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A aproximação à corte e a expansão a sul

1. TELO PERES E A ORIGEM DA LINHAGEM

1.2. A CÇÃO POLÍTICA DE T ELO P ERES

1.2.2. A participação na política de Afonso VIII

1.2.2.1. A aproximação à corte e a expansão a sul

Ora, como foi dito, é precisamente em 1166 que D. Telo Peres surge pela primeira vez mencionado como tenente de Cea, posição que ocupa até perto da sua morte. Aparece com esta tenência pela pela última vez, quando detinha também a de Grajal, em 14 de Dezembro de 1194, a confirmar uma decisão sobre uma pesquisa sobre os termos de Ledigos, localidade do senhorio de Santiago a pouco mais de 10km a Este de Sahagún, disposta e autorizada por ordem de Afonso VIII57. Esta data tem lugar seis anos antes do seu falecimento, ocorrido provavelmente em 1200 ou nos primeiros meses de 120158.

Se considerarmos que a partir de Março de 116859 Telo Peres se encontra junto de Afonso VIII a confirmar documentos régios e que será aí presença frequente até 1179 e a partir de então ocasionalmente até 119360, é legítimo supor que poderá ter acompanhado o rei castelhano no período em que este tratou de recuperar as terras perdidas nos primeiros anos do seu reinado, depois de 1966. Como nobre com uma forte presença na fronteira Oeste do reino, e tendo em conta os conflitos havidos com Leão, era do interesse de Afonso VIII aliciá-lo para o seu lado. Pelas doações que se verificam por parte do rei castelhano, Telo Peres terá sido um fiel servidor ao longo dos anos.

Desta forma, é provável que depois de Março tivesse acompanhado o monarca desde Toledo na recuperação de Muñó, a Sudoeste de Burgos, em Julho de 1168, que se mantinha até então revoltada61. Porém, pelo facto de não testemunhar nenhum diploma, poderá ter regressado directamente à fronteira, onde em 29 de Agosto se encontrava Afonso VIII e em cuja corte ele confirmava mais um documento62.

Nos meses seguintes, os principais nobres decidiam a tomada do castelo de Zorita de los Canes, localizado a uns 70km a Oeste de Madrid, ocupada por Lope de Arenas,

57 «Telo teniente Cea et Graiar» (ibidem, doc. 632). 58

A última noticia que se tem de Telo Peres é desse ano, não tendo nem dia nem mês. Trata-se de uma doação que faz ao abade e ao mosteiro de Trianos de herdades em Aguilar de Campos (CD Trianos, doc. 72). Em 25 de Abril de 1201 Afonso Teles, seu filho primogénito, doava ao abade e ao mosteiro de Sahagún o lugar de Villanueva de San Mancio e o que tinham em Fuenteungrillo em troca de uma casa em Canaleja com a Igreja e 200 maravedis anuais, pela sua saúde e «pro remedio patris et matris», pelo que D. Telo já tinha falecido (cf. CD Sahagún, vol. V, doc. 1545)

59 O primeiro documento de Afonso VIII que Telo Peres confirma é passado em Toledo no dia 27 Março

1168 (cf. Alfonso VIII, doc. 103).

60

A última presença na corte de Afonso VIII corroborada pelo seu arrolamento enquanto confirmante de um documento data de 4 de Maio de 1193, quando o seu filho primogénito, Afonso Teles, já era presença regular nessa cúria (cf. ibidem, doc. 103).

61 Cf. ibidem, p. 177. 62

partidário dos Castro, que se sublevara63. Na primeira fase do cerco, levada a cabo no início de 1169, Nuno de Lara e Ponce de Minerva, que lideravam a campanha, foram capturados por Lope de Arenas de forma traiçoeira64, mas o sítio não foi desfeito, tendo-se o rei deslocado até lá. A fortaleza foi capturada e aqueles nobres resgatados em Maio65. Entre os ricos-homens que acompanhavam o rei achava-se Telo Peres, que confirma um documento régio desse mesmo mês de 116966.

A importância política do tenente de Cea e a sua relevância junto do rei devem ter aumentado significativamente nestes anos, pois em Julho de 1170, tendo o rei atingido a maioridade, é um dos ricos-homens que em Saragoça ratifica, testemunha e jura fazer cumprir o tratado de paz composto no dia 4 de Junho entre Afonso VIII de Castela e Afonso II de Aragão, em Sahagún67.

Que à época já é um dos principais nobres de Castela adianta-nos Zurita, ao relatar a embaixada que desde Saragoça e após a assinatura do tratado se dirige a Bordéus a fim de trazer ao reino a futura esposa de Afonso VIII, D. Leonor Plantageneta, filha de Henrique II de Inglaterra e Leonor da Aquitânia: «Desde Zaragoza había el rey de Castilla enviado

a Guiana al arzobispo de Toledo y al obispo de Palencia y los obispos de Segovia, Burgos y Calahorra, y a los condes don Nuño y don Ponce y a Gonzalo Ruiz y Pedro y Fernán Ruiz su hermano, Tel Pérez, Garci González, Gutier Fernández, principales ricos hombres de sus reinos. Estos perlados y caballeros fueron a Burdeos a donde estaba doña Leonor reina de Inglaterra, y recibieron a su hija, con la cual vinieron don Bernaldo arzobispo de Burdeos, Helías obispo Agenense y los obispos de Poitiers, Angulema, Xanton, Perigord y Vasatense, y muchos señores ingleses y de Gascuña, Bretaña y Normandía»68. Nesta enumeração, tal como na carta de arras de D. Leonor, passada em Setembro, que também confirma69, Telo Peres surge arrolado na lista de nobres em sexto lugar, depois dos condes Nuno de Lara e Ponce de Minerva, de Gonçalo Rodrigues de Bureba, antigo alferes-mor e mordomo-mor de Sancho III70, e dos irmãos Pedro ― que viria a ocupar o mordomado-

63

Cf. ibidem, 1º vol. p. 178.

64 Cf. Crónica de Veinte Reyes, p. 272. 65 Cf. Alfonso VIII, 1º vol. p. 179. 66 Cf. ibidem, doc. 115.

67 Cf. ibidem, docs. 147 e 140 (textos da ratificação e do tratado, respectivamente). 68

Anales de Aragón, vol. I, liv. II, cap. XXI, p. 127 [cit. em 14 de Maio de 2010 – 17:39].

69 Cf. Alfonso VIII, 1º vol. p. 192.

70 Sobre este nobre veja-se Antonio Sánchez de Mora, Antonio, «Aproximación al estudio de la nobleza

castellana: los llamados Salvadores-Manzanedo y sus relaciones con el linaje de Lara (ss. XI-XIII)»,

mor de Afonso VIII entre 1194 e 119571 ― e Fernando Rodrigues de Gusmão, parentes dos Lara72, o que evidencia a sua elevada posição social.

Nos anos seguintes D. Telo continuaria a frequentar assiduamente a corte e a gozar do favor régio, que recebia em troca de uma constante fidelidade e apoio. Estava em Huete em Janeiro de 117273, meses antes desta vila ser assediada pelos almóadas em Junho74, pelo que é provável que tenha acompanhado o rei no bem sucedido socorro que este conduziu a fim de libertar a praça.

Através de confirmações suas em documentos régios, sabe-se da presença de Telo Peres junto do rei ― eventualmente constante, embora os hiatos de tempo dos documentos que ele testemunha induzam a pensar que se verificaram curtos afastamentos ― desde Dezembro de 1172 até Abril de 117475, período durante o qual Afonso VIII esteve particularmente ocupado com as pressões muçulmana e navarra76. Certamente que assistia o rei com as suas mesnadas, e os períodos em que não aparece a subscrever diplomas régios talvez se devessem a motivos relacionados com operações militares nas quais D. Telo parece ter sido entendido e participante bastante activo.

Um dos seus companheiros de armas terá sido Pedro Guterres. No dia 11 de de Abril de 1173, estando em Ávila, era-lhe entregue em doação perpétua, a meias com este último, o castelo e a vila de Ocaña77, situada a cerca de 50km a Oeste de Toledo, bastante longe da sua zona de implantação senhorial original, bem próximo da fronteira com os reinos muçulmanos, com as vantagens e dificuldades que tal situação acarretava. O diploma era explícito ao mencionar que a cedência tinha como objectivo recompensar os muitos e bons serviços dos dois ― «pro multis et magnis seruiciis que uos mihi fecistis et facitis». A doação era feita com castelo, vila, todos os direitos e pertenças ― colaços, terras, pastos, vinhas, prados, rios, moinhos, pesqueiras e portagens ― em juro de herdade, pelo que

71 Cf. Alfonso VIII, 1º vol., p. 242, Antonio Sanchéz de Mora, La Nobleza Castellana…cit., 1º vol., pp.

466, e Salvador de Moxó, «De la nobleza vieja a la nobleza nueva. La transformación nobiliaria castellana en la baja Edad Media», Cuadernos de Historia – Anexos de la Revista Hispania, 3, 1969, p. 113.

72

Cf. ibidem, p. 113 e Antonio Sanchéz de Mora, ob. cit., 1º vol., pp. 465-466.

73 Cf. Alfonso VIII, doc. 167.

74 Cf. ibidem, 1º vol., pp. 910-918 e Vicente A. Álvarez Palenzuela e Luis Suárez Fernández, La

consolidación de los reinos hispánicos: (1157-1369), 6º vol. da Historia de España coord. por Ángel

Montenegro Duque, Madrid, Gredos, 1988, p. 18.

75 Diplomas de Atienza, a 18 de Dezembro de 1172; Almazán, a 27 de Janeiro de 1173; de 24 Março de

1173, em que é mencionado como «Tel Pedrez de Campos»; Toledo, a 30 Março de 1173; Ávila, a 11 Abril de 1173; Medina, a 28 de Junho de 1173; Burgos, a 10 de Novembro de 1173; Arévalo, a 9 de Janeiro de 1174; Arévalo,a 20 de Janeiro, de 1174; Toledo, a 23 de Fevereiro de 1174; Segóvia, a 31 de Março de 1174; Alcalá, a 22 de Abril de 1174; e Medinaceli, a 30 de Abril de 1174. Respectivamente docs. 173, 174, 176, 177, 179, 183, 190, 195, 196, 199, 202, 203 e 204 pub. em Alfonso VIII.

76 Cf. ibidem, 1º vol., pp. 919-923. 77

podiam transmitir e doar Ocaña como bem lhes aprouvesse, e com o objectivo principal de repovoar a zona.

Foi levantada a hipótese de existirem ligações familiares entre Telo Peres e Pedro Guterres, mas que não se confirmam. Sabe-se que Pedro Guterres foi casado com Maria Bueso, filha de Diego Bueso (ou Busón) e Urraca Peres, e que confirma documentos de Afonso VIII entre 1165 e 117978. Julio González aventa a possibilidade desta Urraca Peres ser irmã de Telo Peres, embora não se conheçam documentos que atestem este parentesco79. Esta hipotética ligação talvez explicasse o facto da cedência de Ocaña ser repartida pelos dois nobres, e de surgirem juntos em alguns actos, pois desta forma seriam parentes, tendo Pedro Guterres casado com uma sobrinha de Telo Peres. Saba-se sim que Pedro Guterres era irmão de Rodrigo Guterres Girón, de onde adviria a linhagem com este nome, que no final do século XII e início do seguinte se iria associar estreitamente aos descendentes de Telo Peres através de vários casamentos, como se verá adiante.

D. Telo não manteria por muito tempo esta vila, pois passado menos de um ano, a 15 de Fevereiro de 1174, estando em Toledo e com o beneplácito régio, ele e Pedro Guterres doavam a quarta parte de Ocaña, com todos os seus direitos e pertenças tal como a haviam recebido, à Ordem de Calatrava e ao seu Mestre, Martim Peres de Siones80. E três anos depois, em Janeiro de 1177, estando no cerco de Cuenca, Telo Peres e sua esposa doavam à mesma Ordem metade de Ocaña81, que eventualmente corresponderia ao resto da parte que lhe cabia, uma vez que desde a entrega anterior de um quarto do domínio ele e Pedro Guterres teriam mantido a meias as restantes três quartas partes.

Durante o cerco e tomada de Cuenca, D. Telo ter-se-ia não apenas destacado nos vários confrontos, mas comandaria ainda o assédio enquanto lugar-tenente do rei, sendo depois recompensado por este. Muñoz y Soliva adianta que durante o sítio «gobernaba á la

sazon Tello Perez, capitan que el Señor Rey mandava obedecieram y así todos lo facian y á este tiempo non tenían por do embestir»82. Teria também sido um dos principais nobres que na noite de 20 para 21 de Setembro, furtivamente, se introduziram na fortaleza por um postigo que os muçulmanos usavam entrar e sair de Cuenca, dominaram as forças da vila e abriram as portas para os companheiros de armas. Na manhã do dia 21, D. Afonso VIII

78 Cf. ibidem., 1º vol., p. 355. 79 Cf. ibidem, p. 355. 80

Cf. Biblioteca da Real Academia de la Historia, Colecção Salazar y Castro, vol. D-16, fl. 45.

81 Cf. ibidem.

82 Historia de la muy Noble, Leal é Impertérrita Ciudad de Cuenca, y del territorio de su provincia y

obispado, desde los tiempos primitivos hasta la edad presente, 1º vol., Cuenca, Imprensa de el Eco, 1866, p.

fazia a entrada triunfal na praça e era recebido, entre outros, por D. Telo, que a pedido do bispo de Burgos subiu ao muro sobre o Júcar para aí estender o estandarte daquele prelado83. Pela narrativa, sabe-se que Telo Peres participava pessoalmente em operações militares de elevado risco. Também Juan Pablo Martir Rizo, na sua Historia de la Muy

Noble y Leal Ciudad de Cuenca, acentua o papel de D. Telo na tomada da vila e o facto de

ter sido recompensado pelos seus feitos, escrevendo que «El Capitan Mayor desta

cõnquista, fue Tel Perez, y de grande importãcia en esta empressa, por cuyas hazañas le dio el Rey a el, y a su muger D. Gontroda las villas de Meneses, de dõde recibió el nombre, de la de Villanueva de S. Roman, Poblacion, Carrion, y Cabeçon, la mitad de Ocaña, y sus términos, la mitad de Lõdos, y unos Molinos en el rio Xucar: assi mismo le dio a Portillo, Moxados, Villalua, Villaliberno, Ecla, Ribaboya, el Alfoz de Cea, y el lugar de Matilla, aunque algunas dellas fueron en satisfacion del Castillo de Malagon, que era suyo: dotò el Hospital de Villa Martin cerca de Carrion, en el camino de Frances, que le dio la Orden de Santiago»84.

Depois da tomada, recebera nos arrabaldes desta cidade algumas propriedades, tal como Pedro Guterres, que manteriam até 13 de Março de 1182, quando os dois, com o aval régio, e a par das respectivas esposas, D. Guntrodo e D. Maria Bueso, doam à Ordem de Santiago o que tinham em Cuenca, salvo pontuais excepções, a fim de que fosse ali criado um hospital de remição de cativos85.

Depois de tomada Cuenca, com a mobilização de bastantes recursos e tempo, Afonso VIII trata de continuar a marcha para Sul. Este avanço fazia-se também por iniciativa de outros além do rei, e Telo Peres, que demonstrara evidentes capacidades militares em Cuenca, certamente que teria empreendido acções por sua própria conta, ou também investiria no território fronteiro ao ocupado pelos muçulmanos. É o que se depreende do facto de deter o lugar e castelo de Malagón, a cerca de 80km a Sul de Toledo, que no dia 3 de Janeiro de 1181 trata de trocar com o rei por algumas terras e direitos86. Estando Malagón próximo de Calatrava, teria sido uma das praças que, juntamente com Alarcos, Caracuel, Benavente, Figuerola, Almodovar e Mestanza, D. Afonso VII teria tomado em

83 Para todo este relato, cf. ibidem, pp. 586-588.

84 Madrid, 1629. Telo Peres esteve de facto no cerco de Cuenca ao longo de 1177, confirmando aí

documentos desde Janeiro, como foi visto, até 14 de Setembro (Cf. Alfonso VIII, doc. 289). Certamente que se teria aí mantido até 21 de Setembro, data da tomada da cidade.

85

Cf. Bulário de Santiago, pp. 26-27. Eram doadas todas as propriedades recebidas de Afonso VIII naquela cidade, excepto Portella (Portilla?), da parte de Telo Peres, e uma jugada em Olmendiella, mantida por Pedro Guterres.

86 Cf. Alfonso VIII, doc. 354. Também pub. por Modesto Salcedo, ob. cit., pp. 91-92, em Castelhano, e

1147, data da ocupação de todos estes castelos87. Não se conhece a forma como o castelo de Malagón chegou à posse de Telo Peres, podendo acontecer que tenha sido doado pelo rei, apesar de este, como foi mencionado, o adquirir em 1181 em troca de outros domínios88. Uma outra hipótese, pouco plausível, uma vez que D. Afonso VII teria derrubado os castelos da zona que não podia armar com guarnições adequadas89, passa por aquele castelo ter ficado sem gentes e ter sido depois ocupado por D. Telo. Poderá ter sido cedido pela Ordem de Calatrava, eventualmente por falta de meios para manter a fortaleza, com quem D. Telo tinha relações de simpatia, visíveis na doação que lhes faz da metade de Ocaña, mas não se conhece documento que o indique. Certo é que o possui àquela data e que o aliena em troca de direitos que lhe seriam bastante mais vantajosos90. Ademais, por essa altura, a situação junto à fronteira leonesa, na Tierra de Campos, mereceria mais a sua atenção e a atenção de Afonso VIII.