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3 UM DIÁLOGO SOBRE POEMA E POESIA NO MICROESPAÇO-TEMPO SALA

3.1 O MICROESPAÇO-TEMPO: A SALA DE AULA

Consideramos a sala de aula um microespaço-tempo físico e social, onde existem características específicas em que o momento sociopolítico e cultural emerge, a partir de seus participantes efetivos, particularmente, o(s) professor (es) e alunos, os quais estabelecem relações de ensino-aprendizagem e interações num contexto dialético. Assim, é possível, por meios de experiência vivenciadas, contribuirmos com outras práticas escolares.

Nesse microespaço-tempo multifacetado, socialmente constituído, historicamente conquistado e construído, esta pesquisa averigua o aprendizado dos alunos quanto à escrita. Consideramos “micro” por estar inserido em contexto mais abrangente, com outras

organizações estruturais e sociais denominadas “escola”. Ela, também, se insere num espaço- tempo “macro”, que é a sociedade com seus movimentos e suas contradições.

Então, costumamos associar a sala de aula à escola e vice-versa. Segundo Novelli (1997, p. 44), “A sala de aula partilha a categoria da espacialidade com outros espaços, mas a forma de sua ocupação cria a especificidade”. Não basta dizer que uma sala é sala de aula; é preciso envolver todo um contexto histórico-cultural para que se torne o espaço-tempo onde aconteça o ensino e a aprendizagem. Essas atividades desenvolvidas, em seu interior, diferenciam de outros espaços.

A sala de aula enquanto espaço de encontro, daí ocupado, é local de exigências e desafios, posto que é isso que resulta do estar com o outro. Nunca se está o suficiente com o outro, pois o encontro é negado em seu próprio acontecer. Isso significa que o ato de estar junto deve ser investigado segundo o que pode ser para que possa ser mais do que é. Por isso, professor e aluno necessitam estar constantemente atentos ao que são para não calcificar o próprio ser e inibir outras possibilidades. (NOVELLI, 1997, p.49).

O microespaço-tempo sala de aula envolve encontros e desencontros, certezas e incertezas, problemas e desafios que extrapolam esse espaço e tempo de aprendizagem, possibilitando rupturas e reorganização dos conhecimentos, funções mentais, processos, procedimentos lógicos, entre outros.

Ao refletirmos sobre o conceito de tempo, entendemos que essa entidade é imprescindível para a compreensão do processo de interação, visto que é, na dimensão espaço-tempo que se materializa a especificidade da sala de aula: o ensinar e o aprender. Daí a necessidade de que no microespaço-tempo sala de aula, ocorram situações de aprendizagens intencionalmente planejadas e estruturadas para que o aluno desenvolva e avance em suas habilidades, no caso específico dessa investigação, na sua habilidade escritora.

Nesse sentido, o estar com outro na sala de aula não significa um fato que ocorre aleatoriamente; implica uma mediação planejada, estruturada e constituída com o objetivo de propiciar o desenvolvimento de aprendizagens dos sujeitos nele envolvido.

Para Góis (2012), o conceito de tempo é necessário para a compreensão da história do homem, como um ser capaz de transformar a natureza, procurando adaptar essas transformações às suas necessidades. Ao mesmo tempo que suas ações vão acontecendo, o homem, num processo uno, vai agindo, também, sobre si mesmo, se automodificando, desenvolvendo as suas faculdades, mudando as formas de organização social, redimensionando a sua vivência no mundo. A autora, afirma, ainda que:

Essas modificações se operam numa sequência, num processo, ou seja, num transcurso e num espaço transformado pela ação dos mais diferentes grupos sociais que em determinado período, se fizeram presentes num determinado local. A reflexão e ação sobre essa experiência, e, não sua consequência imediata, contribuem para a formação de uma consciência geral do tempo. (GÓIS, 2012).

Temos a clareza de que é, na ambiência escolar que alunos e professores, em processo de desenvolvimento de conhecimenos, estabelecem, permanentemente, relações sociais que vão construindo a sua existência, ensejando novos saberes, visto que estimula sua criatividade e autonomia, culminando com a sua desenvoltura.

Assim, o tempo como entidade, tem sua organização estrutural e social na sala de aula com a finalidade de concretizar o ensino e a aprendizagem com sucesso escolar. Esse tempo, na pesquisa em pauta, pode ser traduzido como períodos letivos e horários que a escola estabelece, embora saibamos que o tempo da aprendizagem do aluno deve levar em consideração não somente o tempo linear, cronológico, mas o amplo espectro de concepções como explica Silva Junior, Tenório e Bastos (2007, p. 7)

É comum, hoje em dia, reconhecer um amplo espectro de acepções relativas ao tempo, tais como tempo biológico, tempo cósmico, tempo psicológico, tempo econômico, tempo individual, tempo global e uma longa relação de referências temporais que agregam ao substantivo “tempo” um qualitativo, que, em verdade, representa, antes que uma definição, uma caracterização de como se dá a experiência do tempo em cada um dos espaços de produção do conhecimento.

O tempo de aprendizagem deve considerar o ritmo de aprendizagem dos alunos, o que varia ao longo do dia, bem como o grau de atenção para as situações de aprendizagem. Segundo Góis (2012):

[...] a relação temporal antes-depois, presente em todos os fenômenos, contribui para a compreensão a respeito da complexidade inerente à sociedade, além de possibilitar a articulação entre as diversas áreas do conhecimento (Geografia, História, Biologia, Matemática, Física, Artes, entre outras), ao promover o desenvolvimento de determinadas habilidades, como observar, comparar, analisar, estabelecer relações, etc., condições estas que mobilizam o funcionamento intelectual do indivíduo, facilitando-lhe o acesso a novas aprendizagens.

Observar, diagnosticar, refletir, comparar e analisar o tempo de aprender do aluno junto a ele é saber construir essa aprendizagem, a partir de uma concepção colaborativa e

reflexiva. Isso significa dizer planejar o seu processo de aprendizagem, suas capacidades, seu ritmo de estudo, sua concentração, interesses e necessidades em busca de uma aprendizagem qualitativa, e, nesse caso, mobilizar o intelecto do aluno para facilitar a aprendizagem da escrita.

Dessa forma, buscamos, dentre os gêneros textuais escritos, trabalhados no currículo dos 6º anos do Ensino Fundamental, um que fosse relevante para a vida dos alunos, ou seja, aquele capaz de interagir e caminhar rumo à descoberta de várias leituras e escritas, bem como despertar o imaginário, a criatividade e, sobretudo, encantar as crianças com a palavra.

Nossa intenção era que sentíssemos o gosto pela surpresa, pelo ritmo, pela beleza de escrever, que despertasse seu interesse por ver o outro lado das coisas, dos fatos, dos fenômenos e, assim, conhecer o ritmo do mundo através da leitura de um poema, bem explicitado nas palavras de um de nossos partícipes da pesquisa: Ma Clem (2012), quando disse: “Um poema pra mim é texto onde você conta alguma coisa muito interessante, onde você passa o que você sente”.

Assim, no microespaço-tempo sala de aula, por meio de um projeto audacioso, jorramos poesia pelos olhos, pelos ouvidos para fazê-la chegar ao coração e, dessa forma, com a criação de poemas, alimentar a busca por uma produção de textos prazerosa, significativa para que nossa humanidade pudesse ser vivificada, vislumbrando uma produção criativa da palavra.

3.2 A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS E SIGNIFICADOS: O CONCEITO DE POEMA E