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O S CONFLITOS DO FINAL DO REINADO DE H ENRIQUE I E ACLAMAÇÃO DE

2. AFONSO TELES, O VELHO E O ESTABELECIMENTO DA FAMÍLIA NO

2.3. O S CONFLITOS DO FINAL DO REINADO DE H ENRIQUE I E ACLAMAÇÃO DE

FERNANDO III

Os acontecimentos ocorridos durante e imediatamente após o reinado de Henrique I iriam convocar Afonso Teles para o centro do xadrez político castelhano. Quando Afonso VIII morre, a 5 de Outubro de 121480, sobe ao trono Henrique I, um rapaz que mal ultrapassara os 11 anos81. A regência do reino e a tutela do jovem rei certamente caberiam à rainha D. Leonor, mas esta encontrava-se bastante doente e viria a sobreviver poucos dias ao marido. Faleceu a 31 de Outubro, pelo que aquelas funções recaíram nas mãos de D. Berenguela, coadjuvada pelo arcebispo de Toledo, D. Rodrigo Ximenes de Rada, e pelo bispo de Palência, D. Telo Peres82.

Contudo, alguns destacados nobres, de onde se salientavam Álvaro Nunes de Lara, alferes régio, e os seus irmãos, D. Fernando e D. Gonçalo, não concordavam com a situação, e, tornando mais explícitas as divergências, pediam para o primeiro a guarda do rei e o governo de Castela, a fim de tomarem as rédeas do poder no reino83. Acabam por aliciar e convencer Garcia Lourenço, a quem fora confiada por D. Berenguela a custódia de Henrique I, a romper a fidelidade para com esta, e a entregar-lhes o rei, o que vem a fazer nos primeiros meses de 121584. Perante esta realidade e a fim de não agudizar as discordâncias, o que poderia conduzir a sérias perturbações no reino, D. Berenguela vê-se obrigada a entregar a tutoria do irmão e o governo do reino a Álvaro Nunes, fazendo-o jurar que não iria ultrapassar as suas atribuições e que a consultaria em relação aos assuntos de maior importância85.

Porém, logo depois das juras verifica-se uma divisão entre os barões do reino. Por esta altura o mordomo-mor Gonçalo Rodrigues Girón e os irmãos ainda se encontram ao lado do Lara86, certamente por considerarem que procedendo assim estavam a contribuir para a pacificação do reino, além de ser mais vantajoso para a linhagem. As acções seguintes de Álvaro Nunes iriam agravar as tensões. Vai cometer alguns agravos aos magnates, entre os quais Gonçalo Rodrigues Girón e Lopo Dias de Haro, ao querer que se

80 Cf. Alfonso VIII, 1º vol., p. 213. 81 Cf. ibidem, p. 218.

82

Cf. ibidem, 1º vol., p. 220 e Crónica Latina, p. 47.

83 Cf. Alfonso VIII, 1º vol, p. 222, De Rebus Hispaniae, p. 332 e Crónica Latina, p. 47. 84 Cf. Alfonso VIII, 1º vol, p. 223 e De Rebus Hispaniae, p. 332.

85 Cf. Aflonso VIII, 1º vol, p. 223 e De Rebus Hispaniae, p. 332. 86

fossem da corte e não tornassem a ela a não ser que fossem convocados87. Radicaliza a sua posição ao destituir e nomear novos titulares para as tenências do reino88 e, nas palavras do arcebispo de Toledo, «comenzó a sembrar el terror, a afrentar a los grandes y despojar a

los ricos del común del pueblo, a sojuzgar a las órdenes religiosas y a las iglesias, y del mismo modo comenzó a confiscar el tercio de los diezmos que correspondía a las obras de las iglesias»89. Viria a ser excomungado por esta última prática, sendo obrigado a restituir o que tomara e a não volver a agir da mesma forma, o que não o impediu de continuar a oprimir com novas taxas os clérigos que detinham imunidade régia de tributos após o levantamento da excomunhão90.

A progressiva oposição ao Lara leva a que na Primavera de 1216 se reúna em Valladolid uma cúria de ricos-homens descontentes com o estado do reino e a política do tutor, de onde sobressaem Gonçalo Rodrigues e Rodrigo Rodrigues Girón, Lopo Dias de Haro, Álvaro Dias e Rodrigo Dias de los Cameros e Afonso e Soeiro Teles91. Estavam decididos a unir-se e a pedir a D. Berenguela que os ajudasse a defenderem-se do mal que Álvaro Nunes lhes fazia e ao reino. Cristalizavam-se assim duas poderosas facções, sendo que contra os Lara, à excepção dos Castro, ausentes de Castela92, se alinhavam as restantes principais linhagens do reino: Girón, Haro, Camero e Teles.

Após os ataques à Igreja, e reunida toda uma frente contra si, D. Álvaro começa a hostilizar D. Berenguela, à volta de quem se reunira essa frente, chegando mesmo a ocupar as terras que lhe haviam sido legadas pelo seu pai e exigindo-lhe que saísse do reino, o que a leva a procurar auxílio junto dos seus apoiantes, saindo de Burgos e refugiando-se no castelo de Autillo, que pertencia a Gonçalo Rodrigues Girón, onde ficará até à morte de Henrique I93. Na medida em que o infante D. Fernando, filho de D. Berenguela e D. Afonso IX, poderia constituir um importante apoio para a mãe, o Lara faz com que D. Henrique peça à irmã para o mandar para fora do reino, pelo que este se dirige para junto do pai, em Leão, onde já se encontra em Maio de 121694. Porém, a presença de D. Fernando na corte leonesa era contrária às aspirações do regente, na medida em que fazia

87

Cf. Crónica de Vinte Reis, p. 289.

88 Cf. Gonzalo Martinez Diez, Fernando III ― 1217-1252, Palencia, Ed. La Olmeda / Diputación de

Palencia, 1993, p. 24.

89 De Rebus Hispaniae, p. 332. 90 Cf. ibidem, p. 333.

91

Cf. ibidem, p. 333, Crónica Latina, p. 48 e Crónica de Vinte Reis, p. 289.

92 D. Pedro Fernandes de Castro, o Castelhano morrera em Marrocos em 1214 e o sei filho D. Álvaro

Peres não apareceria na corte castelhana até 1219 (cf. Fernando III, 1º vol. pp. 140-141).

93 Cf. Crónica Latina, p. 49 e De Rebus Hispaniae, p. 333. 94

com que Leão se inclinasse a apoiar D. Berenguela95. De forma a compensar este apoio, Álvaro Nunes negoceia com Afonso II de Portugal o casamento de Henrique I com D. Mafalda, irmã do rei português96. Tratava-se de uma união que também interessaria a este último, que estreitaria as suas relações com Castela numa altura em que a morte, dois anos antes, do infante D. Fernando, filho de Afonso IX e Teresa de Portugal e possível herdeiro do trono leonês ― e como tal rival do seu meio-irmão homónimo, filho de D. Berenguela ― não beneficiara as relações de Portugal com Leão97

. Não obstante o sucesso das negociações, o enlace não chegaria a ser consumado, pois Henrique I não atingira a idade núbil. Além disso, após protesto de D. Berenguela, Inocêncio III ordenara aos bispos de Palencia, o conhecido Telo Teles, e de Burgos, D. Maurício, que anulasseem o casamento devido ao grau de parentesco dos conjugues ― decisão ratificada posteriormente por Honório III ― Algo que apenas vieram a lograr após a promulgação da pena de excomunhão contra o casal98. Fracassada esta união, Álvaro Nunes tenta então trazer Afonso IX para o seu lado, procurando casar Henrique I com a infanta D. Sancha, filha do rei leonês e de D. Teresa de Portugal, mas não obterá melhor resultado99.

Um episódio no Outono de 1216 ilustra bem a que ponto se haviam radicalizado as posições. Tendo D. Berenguela enviado secretamente um mensageiro ao irmão para se inteirar do seu estado, aquele é descoberto por Álvaro Nunes, que o manda matar, não sem antes ter forjado uma carta que incriminava D. Berenguela e os seus apoiantes na Tierra de Campos numa suposta tentativa de assassinato do rei100. A Crónica Latina descreve o episódio sublinhando que o regente e os seus apoiantes «se esforzaban en probar que la

reina intentaba conspirar a la muerte de su Hermano com Gonzalo Rodríguez y Alfonso Téllez y algunos otros magnates, para hacerlos así objectos del ódio del rey, cosa que, habiéndolo intentado antes de muchas maneras, nunca lo habían podido conseguir»101. Afonso Teles era então um dos principais adversários do Lara e, por conseguinte, um dos alvos do ardil deste último.

D. Berenguela e os seus partidários procuram então recuperar a tutela de Henrique I, retirando-o da guarda de Álvaro Nunes, propósito com o qual o jovem monarca estava de acordo. Enviam então Rodrigo Gonçalves de Valverde para, à revelia do tutor, conduzir

95 Cf. Gonzalo Martinez Diez, ob. cit., p. 26 e Alfonso VIII, 1º vol., p. 228. 96 Cf. De Rebus Hispaniae, p. 333, e Crónica de Vinte Reis, p. 290. 97

Cf. D. Afonso II, p. 92.

98 Cf. De Rebus Hispaniae, pp. 333-334 e Alfonso VIII, 1º vol., pp. 228-229. 99 Cf. Gonzalo Martinez Diez, ob. cit., p. 26 e Alfonso VIII, 1º vol., pp. 230-231. 100 Cf. De Rebus Hispaniae, p. 334.

101

Henrique I para junto da irmã, mas a trama é descoberta e o enviado é capturado e aprisionado em Alarcón102. Por esta altura, nos finais de 1216, a corte encontrava-se a sul do Douro, pelas terras de Huete, Uclés e Alarcón. Álvaro Nunes procuraria então manter- se pelas regiões onde os seus principais apoios se localizavam, na Extremadura e na Transierra103.

Este incidente terá despoletado a decisão de D. Álvaro em resolver pelas armas as profundas divergências que o opunham a D. Berenguela e aos seus aliados. O ano de 1217 começa com o afastamento de Gonçalo Rodrigues do mordomado, e os Girón e os Teles ― Afonso e Soeiro Teles ― abandonavam a corte104

, opção que pouco tempo depois era tomada por Lopo Dias de Haro105.

Reunidas as forças que conseguiu, Álvaro Nunes parte para Valladolid na quaresma de 1217, e desde aí, depois da Páscoa, invade a Tierra de Campos, onde se encontrava D. Berenguela e que constituía o centro de poder dos seus principais inimigos, os Girón e os Teles, que aí tinham os seus principais domínios106. Começam por correr Valdetrigueros ― actualmente Trigueros del Valle ―, destruindo os bens e possessões dos Girón e de outros magnates que seguiam D. Berenguela, dirigindo-se depois para Montealegre, onde montam cerco ao castelo, defendido por Soeiro Teles107. Apesar de Afonso Teles e Gonçalo Rodrigues Girón disporem de forças mais numerosas, não atacam os sitiantes por respeito ao rei, que estava presente no cerco108. Pelo mesmo motivo e por pedi-lo Henrique I, Soeiro Teles acaba por entregar o castelo109.

No início de Maio, o exército conduzido por Álvaro Nunes, sempre com o rei, e saqueando Campos, segue então para Carrión, onde permanecem durante alguns dias antes de marchar contra Afonso Teles, que se encontrava em Villalba de los Alcores110. Alguns cavaleiros que iam adiante do grosso das forças descobriram, já de noite, Afonso Teles fora das muralhas e conseguem capturar-lhe o cavalo e as armas e feri-lo antes que ele se conseguisse recolher aos muros111. Mais uma vez, e apesar de deterem forças em número e

102 Cf. De Rebus Hispaniae, p. 334 e Alfonso VIII, 1º vol., p. 233. 103 Cf. Crónica Latina, p. 49.

104

Afonso Teles e o irmão, Soeiro Teles, confirmam um privilégio de Henrique I de 29 de Dezembro de 1216 mas já não estão presentes na lista de confirmantes de um outro diploma de 8 de Janeiro de 1217 (cf.

Alfonso VIII, 3º vol., docs 1008 e 1009) 105 Cf. ibidem, 1º vol., p. 233. 106 Cf.

107

Cf. Crónica Latina, p. 50 e De Rebus Hispaniae, p. 334.

108 Cf. ibidem, p. 335.

109 Cf. Crónica Latina, p. 50 e De Rebus Hispaniae, p. 335. 110 Cf. Crónica Latina, p. 50 e De Rebus Hispaniae, p. 335. 111

capacidade suficientes para levar de vencida o Lara, D. Berenguela e Gonçalo Rodrigues decidem manter-se em Autillo e em Cisneros e não ajudar Afonso Teles, para não atacarem as hostes entre as quais o rei de Castela se encontrava112, embora não entreguem as suas fortalezas, pois argumentavam que estavam a defender-se de Álvaro Nunes, que lhes queria mal113. Apesar da escassez de gentes ― a Crónica de Vinte Reis fala em «ocho

caualleros e com muy poça conpaña»114 ―, o senhor de Meneses consegue resistir ao assédio durante vários dias, pelo que D. Álvaro é obrigado a levantar arraial115. Dirige-se então para Palência, onde com o rei «se alojo en la casa del obispo y gastaba y dilapidaba

la hacienda de la iglesia como si fuera un enemigo»116. Não é estranho que assim actuasse pois D. Telo Teles era irmão de dois dos seus principais inimigos, e certamente apoiante de D. Berenguela, tendo mesmo sido um dos mandatários papais que tinham anulado o casamento de D. Henrique com D. Mafalda.

A investida em Campos por parte de Álvaro Nunes procurava diminuir a capacidade dos Girón e dos Teles e o plano talvez passasse por atacar depois os outros poderosos apoiantes de D. Berenguela, Lope Dias de Haro e Rui Dias de los Cameros, cujas bases de poder se localizava na Rioja117.

Estando por esta altura seguro de se encontrar em vantagem, a morte súbita de Henrique I, a 6 de Junho, de forma fortuita e como consequência de um golpe na cabeça resultante da queda de uma telha enquanto brincava com rapazes da sua idade, ainda na casa do bispo de Palência118, irá alterar decisivamente a situação, pois D. Berenguela tornava-se então a herdeira legítima do trono castelhano. Tentando ocultar o sucedido a fim de ganhar tempo para planear a sua próxima acção, Álvaro Nunes leva o cadáver do

112 Cf. Crónica Latina, p. 50, De Rebus Hispaniae, p. 335 e Crónica de Vinte Reis, pp. 291-292. 113 Cf. Alfonso VIII, 1º vol., p. 236, nota 332.

114

Crónica de Vinte Reis, p. 291.

115 Cf. Crónica Latina, p. 50, De Rebus Hispaniae, p. 335 e Crónica de Vinte Reis, p. 292. Segundo a Crónica de Vinte Reis, o exército régio teria levantado o cerco de Villalba de los Alcores e encaminhara-se

para Autillo, onde D. Berenguela e os seus não saíram nem permitiram que se saísse contra as forças onde o rei estava e mandaram dizer a D. Álvaro isso mesmo, mas que lidariam de bom grado com ele e os seus homens. Este responde então que não fará isso e que, ao invés, arrasaria o castelo, opondo-se a esta decisão Henrique I, que não tinha por bem atacar a irmã. O cerco sobre Autillo não chega a ter lugar e D. Álvaro e o rei avançam então para Palência, destruindo pelo caminho umas casas de Rodrigo Rodrigues Girón. Anteriormente, logo que Afonso Teles fora sitiado em Villalba, D. Berenguela teria enviado Lopo Dias de Haro e Gonçalo Rodrigues Girón a Leão, pedindo ajuda a Afonso IX, junto de quem se encontrava o infante D. Fernando. Este intercede pela mãe e o rei leonês autoriza os seus cavaleiros a acompanharem o infante, tendo-se disponibilizado cerca de 500 deles. Todavia, quando estão a caminho encontram Afonso Teles, ainda a convalescer dos ferimentos, que os informa que D. Álvaro levantara o cerco e se dirigira para Palência, pelo que D. Fernando e o socorro regressam a Leão.

116 De Rebus Hispaniae, p. 335.

117 Cf. Fernando III, 1º vol., pp. 233-234. 118

monarca para o castelo de Tariego119. Não obstante esta tentativa desesperada, D. Berenguela viria a ter conhecimento do ocorrido120, e irá utilizar o secretismo em torno da morte do irmão a seu favor. Prontamente, Lopo Dias de Haro e Gonçalo Rodrigues Girón partem para Toro121, onde se encontrava o infante D. Fernando, a fim de o trazerem para junto da mãe, que ainda se encontrava em Autillo, o que conseguem fazer omitindo a Afonso IX a morte de Henrique I, embora não seja conhecida a justificação que apresentam para conduzirem assim o infante122. Procediam desta forma porque, estando a coroa de Castela vaga, Afonso IX se apresentava como um candidato a essa mesma coroa e legítimo sucessor, se se excluísse o direito sucessório feminil123. O objectivo passaria desde logo por conduzir o infante D. Fernando ao trono castelhano, através da abdicação da sua mãe a seu favor124.

D. Berenguela, o filho e os seus apoiantes tomam então a iniciativa, e avançam para Palência, onde são recebidos pelo bispo Telo Teles em solene procissão, marchando depois sobre Dueñas, que tomam de assalto125. Procurando terminar o conflito, os ricos-homens tratam então de encontrar-se com Álvaro Nunes, numa entrevista onde muito provavelmente se achavam os Teles, Afonso e Soeiro, mas as exigências do Lara, que pedia a tutela do infante D. Fernando nas mesmas condições em que tivera a de D. Henrique I, não eram passíveis de ser aceites, pelo que as negociações logicamente fracassam126. Curiosamente, e observando as posições dos dois lados nesta conferência, percebe-se que ambos lados já reconheciam ao infante D. Fernando direitos sobre o trono castelhano.

Em seguida, D. Berenguela e os seus avançam para Valladolid, onde são bem acolhidos, antes de apontarem para sul, a fim de tentarem chamar para o seu lado os concelhos da Extremadura e Transierra, fundamentais para se superiorizarem definitivamente a Álvaro Nunes127. Ao contrário do que poderiam estar à espera, não recebem um acolhimento caloroso, pois querendo pernoitar na vila de Coca, no caminho para Segóvia, é-lhes vedada a entrada na vila, sendo avisados para se afastarem das cidades

119 Cf. Crónica Latina, p. 51 e De Rebus Hispaniae, p. 336. 120 Cf. Crónica Latina, p. 51 e De Rebus Hispaniae, p. 336.

121 A Crónica de Vinte Reis (p. 292) diz que além destes dois também seguia D. Afonso Teles. 122 Cf. Crónica Latina, p. 51, De Rebus Hispaniae, p. 336 e Crónica de Vinte Reis, p. 292. 123

Cf. Gonzalo Martinez Diez, Fernando III…cit., p. 32.

124 Cf. Fernando III, 1º vol., p. 235.

125 Cf. Crónica Latina, p. 52 e De Rebus Hispaniae, p. 336. 126 Cf. De Rebus Hispaniae, p. 336.

127

da Extremadura, e levanta-se o rumor de que forças leonesas se reuniam para atacar D. Berenguela e o filho128.

Preparava-se então um ajuntamento dos concelhos castelhanos que pretendiam chegar a um acordo e agir de forma concertada em relação ao problema provocado pela morte de Henrique I e a necessidade aclamação de um novo rei129. Virá a ter lugar em Segóvia, e D. Berenguela tratará de enviar emissários seus a essa assembleia, para recordar aos concelhos o seu dever de lealdade e os atrair para o seu lado, sendo bem sucedida nestes aspectos130.

Seguidamente, reúnem-se em Valladolid os magnates que apoiavam D. Berenguela e os concelhos. Apesar da diversidade de opiniões, chega-se a um consenso: reconhecia-se D. Berenguela como legítima soberana de Castela e, ao mesmo tempo, pedia-se-lhe que abdicasse do trono em favor do filho, o que vem a fazer131, pois esse teria sido o seu objectivo desde sempre132. Assim, a 2 de Julho de 1217, em Valladolid, o infante D. Fernando era proclamado rei de Castela, o terceiro com esse nome133.

Mas a aclamação de Fernando III não trouxe a pacificação do reino. Álvaro Nunes de Lara mantinha a sua hostilidade ao novo rei e a D. Berenguela, pois a preponderância política que detivera durante o curto reinado de Henrique I era-lhe agora negada. Irá então instigar Afonso IX, que reclamava direitos sobre o trono castelhano, a intervir em Castela134. Prontamente dois exércitos leoneses invadem o reino de Fernando III. Um, comandado pelo infante Sancho Fernandes, irmão do rei de Leão, penetra pelas terras de Ávila através da fronteira salmantina, vindo a retirar-se perante a eficaz resistência das milícias abulenses135. Outro, mais poderoso e liderado pelo próprio monarca leonês, entrava pela Tierra de Campos, seguramente destruindo alguns dos bens dos Teles e dos Girón, ocupando Urueña, Villagarcía e Castromonte e, marchando contra Valladolid, iria acampar a 5 de Julho em Arroyo, a sete quilómetros do seu alvo136.

Não há relatos que indiquem que Afonso IX tenha encontrado grande oposição ao longo do seu avanço e o facto de D. Berenguela e o filho terem enviado os bispos de Burgos e de Ávila ao seu acampamento a fim de lhe solicitarem que desistisse da sua

128 Cf. Crónica Latina, p. 52 e De Rebus Hispaniae, p. 336. 129 Fernando III, 1º vol., p. 237.

130 Cf. De Rebus Hispaniae, p. 336.

131 Cf. De Rebus Hispaniae, p. 337 e Fernando III, 1º vol., p. 238. 132

Cf. Gonzalo Martinez Diez, ob. cit., p. 39.

133 Cf. Fernando III, 1º vol., p. 239. 134 Cf. Crónica Latina, p. 52.

135 Cf. Gonzalo Martinez Diez, ob. cit., p. 43 e Fernando III, 1º vol., p. 240. 136

empresa e que reconhecesse os direitos de D. Fernando ao trono de Castela revelam que o lado castelhano buscava uma solução pacífica para o conflito137. Afonso IX, todavia, não acede ao pedido e, confiante na possibilidade de se vir a apoderar do reino vizinho, levanta o seu arraial e atravessa o Pisuerga, acampando em Laguna del Duero138. A Crónica de

Vinte Reis refere que enquanto o rei de Leão aí permanecia, Afonso Teles, em

representação de Fernando III, se terá a ele dirigido, pedindo novamente que saísse com o seu exército das terras de Castela. Sublinhava que o facto de o seu filho ser agora soberano deste reino era garantia de que daí em diante nunca viria mal para Leão139. Mas Afonso IX responde com uma proposta, «que fuessen amos señores de Castilla e de León todos sus

dias, e después que fincare todo a su fijo»140, ao que D. Berenguela, sendo-lhe esta comunicada por Afonso Teles, irá retorquir que tal não poderá ser feito, pois Castela fora entregue ao seu filho por Deus e pelos homens-bons do reino141.

Afonso IX encaminha-se então para Burgos, devastando as terras até chegar a Arcos, a meros oito quilómetros daquela importante cidade, onde a maior parte dos magnates apoiantes de Fernando III a resistência castelhana se organizava142. O rei de Leão, sabendo do insucesso da expedição comandada pelo seu irmão, ciente da sua incapacidade em tomar Burgos e tomando conhecimento que se convocavam forças para o enfrentar,