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As Sessões reflexivas: espaços de produção e reflexão

2.4 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA A

2.4.4 As Sessões reflexivas: espaços de produção e reflexão

Esse processo, por nós vivenciado, demonstra que o aprendizado intencional e planejado de modo que haja interação, promove o desenvolvimento intelectual e a produção de conhecimento. As reflexões que foram se constituindo entre nós teve um processo de elaboração mediado pela professora e associado à escrita.

A mediação desse processo reflexivo constituiu-se por meio das ações de descrever, informar, confrontar e reconstruir nosso ato de aprender em sala de aula, tais como: a produção de texto do gênero poema (e outros gêneros), nossas elaborações conceituais, as discussões para atingirmos os objetivos, enfim, a nossa colaboração.

Assim, demonstramos que é possível proporcionar entre estudantes sessões reflexivas na qual os alunos pensem suas práticas de aprendizagem na sala de aula. Apoiamo- nos em Ferreira (2009b, p. 201) que afirma:

A reflexão crítica é, no nosso entender, uma atividade que no contexto da pesquisa colaborativa garante a compreensão mais abrangente da ação educativa que se efetiva na escola e dos fatores que nela intervêm. Por suas peculiaridades, a reflexão demanda um implicar-se individual e coletivamente, o que nos exigiu definir modalidades de ações reflexivas a serem desencadeadas no nosso trabalho.

A nosso ver, as sessões reflexivas se constituíram em espaços de produção e reflexão, que se materializaram, primeiramente de forma intersubjetiva, através de produção escrita do que pensamos sobre o nosso fazer na sala de aula e, depois, em espaço de discussão intrassubjetiva com os pares a respeito dessas aprendizagens.

A sessão reflexiva envolve quatro ações. Conforme Cabral (2010), essas ações respondem a perguntas tais como: O que fiz? (Descrição das ações); O que significa agir desse modo? (Fazer relação das escolhas feitas com as teorias); Como cheguei a ser assim? (Configuração de um quadro sócio-histórico); Como posso agir diferentemente? ((Re)construção das ações que delinearão um novo fazer, construído na relação teoria prática). Os procedimentos das sessões reflexivas com alunos se desenvolveram em dois momentos: primeiramente, sobre a participação na “Olimpíada de Língua Portuguesa: escrevendo o futuro” e a produção de poema e a segunda, sobre o que é colaboração.

A partir das orientações teóricas de Cabral (2010), Ferreira (2009b), Ibiapina (2008), Liberali (2012), Magalhães (2002) e Sousa (2011), como professora/pesquisadora, preparamos as orientações para a sessão reflexiva, para em seguida, partilhar com os partícipes/alunos. Para organizá-las, nos reunimos nos dias 13 e 14 de setembro de 2012. Os alunos receberam as orientações para escrever suas reflexões acerca da participação na OLPEF e a produção do poema, cujo tema era “O lugar onde eu vivo”, seguindo o esquema das quatro ações da sessão reflexiva: descrever, informar, confrontar e reconstruir.

O descrever é compreender como a palavra própria (Backetin, 1953), a voz do ator sobre sua própria ação. [...] As teorias, outras ideias, outras definições alcançadas auxiliam a percepção da prática, mas é preciso uma consciência do que feito, do que aconteceu para que a pessoa possa chegar a novas conclusões sobre seu trabalho. (LIBERALI, 2012, p. 38-39).

O aluno, ao descrever o que fez, rememora os passos que seguiu e consegue perceber a construção de suas ações e identificar o quanto já produziu ou avançou em seus conhecimentos. Isso pode favorecer sua reflexão crítica sobre o seu fazer. Para orientar os alunos a descreverem sobre o seu processo de produção do gênero poema, fizemos os seguintes encaminhamentos conforme os quadros a seguir:

Quadro 14 - Perguntas orientadoras para a ação de descrever

a) Quem escolheu o tema do poema que você escreveu? b) O que motivou a escolha do assunto do seu poema?

c) Como organizou suas ideias para escrever o poema. Por quê?

d) Como você faz para organizar as falas dos colegas e da professora para que você aprenda? Por quê?

e) Quais as formas de participação dos seus colegas?

f) Essa maneira que os colegas participam da aula ajuda você?

g) Quais os passos trabalhados com esse poema? Desde a sua criação até agora? Descreva-os. Fonte: Ferreira (2012)

A ação de informar, tal como Liberali (2012) explicita, podemos fazer a análise do conteúdo que foi trabalhado na sala de aula, ou seja, se ele foi com base no cotidiano, ou se teve influência de conhecimentos científicos. “Envolve uma busca dos princípios que embasam (conscientemente ou não) as ações”. Como nossa reflexão é com os alunos e com uma temática determinada, orientamos, com base nas seguintes questões:

Quadro 15 - Perguntas orientadoras para ação de informar

a) Os seus objetivos pretendidos foram atingidos ao escrever o poema? Por quê?

b) Quais os tipos de conhecimentos trabalhados no seu poema? (História, geografia, língua portuguesa)

c) Por que você escolheu esses conhecimentos?

d) Encontrou dificuldades em trabalhar esses conhecimentos? Quais?

e) Encontrou dificuldades em dialogar com os colegas sobre o seu poema. Teve alguma crítica deles?

f) A que atribui essas dificuldades?

g) O que você faz para vencer as dificuldades? Fonte: Ferreira (2012).

Na ação de confrontar, o ato sociopolítico se faz presente. Podemos perceber quem tem o domínio, o poder sobre nossa vida; a que interesse estamos servindo? Dá-se o processo de pensar criticamente, isto é proporciona entendimentos acerca de valores que dão embasamento a nosso agir, que proporciona a formação da cidadania, o que levaria os partícipes a pensar, participar, questionar assumir compromissos e de submeter de se submeter a críticas, normas e direitos.

Liberali (2012, p. 54) enfatiza que para “entender e trabalhar com o confrontar é preciso um questionamento profundo de valores que estão na base das ações pedagógicas”. Como proporcionar esses modos de participação entre os alunos? Por que praticar essa ação na sala de aula? Continua a nos orientar, dizendo:

Linguisticamente, o ato de confrontar leva ao questionamento das próprias ações por meio de sustentação, refutação e negociação de posições (Dolz & Schneuwly, 1996), com discurso principalmente mais teórico e com apresentação de ponto de vista sustentados pelo descrever e informar. (LIBERALI, 2012, p. 62).

Pensamos que, com essa ação, é possível ajudar os alunos a terem a visão de si como pessoas, como estudantes, como seres políticos e críticos; e que busquem uma transformação.

Para tanto, é necessário que haja colaboração entre todos. Para ajudar na orientação dos alunos, sugerimos as perguntas abaixo:

Quadro 16 - Perguntas orientadoras para ação de confrontar

a) Considera que a mediação desenvolvida pela professora contribui para o desenvolvimento seu e de seus colegas? Por quê?

b) Que conhecimentos (conceitos e teorias) embasam as aulas de sua professora? c) Qual a relação entre esses conhecimentos e sua vida de estudante?

d) Sente alguma dificuldade na relação com sua professora?

e) Tem dificuldade de entender as explicações dela? Quais? Por quê? Fonte: Ferreira (2012).

“Transformação sem ação não é transformação. Reconstruir baseia-se neste pressuposto”, enfatiza Liberali (2012, p. 65). Na reconstrução temos o propósito de caminhar para mudanças, novas possibilidades de agir. Olha-se para o que já foi feito, buscam-se alternativas para melhorar.

Linguisticamente, o reconstruir está ligado à reorganização da ação através de exemplificações, relatos e regulações de comportamento, ou seja, instruções/indicações de ações (Dolz/ Scheneuwly, 1996), como discurso mais interativo e, como relato e apresentação de possibilidades e de ações. (LIBERALI, 2012, p. 66).

Para ajudar na compreensão das ações realizadas na sala de aula, em relação à produção de textos poéticos, elaboramos as seguintes questões como forma de criar condições para a reconstrução e reflexão das práticas de escrita dos partícipes.

Quadro 17 - Perguntas orientadoras para ação de reconstruir

a) Que ideia você daria a sua professora para que melhorasse a aula dela? Por quê?

b) Que relação estabelece entre as atividades da professora e os outros professores que você já teve anteriormente?

c) O que poderia fazer para melhorar o seu desenvolvimento como estudante? d) Que proposta você daria para atingir esse objetivo?

Fonte: Ferreira (2012).

A segunda sessão reflexiva que escolhemos para apresentar nessa pesquisa tratava da colaboração. Ela foi realizada no dia 13 dezembro de 2012, com o objetivo de proporcionar aos alunos maior esclarecimento e prática sobre o tema que já vinha sendo discutido desde o início do projeto, mas que, devido ao contexto em que se encontrava a escola naquele

momento, e pela necessidade de maior consciência da turma, foi necessário maior aprofundamento.

Foram vivenciadas inúmeras situações de aprendizagem como leituras, exercícios, discussões, trabalhos em grupo, para orientar o trabalho da elaboração dos textos para a sessão reflexiva, também organizamos questões para cada ação: descrever, informar, confrontar e reconstruir, conforme o quadro que consta nos apêndices desta pesquisa.

De posse dessas questões em folha xerografada e com espaço ao lado, os alunos elaboram seus textos, por nós orientados e pela professora. Dos 21 partícipes, dezessete participaram dessa sessão. Das dezessete narrativas, trouxemos para esta pesquisa, apenas uma mostra da produção textual dos alunos, cujo conteúdo se encontra no quarto capítulo.