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A PATRULHA DA NOITE

No documento O Mundo de Gelo e Fogo (páginas 164-170)

A Patrulha da Noite é única nos Sete Reinos. A irmandade juramentada que tem defendido a Muralha ao longo dos séculos e milênios nasceu do rescaldo da Longa Noite, inverno que durou uma geração e trouxe os Outros até os reinos dos homens quase colocando um fim neles.

A história da Patrulha da Noite é longa. Os contos ainda falam dos cavaleiros de negro da Muralha e de seu no- bre chamado. Mas a Era dos Heróis acabou há muito, e os Outros não aparecem há milhares de anos, se é que de fato já existiram.

Além disso, ano após ano, a Patrulha diminui de tamanho. Seus registros provam que o declínio começou ainda antes da era de Aegon, o Conquistador, e suas irmãs. Embora os irmãos negros da Patrulha ainda protejam o reino dos homens com tanta nobreza quanto possível, as ameaças que encaram não vêm mais de Outros, zumbis, gigan- tes, videntes verdes, wargs, troca-peles e outros monstros das histórias infantis e lendas, mas de selvagens bárbaros armados com machados de pedra e clavas; bestiais, com certeza, mas apenas homens que não são páreos para guer- reiros disciplinados.

Não foi sempre assim. Se as lendas são verdade ou não, é claro que os Primeiros Homens e os filhos da floresta (e até mesmo os gigantes, se aceitarmos a palavra dos cantores) temiam algo o suficiente para fazê-los erguer a Muralha. E esta grande construção, tão simples como é, pode ser considerada com justiça uma das maravilhas do mundo. Pode ser que suas fundações iniciais tenham sido de pedra ‒ os meistres divergem sobre isso ‒, mas agora tudo o que pode ser visto a uma distância de quinhentos quilômetros é gelo. Lagos nas proximidades forneceram o material, que foi cortado em imensos blocos pelos Primeiros Homens, transportados em trenós pelas encostas da Muralha e colocados no lugar um a um. Agora, mil anos depois, a Muralha tem mais de duzentos metros em seu ponto mais alto (embora a altura varie consideravelmente ao longo das centenas de metros de seu comprimento, conforme ela segue os contornos da paisagem).

Sob a sombra dessa parede de gelo, a Patrulha da Noite ergueu dezenove fortalezas ‒ embora sejam diferentes de qualquer outro castelo nos Sete Reinos, pois não são cercadas por muralhas nem possuem outras fortificações defensivas para protegê-las (a própria Muralha é mais do que suficiente contra qualquer ameaça que venha do nor- te, e a Patrulha insiste que não tem inimigos no sul).

A maior e mais antiga dessas fortalezas é Fortenoite, que está abandonada nos últimos duzentos anos; conforme a Patrulha encolheu, o tamanho fez de Fortenoite grande demais e custosa demais para ser mantida. Meistres que serviram na Patrulha da Noite enquanto a fortaleza ainda estava em uso deixaram claro que Fortenoite foi expandi- do ao longo dos séculos e que pouco restou da estrutura original, exceto algumas das caves mais profundas esculpi- das na rocha sob os pés do castelo.

Mesmo assim, ao longo dos milhares de anos de sua existência como sede principal da Patrulha, o Fortenoite tem acumulado muitas lendas, algumas das quais foram recontadas em Patrulheiros da Muralha, do Arquimeistre Harmune. O mais antigo desses contos diz respeito ao legendário Rei da Noite, décimo-terceiro Senhor Comandan- te da Patrulha da Noite, acusado de ir para a cama com uma feiticeira pálida como um cadáver e se autoproclamar rei. Por treze anos, o Rei da Noite e sua rainha cadáver governaram juntos, antes que o Rei do Inverno, Brandon, o Transgressor (em aliança com o Rei-para-lá-da-Muralha, Joramun, segundo contam), os derrotasse. Depois disso, ele apagou o nome do Rei da Noite da memória.

Na Cidadela, os arquimeistres em geral desprezam esses contos ‒ embora alguns aceitem que tenha havido um Senhor Comandante que tentou forjar um reino para si nos primeiros dias da Patrulha. Alguns sugerem que talvez a ―rainha cadáver‖ seja uma mulher das Terras Acidentadas, uma filha do Rei das Terras Acidentadas, que era então uma força a se considerar e com frequência associada às sepulturas. O Rei da Noite pode ter sido tanto um Bolton

Dizem as lendas que os gigantes ajudaram a erguer a Muralha usando sua força descomunal para arrastar os blocos de gelo até o lugar. Pode existir alguma verdade nisso, embora as histórias tornem os gigantes muito maiores e mais poderosos do que realmente eram. Essas mesmas lendas também dizem que os filhos da flores- ta ‒ que não faziam paredes de gelo nem de pedra ‒ teriam contribuído com sua mágica para a construção. Mas as lendas, como sempre, são de valor duvidoso.

quanto um Woodfoot, um Umber, um Flint, um Norrey, ou mesmo um Stark, dependendo de onde a história é con- tada. Como todos os contos, o relato carrega os atributos que o tornam mais apelativo para quem narra.

A Patrulha da Noite, que bem pode ser chamada de primeira ordem militante dos Sete Reinos (pois o primeiro dever de todos os seus membros é defender a Muralha, e todos são treinados com armas para este fim), divide os irmãos juramentados em três grupos:

1) intendentes, que abastecem a Patrulha com comida, roupas e todas as outras coisas necessárias para que possam guerrear;

2) construtores, que cuidam da Muralha e dos castelos;

3) patrulheiros, que se aventuram nos confins além da Muralha para guerrear com os selvagens.

A liderança fica com os oficiais superiores da Patrulha, e o principal entre eles é o Senhor Comandante. O Se- nhor Comandante é escolhido em eleição: os homens da Patrulha, todos e cada um ‒ desde os antigos caçadores iletrados até descendentes de grandes casas ‒, darão um voto para o homem que acreditam que deve liderá-los. Assim que um homem tiver a maior parte dos votos, ele comandará a Patrulha até sua morte. É um costume que tem funcionado muito bem para a Patrulha, e esforços para subvertê-lo (como quando o Senhor Comandante Run- cel Hightower tentou deixar a Patrulha para seu filho bastardo há uns quinhentos anos) nunca duraram.

Infelizmente, a verdade mais importante sobre a Patrulha da Noite nos dias de hoje é seu declínio. Ela pode ter servido a um grande propósito antigamente. Mas se os Outros já existiram, não são vistos há mil anos e não são uma ameaça para os homens. Os selvagens além da Muralha são o perigo que a Patrulha da Noite enfrenta agora. Mesmo assim, só quando há um Rei-para-lá-da-Muralha que os selvagens realmente se apresentam como uma ameaça para os reinos dos homens.

A grande despesa para sustentar a Muralha e os homens que a guarnecem vem se tornando cada vez mais intole- rável. Só três dos castelos da Patrulha da Noite são habitados agora, e a ordem é um décimo do tamanho de quando Aegon e suas irmãs desembarcaram em Westeros. Mesmo com esse tamanho, a Patrulha continua sendo um fardo.

Alguns argumentam que a Muralha serve como um meio útil de livrar o reino de assassinos, estupradores, la- drões e gente dessa laia, enquanto outros questionam a prudência de colocar armas nas mãos de tais tipos e de trei- ná-los nas artes da guerra. Ataques dos selvagens podem corretamente ser considerados mais um incômodo do que

CASTELOS DA PATRULHA DA NOITE ATIVOS

Torre Sombria

Castelo Negro (agora sede do Senhor Comandante da Patrulha) Atalaialeste do Mar

ABANDONADOS Atalaiaoeste da Ponta Bosque das Sentinelas

Guardagris Portapedra Colina de Geadalva Marcagelo Fortenoite Lago Profundo

Portão da Rainha (que antigamente se chamava Portão da Neve,

antes de ser renomeado em homenagem à Boa Rainha Alysanne)

Escudo de Carvalho Atalaiabosque da Lagoa

Solar das Trevas Portão da Geada Monte Longo

Archotes Guardaverde

uma ameaça; muitos homens sábios sugerem que seria melhor lidar com eles permitindo que os senhores do Norte estendessem seus domínios para além da Muralha, para que pudessem expulsar os selvagens.

Só o fato de que os próprios nortenhos honram grandemente a Patrulha mantém a ordem em funcionamento, e grande parte da comida que impede que os irmãos negros no Castelo Negro, na Torre Sombria e em Atalaialeste do Mar morram de fome não vem da Dádiva, mas de presentes anuais que os senhores nortenhos entregam na Muralha em sinal de apoio.

OS SELVAGENS

Nas terras além da Muralha vivem diversos povos ‒ todos descendentes dos Primeiros Homens ‒ que nós, do sul mais civilizado, chamamos selvagens.

Este não é um termo que eles mesmos usem. Os maiores e mais numerosos dos vários povos além da Muralha se autodenominam povo livre, pois acreditam que seus costumes bárbaros lhes garantem vidas com muito mais liberdade do que os ajoelhadores do sul. E é verdade que vivem sem senhores ou reis e que não precisam se curvar para homens ou sacerdotes, independentemente de seu nascimento, sangue ou posição social.

Mas eles também vivem de maneira miserável, e não estão livres da fome, dos extremos do frio, da guerra bár- bara ou das depredações de seus conterrâneos. A vida sem lei além da Muralha não é nada desejável, como qual- quer homem que já viu os selvagens pode atestar. (E muitos já atestaram, em várias obras baseadas nos relatos dos patrulheiros da Patrulha da Noite). O orgulho que têm de sua pobreza, de seus machados de pedra e de seus escudos de madeira entrelaçada, de suas peles infestadas de pulgas, é parte da razão pela quais eles de mantêm afastados das pessoas dos Sete Reinos.

As inúmeras tribos e clãs do povo livre continuam a venerar os antigos deuses dos Primeiros Homens e dos fi- lhos da floresta, os deuses dos represeiros (alguns relatos dizem que há aqueles que veneram deuses diferentes: deuses sombrios embaixo do solo das Presas de Gelo, deuses de neve e gelo da Costa Gelada, ou deuses carangue- jos na Ponta de Storrold, mas isso nunca foi confirmado de maneira confiável).

Patrulheiros da Patrulha da Noite falam de povos ainda mais estranhos que vivem nos recantos mais longínquos das terras além da Muralha, de guerreiros vestidos de bronze de um vale escondido no extremo norte, e de Corno- pés que andam descalços sobre o gelo e a neve. Sabemos de selvagens na Costa Gelada45 que vivem em cabanas de gelo e andam em trenós puxados por cães. Há meia dúzia de tribos que mora nas cavernas, e rumores dão conta de canibais nos trechos superiores dos rios congelados além da Muralha. Mas poucos patrulheiros penetraram mais de trezentos quilômetros na floresta assombrada, e sem dúvida há mais tipos de selvagens do que podemos imaginar.

45 Na página 147 da edição da LeYa encontra-se ―nas Costa Gelada‖ ao invés de ―na Costa Gelada‖.

Os castelos da Patrulha da Noite.

Os corsários selvagens perturbam muito o reino em busca de ferro e aço ‒ coisas que eles não têm habilidade para fazer. Muitos corsários usam armas de madeira e pedra, mesmo de chifres em alguns casos. Alguns carre- gam machados e facas de bronze, e mesmo esses são considerados valiosos. Os líderes guerreiros famosos entre eles com frequência usam aço roubado, algumas vezes tirado de patrulheiros que mataram.

A ameaça que esses povos bárbaros oferecem ao reino pode ser seguramente desconsiderada, exceto em alguns momentos, uma vez a cada muito tempo, em que eles se unem sob a liderança de um Rei-para-lá-da-Muralha. Em- bora muitos corsários selvagens e chefes de guerra tenham aspirado ao título, poucos já o obtiveram. Nenhum dos selvagens que tentou se tornar Rei-para-lá-da-Muralha tinha o dever de construir um reino verdadeiro ou de cuidar de seu povo; na verdade, esses homens eram senhores da guerra, não monarcas, e, ainda que fossem muito diferen- tes uns dos outros, cada um deles liderou seus povos contra a Muralha, na esperança de derrotar e conquistar os Sete Reinos no sul.

Segundo as lendas, o primeiro Rei-para-lá-da-Muralha foi Joramun, que afirmava ter um berrante que traria a Muralha abaixo quando despertasse ―os gigantes da terra‖. (Que a Muralha ainda esteja em pé diz alguma coisa sobre a alegação dele, e talvez até sobre sua existência.)

Os irmãos Gendel e Gorne foram reis conjuntos há três mil anos. Liderando seus exércitos por baixo da terra, em um labirinto de cavernas retorcidas subterrâneas, eles passaram por sob a Muralha sem serem vistos para atacar o Norte. Gorne matou o rei Stark em batalha, e depois foi morto pelo herdeiro do rei. Gendel e os selvagens restan- tes fugiram de volta para as cavernas e nunca mais foram vistos.

Antigamente, Durolar era a única colônia que se aproximava de uma vila nas terras além da Muralha, abrigada na Ponta de Storrold e no comando de um porto de águas profundas. Mas há seiscentos anos, o local foi quei- mado e seu povo destruído, embora a Patrulha não possa dizer com certeza o que aconteceu. Alguns dizem que canibais de Skagos caíram sobre eles, outros que traficantes de escravos do outro lado do mar estreito tiveram a culpa. As histórias mais estranhas, de um navio da Patrulha enviado para investigar, falam de gritos horrendos ecoando pelas falésias sob Durolar, onde nenhum homem ou mulher vivo foi encontrado. O relato mais fasci- nante sobre Durolar pode ser encontrado em Durolar: Um Relato de Três Anos Passados Além-da-Muralha entre Selvagens, Corsários e Feiticeiras da Floresta, do Meistre Wyllis. Wyllis viajou para Durolar em um na- vio mercante pentoshi e se estabeleceu lá como curandeiro e conselheiro, para que pudesse escrever sobre os costumes deles. Recebeu proteção de Gorm, o Lobo ‒ um chefe que partilhava o controle de Durolar com três outros chefes. Quando Gorm foi morto em uma briga de bêbados, no entanto, Wyllis se encontrou em perigo mortal e fez o caminho de volta a Vilavelha. Ali escreveu seu relato, apenas para desaparecer no ano seguinte que as iluminuras foram feitas. Dizem na Cidadela que ele foi visto pela última vez no cais, à procura de um navio que o levasse a Atalaialeste do Mar.

O Lorde Chifrudo veio depois deles, mil anos mais tarde (ou talvez dois mil). Seu nome se perdeu na história, mas dizem que usou feitiçaria para ultrapassar a Muralha. Depois dele, séculos mais tarde, veio Bael, o Bardo, cu- jas canções ainda são cantadas além da Muralha... mas há questionamentos, como se ele realmente existiu ou não. Os selvagens dizem que sim e creditam muitas músicas a ele, mas as antigas crônicas de Winterfell não falam nada a seu respeito. Se isso se deve às derrotas e humilhações que supostamente o Bardo infligiu sobre os Stark (incluin- do, segundo uma história improvável, uma donzela Stark deflorada e deixada com filho) ou se é porque ele nunca existiu, não podemos dizer com certeza.

O último Rei-para-lá-da-Muralha a cruzar a Muralha foi Raymun Barba-Vermelha, que reuniu os selvagens em 212 ou 213 d.C. Mas foi só em 226 d.C. que ele e os selvagens conseguiram atravessar a Muralha, escalando-a às centenas e milhares pelo gelo escorregadio e descendo do outro lado.

O exército de Raymun reunia milhares de pessoas, segundo todos os relatos, e abriu caminho para o sul até o Lago Longo. Lá, Lorde Willam Stark e o Gigante Bêbado, Lorde Harmond da Casa Umber, lançaram seus exérci- tos contra eles. Com duas tropas o cercando, e o lago nas costas, Barba-Vermelha lutou e morreu, mas não antes de matar Lorde Willam.

Quando a Patrulha da Noite finalmente apareceu, liderada pelo Senhor Comandante Jack Musgood (chamado de Alegre Jack Musgood antes da invasão e Dorminhoco Jack Musgood depois), a batalha tinha acabado, e o irado Artos Stark (irmão do falecido Lorde Willam, conhecido por ser o guerreiro mais temível de sua época) encarregou os irmãos negros de enterrar os mortos. No fim, eles realizaram essa tarefa de forma admirável.

Entre os selvagens, dizem que Gendel e seu povo se perderam e ficaram presos nas cavernas, e vagam por lá até hoje. As histórias dos patrulheiros, no entanto, dizem que Gendel também foi assassinado, e que só um punhado de seus seguidores sobreviveu para fugir para dentro do solo.

No documento O Mundo de Gelo e Fogo (páginas 164-170)