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O lugar de viver nos versos dos Poetas da Escola

3 UM DIÁLOGO SOBRE POEMA E POESIA NO MICROESPAÇO-TEMPO SALA

4.3 A PRODUÇÃO DE POEMAS

4.3.2 O lugar de viver nos versos dos Poetas da Escola

Nesse processo de ensino-aprendizagem, apesar de interrupções decorrentes de greves dos professores municipais, problemas estruturais como falta de materiais, ausências de professores, entre outros problemas, vislumbramos resultados positivos, tais como: o interesse, a participação, a colaboração, a busca por leituras na biblioteca e produção de textos. Assim, podemos afirmar que:

O espaço de ensino-aprendizagem precisa ser como apontou Vygotsky, um jogo que prepare os alunos para agirem na realidade. Em outras palavras, através da educação, os alunos ganham experiência para agir no mundo de forma informada e crítica. (LIBERALI, 2012, p. 62).

Apresentamos os poemas de nossos partícipes, cuja temática refere-se ao lugar onde vivem. Neles, podemos perceber a visão dos alunos sobre seu lugar de viver e suas visões de mundo: a casa, o quintal, a rua, o bairro, a cidade, o estado, o país. Poderemos sentir com eles a emoção com que escrevem e descrevem esse espaço-tempo, seus estilos, as ideias que projetam desses lugares, os aspectos sócio-histórico-culturais permeados nos versos, colocando-nos em seu mundo imaginário e, às vezes, real com “toque” de criatividade.

O LUGAR ONDE EU VIVO 1 O lugar onde eu moro

é muito pequeno,mas gosto de lá, o quintal é muito espaçoso gosto de correr de lá para cá. 5 Lá os vizinhos são muito legais

e todo mundo nunca briga e todos são amigos.

Alegria é ver todo mundo feliz. 9 Gosto da rua Severino Soares

porque algo me diz que lá onde eu moro, é especial.

(ADRI MA, 2012)

Adri Ma segue o critério do tema “O lugar onde vivo” a partir de seu título. Ele descreve seu lugar (casa, quintal, vizinhança e onde mora. Ele diz, em seu texto, por meio de antíteses, fazendo referência a sua casa que o lugar onde mora “é muito pequeno” (v.2), mas com quintal “muito espaçoso” (v.3).

Descreve a sua maneira de viver e também a dos vizinhos que são amigos. Ele retrata uma convivência harmoniosa entre as pessoas “E todo mundo nunca briga” (v.6) que pode estar, apenas, em seu mundo imaginário porque, pelo que se sabe do bairro, onde se localiza a citada rua nem sempre é dessa forma que foi retratada em seu poema.

Quanto à adequação ao gênero, o partícipe organiza o texto em três estrofes, cada uma com quatro versos, os quais apresentam algumas rimas: lá (v.2)/cá (v4); feliz(v.8)/diz(v.10). Existem recursos sonoros como repetição de palavras; lá (vs2,4,5 e 11) e /gosto (vs.2,4 e 9). Percebemos um contraste espacial (pequenos/espaçoso) entre o tamanho da casa/quintal. Seu poema sugere um lugar especial pelo espaço para brincar e pela harmonia entre os vizinhos.

Conforme a categoria “marcas de autoria”, Adri Ma não consegue atribuir um título diferente do tema sugerido. No entanto, o partícipe, além de ter feito uma nova leitura do ambiente onde mora que, imaginamos ser o que ele deseja e não o que vivencia, apresenta, em seu texto, alguns recursos estéticos, tais como o texto em forma de poema, dividido em estrofes com algumas rimas.

NATAL E EU 1 Natal, essa cidade

tem coisas boas e coisas ruins. As boas são os pontos turísticos como o Morro do Careca o Farol de Mãe Luiza ,

o Forte dos Reis Magos e as praias. As coisas ruins são a má segurança, os assaltos, o vandalismo.

9 Eu conheço um amigo que não pode sair

porque a situação não é boa. Os vagabundos, ladrões estão soltos e os inocentes estão sofrendo com isso. 14 Se eu pudesse,

mudaria tudo isso

A ex-prefeita, praticamente, estragou Natal

E eu não sei se tem solução. 19 Mas por favor,

futuros prefeitos, Melhorem Natal! Só sei de uma coisa, Se a vida fosse fácil,

A gente não nascia chorando. (ADRI RA, 2012)

Na análise do tema do texto, Adri Ra trabalha com a ideia de paisagem da cidade’:“como o Morro do Careca” (v.4);“o Farol de Mãe Luiza” (v.5); “o Forte dos Reis Magos e as praias” (v.6),, pontos turísticos que demonstram a beleza do local, mas também com inúmeros problemas sociais e políticos, inclusive criticando a gestão pública. Ele retrata a cidade, demonstrando que conhece a situação de violência e clama por melhoria (vs. 19 a 21).

Na categoria adequação ao gênero, verificamos que o texto é um poema, os versos dispostos em estrofes com alguns efeitos sonoros, como, por exemplo, as aliterações (essa/cidade/isso/assalto/ segurança; fosse/fácil; farol/forte) e assonâncias (o farol/ forte). Consideramos a adequação discursiva,pois o poema apresenta sentido, com descrição crítica e analítica da realidade sociopolítica da cidade.

“Natal e eu”, título do poema, anuncia uma relação entre o eu lírico e a cidade de Natal, posição essa predominante na 2ª e 3ª estrofes, como constam nos versos 14 e 15 “Se eu pudesse/ mudaria tudo isso”. Nesse sentido, o texto se desenvolve e surpreende o leitor.

O LUGAR ONDE EU VIVO 1 Eu vivo em Natal

No bairro de Nazaré Lá é muito bom

Só que faltam muitas coisas Como quadras de futebol. 6 Minha cidade é Natal

Lá é muito bom

Porque tem muitas praias Muitos parques ecológicos Como o Parque das Dunas Parque de diversão 12 Tem muitas coisas

Casas, apartamentos, vilas, Travessa, avenidas, bairros Zonas, vilas e becos

Natal, Cidade do Sol,

Tu representas muito para mim! (AL GU, 2012)

Al Gu nos antecipa, a partir do título, que irá falar do lugar onde vive. Título não criado por ele, pois aproveitou o próprio tema da produção textual. Já na primeira estrofe (vs. 1 e 2), apresenta sua cidade e o bairro onde mora: “Eu vivo em Natal/No bairro de Nazaré”, onde existem muitas coisas, mas lhes faltam outras “como quadras de futebol” (v.5). Na 2ª estrofe, mostra os elementos paisagísticos que demonstram o lado bom da cidade; na 3ª estrofe, uma diversidade de espaço habitacional de forma generalizada.

A respeito da categoria adequação ao gênero, verificamos que, mesmo disposto em versos e, estes em estrofes, os efeitos sonoros estão ausentes, tais como ritmo e rimas, além da linguagem conotativa. Apesar de apresentar repetições de expressões como “lá é muito bom” (vs.3 e7), esse texto configura uma descrição de lugar sem muita poeticidade, aproximando-se da prosa.

No entanto, o autor utiliza-se da expressão “Lá é muito bom” na 2ª e 3ª estrofes, distanciando-se de onde mora e onde fica a escola onde estuda, através do advérbio “lá”em lugar de “aqui”, que representaria uma maior inserção espacial. Por outro, lado, a repetição da expressão “é muito bom” exterioriza seus sentimentos pelo bairro e pela cidade.

Nos dois últimos versos, especialmente, percebemos um olhar de encantamento do eu poético sobre a cidade quando ele diz “Natal, Cidade do Sol/Tu representas muito para mim!”(vs. 16 e 17), o que demonstra sentimento sobre o lugar onde o eu lírico vive.

É MUITO BOM 1 O lugar onde eu vivo

tem muito valor

Tem felicidade, romance e amor é isso que tem de valor

5 O lugar onde eu vivo

Tem felicidade, romance e amor todos riem, todos choram felicidade tem de sobra 9 O lugar onde eu vivo

tem muito valor

Eu tenho orgulho de lá viver é onde eu vou crescer.

(ELVI, 2012)

O título do poema não sugere lugar, apesar de instigar o leitor para querer saber o que “é muito bom”. Isso só será descoberto com a leitura do texto. O poema de Elvi se reporta a um lugar com características valorativas positivas, tais como aparece na primeira estrofe “Tem felicidade, romance e amor”(v.3); na segunda “Tem felicidade, romance e amor”(v.6), “felicidade tem de sobra”(v.8):e na terceira estrofe “tem muito valor”(v.1010). Para demonstrar que, nesse lugar também existe sofrimento, dificuldade, o poeta expressa na segunda estrofe “[...] todos choram” (v.7). O título e o poema, de modo geral, não revelam que lugar é esse, podendo ser qualquer um ou sua cidade natal, ou seja, um ambiente onde ele se sente bem, “é onde pretende crescer”(v.12).

Ao falarmos da adequação ao gênero, o autor utilizou alguns recursos poéticos trabalhados nas oficinas como as rimas e os versos divididos em estrofes. Vemos, também, repetições de palavras e versos ao longo do poema, constatando um paralelismo sintático O lugar onde eu vivo (vs. 1,5e 9); tem muito valor (v.2 e10); “Tem felicidade, romance e amor” (vs. 3 e 6) o que ocasionou o ritmo e a sonoridade do poema.

NATAL E EU

1 Eu moro em Natal terra linda potiguar lá tem escola, tem trabalho para as nossas vida melhorar. 5 Eu moro na Zona Oeste

lá e bom de si morar, mas tem assalto, tem ladrão mesmo assim, eu moro lá

9 Eu moro em Natal Terra linda e especial

tem o Museu Câmera Cascudo Que eu já fui visitar.

13 A Cidade do Sol tem o Forte dos Reis Magos Bom de apreciar Em Mãe Luiza, o Farol

para de longe observar o mar . 18 Onde eu moro

tem festa e folia

esse poema começa e termina com muito alegria.

(EMY, 2012)

Na análise do tema, Emy identifica desde o título a sua relação com o lugar onde vive: “Natal e eu”. No decorrer do texto, faz a descrição da cidade, mostra a paisagem, comenta sobre o modo de vida local, apresenta aspectos turísticos da cidade, mas também seus problemas. Mostra que tem uma relação de afetividade e de contentamento com o local onde mora demonstrada com ênfase na última estrofe.

Na adequação ao gênero, percebemos que, na subcategoria adequação discursiva, o poema apresenta unidade de sentido. Esteticamente, demonstra haver coerência linguística, pela organização em versos e estrofes, a maioria em forma de quadra; pelos recursos sonoros – repetições de palavra “lá(vs.2 e 4); tem(vs.3,11e 19); bom”(vs 6 e 15); paralelismos (repetição da mesma construção sintática: “Eu moro em Natal”(vs.1, 5 e 9); figuras de linguagem, como por exemplo, a aliteração: “trabalho”(v.3)/”melhorar”(v.4);“assalto”(v.7)/ “assim”(v.8)”-“festa/folia”(v.19), uso de perífrase “A Cidade do Sol”(v.13) entre outras.

Apesar do título ser “Natal e eu”, o autor, em lugar de empregar o advérbio “aqui” para situar sua cidade, mantém o distanciamento, nas duas primeiras estrofes, empregando o advérbio “lá”, quando sabemos que o aluno está na própria cidade, mas as marcas de autoria do poema seduz o leitor por meio de recursos literários, pois o retrato poético feito no poema mostra um olhar peculiar sobre o lugar cativando e surpreendendo o leitor.

MINHA LINDA CIDADE 1 Minha linda cidade

é um lugar especial.

fica no Rio Grande do Norte e seu nome é Natal.

5 Com belas árvores e cajueiros uma linda natureza

fico admirando o dia inteiro toda essa beleza.

9 Subo numa árvore para comer goiaba. quando me da sede, desço para tomar água. 13 Minha mãe a sorrir

logo me diz: “menina, cuidado

para da árvore não cair .'' 17 Numa linda tarde de domingo.

Ouço o som do portão abrindo vejo logo um lindo menino que olha para mim sorrindo.

21 Quem será esse menino a me observar? Com alegria visível no rosto

Que olha para mim sorrindo

Com olhos que brilham mais que o luar ? (GILY, 2012)

O poema de Gily se reporta ao tema “o lugar onde vivo”. O eu lírico começa a falar de modo geral da cidade de Natal, situando-a em relação ao Estado do Rio Grande do Norte, indicando a sua localização e de como ela “é um lugar especial”(v.2). Segue falando de suas belezas e, em seguida, de como pode aproveitar a natureza do lugar até mostrar aspectos da vida familiar “Minha mãe a sorrir/ logo me diz:” (vs. 3 e 14)) e do seu despertar curioso para o outro “Quem será esse menino a me observar?”(v.21). A autora deixa transparecer em todo o poema um eu lírico sensível para as belezas de Natal, para a natureza e para as pessoas.

Para a construção do poema, a autora utiliza alguns recursos poéticos. Ela organiza os versos em quadrinhas; apresenta efeitos sonoros através de rimas em todas as estrofes. Apresenta figuras sonoras como a aliteração (“Que olha para mim sorrindo/ Com olhos que brilham mais que o luar?”(vs. 23 e 24) e assonâncias (“ouço o som do portão abrindo” (v.18), pleonasmo (figura que indica redundância) “Que olha para mim sorrindo/ Com olhos que brilham”(vs.23 e 24), apesar de não haver trabalhado essa figura de linguagem que é

“olhar com olhos”. Além disso, a imagem criada pela autora induz o leitor a ver cores, ouvir sons e sentir o ritmo da natureza, do lugar de morar do eu lírico e acompanhar sua ação cotidiana nesse espaço.

O LUGAR ONDE EU VIVO 1 O lugar onde eu vivo

É um lugar dentro do Brasil É Natal, do Rio Grande do Norte No bairro do Bom Pastor

Na Avenida Lima e Silva 6 Aonde eu moro

É um lugar que tem muitas crianças legais e brincalhonas divertidas Brincam de polícia e ladrão Tica- ajuda e corridas.

12 É legal quando a gente joga futebol A gente brinca de contar história Um para o outro

E brincar de estudar Fazendo a tarefa de casa 17 Depois vou assistir televisão

E dormir par acordar bem disposto Para ter muita determinação Para brincar com meus amigos E estudar com atenção.

(HIG RA, 2012)

Na análise do tema do poema de Hig Ra, vimos que o autor se reporta ao tema e faz a descrição do lugar onde vive, partindo do geral para o particular (país, cidade, estado, bairro e avenida) na primeira estrofe. Nas demais estrofes, ele revela o que acontece na rua onde mora, citando as brincadeiras das crianças do lugar “polícia-ladrão” (v.10), “tica-ajuda e corridas” (v.11), “futebol” (v.12), “contar histórias um para o outro” (vs 13 e 14), brincar de estudar fazendo a tarefa (vs.15 e 16). Nessa descrição, o autor mostra como é seu mundo e a natureza das brincadeiras das crianças. Salientamos que os outros brinquedos amenizam o tom violento da brincadeira polícia e ladrão, principalmente, pela brincadeira de contar histórias e fazer as tarefas.

A última estrofe refere-se ao que o eu lírico faz dentro de casa (vs. 17 a 21): assiste à televisão, dorme, tem determinação para brincar e estudar. Dessa forma, o retrato é feito com envolvimento, pois o autor conhece e participa do que acontece nesse lugar.

Na categoria adequação ao gênero, verificamos a coerência discursiva, visto que apresenta unidade de sentido e adequação linguística que se caracteriza pela organização em versos e estrofes; recursos sonoros com rimas na última estrofe “determinação”/ “atenção” (vs. 19 e 21). No entanto, quase não faz uso da linguagem conotativa com poucas figuras de linguagem, tais como assonância e aliteração “crianças”/ “brincalhonas “brincam” (vs. 8 e 9). A marca mais forte da autoria é verificada por meio do retrato poético que mostra um olhar peculiar sobre o lugar. Dessa forma, o autor se situa espacialmente do maior espaço que é o país, até a avenida onde mora e singulariza sua vida através de ações diárias do mundo infantil.

EU BRINCO 1 Onde eu vivo

Eu só brinco A maioria das vezes brinco de morto-vivo. 5 E lá onde moro Só vejo moto Lá onde eu brinco Só vejo gente (ISLA, 2012)

Isla, em seu título, não fala diretamente de um lugar, mas da ação de brincar. É no corpo do pequeno poema que ela se remete ao tema, indicando que no lugar onde vive se brinca. A descrição que faz do lugar não nos permite identificá-lo, mas lá tem brincadeira, trânsito “só vejo moto” (v.6) e pessoas (“Só vejo gente”(v. 8). Como a imagem é feita de forma distanciada com o uso do advérbio lá, a autora fala do lugar de forma geral.

Com relação à adequação ao gênero, o poema, apesar de ser simples, pequeno, com poucas rimas, demonstra unidade de sentido. A poeticidade do poema é verificada no sentimento infantil que o eu lírico tem pelo lugar onde vive.

As marcas de autoria nos são dadas pelo retrato poético feito no poema ao mostrar um olhar melancólico de criança sobre o lugar. Há uma sensação restritiva da palavra só: “Eu só brinco” (v.2), “só vejo moto”(v.6), “só vejo gente”(v.8), apesar de, na primeira estrofe, se referir a brincar.

O LUGAR ONDE EU VIVO 1 Onde eu moro

é um lugar muito legal Eu gosto de aproveitar

O sábado e domingo em Natal. 5 Gosto de jogar bola

Mas não posso ir

Porque lá têm vagabundos É perigoso até se divertir. 9 Já tinha esquecido de falar

O meu bairro é bem divertido Mas não posso esquecer Dos problemas de lá. 13 Quando chega a noite

É muito perigoso passear

A onda de assaltos é muito grande Que chega a me assustar.

(JAM MA, 2012)

Na análise do tema do poema de Jam Ma, vimos que ele faz essa referência desde o título, pois também usou o tema (“o lugar onde eu vivo”) para dar nome a seu texto, suprimindo, assim, a atividade criativa do título.

Seu poema é composto de quatro estrofes, cada uma com quatro versos. São quadrinhas populares com rimas alternadas em três estrofes e, opostas na penúltima estrofe. Há comentários sobre o modo de vida local, apresentando o bairro como o local divertido, mas com problemas de violência insegurança, como se pode ver nos versos das três últimas estrofes. O retrato é feito de uma forma em que o autor vai se envolvendo com o local, demonstrando conhecê-lo, pois vivencia as dificuldades e incertezas desse lugar.

Ao nos referirmos à categoria adequação ao gênero, verificamos, de início, a coerência discursiva, pois o poema apresenta unidade de sentido ao falar dos problemas sociais que lá existe. De forma simples, atende à finalidade estética; observamos que há certa adequação linguística por trazer as seguintes características: a) pela organização em versos e estrofes (quadrinhas); b) recursos sonoros – rimas, assonâncias e aliterações como podermos ver nos seguintes versos: (“É muito perigoso passear/A onda de assaltos é muito grande/Que chega a me assustar”); repetições de palavras (“gosto”).

Para averiguamos as marcas de autoria, percebemos que o autor faz o retrato poético do lugar e, mostra um olhar peculiar sobre o lugar e seus problemas socioculturais que

provoca empatia em quem lê o texto. Quanto às convenções da escrita, verificamos que a organização do texto não foge à quadrinha popular, usando uma linguagem simples e linear.

O MEU LUGAR 1 O meu lugar

tem pessoas passando pra lá e também pra cá carros vindo e indo. 6 Tem uma sorveteria,

tem uma mercearia. Todo dia vejo gente entrando e saindo de lá.

11 Tem crianças correndo pra lá e pra cá

brincando de bola, brincando de bicicleta indo pra escola. 16 tem cachorro

tem gato

bichos pra lá de bacana esse é o meu lugar aqui quero ficar.

(JAR KE, 2012)

O poema de Jar Ke traz o tema desde o título. Há descrição do lugar, comentando sobre o modo de vida local, apresentação dos moradores, a reflexão sobre o modo como as pessoas se relacionam, mas o retrato é feito de forma generalizada. Em nenhum momento, a autora cita qual é esse lugar. Percebemos sua inserção e envolvimento nesse ambiente, que pelo que é dito, é uma cidade movimentada (“tem pessoas/passando pra lá/e também pra cá/carros vindo e indo”). O autor vai particularizando, dando detalhes, à medida que escreve o poema (Tem crianças correndo/” “[...] brincando de bicicleta/ indo pra escola /tem cachorro/ tem gato”) e fazendo de sua relação com a própria terra de forma particular (“esse é o meu lugar/ aqui quero ficar”).

Em relação à adequação ao gênero, o poema apresenta, em seu conjunto, unidade de sentido e, de forma simples, atende à finalidade estética . Com relação à adequação linguística, apresenta, como característica, a organização em estrofes de cinco versos livres. Traz recursos sonoros por meio de rimas ocasionais, repetições de letras e palavra, bem como paralelismos (“Tem uma sorveteria/ tem uma mercearia” / “ [...]brincando de bola,brincando

de bicicleta”); com poucos linguagem denotativa, traz algumas figuras, como a assonância (“pra lá e pra cá) , aliteração (“brincando de bola,/brincando de bicicleta”).

A autora conclui o poema com um sentimento de pertença ao lugar (‘esse é o meu lugar/ aqui quero ficar, deixando sua marca autoral motivada desde o título, pois ele anuncia o que o poema diz.

LUGAR ONDE EU MORO 1 O lugar onde eu moro

tem becos, ruas e vilas mas não posso me esquecer que também tem muitas avenidas 5 O lugar onde eu moro

a gente brinca a gente chora, mas tem algumas pessoas que se apaixonam na hora. 9 O lugar onde eu moro

tem muito estresse mas existem pessoas que agente nunca esquece. 13 O lugar onde eu moro

é em Natal sol iluminando em uma capital. 17 O bairro onde eu moro

é um pouco difícil mas se a vida fosse fácil eu não nascia chorando. 21 Esse é o lugar onde eu vivo

com dificuldade,

uma pitadinha de perigo mas que me dar abrigo.

(JO GU, 2012)

Na análise do tema, o autor praticamente o reproduz “ O lugar onde eu vivo” quando substituiu a forma verbal “vivo” por “moro”, sendo que o verbo viver dá mais a ideia de perenidade e o verbo morar de possível transitoriedade.

Na primeira estrofe, faz uma enumeração espacial crescente quase perfeita, não fosse a ordem “ruas” e depois “vilas”: “becos, ruas, vilas (v.2) e avenidas (v.4). Nas estrofes segunda, terceira, quinta e sexta, a partir do segundo verso, o autor apresenta sempre algo

desagradável, no entanto, não deixa de utilizar um MAS, às vezes escrito MAIS, amenizando o que poderia ser um desconforto na sua moradia.

Na quarta estrofe, o autor nomeia o lugar onde mora que é Natal fazendo referência à cidade do sol, como é conhecida, através do “sol iluminado” (v.15). No primeiro verso das cinco primeiras estrofes, o autor emprega o verbo morar e, na última estrofe, o verbo viver assumindo desde a estrofe anterior “O bairro onde eu moro” (v.17) e finalmente “Esse é o lugar onde eu vivo”(v.21).

O texto apresenta rimas desde a 1ª estrofe: “vilas” (v.2) e “avenidas” (v.4); 2ª estrofe: “chora” (v.6) e “hora” (v.8); 3ª estrofe: “estresse” (v.10) e “esquece” (v.12); 4ª estrofe: “Natal” (v.14) e “capital” (v.16); 5ª estrofe: “difícil” (v.18) e “fácil” (v.19) e na 6ª estrofe:” perigo” (v.23) e “abrigo” (v.24).

Repetição do mesmo som: “iluminando” (v.15) e “chorando” (v.20); “difícil” (v.18), “fosse fácil” (v.19), “dificuldade” (v.22) e “pitadinha” e “perigo” (v.24).

Quanto à adequação ao gênero, identificamos o texto em forma de poema e com sentimento, especialmente nos versos: “mas tem algumas pessoas/que se apaixonam na hora” (v.7 e 8), “mas existem pessoa/ que agente nunca esquece” (v.10 e 11)e “uma pitadinha de perigo/ mas que me dar abrigo” (v23 e 24).

MINHA CIDADE NATAL 1 O lugar onde eu vivo

É muito bom de se morar