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CAPÍTULO III. REPRESENTAÇÕES DO PATRIMÓNIO INDUSTRIAL DO PORTO: COLEÇÃO E MUSEU

7. A Abertura do Museu da Ciência e Indústria.

7.3. A nova exposição do Museu da Indústria do Porto

A mudança colocava-nos perante o facto de concentrar os meios existentes na reabertura do museu. Os esforços da equipa focavam-se na distribuição das áreas, no acondicionamento da coleção e na planificação das suas exposições. Neste âmbito importa relembrar algumas reflexões realizadas de forma muito abrangente sobre o conceito de museu e de museografia dos Museus da Ciência e da Técnica. Num primeiro momento, importa relembrar que o Museu é, em si, uma entidade fundada em conceitos como memória e tempo histórico. A sua narrativa museográfica e o seu circuito expositivo pode recorrer ao conceito de tempo histórico, criando uma leitura cronológica dos seus temas. Pode, ainda, utilizar um conceito

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assente nas tipologias das suas coleções e na abordagem diferenciada de temáticas, desenvolvendo assim outro tipo de narrativas e circuitos expositivos. Nos museus da ciência e da técnica a trama cronológica nem sempre é a mais latente no discurso historiográfico ao contrário dos museus de arqueologia ou etnográficos e, tal acontece, porque as propostas museográficas procuram responder a questões “como funciona esta máquina?”, “O que produzia?”. Como refere Dominique Ferriot e Bruno Jacomy “Si les collections se vont peu à peu constitués, la démonstration des techniques mise en jeu dans les machines et appareils (…) constituent la mission essentielle de ces musées” (Ferriot & Jacomy, 1998, p. 21). Por outro lado, seguir uma abordagem histórica levanta questões relevantes: como a falta de determinados objetos que marcaram o percurso das inovações tecnológicas, formando hiatos sobre o quadro cronológico ou, ainda, sobrepondo diferentes quadros cronológicos: o político, o social, o técnico, e, deste modo, podemos correr o risco destes sobrecarregarem a narrativa que queremos transmitir. Nesta linha de pensamento, quantas vezes a apresentação das grandes etapas da história dos instrumentos científicos não coincide com as etapas da “energia” ou da “mecânica” ou as datas-chave da história das técnicas, não coincidem com as da história política, social ou artística. Tal como na renovação da exposição do Musée des

Arts et Métiers de Paris também, nós, no novo espaço do Museu teríamos que realizar opções

tais como as preconizadas por Ferriot e Jacomy, onde a solução final adotada foi “prendre des repères ‘ronds’, des dates faciles à mémoriser, 1750, 1850 et 1950 – qui peuvent correspondre, dans plusieurs cas mais pas nécessairement, à des étapes historiques (…).” (Ferriot & Jacomy, 1998, p. 29).

Por detrás de uma exposição encontram-se as suas coleções. Estas condicionam as narrativas e as bases criativas do projeto expositivo, por esta razão as seleções de objetos e coleções não são aleatórias, mas estão condicionadas a estas opções. Por sua vez as exposições, ao serem projetos de síntese, devem assentar numa ideia ou conceito e a partir dele criar o circuito expositivo e a narrativa ou narrativas a transmitir. No caso da exposição que traçámos para o novo espaço várias condicionantes se apresentavam, a falta de meios financeiros para o projeto que se refletiam também na impossibilidade de otimizar o espaço destinado à área de Reserva, não permitindo, a aquisição de mais prateleiras e de outros processos de acondicionamento que permitiriam uma seleção de peças mais equilibrada de peças/objetos. Após vários estudos acordámos num circuito narrativo que se desenvolveria em torno da ideia-base: o Porto industrial e a diversidade de sectores e atividades. A trama assentava não numa cronologia, mas numa visão do processo de industrialização por grandes etapas e sectores industriais, cruzada pela noção de “máquina”, partindo do seu

funcionamento e relevo no setor, projetando os seus proprietários e utilizadores. O percurso expositivo iniciava-se com o sector têxtil, seguindo-se a metalurgia, a moagem e terminava na “eletricidade”. Esta seleção obedeceu, ainda, aos critérios de seleção dos acervos e objetos, a sua representatividade no sector de origem, dimensões e estado de conservação. A exposição permanente desenvolvida ao longo de cerca de 800 m2 intitulava-se “A cidade e a indústria”, e procurando sintetizar 200 anos de história.

Para além deste projeto, a equipa técnica do Museu, no âmbito das comemorações dos 100 anos da implantação da República, apresentou à Câmara um projeto intitulado “O empresariado e a República” que tinha por objetivo divulgar a vida e obra de vários empresários que se envolveram nos movimentos republicanos. O projeto desenvolvia-se em torno de uma pequena exposição e de um conjunto de conferências sobre o movimento republicano. Esta proposta viria a enquadrar-se nos planos da Direção Municipal de Cultura, porém, a iniciativa não viria a ser realizada. Apresentámos, então, a proposta à Associação Empresarial de Portugal, (parceiro da AMCI) que aderiu à ideia e veio a apoiar financeiramente a iniciativa. A exposição foi inaugurada no átrio no edifício de Serviços da AEP, em Leça da Palmeira e decorreu de 28 de Setembro a 15 de Outubro de 2010. O balanço dos trabalhos foi positivo, contudo, não conseguiríamos abrir o espaço de Ramalde ao público, apesar dos inúmeros pedidos para a realização de visitas guiadas por parte de escolas e para cedência dos espaços para a organização de eventos.

A 2 de Novembro de 2010, os órgãos sociais da AMCI reuniram na Câmara Municipal tendo votado a extinção da Associação para o Museu da Ciência e Indústria e elegeram uma Comissão Liquidatária, que tomou posse em Janeiro de 2011.

Desde esse ano que se aguarda uma nova solução para o museu, para esta coleção e a abertura de um espaço dedicado à história industrial do Porto.