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A participação na guerra civil de 1282-1284

2. AFONSO TELES, O VELHO E O ESTABELECIMENTO DA FAMÍLIA NO

3.2. A FONSO DE M ENESES E A GRANDE CRISE CASTELHANA

3.2.1. Os reinados de Afonso X e de Sancho IV

3.2.1.1. A participação na guerra civil de 1282-1284

Sendo o mais velho dos varões da família após a morte de Afonso Teles de Villalva ― filho de Afonso Teles de Córdova ―, Afonso de Meneses ascende à liderança da família num momento de particular inquietação, apesar dos nobres exilados em Castela já terem regressado ao reino. Primo de Afonso X e depois cunhado do infante D. Sancho pelo casamento deste com a sua irmã D. Maria, teve de movimentar-se com habilidade durante a guerra civil que opôs aqueles dois no final do reinado do Sábio.

Sabe-se que confirma documentos reais desde 15 de Julho de 1272 e irá fazê-lo ao longo dos anos seguintes, não fazendo por isso, também ele, parte dos nobres que se exilam em Granada sublevados contra Afonso X. Permanece ao lado do rei e essa sua opção, na ausência de nobres mais importantes, far-se-á notar nos vários privilégios rodados ao longo do final do reinado, ocupando, entre os signatários, desde 1273 ― por algumas vezes ― e a partir de 1277 ― em todos os documentos conhecidos ―, o primeiro lugar da lista na coluna dos nobres castelhanos167. Porém, em 1282, a situação altera-se, pois deixa de surgir nesses privilégios, num momento em que ainda ocupava o lugar cimeiro da lista de testemunhas. Confirma o último diploma de Afonso X em Sevilha, a 3 de Julho168, desaparecendo deste tipo de documentos até ao reinado de Sancho IV, pelo que terá em data imediatamente posterior deixado de ser apoiante do rei castelhano, passando para o partido do infante. Por esta altura já o enfrentamento entre estes dois, por várias circunstâncias, tinha ganho dimensões de bastante gravidade. A passagem de um partido

166

Ibidem, doc. 397. Por se tornar o líder da casa de Meneses e por facilidade de identificação, até porque surge sempre mencionado nos documentos como filho do infante de Molina, denominar-se-á este senhor neste trabalho como Afonso de Meneses.

167 Testemunha vários documentos de Afonso X como primeira testemunha na coluna dos nobres

castelhanos entre 3 Janeiro 1273 (Cf. Diplomatário Andaluz, doc. 399) e 13 Julho 1282 (cf. ibidem, doc. 501). A partir de 3 Junho 1277 (cf. Juan Torres Fontes, «El monasterio cisterciense de Santa María la Real de Murcia, in Medievo Hispano. Estudios in memorian del Prof. Derek W. Lomax, Madrid, SEEM, 1995, pp. 369-383, doc. I) e até 13 de Julho de 1282 testemunha todos os documentos reais conhecidos em primeiro lugar daquela coluna.

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para o outro, que denotava uma mudança profunda da estratégia política familiar ao longo de todo o século, tinha, porém, uma justificação bastante simples e que se prendia com as solidariedades familiares.

Já foi aflorado o facto do final do reinado de Afonso X ter sido atravessado por um descontentamento generalizado de um largo sector da nobreza para com os resultados da sua obra legislativa que conduziu a inequívocas medidas de centralização e reforço do poder monárquico face ao nobiliárquico169. Este descontentamento resultou em vários episódios de sublevação nobiliárquica, mais vigorosos nos últimos anos. Para entender o posicionamento político de Afonso de Meneses torna-se necessário observar com alguma atenção os acontecimentos que marcaram este período.

A morte do infante Fernando de Lacerda, primogénito de Afonso X e herdeiro do trono castelhano, em Julho de 1275, estando o monarca ausente do reino a reivindicar no papado os seus direitos sobre o Império, abre um sério problema ao nível da sucessão. Por um lado, era defensável que se pensasse que o herdeiro da coroa à morte do rei devia ser Afonso de Lacerda, filho maior do malogrado D. Fernando, pois, segundo as Partidas, os direitos deste passavam automaticamente aos seus filhos. Contudo, o direito tradicional sugeria que a condição de herdeiro deveria transitar para o filho maior do rei, que era então o infante D. Sancho170. Logo após a inesperada morte do irmão, este último não havia perdido tempo a reclamar a sua legitimidade sobre o trono171. Foi apoiado imediatamente por Lopo Dias de Haro172, e a sua candidatura saiu bastante reforçada das Cortes de Burgos, realizadas em 1276. Aqui, adeptos das duas perspectivas esgrimiram os seus argumentos, e os concelhos de Castela e grande parte da nobreza reconheram o infante D. Sancho como sucessor de Afonso X173. A decisão não foi aceite pelos partidários dos infantes de Lacerda ― os dois irmãos D. Afonso e D. Fernando ―, que continuaram a defender a sua causa. Encontravam-se entre eles os Lara, liderados por João Nunes, a quem Fernando de Lacerda havia encomendado, antes de morrer e adivinhando as contendas que se viriam a verificar, a defesa dos direitos sucessórios dos filhos174; a rainha D. Violante, esposa de D. Afonso X175; e Filipe III de França, tio dos infantes. Seria precisamente junto

169 Cf. Afonso X, pp. 264-269, e Miguel Angel Ladero Quesada, «La situación política de Castilla a

finales del siglo XIII», Anales de la Universidad de Alicante. Historia medieval, nº 11, 1996‑1997, pp. 241- 264.

170 Cf. Alfonso X, p. 167. 171

Cf. Crónica de Don Alfonso X, p. 51.

172 Cf. ibidem. 173 Cf, ibidem, p. 170.

174 Cf. Crónica de Don Alfonso X, p. 51. 175

deste monarca que se exilariam, após as Cortes de Burgos e em acentuada discordância com o aí decidido, os irmãos João Nunes e Nuno Gonçalves de Lara, com bastantes cavaleiros176. Perante a crise que se criava no reino, Afonso X não se pronuncia sobre o assunto e adia uma decisão, apreciando os argumentos das duas partes e calculando os problemas que poderiam advir da sua posição.

Esta indecisão do rei criava um acumular de tensão que levaria a várias movimentações, como a saída de alguns nobres do reino, incluindo os já citados Lara, mas em 1277 outros faziam o mesmo caminho para França, como Fernão Peres Ponce e Lopo Dias de Haro177. Na ausência dos mais importantes membros das linhagens de Lara e Haro, Afonso de Meneses era indubitavelmente, salvo os infantes, o mais ilustre nobre da corte de Afonso X e, como tal, passava a ocupar em todos os diplomas régios o primeiro lugar da lista de testemunhas178. Mas o episódio mais representativo da situação de descontentamento e tensão em que o reino se encontrava foi a conjura protagonizada pelo infante D. Fradique e Simão Rodrigues de Cameros, que viriam a ser mortos por ordem do rei em 1278, após as Cortes de Segóvia179.

As divergências entre os partidários do infante D. Sancho e os apoiantes dos infantes de Lacerda faziam-se sentir nos círculos mais próximos do rei, e a própria rainha D. Violante abandonava o reino, depois das mencionadas cortes de Segóvia, rumo a Aragão com os dois netos, os jovens Afonso e Fernando, tentando obter o apoio do irmão, Pedro III180. Obviamente, D. Sancho não negligenciava a defesa da sua posição, que ainda não estava segura. Aproxima-se do monarca aragonês, seu tio, conseguindo em 1279 que este se pronunciasse como seu aliado. D. Violante vê-se assim obrigada a regressar a Castela deixando os netos em Aragão, onde seriam retidos à guarda do rei aragonês, que não

176 Cf. Alfonso X, p. 171. 177

Cf. ibidem, p. 172.

178 Cf. nota 165.

179 Cf. Crónica de Don Alfonso X, p. 53. A trama que rodeia este caso que tem como desfecho a morte

dos dois nobres é bastante obscura. Foram apontadas algumas justificações para que Afonso X tivesse mandado matar o irmão e o senhor de Cameros de forma aparentemente arbitrária. A crónica mencionada atrás diz sucintamente que «el rey sopo algunas cosas del infante don Fradique, su hermano, é de don Ximon

Ruiz de los Cameros, el Rey mandó al infante don Sancho que fuese prender á don Ximon Ruiz de los Cameros, é que le ficiese loégo matar. É don Sancho salió luego de Búrgos, é fue á Logroño, é falló y á don Ximon Ruiz, é prendióle; é este mismo dia que lo prendieron prendió Diego Lopez de Salcedo en Búrgos á don Fadrique, por mandado del rey. É don Sancho fue á Treviño, é mandó quemar allí á don Ximon Ruiz; é el rey mando ahogar á don Fadrique». Já foi sugerido que se trataría de uma conspiração em apoio aos

infantes de Lacerda; que, pelo contrário, eram partidários do infante D. Sancho; que, vendo a indecisão do rei e as cisões sociais do reino, preparavam a deposição de Afonso X e a sua substituição pelo infante D. Fradique com o apoio de Lopo Dias de Haro e outros importantes magnates; que a execução era um castigo pela suposta homossexualidade dos dois; e até que a condenação era por serem hereges (cf. Alfonso X, pp. 172-177, que apresenta uma boa síntese destas teorias).

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prescindia de manter sob a sua alçada um precioso trunfo nas lutas que se travavam em Castela181.

Apesar de tudo, os infantes de Lacerda continuavam a ter aliados de peso, como o tio Filipe III de França182 e os nobres exilados na corte francesa. Este monarca pressionava continuadamente Afonso X para que os sobrinhos fossem mantidos de acordo com o que o seu estatuto exigia183. Nos finais de 1280 os emissários dos dois reinos encontravam-se para tratar de vários assuntos, destacando-se a situação dos infantes, mas em relação a estes as negociações chegavam ao fim sem qualquer acordo184.

Em 1281, promovidas pelo infante D. Sancho, que veria num eventual acordo com Filipe III uma possível redução da sua herança, fazia-se uma aproximação entre Castela e Aragão, à data de relações tensas com o reino francês, vindo a resultar no tratado de Campillo-Ágreda de 27 e 28 de Março185. Em Campillo, no dia 27, a representação castelhana integrava, além do rei e do infante D. Sancho, os infantes D. Manuel, irmão do monarca, e D. Jaime, filho menor de Afonso X. O rol de nobres era encabeçado por Afonso de Meneses, encontrando-se ainda aí João Afonso de Haro, seu tio pelo casamento com Constança Afonso186. Nesse primeiro dia assinavam-se vários acordos, incluindo um de aliança e auxílio mútuos contra inimigos comuns excepto os muçulmanos, válido para os dois reis e seus sucessores, considerando como tal o infante D. Sancho187. Combinavam e comprometiam-se a conquistar o reino de Navarra, e o Afonso X obrigava-se ainda a entregar a Aragão várias terras e castelos, recebendo somente em troca o reconhecimento por parte do seu congénere aragonês da pertença a Castela do castelo de Albarracín, cujo titular era então João Nunes de Lara, vassalo de Filipe III e defensor de Afonso de Lacerda188.

Todavia, no dia seguinte, em Ágreda, já sem a presença de Afonso X e da maior parte das suas testemunhas, reviam-se as combinações feitas antes. O único negociador castelhano era o infante D. Sancho que, nas costas de Afonso X, alterava e anulava as

181

Cf. ibidem, p. 55.

182 Branca de França, a mãe dos jovens Afonso e Fernando e viúva de Fernando de Lacerda era irmã de

Filipe III de França.

183

Segundo a Crónica de Don Alfonso X, p. 58, «el Rey Felipe de Francia, fijo del rey Sant Luis,

enviára mover por muchas veces pleitesía al rey don Alfonso que quisiese catar alguna manera por que oviese alguna cosa con que viviese don Alfonso, fijo del infante don Fernando». Não se exigindo a coroa,

tratava-se certamente de domínios dignos de um antigo candidato a essa coroa.

184 Cf. Alfonso X, pp. 178-179. 185

Cf. Carlos de Ayala Martínez, «Paces castellano-aragonesas de Campillo-Ágreda (1281)», En la

España medieval, nº 8, 1986, pp. 151-168.

186 Cf. ibidem, p. 157. 187 Cf. ibidem, pp. 158-159. 188

disposições que aquele havia negociado. Os aspectos mais relevantes retirados desta «farsa diplomática»189 são, desde logo, o facto de Pedro III de Aragão conseguir obter importantes concessões territoriais e, dada a posição castelhana, ascender ao papel de líder político peninsular, conseguindo no reino castelhano um importante aliado efectivo contra França, com quem disputava a supremacia no Mediterrâneo Ocidental. No fundo, criava-se um bloco comum gibelino-peninsular encabeçado pelo rei aragonês que se apresentava contra o pró-guelfo Filipe III de França190. Em contrapartida, através de uma descarada marginalização política do titular da coroa castelhana e das muitas cedências, o infante D. Sancho garantia um importante apoio à sua candidatura a essa mesma coroa, pois logo após o tratado Pedro III «mandó poner en el castillo de Játiva a don Alonso y don

Fernando, hijos del infante don Fernando, a donde estuvieron algún tiempo»191. Além disso, a aliança colocava uma significativa pressão sobre o monarca francês, que com a ameaça sobre Navarra via aumentar a frente de disputa gelfo-gibelina à qual tinha de dar cobertura, desviando assim um pouco a atenção da defesa dos direitos dos sobrinhos; ao mesmo tempo, a cedência a Aragão dos direitos sobre Albarracín robustecia a eficácia da oposição a João Nunes de Lara. A situação de D. Sancho parecia de facto tornar-se mais sólida, se bem que a sua actuação no tratado fosse obviamente susceptível de produzir uma decisiva ruptura entre si e o pai.

Essa ruptura não demorou muito a ter lugar, vindo a acontecer nas Cortes de Sevilha de 1281, quando a questão dos direitos dos infantes de Lacerda veio a lume e o rei se mostrou disposto a ceder o reino de Jaén ao infante D. Afonso, o mais velho dos dois, salvaguardando assim os interesses do neto e aliviando as pressões do rei francês192. O infante D. Sancho responde ao pai, de forma insolente, que «non fablase en este pleito nin

gelo mandase, ca non avia en el mundo cosa por que en ello consintiese»193. Despeitado com a resposta do filho, Afonso X replica que faria o que fosse sua vontade, e que não seria impedido de o fazer nem por ele nem pelos que o haviam reconhecido como seu sucessor, nem que para isso o tivesse de deserdar. Algo que faria com a mesma facilidade com que o tinha reconhecido como seu legítimo herdeiro. Perante esta ameaça do pai, o infante responde ainda de forma mais contundente, dizendo-lhe o seguinte: «Señor, non me

fecistes vos [seu sucessor legítimo], mas fizóme Dios, é fizo mucho por me facer, ca mato á

189

A expressão é de Ayala Martinez. Cf. ibidem, p. 163.

190 Cf. ibidem, pp. 164-167.

191 Anales de Aragón, vol. II, liv. IV, cap. XII, p. 15 [cit. em 23 de Agosto de 2010 – 12:55] 192 Cf. Crónica de Don Alfonso X, p. 60, e Alfonso X, p. 165.

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un mi Hermano, que era mayor que yo, é que era vuestro heredero destos reinos, si él viviera más que vos; é non le mató por al, si non porque lo heredase yo despues de vuestros dias; é esta palabra que dejistes pudiérades la muy bien escusar, é tiempo verná que la non querríedes aver dicho»194. Consumava-se a divergência entre pai e filho, e Sancho via aliarem-se a seu lado grande parte das camadas superiores da nobreza, incluindo os irmãos, os infantes D. Pedro e D. João, bem como o alto clero195.

O ano de 1282 iria conhecer a radicalização da posição de D. Sancho. Envia o infante D. João para o reino de Leão a fim de reunir o apoio das cidades e levá-las a tomar voz por si contra o rei196. Uma tarefa que o infante irá desempenhar a tarefa com especial competência, uma vez que a região mais afecta a D. Sancho parece ter sido a leonesa197. Ao mesmo tempo, D. Sancho convocava para Valladolid umas cortes, que se realizariam a partir de 21 de Abril198. Entre os que respondiam à chamada, encontravam-se a rainha D. Violante e o infante D. Manuel199. O infante assumia-se desta forma como o governante efectivo do reino, apesar de nunca permitir que «en vida de su padre se llamasse rey de los

sus reinos»200.

Não se sabe se Afonso de Meneses esteve presente ou se permaneceu junto de Afonso X. O facto de subscrever um documento real em Sevilha, a 13 de Junho201, poderia significar que se havia mantido junto do rei e que não teria participado naquela reunião. Todavia, testemunhavam esse mesmo documento muitos dos que haviam acorrido à convocatória de Valladolid, designadamente os infantes D. João, D. Pedro, D. Jaime e D. Manuel202. Aparentemente, a unidade em relação ao infante não era tão sólida quanto parecia ser. Embora não se possa confirmar, Afonso de Meneses podia ter procedido da mesma forma, sendo possível que o tenha feito e que se inclinasse a apoiar o infante. Este documento de 13 de Junho é o último diploma de Afonso X que confirma e é certamente neste mês que se torna decididamente partidário de D. Sancho.

Em Junho de 1282, D. Sancho desposava D. Maria, irmã de Afonso de Meneses, que ficaria conhecida para a história como Maria de Molina203. É possível que a proximidade

194 Ibidem, p. 60. 195

Cf. Alfonso X, p. 183.

196 Cf. Crónica de Don Alfonso X, pp. 60-61. 197 Cf. Sancho IV, 1º vol., p. 8

198 Cf. Alfonso X, p. 176.

199 Cf. Crónica de Don Alfonso X, p. 61. 200

Ibidem, p. 61.

201 Cf. Diplomatário Andaluz, doc. 501.

202 Excluindo o infante D. Sancho e os nobres exilados, testemunhavam o documento em questão os

personagens habituais dos privilégios rodados daquela época.

203

entre o infante e D. Maria já viesse de trás, pois esta tinha sido madrinha de baptismo de Violante Sanches, filha do infante com uma sua parente, Maria Afonso204. Percebe-se perfeitamente que o líder da linhagem de Meneses optasse por passar a apoiar o infante, a partir daí seu cunhado, em desfavor do rei. Este enlace, além de atrair para o lado de D. Sancho o mais destacado nobre castelhano que se mantinha ― ao que tudo indica ― leal a Afonso X205, representava uma ofensa à autoridade do rei, pois o casamento com D. Maria quebrava o acordo matrimonial negociado anos antes com Guilherma de Moncada206. D. Guilherma era filha de Gastón de Bearne, tio de Lopo Dias de Haro, o que podia fazer com que este se sentisse inclinado a opor-se a D. Maria207. Talvez como forma de entendimento, D. Sancho vai fazer o casamento da irmã D. Violante com Diego Lopes de Haro, irmão de D. Lopo208. Já o pai da noiva repudiada irá enviar tropas suas em apoio de Afonso X209.

A situação encontrava-se bastante tensa e a posição de D. Sancho fragilizava-se, pois os seus irmãos D. Pedro e D João corriam o reino de Leão contactando os concelhos e procurando que estes os apoiassem em benefício próprio e não em favor do infante primogénito ou mesmo do rei, além de que Lopo Dias de Haro parecia voltar a actuar de forma favorável a Afonso X210. Tudo isto parecia fazer inclinar a balança para o lado do rei, que a 8 de Novembro de 1282 deserdava o infante D. Sancho através do seu testamento211. Declarava-o infame e traidor e fazia herdeiro da coroa Afonso de Lacerda. No dia seguinte pronunciava-lhe ainda uma sentença condenatória212.

O conflito internacionalizava-se e no início de 1283 o papa Martinho IV ameaçava excomungar D. Sancho e D. Maria213 pelo impedimento de parentesco existente entre os dois214. Nesse mesmo ano, Afonso X conseguia atrair de novo para o seu lado os infantes D. Pedro, D. Jaime e D. João bem como outros destacados nobres215. Além de vitórias diplomáticas, o monarca levava também a melhor no campo militar: Fernão Peres Ponce, à

204 Cf. Sancho IV, 1º vol., p. 31. Maria Afonso era filha de Afonso Teles, o Tição, e, por isso, neta de

Afonso Teles, o Velho.

205

Recorde-se que desde 1277 que Afonso de Meneses era arrolado como o primeiro dos nobres castelhanos subscritores dos privilégios rodados.

206 Cf. Anales de Aragón, vol. II, liv. IV, cap. XLVII, p. 80 [cit. em 15 de Agosto de 2010 – 14:35]. 207

Cf. ibidem.

208 Cf. Crónica de Don Alfonso X, p. 61. 209 Cf. Sancho IV, 1º vol., p. 48.

210 Cf. Crónica de Don Alfonso X, p. 62.

211 Cf. Afonso X, p. 194 e Diplomatário Andaluz, doc. 518. 212

Cf. ibidem, doc. 503bis.

213 Cf. Luis Vicente Díaz Martín, María de Molina, Valladolid, Obra Cultural de la Caja de Ahorros

Popular, 1984, p. 88.

214 D. Sancho era bisneto de Afonso IX e Berenguela de Castela e D. Maria era neta do mesmo casal. 215

frente das forças de Sevilha, derrotava as forças de Córdova, reforçada por muitos nobres que apoiavam D. Sancho216. Parecia que Afonso de Meneses tinha feito a sua opção ― e era perfeitamente compreensível apoiar o cunhado ― numa má altura, quando a balança da contenda se começava a inclinar para o lado de Afonso X. Este voltava a reunir na sua corte a maior parte dos grandes do reino217 depois de em Agosto o papa ter pronunciado uma sentença condenatória e um interdito contra o infante D. Sancho e os seus seguidores218.

Não espanta portanto que, encontrando-se numa situação bastante complicada, o infante D. Sancho procurasse uma aproximação ao pai. No dia 1 de Novembro de 1283, reunia-se em Palência com os seus mais importantes apoiantes para tentarem descobrir uma forma de concretizar um entendimento com o rei. Entre aqueles que ali se encontravam estava Afonso de Meneses, a par de outros importantes magnates, como Lopo