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Descendência de Afonso Teles de Córdova e a sucessão na casa

2. AFONSO TELES, O VELHO E O ESTABELECIMENTO DA FAMÍLIA NO

3.1. A GUERRA E A FRONTEIRA MERIDIONAL

3.1.2. Afonso Teles de Córdova e as grandes conquistas

3.1.2.2. Descendência de Afonso Teles de Córdova e a sucessão na casa

Afonso Teles de Córdova contrai matrimónio com Maria Anes de Lima, que teria sido anteriormente amante de Fernando III129, filha de João Fernandes de Lima, O Bom, alferes de Afonso IX e mordomo de Sancho II, tenente de Neiva e Faria em Portugal130 e de Maria Pais Ribeira131. Maria Anes era assim, por parte da mãe, meia-irmã de Teresa Sanches, que, recorde-se era a segunda esposa de Afonso Teles, O Velho.

Sabe-se que Maria Anes de Lima sobreviveu ao marido e voltou a casar. Desta feita com Álvaro Dias das Astúrias132, como se percebe de uma resposta do infante D. Sancho a um requerimento deste nobre que solicitava o pagamento da renda referente a uma herdade que Maria Anes e Afonso Teles de Córdova haviam recebido de D. Fernando III133. Como

125 Cf. CD Matallana, doc. 24. Os lugares não foram identificados. 126 Actual Villaconancio.

127

Cf. Villanueva de San Mancio, doc. 10.

128 Cf. San Nicolás del Real Camino, doc. 26. 129 Cf. Livro do Deão, 6AY7.

130

Cf. D. Sancho II, pp. 92 e 276.

131 Cf. Livro do Deão, 6AY7, 20B3 e Livro de Linhagens, 13A4, 21A10, 57A2.

132 Um dos ricos-homens presentes na tomada de Sevilha e aí herdado com cem arançadas de olival e dez

jugadas de terra (cf. Repartimiento de Sevilla, p. 37). Antes teria casado com com D. Teresa Peres Girón (cf. Livro do Deão, 1D7, 10B4, Livro de Linhagens, 24A5, 36AV8).

133

A resposta contém a expressão «don alvar diaz de asturias me dijo que donna mary yvannes su mujer

avia un heredamiento y en Cordova que diera el rey don ferrando a don alfonso tellez et a ella» (cf. Rafael

Fernández González, «Los hermanos Tellez de Meneses… cit.», doc. 12). O pagamento desse dinheiro encontrava-se penhorado para saldar uma dívida antiga de Afonso Teles de Córdova relativa à compra de um cavalo (cf. Corpus Mediaevale Cordubense, doc. 951).

já foi apontado atrás, Álvaro Dias foi um dos nobres que em 1172 se reúne com o infante D. Filipe134 e depois se exila em Granada135.

Árvore Genealógica 8 – Filhos de Afonso Teles de Córdova e Maria Anes de Lima

Do seu casamento com Maria Anes, Afonso Teles teve vários filhos, sobre os quais os genealogistas não estão de acordo. O conde D. Pedro atribui ao casal quatro filhos: Afonso Teles, Rodrigo Afonso, Maior Afonso e Teresa Afonso136. Já Salazar e Castro não indica nenhuma filha de Afonso Teles de Córdova chamada Teresa Afonso, mas sim Constança Afonso137. Poderá tratar-se de um erro de um dos genealogistas, e tratarem-se da mesma pessoa, mas as ligações matrimoniais e descendência proposta a cada uma delas leva a crer o contrário. Tratando-se de duas damas diferentes, o número de filhos do casamento entre Afonso Teles e Maria Anes passaria a cinco.

Para Teresa Afonso, os livros de linhagem indicam o seu casamento com Pedro Martins da Vide, de quem teria tido dois filhos: Martim Pires da Vide e Sancha Pires da Vide138. Acontece porém que não foram encontradas outras provas documentais que atestem o enlace e a existência de D. Teresa, ao contrário do que se passa com D. Constança.

134

Cf. Crónica de don Alfonso X, pp. 16-17.

135 Cf. ibidem, pp. 28-29.

136 Cf. Livro de Linhagens, 57A2. O mesmo avança o Livro do Deão, 6AY7. 137 Cf. Casa Farnese, 2º vol., p. 576.

138

Cf. Livro do Deão, 7I7 e Livro de Linhagens, 33F3, 37E7, 57B3.

Afonso Teles de Córdova

4º Senhor de Meneses Maria Anes de Lima

Rodrigo Afonso Maior Afonso Teresa Afonso

6ª Senhora de Meneses João Fernandes de Lima O Bom Maria Pais Ribeira A Ribeirinha Constança Afonso

Ligação não confirmada por documentação

João Afonso de Haro

Senhor de los Cameros

Gonçalo Gil de Vilalobos Pedro Martins da Vide Afonso Teles 5º Senhor de Meneses Beatriz Fradique Afonso de Molina 1º 2º Casamento

Constança Afonso casou com João Afonso de Haro, filho Maria Afonso de los Cameros e de Afonso Lopes de Haro, que detinha a tenência de Calahorra e seria mais tarde senhor de Cameros pelo matrimónio139. Sabe-se que D. Constança e João Afonso estavam casados a 8 de Fevereiro de 1268, quando concordam dispensar do pagamento de determinados tributos os vassalos do mosteiro de Santa Maria de Herce140, e em 17 de Julho de 1272 reconheciam ao mosteiro de Santa Maria de Nájera a propriedade da vila de Urturi141. João Afonso de Haro foi um dos nobres que permaneceram fiéis a Afonso X nos últimos anos do seu reinado mas logo se aproxima de Sancho IV após a subida deste ao trono142.

Afonso Teles, o mais velho dos filhos de Afonso Teles de Córdova, casou com D. Beatriz, filha do infante D. Fradique, mas morreu jovem e sem deixar descendência143. É bastante provável que se trate do Afonso Teles de Villalva que se sabe confirmar documentos de Afonso X entre 15 de Julho de 1272, em Cuenca, e 6 de Junho 1274, estando em Zamora144. O sobrenome «de Villalva» poderia justificar-se pelo facto de lhe ser associado o importante herdamento recebido pelo pai em Sevilha que, recorde-se, se passou a chamar Villalva, ou pela localidade de Villalba del Alcor, na posse da família desde 5 de Janeiro de 1226, por doação de Fernando III a Afonso Teles, o Velho145.

Segue a estratégia familiar de constante lealdade e proximidade ao rei, e observando as datas em que efectua confirmações de documentos régios pode afirmar-se que se mantém ao lado de Afonso X durante a insurreição nobiliárquica de 1272 iniciada no ajuntamento de Lerma já mencionado atrás. A crónica de Afonso X confirma isso mesmo. Durante o exílio dos nobres castelhanos em Granada, o monarca castelhano vai tentar uma

139 Cf. Casa Farnese, 2º vol., p. 576, Salvador de Moxó, «De la nobleza vieja a la nobleza nueva... cit.»,

p. 57, e Máximo Diago Hernando, «Los Haro de Cameros en los siglos XIII y XIV: Análisis del proceso de su afianzamiento político en el ámbito regional», Anuario de Estudios Medievales, n.º 24, 1994, p. 782 et

passim.

140 Cf. Pedro Pérez Carazo, Colección diplomática medieval de Santa María de Herce y su abadengo en

la Edad Media, Logroño, Instituto de Estudios Riojanos / Universidad de La Rioja, 2008, doc. 38. O

documento aponta os doadores desta imunidade como sendo «Iohannis Alfonsi (…) et domna Constancia

Alfonsi uxor eius».

141 Cf. Ildefonso Rodríguez R. de Rama, Colección diplomática medieval de La Rioja, 4º vol., Logroño,

Instituto de Estudios Riojanos, 1990, doc. 296.

142 Cf. Máximo Diago Hernando, ob. cit., p. 783. 143 Cf. Livro do Deão, 6AY8.

144 Cf. Diplomatário Andaluz, docs. 397 e 412, respectivamente. O número de documentos que

testemunha é tão pequeno que se podem mencionar aqui todos eles. Além dos dois mencionados, surge no rol de signatários de documentos régios em Urbión, a 3 Janeiro 1273 (cf. ibidem, doc. 399); em Ávila, a 4 e a 27 de Maio de 1273 (cf. CD Sahagún, vol. IV, doc. 1810; e CD Sancti Spiritus de Salamanca, doc. 25); em Guadalajara, a 3 de Julho de 1273 (cf. Diplomatário Andaluz, doc. 404); e em Santo Domingo de la Calzada, a 24 de Janeiro de 1274 (cf. ibidem, doc. 405)

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aproximação ao convocar uma reunião em Almagro, no campo de Calatrava, uma localidade bastante próxima de Granada e que permitia àqueles o envio de emissários146. Interessava ao rei castelhano chegar a um entendimento com os revoltosos pois este conflito impedia que lançasse a sua candidatura ao Império147. Neste ajuntamento convocado pelo rei, composta por «ricos omes é infazones é caballeros fijosdalgo, é otros

caballeros fijosdalgo de las cibdades é villas»148, encontrava-se um Afonso Teles. Tendo já falecido Afonso Teles de Córdova, trata-se certamente do seu filho149. Após uma série de negociações, o conflito resolve-se com a arbitragem da rainha D. Violante e do infante D. Fernando, tendo os nobres saído desta crise com parte das suas reivindicações atendidas, preço que Afonso X teve de pagar para se dedicar à sua candidatura ao trono imperial150. Antes de partir para reclamar junto de Gregório X os direitos a que se julgava digno, o rei castelhano reúne em Toledo os principais personagens do reino, encontrando- se aí quer os nobres que sempre se haviam mantido a seu lado, quer aqueles que agora já tinham entrado em entendimento consigo após o mencionado exílio. No primeiro grupo achava-se Afonso Teles. É possível que tenha falecido pouco depois, pois desaparece da documentação em 6 de Junho 1274, como já foi dito.

O seu irmão Rodrigo Afonso terá muito provavelmente falecido antes de si, pois não se tem notícias dele a não ser as referências apresentadas pelos genealogistas que o dão como filho de Afonso Teles de Córdova e Maria Anes de Lima151 e uma presença sua enquanto testemunha num privilégio de Afonso X datado de 25 de Março de 1254, em Toledo152. Confirmava o diploma num dia em que o pai o não fazia, ao contrário do que era comum153, o que indica que estaria ao lado do pai na corte castelhana.

Com a morte de Afonso Teles e o eventual desaparecimento prematuro de Rodrigo Afonso, a liderança da linhagem passa para D. Afonso, filho de Maior Afonso, irmã dos falecidos Afonso Teles e Rodrigo Afonso154.

146 Cf. Crónica de Don Alfonso X, p. 35. 147 Cf. Alfonso X, p. 137.

148

Crónica de Don Alfonso X, p. 35.

149 Cf. ibidem.

150 Cf. Alfonso X, pp. 138-142.

151 Cf. Casa Farnese, 2º vol., p. 576, Livro do Deão, 6AY7 e Livro de Linhagens, 57A2.

152 Cf. Diplomatário Andaluz, doc. 124. Através deste diploma Afonso X concedia ao concelho de

Ubeda as aldeias de Cabra e San Esteban, com todos os seus termos.

153 Afonso Teles de Córdova subscreve muitos documentos neste mês excepto este, designadamente, nos

dias 18, 22, 23, 27, e 28 Março (cf. ibidem, docs. 122, 123, 125, 128 e 129), voltando a fazê-lo nos meses seguintes.

154

D. Maior Afonso tinha casado em primeiras núpcias com Gonçalo Gil de Vilalobos155, rico-homem e adelantado-mor de Leão, filho de Gil Manrique de Manzanedo e Teresa Fernandes, senhora de Villalobos156. Esteve na tomada de Sevilha, onde foi beneficiado com cem arançadas de olival e dez jugadas de herdade157. O seu pai, Gil Manrique de Manzanedo, deteve as tenências de Toro, Castronuevo e Mayorga entre 1219 e 1233, mas em 1228, antes da morte de Afonso IX, já se encontra em Castela, onde confirma documentos de Fernando III158. Aproxima-se assim dos círculos onde se movimentam os Meneses. Logo em 25 de Abril de 1226 testemunhara a fundação do hospital de redenção de cativos de Talavera por Afonso Teles, o Velho159; em 1231 acompanha Telo Afonso e Rodrigo Gomes de Trastâmara ― que, recorde-se, casara com Maior Afonso, filha de Afonso Teles, o Velho ― na expedição a Jerez, liderada pelo infante D. Afonso e Álvaro Peres de Castro160; e em 1236, no cerco e tomada de Córdova, está ao lado de Telo Afonso e de Afonso Teles de Córdova, que haveria de ser seu consogro.

Do casamento entre Maior Afonso e Gonçalo Gil não resultou qualquer filho. Tendo este falecido, Maior Afonso desposa depois o infante Afonso de Molina161, irmão de Fernando III, de quem será a terceira esposa162. Afonso de Molina foi durante o reinado do irmão o seu principal aliado, acompanhando-o desde o início nos campos de batalha. Depois da morte de D. Berenguela, em 1246, substitui Fernando III, mais empenhado então no avanço a sul, na administração na Castela setentrional, recebendo pelos seus bons serviços avultadas doações na Andaluzia163.

Manterá a mesma postura no reinado do sobrinho até à sua morte164, que deverá ter ocorrido no início de 1272, uma vez que confirma pela última vez um diploma de Afonso X a 14 de Janeiro desse ano165. A 15 de Julho já aparecia na corte o filho do seu casamento com Maria Afonso, D. Afonso, arrolado num diploma de Afonso X como «Don Alfonso,

155 Cf. Casa Farnese, 2º vol., p. 576 e Livro do Deão, 6AZ8. 156

Cf. Fernando III, 1º vol., p. 156 e Livro de Linhagens, 18A6.

157 Cf. Repartimento de Sevilla, 2º vol., p. 236. 158 Cf. Fernando III, 1º vol., p. 155

159

Cf. Bulário de Santiago, p. 86.

160 Cf. Crónica de Vinte Reis, p. 308.

161 Cf. Casa Farnese, 2º vol., p. 576 e Livro do Deão, 6AZ8.

162 O infante D. Afonso de Molina, filho de Afonso IX de Leão e Berenguela de Castela, casara antes por

duas vezes com duas damas da casa de Lara. Primeiro com D. Mafalda Gonçalves e depois com D. Teresa Gonçalves (cf. António Sanchéz de Mora, La Nobleza Castellana… cit., 1º vol., pp. 354-355).

163 Cf. Fernando III, 1º vol., p. 90 e Gonzalo Martinez Diez, Fernando III… cit., p. 256. 164 Cf. Alfonso X, p. 114.

165 Cf. Diplomatário Andaluz, doc. 391. No documento seguinte de Afonso X, de 14 de Março, já não

fijo del infante don Alfonso de Molina»166. Deste casamento nasceu ainda D. Maria, que viria a ser rainha de Castela pelo seu casamento com Sancho IV.