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As novas soluções para a valorização da coleção do Museu da Indústria do Porto

CAPÍTULO III. REPRESENTAÇÕES DO PATRIMÓNIO INDUSTRIAL DO PORTO: COLEÇÃO E MUSEU

7. A Abertura do Museu da Ciência e Indústria.

7.4. As novas soluções para a valorização da coleção do Museu da Indústria do Porto

As possíveis soluções para a reabertura do museu e apresentação da sua coleção passam por rever o projeto à luz das atuais ofertas culturais na região do Porto e equacionar os desafios que se colocam sobre a requalificação dos espaços industriais ainda existentes na cidade. Este caminho implica uma atualização do levantamento do património industrial, uma seriação dos espaços e estruturas industriais ainda existentes na cidade e a sua articulação com os outros projetos museológicos e culturais. O (re)lançamento do projeto implicará a sua redefinição e enquadramento no panorama museológico, mas, acima de tudo, uma profunda reflexão sobre o panorama dos museus dedicados ao património industrial, o seu papel na conservação e

dinamização da cultura técnico-industrial e na criação de uma oferta turística diversificada, em especial, na região Norte. Os museus da técnica e da indústria (dedicados ao património industrial), mais do que os outros museus, conseguem uma interação direta e consistente com o tecido empresarial e industrial, na medida em que são eles quem conservam a cultura material das sociedades industriais; são eles os difusores da história industrial e dos seus protagonistas e, por isso, conseguem assumir um discurso (que deve ser um debate constante) sobre inovação, tecnologia e formação.

Aos museus da ciência da técnica cabe o papel de mediadores entre os cidadãos e os produtores de ciência e técnica, na medida em estes devem sensibilizar o público para os processos de inovação-invenção, informar sobre as aplicações industriais e, mais genericamente, fomentar a consciência que a ciência e a técnica se inscreve na nossa modernidade. A estes dois elementos se deve a aceleração do ritmo das transformações sociais que afetam profundamente o devir coletivo e individual (Koster & Schiele, 1998, p. 13).

Perante os contextos de crise e de grandes constrangimentos em vários sectores da sociedade, importa referir que o setor cultural terá que assumir um papel de charneira na construção da modernidade, promovendo o debate e o diálogo entre os diferentes setores da sociedade, sendo que o Museu deve assumir um papel norteador e incentivador de valores como inclusão, diversidade e inovação. Para a compreensão das atuais mudanças é importante fomentar diferentes leituras da cidade, sobrepondo-as e cruzando-as, criar novas ofertas turístico-culturais, renovar o discurso sobre a cidade e assumir, o contributo da educação técnica na construção de um futuro mais sustentado, valorizando o conhecimento científico, baseado na investigação, experimentação e observação.

Outra opção a equacionar para a coleção do Museu da Indústria do Porto, tendo como base o potencial das suas coleções e a existência de um inventário informático, seria a abertura do espaço onde se encontra atualmente a coleção, enquanto uma “Coleção Visitável” definição enquadrada pela Lei-quadro dos Museus, no seu artigo 4º:

Considera-se ‘colecção visitável’ o conjunto de bens culturais conservados por uma pessoa singular ou por uma pessoa colectiva, expostas publicamente em instalações especialmente afectas a esse fim, mas que não reúna os meios que permitam o plano desempenho das restantes funções museológicas que a presente lei estabelece para o museu.182

Esta solução tem sido muito utilizada por outras entidades e museus e podemos salientar as práticas seguidas na constituição de uma reserva do Laboratório Químico do Museu da Ciência da Universidade de Lisboa ou da reserva do Museu de Etnologia de Lisboa,

182

onde foram ponderadas as questões de conservação e segurança dos acervos com o propósito destes ficarem acessíveis aos investigadores e a grupos de visitantes.

Os visitantes mais curiosos desejam sempre entrar na zona das reservas, imaginando que objetos existem para lá das exposições, sobretudo, no seu estado mais “puro” ainda cheios de pó, a serem recuperados ou escondidos por entre papéis e glassines, no entanto, a sua abertura ao público implica, que estas reservas sejam espaços organizados, articulados com os inventários e detentores de ateliês de conservação e restauro, áreas de quarentena, podendo ainda ter gabinetes ou áreas para investigadores.

A reserva visitável tem a vantagem de possibilitar a manipulação de objetos e permitir que os investigadores possam aceder à coleção, à documentação associada e às bases de dados. No caso concreto do “Laboratório Chímico” a colecção é composta “por 3000 peças que incluem equipamentos, instrumentos, reagentes e mobiliário” (Romão, 2012, p. 95). A sua abertura permitiu tornar a coleção acessível e inventariar e estudar uma grande parte dos seus objetos. O Museu, no sentido de dinamizar estes estudos promoveu, paralelamente, workshops, seminários e mini-cursos que permitiram enriquecer a formação de bolseiros, voluntários e profissionais de museus (ibidem).

Outro caso de reserva visitável foi desenvolvido pelo Museu de Etnologia de Lisboa, que tornou as Galerias da Vida Rural num espaço dedicado às coleções ilustrativas dos temas da agricultura, pastoreio, tecnologias tradicionais e equipamento doméstico na sociedade rural em Portugal.183 O museu previamente realizou, não só, a reorganização desta coleção, como também uma revisão geral das suas condições de conservação, com particular destaque para os sistemas de climatização e de iluminação. Paralelamente, foi realizado um estudo detalhado das coleções aí reunidas com vista à sua intervenção e inventariação informática.

Estas coleções ou reservas visitáveis permitem enriquecer e aprofundar os inventários em curso, desenvolver projetos de valorização das coleções e contribuem para a produção de saber científico e técnico. Poderá entender-se que a existência de uma reserva visitável permite manter as coleções sobre vigilância dos seus técnicos de conservação restauro, mas também mobiliza as coleções (em articulação com centros de documentação e arquivos associados) para a criação de conhecimento científico que será divulgado em futuras iniciativas: exposições, seminários científicos, etc..

O interesse pela gestão das coleções, em especial, a sua conservação, investigação e exposição tem permitido projetar um novo conhecimento junto dos diferentes públicos. Alice Semedo a este propósito refere que se assiste a uma crescente importância do acesso às

coleções museológicas, sendo esta fruto das expectativas públicas em relação aos profissionais da museologia e aos níveis e padrões de conhecimento e investigação, que permitem uma gestão moderna dos diferentes recursos museológicos, mas também novas competências interpretativas (Semedo, 2005, p. 310).

8. A constituição da coleção do Museu da Indústria do Porto e a sua