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O conceito de poesia reelaborado pelos partícipes

3 UM DIÁLOGO SOBRE POEMA E POESIA NO MICROESPAÇO-TEMPO SALA

3.2 A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS E SIGNIFICADOS: O CONCEITO DE POEMA E

3.2.2 Reelaborando os conceitos de poema e de poesia

3.2.2.2 O conceito de poesia reelaborado pelos partícipes

A reelaboração do conceito de poesia foi tecida junto ao conceito de poema pelos alunos. A maioria deles conseguiu identificar a poesia como conceito mais abrangente do que o conceito de poema. Em suas elaborações, internalizaram que o sensível se manifesta em várias linguagens, transformando-se em arte do belo, inclusive na linguagem verbal, presente no poema.

Por outro lado, observamos que, devido ao conceito de poesia ser mais abstrato que o conceito de poema, os partícipes tiveram certa dificuldade em avançar em nível de elaborações conceituais, indicando que o domínio desse significado ainda é incipiente.

Quadro 30 - Síntese dos conceitos reelaborados de poesia

Partícipe Conceitos reelaborados de poesia Categoria

1 Adri Ma É a arte que cria imagens dando sentimentos ao poema ou a

qualquer coisa. Confrontação

2 Al Gu

Linguagem em que combina sons. Sem a poesia não existiria poema.

Poesia são imagens. Ex.: emoções com ritmo.

Sensório- perceptivo

3 Hig Ra É arte que cria imagens, dando sentimentos ao poema ou a

qualquer coisa. Confrontação

4 Jam Ma

Poesia, segundo o dicionário é a arte de criar imagens, de dar emoções por meio de uma linguagem em que combinam sons ritmos e significados.

Confrontação

5 Jar ke Eu entendo que poesia é a uma arte, que a arte é imaginação, que

também tem a ver com o poema. Confrontação

6 Key Ra

Poesia, segundo o dicionário é a arte de criar imagens , dar emoções por meio de uma linguagem em que combina sons, ritmos e significados.

Confrontação

sons ritmos e significados.

8 Ma Clem É a arte que cria imagens dando sentimento ao poema ou a

qualquer coisa. Confrontação

9 Mic Poesia é uma arte de criar imagens que dá emoções e que combina

sons, ritmos e significados. Confrontação

10 Mo A poesia, segundo o dicionário é arte de criar imagens, de dar

emoções por meio de uma linguagem. Confrontação

11 Rof

Poesia, segundo o dicionário, é a arte de criar imagens, pinturas, linguagens. A poesia também tem dentro do poema. Quando falamos em poesia estamos tratando da arte, da habilidade de tornar algo poético. Sem a poesia não tem sentimentos, beleza e imaginação.

Diferenciação

Fonte: Ferreira (2012).

O processo de elaboração conceitual mostra a capacidade de operar com o conceito na resolução das tarefas, fato que foi realizado quando os alunos produziram seus poemas. Além disso, esses conhecimentos foram tecidos a partir da reflexão sobre a realidade dos partícipes, ou seja, o lugar onde vivem, bem como os estudos que realizaram no microespaço- tempo sala de aula, os suportes de suas pesquisas, tais como: dicionários, internet, livro didático e outros textos estudados pelos alunos.

Identificamos, na elaboração conceitual do partícipe Al Gu, que ele, ainda, se encontra transitando entre o nível sensório-perceptivo para a confrontação, pois associa poesia a poema, dizendo que “sem a poesia não existiria poema”, o que é um equívoco, pois há possibilidade de existirem poemas sem que a poesia se faça presente. Por outro lado, avança ao citar a linguagem, atributo particular de poesia e dizer que são “emoções com ritmo”. O que impulsiona sua elaboração conceitual para a confrontação com a poeticidade.

Em nível da confrontação, está a maioria dos participes, visto que enumeram atributos e as propriedades gerais do conceito de poesia e os distingue dos essenciais para elaboração do seu significado.

Tomemos, como exemplo, duas dessas elaborações: “Poesia, segundo o dicionário é a arte de criar imagens, de dar emoções por meio de uma linguagem em que combinam sons ritmos e significados” (Jam Ma). Aqui, o partícipe busca a definição do dicionário que traz alguns atributos como o geral (arte); o singular (emoções) e o particular (linguagem).

Na elaboração escrita, igualmente, por Adri Ma, Hig Ra e Ma Clem “É a arte que cria imagens dando sentimentos ao poema ou a qualquer coisa”, avaliamos que eles se posicionam em nível da confrontação, pois enumeram a propriedade geral da poesia (arte) e a propriedade distintiva e essencial de poesia (sentimento) encontrado no suporte poema que

lhes é conhecido e reconhecem que a poesia pode estar em outros fenômenos (qualquer coisa).

Por sua vez, quando Jar Ke afirma “Eu entendo que poesia é uma arte, que a arte é imaginação, que também tem a ver com o poema”, apresenta o atributo geral (arte) e associa poesia a poema, sem, contudo, explicitar essa relação. Identificamos que os demais alunos que estão com suas elaborações conceituais nessa mesma categoria, formularam suas ideias na mesma direção.

Destacamos o que Rof se encontra em nível da diferenciação, quando afirma, em sua elaboração conceitual, que: “Poesia, segundo o dicionário, é a arte de criar imagens, pinturas, linguagens. A poesia também tem dentro do poema. Quando falamos em poesia estamos tratando da arte, da habilidade de tornar algo poético. Sem a poesia não tem sentimentos, beleza e imaginação”. Isso significa que ele é capaz de distinguir os atributos ou as propriedades gerais (arte), os particulares (linguagens, tornar algo poético) e o singular (sentimentos, beleza e imaginação) que dão especificidade ao conceito de poesia.

Assim, nesse contexto, identificamos que, no processo de internalização do conceito de poesia, os alunos avançaram menos do que no conceito de poema, de acordo com os critérios dos níveis de elaboração conceitual, provavelmente, por ser, como já afirmamos, um conceito abstrato. Como a reelaboração conceitual é um processo gradual no trabalho com pensamento, esses dados, são apenas, demonstrações do progresso dos alunos no desenvolvimento de suas funções mentais e habilidade de resolver problemas, com base em elaborações conceituais em outros componentes curriculares.

O LUGAR ONDE EU MORO O lugar onde eu moro tem becos, ruas e vilas mas não posso me esquecer que também tem muitas avenidas

O lugar onde eu moro a gente brinca a gente chora,

mas tem algumas pessoas que se apaixonam na hora.

O lugar onde eu moro tem muito estresse mais existem pessoas que agente nunca esquece.

O lugar onde eu moro é em Natal sol iluminando em uma capital. O bairro onde eu moro

é um pouco difícil mas se a vida fosse fácil eu não nascia chorando. Esse é o lugar onde eu vivo

com dificuldade, uma pitadinha de perigo

mas que me dá abrigo. (JO GU, 2012)

4 AS VOZES DOS POETAS DA ESCOLA

“O lugar onde eu moro tem muito estresse mais existem pessoas que agente nunca esquece. [...]

Esse é o lugar onde eu vivo com dificuldade,

uma pitadinha de perigo mas que me dar abrigo”.

Convidamos o leitor a adentrar em vários lugares de viver de nossos Poetas da Escola. Vamos acompanhá-los, sentindo e percebendo as imagens que construíram através das palavras. Para isso, desamarraremos o olhar sobre esses lugares e o percurso que os pequenos Poetas fizeram, durante alguns meses de estudo e como trabalharam a escrita do gênero poético, ao mesmo tempo, perceber como pensaram, produziram seus textos e como refletiram sua trajetória nessa construção.

Na primeira parte deste capítulo, procederemos à analise da sessão reflexiva com o objetivo de pensar como se deu o processo de produção do gênero poema, vivenciado nas oficinas de poemas até o momento da produção textual para a OLPEF; na segunda, enfatizaremos a sessão reflexiva sobre a Colaboração entre os partícipes e, por fim, trazemos a análise dos poemas elaborados pelos alunos. Dessa forma, aliada ao uso da linguagem poética, iremos refletir acerca do processo das aprendizagens da escrita do gênero poema e, também, das interações colaborativas.