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2.5 PROCEDIMENTOS ANALÍTICOS

2.5.4 Produções poéticas dos alunos

Os critérios para análise dos poemas refletem a forma como os gêneros textuais foram trabalhados nas oficinas. Levamos em consideração o tema: “o lugar onde vivo”, proposto pela “Olimpíada de Língua Portuguesa: escrevendo o futuro” que fora trabalhado pelos alunos. As situações de aprendizagem realizadas por eles nas oficinas de poemas visavam à apropriação da linguagem e das palavras como meios de comunicação e expressão da criatividade.

Salientamos que a garantia da apropriação do conceito é a sua aplicabilidade. Assim, nas oficinas, os alunos foram construindo seus conhecimentos com as orientações de “como fazer” até chegarem a produzir textos com grande potencial.

Eles conseguiram – após os estudos, as situações de aprendizagem, as elaborações conceituais, as sessões reflexivas e as várias leituras e releituras de textos poéticos – escrever seus poemas, embora nem todos tenham atingido o nível de estágio conceitual (quando de suas reelaborações dos conceitos de poema e poesia) de acordo com as categorias por nós elencadas, haja vista seus estágios de maturação.

Bakhtin (1992, p.301-302) afirma que a atividade da fala ou da escrita sempre exige do sujeito produtor “uma forma padrão e relativamente estável de estruturação de um todo, que constitui um rico repertório dos gêneros dos discursos orais (e escritos)”. Ele afirma ainda que “em nossas práticas comunicativas usamos os gêneros com segurança e destreza, mas podemos ignorar totalmente a sua existência teórica”.

Segundo Koch e Elias (2011) subjazem às nossas produções escritas os seguintes pressupostos: ao escrevermos nos baseamos em “modelos” que são construídos socialmente, o que proporciona maior facilidade de produzir um texto; esses modelos são abstrações de situações de que participamos e do modo de nos comportarmos linguisticamente, portanto, em sua constituição, entram de forma inter-relacionada aspectos cognitivos sociais e interacionais; esses modelos podem ser reconstituídos ao longo da existência, em decorrência das inúmeras práticas sociais de que participamos. A escrita de textos requer a ativação de modelos para organizar o texto, selecionar as ideias e os modos de construção do dizer, do posicionamento enfatizado quando se concebe a relação linguagem, mundo, práticas sociais. Koch e Elias (2011, p. 58) reforçam:

• quando escrevemos, não somos totalmente “livres” para utilizar indiscriminadamente qualquer forma textual;

• como qualquer outro produto social, os gêneros textuais não são formas fixas, mas estão sujeitos a mudanças, decorrentes das transformações sociais, de novos procedimentos de organização e acabamento da arquitetura verbal, bem como de modificações conforme o lugar atribuído ao ouvinte.

Na análise dos poemas escritos pelos alunos, levamos em consideração o modo como eles organizaram as palavras de forma diferente do dia a dia, o modo novo de ver a realidade, a sua originalidade e o modo como se diz dessa realidade.

Conforme Goldstein (2012) avaliamos o poema no seu conjunto, não somente se eles têm rima, ritmos regulares, ou seu sentido literal, mas observar as associações de palavras que as pistas do texto propõem. É muito importante constatar como todos os elementos dos poemas se combinam. Deve considerar como os poetas da escola veem o mundo e sua proposta para que o leitor também o veja: de maneira única, inaugural, particular, ou seja, o poema é singular tanto pelo conteúdo quanto pela forma.

Com essa compreensão, nos referendamos em Altenfelder e Armelin (2010) e Goldstein (2012) para tomarmos como categorias para a análise dos poemas produzidos pelos alunos, durante as oficinas de poemas, os seguintes critérios:

Quadro 21 - Categorias para análise dos poemas

Categorias Subcategorias Descritores

1. Tema: o lugar

onde vivo ----

O poema se reporta de forma pertinente a algum aspecto da vida local (peculiaridades regionais, sons, cores, cheiros).

2. Adequação a gênero

a)Adequação discursiva

Considerado em seu conjunto, o texto tem unidade de sentido?

Atende a finalidades predominantemente estéticas.

b) Adequação linguística

Para a construção do poema, o autor utiliza alguns dos recursos poéticos trabalhados nas oficinas como:

a) organização em versos ou estrofes?

b) efeitos sonoros: ritmo marcado (regular ou irregular) e rimas (regulares e ocasionais)?

c) repetição de letras, de palavras ou de expressões?; d) repetição da mesma construção (paralelismo sintático)? e) emprego de figuras: comparação, metáfora e personificação?

Outros recursos eventualmente utilizados produzem efeitos estéticos apropriados?

3. Marcas de

autoria ----

Título do poema motiva a sua leitura?

O poema envolve o leitor por meio de recursos e procedimentos efetivamente literários?

O retrato poético revela um modo peculiar de ver o local? Por suas escolhas e recursos, o poema pode surpreender e seduzir o leitor?

Fonte: Adaptado de Altenfelder e Armelin (2010) e Goldstein (2012).

Com esses parâmetros, analisamos os poemas escritos pelos alunos do 6º ano “A” da EMPZ em nossa pesquisa. No capítulo que segue, discorremos sobre as interlocuções teóricas a respeito da atividade da escrita, da sala de aula como microespaço-temporal de construção de ensino-aprendizagem e os resultados de nossas análises.

A ESPLENDOROSA CIDADE DO SOL1 Natal, maravilhosa Cidade do Sol! Eis as palavras que te descrevem: linda, bela, formosa, exuberante. Às vezes, sofrida, derramada em prantos. Em outros momentos, cheia de encantos. Amo a ti, cidade Natal!

Tu és tão destacada. entre as polis, A mais amada. Mas tenho uma tristeza: esses déspotas governantes

brincam com tua beleza! Fazem dos buracos retratos como se fossem belas memórias

e de tuas calamidades, uma vistosa imagem litorânea

para compor a história. Nestes meus versos,

peço para preservar a história nordestina,

a cultura potiguar. Aqui tem o camarão alimento melhor não há.

Obrigado, Natal! Minha cidade querida.

O sol do Criador ilumine meu povo, preserve tuas dunas,

praças e avenidas. Amo-te, Natal! Em ti tenho guarida.

Forte raio de sol a iluminar como um farol à beira-mar a minha vida! (MA CLEM, 2012) 1

3 UM DIÁLOGO SOBRE POEMA E POESIA NO MICROESPAÇO-TEMPO SALA