

[...]

Professora: Adri Ra, de que trata esse poema? Adri Ra: De muitas coisas.

Professora: De muitas coisas? Então diga de algumas coisas que ele trata. Adri Ra: Do canto dos pássaros.

Professora: Canto dos pássaros, quê mais? Adri Ra: Do diálogo dos namorados. E o quê? Professora: Ok. Jo Gu, que mais?

Jo Gu: Hum... A veloz acrobacia dos peixes.

Professora: Hum... O que seria a acrobacia dos peixes? Jo Gu:: Nadando.

Professora: Eles fazendo aqueles movimentos, né? Jo Gu: Voando...

[...]

Professora: Tirem da memória de vocês o que... do que trata esse poema. Partícipe: Da natureza.

Professora: Da natureza. Só?... Partícipe: De todas as coisas.

Professora: De todas as coisas... que coisas? Partícipe: Dos elementos.

Professora: Vamos ver.

Partícipe: A poesia. É... as cores... Extrait da aula do dia 13 de julho de 2012.

Como observamos, quando inquiríamos os alunos do que tratava o poema, alguns partícipes manifestaram suas respostas de forma generalizante ou, com os versos do poema “Tem tudo a ver”, de Elias José, como por exemplos: “de muitas coisas”, “do canto dos pássaros”, “do diálogo dos namorados”, “a veloz acrobacia dos peixes”. Outros partícipes diziam tratar “da natureza”, de “todas as coisas”, das “cores”. Nesse diálogo inicial, fomos construindo as ideias sobre o texto.

Após esse diálogo, seguimos reconhecendo o que havia nos textos e falamos de como o poema estava estruturado (os versos, as rimas, as estrofes, o ritmo dos poemas, as imagens que eles sugerem em nossa mente) e o seu sentido, a partir da mensagem que o poema passava para cada um.

Em seguida, dissemos que iríamos entrevistá-los e que, naquele momento, deveriam expressar o seu entendimento. Perguntamos: O que é um poema? O que é uma poesia? O que

vocês entendem a respeito disso? Então, eles foram respondendo e sempre com a intervenção da professora. Com as respostas de alguns dos partícipes que se manifestaram, passaremos a discutir os níveis de elaboração desses significados. Salientamos que demos nomes fictícios aos partícipes para preservar suas identidades. As respostas deles foram tiradas do extrait da aula do dia 13 de julho de 2012 e que fora gravada na sala de vídeo, conforme vemos abaixo:

Professora: Então vamos lá. Observe o poema, quantas estrofes, quanta... primeiro, vocês (VOZ ABAFADA 42:35) eu vou fazer uma entrevista com vocês. O que você acha... o que é um poema? Ma Clem: Um poema pra mim é texto onde você conta alguma coisa muito interessante, onde você passa o que você sente. (início da confrontação porque está enumerando, não está distinguindo. Coloca um atributo particular).

Professora: De... palavras de Ma Clem. O que é poema pra você, Hig Ra?

Hig Ra: Poema... poema eu acho que é palavra que rimam, que dão significado a alguma coisa. (Início da confrontação).

Professora: Tá. Pra você o que é um poema?

Jar Ke: É brincar com as palavras (perceptível; percebe que brinca com as palavras).

[...]

Lu Vi: Poema é a gente brincar com as palavras e rimando os negócios.

[...]

Aluno: Poema pra mim é um texto que... que a pessoa pode rimar, pode brincar (Confrontação- usando).

Professora: É? É. O que é um poema pra você?

Aluno: Poema pra mim é a... é quando a gente se expressa na nossa vida falando sobre... o poema da gente.

Professora: Tá. O que é um poema pra você?

Elv: Um poema pra mim é um bicho que informa o que é meu sentimento percepção. Professora: E como é teu nome?

Elv: Elv. Elv.

Professora: Elv. E o seu? Que falou... Rof: Rof.

Professora: Rof, né? Que é um poema pra você? Rof: São palavras...

Professora: Como é teu nome? Adri Ma: Adri Ma.

Professora: Adri Ma. Adri, o que é um poema?

Adri Ma: São palavras que a pessoa sente, vem do coração. Perceptível. Professora: São palavras que a pessoa sente e?

Adri Ma: Vem do coração Professora: Vem do coração. Adri Ma: Como sentimentos.

Professora: Como sentimentos. O que é um poema pra você, Jo Gu? Jo Gu: São palavras que rimam, que brinca e fala das coisas. Professora: Certo. É... como é teu nome? Como é teu nome?

Mo: Mo.

Professora: Mo, o que é um poema pra você?

Mo: Um poema pra mim é um texto onde a imagem... a imaginação é a base de tudo. Professora: Muito bem.

Ma Clem: Olha!

Professora: O que é um poema pra vocês, Mic Do?

Mic Do: Um poema pra mim é um sentimento em palavras. Sensório.

Professora: Um sentimento em palavras. Gostei dessa expressão. Pra você... Aluno: Já falei, professora.

Professora: Já falaste, né? Quem mais gostaria? O que é um poema? As meninas estão perdendo para os meninos na... nas explicações. Só Jar Ke que fala, as demais perderam a língua, foi? Al Gus, o que é um poema pra você?

Al Gus: Poema pra mim é as palavras ter ritmo e... e que tenham algum significado que a gente brinca com elas.sensorio

[...]

Extrait da aula do dia 13 de julho de 2012

Podemos inferir que, pelo fato de os alunos estarem iniciando o processo de estudo, apresentam seus conhecimentos prévios, em sua maioria, dando o significado de poema de forma bem elementar, ou seja, no nível sensório-perceptivo das categorias elencadas para análise. Os alunos, ao observarem, ouvirem ou lerem os poemas ou por meio de experiências de outros anos, elencam somente alguns atributos para o significado de que seja poema sem muita consistência. Isso é perceptível nas seguintes falas abaixo:

Jar Ke: É brincar com as palavras.

Lu Vi: Poema é a gente brincar com as palavras e rimando os negócios.

Partícipe (não foi possível identificá-lo): Poema pra mim é a... é quando a gente se expressa na nossa vida falando sobre... o poema da gente.

Elv: Um poema pra mim é um bicho que informa o que é meu sentimento. Rof: São palavras...

Jo Gu: São palavras que rima, que brinca e fala das coisas. Rof: São palavras...

Extrait da aula do dia 13 de julho de 2012.

Jar Ke repete um verso do poema Convite de José Paulo Paes; Lu Vi avança um pouco, pois além de também usar o verso do poema já citado, acrescenta um dos recursos formais do poema “rimando os negócios”. Ele sabe que há rima, mas não se lembra da palavra “verso”, atributo singular do poema. O partícipe que não nos foi possível identificá-lo, quando da transcrição, e Elv elencam uma das características importantes do poema que é a

expressão de sentimentos que o poema pode provocar no interior das pessoas: “é quando a gente se expressa na nossa vida falando sobre [...] o poema da gente” ou “[...] informa o que é meu sentimento”. Mas também, deixam de citar outros atributos do conceito de poema. Suas respostas demonstram que eles buscam vínculos com suas experiências imediatas. Jo Gu também avança apreendendo um dos atributos formais do poema: a rima. Além disso, diz que o poema brinca e fala das coisas. Rof apenas expressa que são “palavras”. De certa forma, ele tem razão, mas não avança no pensamento conceitual. Por isso, o nível de conceituação desses alunos não progride, permanece no sensório-perceptivo.

Dentre os alunos, nesse momento, há aqueles que demonstram avançar um pouco mais em seus conhecimentos a respeito de poema e elencam mais alguns atributos. Vejamos no recorte abaixo:

Ma Clem: Um poema pra mim é texto onde você conta alguma coisa muito interessante, onde você passa o que você sente.

Hig Ra: Poema... poema eu acho que é palavra que rimam, que dão significado a alguma coisa. Adri Ma: São palavras que a pessoa sente, vem do coração.

[...]

Adri Ma: Vem do coração [...]

Adri Ma: Como sentimentos.

Jo Gu: São palavras que rimam, que brinca e fala das coisas.

Mo: Um poema pra mim é um texto onde a imagem... a imaginação é a base de tudo. Mic Do: Um poema pra mim é um sentimento em palavras.

Extrait da aula do dia 13 de julho de 2012.

Iniciamos com Ma Clem que apresenta seus conhecimentos prévios a partir da visão de quem escreve um poema. Ele identifica de início, o atributo “texto”, propriedade geral do conceito de poema; traz, ainda, a ideia de que o poema “conta alguma coisa interessante”, ou seja, o poema tem um conteúdo com significado, chama atenção e desperta interesse. Além disso, “passa o que você sente”. Nesse momento, Ma Clem cita um atributo particular do conceito que é despertar sentimento e emoções. Podemos afirmar que, em sua fala, o partícipe demonstra um avanço em sua colocação, pois o processo de elaboração conceitual dele está no nível da diferenciação. A exemplo de Ma Clem, o partícipe Mo consegue, também, expressar o atributo geral do conceito de poema quando diz que é “texto” e destaca o atributo imaginação, afirmando que “é a base de tudo”. Mo coloca um atributo relevante para a poeticidade do texto.

Vygotsky (1990, p. 10), ao estudar a imaginação na infância, destaca essa função superior da mente como uma atividade de base criadora e produto da cultura:

[...] La imaginación, como base de toda actividad creadora, se manifiesta por igual en todos los aspectos de la vida cultural posibilitando la creación artística, científica y técnica. En este sentido, absolutamente todo lo que nos rodea y ha sido creado por la mano del hombre, todo el mundo de la cultura, a diferencia del mundo de la naturaleza, todo ello es producto de la imaginación.

Nesse sentido, o poema é produto da imaginação do poeta, é uma atividade criadora, tem uma linguagem plurisignificativa em que a palavra se verbaliza manifestando uma criação artística. Além disso, produz prazer estético, cumprindo a finalidade discursiva de provocar emoção e sentimento em quem escreve ou lê o poema. Mo Al, ao trazer essa função para seu conceito, enriquece os seus conhecimento prévios.

Ao analisarmos os conceitos prévios elaborados por Hig Há, Jo Gu, Adri Ma e Mic Do, identificamos que eles enumeram somente alguns atributos particulares do poema ao elaborar o significado prévio, demonstrando estar numa fase de transição do sensório- perceptivo para a confrontação.

Jo Gu e Hig Ha enfatizam um critério formal, mas não estaelecem o nexo com o que, de fato, é um poema, ou seja, um texto. Hig Ha afirma que são “palavras que rimam que dão significado a alguma coisa”. Ele avança ao destacar que essas palavras têm significado. Jo Gu se expressa no mesmo sentido, porém trazendo o elemento que dinamiza esse gênero textual: o jogo. Ele afirma que se pode brincar com o poema quando diz: “são palavras que rimam, que brinca e fala das coisas”. Ele percebe o que José Paulo Paes (1991) enfatiza: “poesia é brincar com as palavras” e aproveita para confrontar o poema com a brincadeira, com o texto que comunica algo. Isso nos remete Gebara (2012, p.31-32) quando enfatiza a respeito do jogo e da leitura estética:

A leitura estética, quando desenvolvida pela criança, também pode ser entendida como uma ação lúdica determinada pela estrutura do material, o texto literário e, no caso deste trabalho, o poema. Este seria o brinquedo, que pode ser utilizado de diversas maneiras, que pode ou não ter sido elaborado tendo em vista a brincadeira. É possível ver uma criança brincando com uma panela como se fosse um tambor. É possível, de forma analógica, encontrar exemplos de textos que não foram feitos para crianças, mas que são objeto de suas brincadeiras.

Temos presentes, no jogo e no poema, várias características que se assemelham e se diferenciam e por serem atividades que promovem a interação cognitiva-emotiva entre os envolvidos, construídos social e historicamente contribuem para o desenvolvimento das funções superiores da criança (GEBARA, 2012).

Por sua vez, Adri Ma, no diálogo com a professora, vai elaborando seus conhecimentos e, nessa construção, ele se fixa no atributo particular do conceito de poema que é expressão de um sentimento, ao afirmar que são “palavras que a pessoa sente”, “vem do coração” “[...] como sentimentos”. Não vai além, pois não vê o poema como texto, mas como conjunto de palavras que geram e evocam uma sensação, produzindo sentimento; por isso, consideramos que ele, também, está num processo de transição do sensório-perceptivo para a confrontação.

Nesse mesmo nível, consideramos ainda o conceito prévio de Mic Do, quando esse diz: “Um poema pra mim é um sentimento em palavras”. O partícipe consegue perceber que quem escreve um poema pode fazer uso das palavras para manifestar seus sentimentos. Essa é uma afirmação importante já que o poema é um jogo com a linguagem, uma maneira original de ver o mundo e de dizer as coisas. Por demonstrar sentimento, tem poeticidade e, como afirma Lajolo (2001) “A poesia nasce de um olhar especial que o poeta divide com seus leitores através do poema”.

Consideramos esse momento inicial de suma importância para diagnosticar que os alunos trazem consigo muitas informações e têm internalizado, mesmo que, de forma elementar, conhecimentos que são tomados de suas vivências e de suas experiências anteriores.

De acordo com a metodologia de elaboração conceitual de Ferreira (2000, 2008, 2009a) e a perspectiva Vygotskyana da formação de conceitos, conduzimos a análise e o processo de elaboração conceitual apreendendo os conhecimentos prévios dos partícipes nessa conversa, a primeira de muitas outras, além de encontros e leituras sobre o projeto.

Nesse primeiro momento, podemos sintetizar que os partícipes apreendem de atributos em nível sensório-perceptivo, outros têm um discreto avanço em seus conceitos, pois ficam na transição entre o sensório-perceptivo e a confrontação. Vinculam poema às suas experiências imediatas, pois, no momento anterior, estavam lendo os textos poéticos metalinguísticos que explicitavam o que era poesia. Também não podemos esquecer os anos anteriores de estudo quando muitos projetos foram desenvolvidos com o estudo de poemas. Sendo assim, eles elaboram seus significados com alguns atributos particulares. Somente Ma Clem e Mo Al chegam no patamar da diferenciação, distinguindo alguns atributos que dão

especificidade ao conceito de poema e elencando o que consideramos atributo geral do poema: poema é texto.

Em outra oficina, sem que ainda houvesse um aprofundamento, voltamos à discussão e pedimos que os alunos sistematizassem por escrito, de forma mais pensada, o seu entendimento quanto aos significados de poema e de poesia. Passaremos, agora, a discutir, analiticamente, cada um dos conhecimentos prévios emitidos por nossos partícipes.

Os partícipes demonstraram ter apreendido do significado de poema poucos atributos que mostram as relações funcionais do fenômeno, elencando alguns aspectos formais, o que se vincula ao fato de já terem lido poemas e discutido o assunto com a professora, bem como pelas suas experiências dos anos anteriores.

Assim, suas respostas revelam, em sua maioria, que essas informações foram retidas via sensação e percepção, após lerem os poemas “Convite”, de José Paulo Paes e “Tem tudo a ver”, de Elias José, terem ouvido as orientações para a participação nas OLPEF e as explicações de como procederíamos em relação ao projeto. Dessa forma, fica evidente que a maioria dos partícipes se encontra no sensório-perceptivo. Vejamos, detalhadamente, cada uma das respostas dos alunos com relação a esse nível de construção conceitual.

Quadro 22 - Síntese dos conhecimentos prévios de poema no nível de elaboração conceitual sensório

perceptivo

Partícipe Conceitos prévios de poema Categoria

1. Adri Ma São frases feitas no meio do caderno e um poema tem estrofes e versos.

Sensório- perceptivo 2. Adri Ra Poema é sentimentos em palavras.

3. Elv É um conjunto de quatro versos, que se forma estrofe que acaba formando um poema.

4. Gily São palavras que têm um som doce, baixo e alto. Que a pessoa possa imaginar o que está imaginando.

5. Hig Ra Eu entendo que poema é uma história que rima que tem o som alto e baixo.

6. Jam Ma Poema é um tipo de poesia que significa a escrita.

7. Jar ke Pra mim o poema é escrito por várias estrofes que tem uma rima, ritmo etc.

8. Key Ra Poema é uma coisa que tem rima, mas nem em todas as palavras.

9. Lu Vi É um conjunto de palavras que rimam.

10. Ma Fa É fazer estrofes e outra estrofe e um começo, meio e fim. Eu faço um poema de 4 estrofes.

11. Mica O poema é parecido com um texto e nele você pode expressar o que você quiser como uma história, uma poesia.

12. Rof Poema é quando a gente rima as palavras. Fonte: Ferreira (2012)

Analisando os significados prévios da palavra poema, expressos pelos partícipes do quadro anterior, percebemos a ausência de características necessárias e suficientes para atribuir significação ao termo poema. O que eles expressaram não é suficiente para que, de fato, esteja no nível conceitual, mas no sensório-perceptivo de nossa categorização. Os partícipes captam, organizam e interpretam a partir de suas observações de seu mundo imediato. Contudo, não é um registro passivo, nossos órgãos dos sentidos recebem as informações com grande atividade cognitiva. Luria (1991, p.41) afirma que:

O primeiro traço peculiar da percepção consiste em seu caráter ativo e imediato. Como já lembramos, a percepção do homem é mediada pelos seus conhecimentos anteriores, decorrentes da experiência anterior e constitui uma complexa atividade de análise e síntese que compreende a criação da hipótese do caráter do objeto perceptível e a decisão acerca da correspondência do objeto perceptível a essa hipótese.

Destacamos essa categoria para as respostas de alguns partícipes, visto que, de acordo com os conhecimentos anteriormente internalizados, bem como o contato com os textos lidos em sala de aula, eles apreenderam da palavra poema algum atributo via sensação e percepção ao ouvir ou ler os textos poéticos. Como por exemplo:

Quando o partícipe (1)Adri Ma escreve que poema: “São frases feitas no meio do caderno e um poema tem estrofes e versos”, ele está se referindo ao aspecto visual de um poema visto no livro ou numa folha de um caderno. Reconhece as estrofes e os versos. A imagem representada, em sua mente, é aquilo que ele absorve através da percepção ao ver um poema, ou seja, o modo como o texto se materializa em algum suporte. Ele elenca poucos atributos, manifestando, de maneira incompleta, alguns aspectos formais.

O conceito prévio de (2)Adri Ra “Poema é sentimentos em palavras” demonstra que esse significado ainda não é suficiente, pois poema é gênero textual e não sentimento. Este é uma característica desse gênero textual quando o texto contém poeticidade, um dos atributos particulares do poema. Contudo, o aluno não explora os demais aspectos que já elencamos