• Nenhum resultado encontrado

A PERDIÇÃO DE VALÍRIA

No documento O Mundo de Gelo e Fogo (páginas 36-68)

COM A DESTRUIÇÃO dos roinares, Valíria logo conseguiu domínio total sobre a metade ocidental de Essos, desde o mar estreito até a Baía dos Escravos, e do Mar de Verão até o Mar Tremente. Escravos chegavam aos mon- tes na Cidade Franca e eram rapidamente despachados para baixo das Catorze Chamas, para minerar os preciosos ouro e prata que os valirianos tanto amavam. Talvez como preparação para a travessia do mar estreito, os valirianos também estabeleceram seu posto avançado mais ocidental, em uma ilha que ficaria conhecida como Pedra do Dra- gão, duzentos anos antes da Perdição. Nenhum rei se opôs a eles ‒ e embora os senhores locais, na costa do mar estreito, tenham feito algum esforço para resistir, a força de Valíria era grande demais. Com suas artes secretas, os valirianos ergueram uma cidadela em Pedra do Dragão4.

Dois séculos se passaram ‒ séculos nos quais o cobiçado aço valiriano começou a chegar aos Sete Reinos com mais velocidade do que antes, embora não rápido o bastante para todos os senhores e reis que o desejavam. E, em- bora a visão de um senhor dos dragões voando sobre a Baía da Água Negra não fosse desconhecida, ela passou a ocorrer com mais frequência conforme o tempo passava. Valíria sentia que seu posto avançado estava garantido, e os senhores dos dragões continuaram suas maquinações e intrigas no continente nativo.

Então, sem que ninguém esperasse (exceto talvez Aenar Targaryen e sua filha donzela Daenys, a Sonhadora), a Perdição veio sobre Valíria.

Até hoje, ninguém sabe o que causou a Perdição. A maioria diz que foi um cataclismo natural ‒ uma explosão catastrófica causada pela erupção de todas as Catorze Chamas juntas. Alguns septões, menos sábios, afirmam que os valirianos trouxeram o desastre sobre si mesmos, por causa de suas crenças promíscuas em mais de uma centena de deuses e por sua impiedade, que os fez cavar fundo demais e soltar os fogos dos sete infernos sobre a Cidade Franca. Um punhado de meistres, influenciados por fragmentos do trabalho do Septão Barth, asseguram que Valíria usou feitiços para domar as Catorze Chamas por mil anos, que seu apetite incessante por escravos e riquezas era tanto para sustentar esses feitiços quanto para expandir seu poder e que, quando finalmente os feitiços falharam, o cataclismo se tornou inevitável.

Além disso, alguns argumentam que foi a maldição de Garin, o Grande, que finalmente deu frutos. Outros falam dos sacerdotes de R‘hllor convocando o fogo de seus deuses em estranhos rituais. Alguns, unindo a fantasiosa no- ção da mágica valiriana à realidade da ambição das grandes casas de Valíria, argumentaram que o turbilhão cons- tante de conflito e enganos entre as grandes casas podiam ter levado ao assassinato de muitos dos magos reputados que renovavam e mantinham os rituais que continham o fogo das Catorze Chamas.

A única coisa que pode ser dita com certeza é que foi um cataclismo como o mundo jamais viu. A antiga e po- derosa Cidade Franca ‒ lar de dragões e de feiticeiros de habilidade sem igual ‒ foi despedaçada e destruída em questão de horas. Escritos relatam que cada colina em um raio de oitocentos quilômetros se abriu e encheu o ar com cinzas e fumaça, e fogo tão quente e ávido que até os dragões no céu foram engolidos e consumidos. Grandes brechas se abriram na terra, engolindo palácios, templos e cidades inteiras. Lagos ferveram ou ficaram ácidos, mon- tanhas explodiram, fontes ardentes vomitaram rochas derretidas a quinhentos metros de altura, e nuvens vermelhas choveram vidro de dragão e sangue negro de demônios. Ao norte, o chão rachou, colapsou e caiu sobre si mesmo, e um mar bravio entrou fervendo.

A cidade mais orgulhosa do mundo desapareceu em um instante, o fabuloso império esvaneceu em um dia. As Terras do Longo Verão ‒ antes as mais férteis do mundo ‒ foram queimadas, afogadas e arruinadas, e o custo em sangue não seria completamente percebido durante todo o século seguinte.

O que se seguiu ao vácuo repentino foi o caos. Os senhores dos dragões estavam reunidos em Valíria, como era costume... exceto Aenar Targaryen, seus filhos e seus dragões, que fugiram para Pedra do Dragão e, dessa forma, escaparam da Perdição5. Alguns relatos afirmam que outros poucos sobreviveram... por um tempo. Dizem que al- guns senhores de dragões valirianos em Tyrosh e Lys foram poupados, mas que, na agitação política que se seguiu à Perdição, eles e seus dragões foram mortos pelos cidadãos dessas Cidades Livres. As histórias de Qohor também afirmam que um senhor de dragão visitante, Aurion, reuniu forças entre os colonos qohorik e se autoproclamou primeiro Imperador de Valíria. Ele voou de volta para Valíria nas costas de seu grande dragão, seguido por trinta

4

No texto do livro nacional encontrava-se “[...] o valirianos ergueram uma cidadela em Pedra do Dragão. [...]”.

5 Trecho da versão estrangeira: “[...] except for Aenar Targaryen, his children, and his dragons, who had fled to Dragonstone

mil homens a pé, para reivindicar o que sobrava da Cidade Franca e restabelecer o império. Mas nem o imperador Aurion nem suas tropas foram vistos novamente.

A época dos dragões em Essos chegara ao fim.

Volantis, a mais poderosa das Cidades Livres, rapidamente reivindicou a posição de Valíria. Homens e mulhe- res de sangue nobre valiriano, ainda que não senhores dos dragões, exigiam guerra contra as outras cidades. Os tigres, como aqueles que defendiam a conquista ficaram conhecidos, levaram Volantis a um grande conflito com as outras Cidades Livres. Tiveram grande sucesso no início, suas frotas e exércitos controlando Lys e Myr e coman- dando a região sul do Roine. Foi só quando exageraram e tentaram tomar Tyrosh também que seu império em ex- pansão entrou em colapso. Nervosa com a agressão volantina, a cidade livre de Pentos se juntou à Tyrosh na resis- tência, Myr e Lys se rebelaram, e o Senhor do Mar de Bravos providenciou uma frota de cem navios para ajudar Lys. Além disso, o Rei da Tempestade westerosi, Argilac, o Arrogante, liderou uma tropa até as Terras Disputadas ‒ em troca da promessa de ouro e glória ‒ e derrotou o exército volantino que tentava retomar Myr.

Perto do fim, até o futuro Conquistador, o ainda jovem Aegon Targaryen acabou se envolvendo na luta. Seus ancestrais tinham olhado por muito tempo para leste, mas a atenção de Aegon desde cedo se voltou para oeste. Mesmo assim, quando Pentos e Tyrosh se aproximaram dele, convidando-o a se juntar à grande aliança contra Vo- lantis, ele ouviu. E por motivos desconhecidos nos dias de hoje, resolveu atender ao chamado... até certo ponto. Dizem que Aegon voou para leste, montando o Terror Negro, onde encontrou o príncipe de Pentos e os magísteres da Cidade Livre, e de lá voou em Balerion até Lys, a tempo de queimar a frota volantina que se preparava para invadir aquela Cidade Livre.

Volantis sofreu mais derrotas ‒ no Lago Adaga, onde as galés de guerra de Qohor e Norvos destruíram grande parte da frota volantina que controlava o Roine; e no leste, quando os dothraki começaram a sair aos montes do Mar Dothraki, deixando vilas e cidades arruinadas em seu rastro, enquanto caíam sobre a enfraquecida Volantis. Por fim, os elefantes ‒ a facção volantina que preferia a paz e era em grande parte formada pelos comerciantes e mercadores ricos que mais sofreram com a guerra ‒ tomaram o poder dos tigres e colocaram um fim na luta.

Quanto a Aegon Targaryen, logo depois de seu papel na defesa de Volantis, os textos dizem que ele perdeu todo o interesse nos assuntos do leste. Acreditando que a questão em Volantis estava acabada, voou de volta para Pedra do Dragão. E, agora, sem ser distraído pelas guerras em Essos, Aegon voltou os olhos para oeste.

Um dragão ardendo durante a Perdição.

Na esteira de todos os conflitos e lutas que continuam até os dias de hoje por causa das Terras Disputadas, a praga das Companhias Livres nasceu e criou raízes. Primeiro, esses bandos de mercenários simplesmente luta- vam por quem os pagava. Mas há quem diga que, sempre que a paz ameaça, os capitães dessas Companhias Livres atuam para instigar novas guerras para se sustentarem, e enriquecerem com os espólios.

A Cidade Franca de Valíria e seu império foi destruído pela Perdição, mas a península despedaçada permane- ce. Histórias estranhas são contadas sobre ela hoje em dia, e sobre os demônios que assombram o Mar Fume- gante onde antigamente ficavam as Catorze Chamas. De fato, a estrada que une Volantis à Baía dos Escravos ficou conhecida como ―caminho do demônio‖, e é evitada por todos os viajantes sensíveis. E aqueles que ou- saram navegar pelo Mar Fumegante não retornaram, como Volantis aprendeu durante o Século de Sangue, quando uma frota foi enviada para reivindicar a península que desapareceu. Há estranhos rumores de homens que ainda vivem entre as ruínas de Valíria e nas cidades vizinhas de Oros e Tyria. Outros contestam isso, no entanto, dizendo que a Perdição ainda mantém controle sobre Valíria.

Algumas das cidades distantes do coração de Valíria permanecem habitadas, no entanto ‒ lugares fundados pela Cidade Franca ou submetidos a ela. A mais sinistra delas é Mantarys, um lugar em que, segundo alguns dizem, os homens nascem retorcidos e monstruosos; alguns atribuem isso à presença da cidade no caminho do demônio. As reputações de Tolos, onde são encontrados os melhores fundeiros do mundo, e da cidade de Elyria, na ilha de mesmo nome, são menos sinistras e menos dignas de nota também, pois criaram laços com as cidades ghiscari na Baía dos Escravos e, de outro modo, evitaram envolvimento em qualquer esforço para reclamar o coração queimado de Valíria.

AQUI SEGUE UM relato sobre o reinado da Casa Targaryen, de Aegon, o Conquistador, até Aerys, o Rei Louco. Muitos são os meistres que escreveram sobre esse assunto, e o conhecimento que formaram é base de muito do que se segue. Mas em uma coisa eu tomei uma liberdade: a narrativa da Conquista de Aegon não é trabalho de minha autoria, mas algo descoberto recentemente nos arquivos da Cidadela, esquecido desde o triste fim de Aegon, o Quinto de Seu Nome. Este fragmento ‒ parte de um trabalho maior que parecia destinado a ser uma história dos reis Targaryen ‒ foi encontrado juntando poeira entre papéis que pertenciam ao Arquimeistre Gerold, historiador cujos escritos sobre a história de Vilavelha foram bem recebidos em sua época. Mas isso não foi escrito por ele. O estilo sozinho já denuncia, mas certas notas encontradas nesses papéis indicam que foram escritos pelo Arquimeis- tre Gyldayn, último meistre a servir em Solarestival antes da destruição do lugar no reinado de Aegon, o Afortuna- do, o Quinto de Seu Nome, que deve ter enviado o manuscrito para Gerold para comentários e aprovação.

A história da Conquista é tão completa quanto qualquer outra, e é por isso que eu a coloquei aqui, para que ‒ por fim ‒ outros olhos além dos meus e os do falecido Arquimeistre Gerold possam apreciá-las e aprender com ela. Há outros manuscritos de mesma autoria que descobri, mas muitas páginas foram perdidas ou destruídas pelo fogo. Pode ser que, algum dia, mais textos sejam encontrados, e essa obra-prima perdida esteja pronta para ser copiada e encadernada, pois o que encontrei causou grande animação na Cidadela.

Até lá, contudo, os fragmentos servem como uma entre várias fontes sobre os reinados dos reis Targaryen, des- de o Conquistador até o falecido Aerys II ‒ o último rei Targaryen a sentar no Trono de Ferro.

A Conquista

Os meistres da Cidadela que guardam as histórias de Westeros usam a Conquista de Aegon como a pedra de toque para os últimos trezentos anos. Nascimentos, mortes, batalhas e outros acontecimentos são datados como d.C. (Depois da Conquista) ou a.C. (Antes da Conquista).

Verdadeiros eruditos sabem que esta datação está longe de ser precisa. A conquista dos Sete Reinos por Aegon Targaryen não aconteceu em um único dia. Mais de dois anos se passaram entre a chegada de Aegon e sua coroa- ção em Vilavelha... e a Conquista ainda permaneceu incompleta, já que Dorne continuou insubmisso. Tentativas esporádicas de trazer os dorneses para o reino prosseguiram durante todo o reinado do rei Aegon e também nos reinados de seus filhos, tornando impossível fixar uma data final precisa para as Guerras da Conquista.

Até a data de início é tema de algum equívoco. Alguns presumem, erroneamente, que o reinado do rei Aegon I Targaryen começou no dia em que ele chegou na foz da Torrente da Água Negra, abaixo das três colinas, onde, posteriormente, ficaria a cidade de Porto Real. Não é assim. O dia do Desembarque de Aegon era celebrado pelo rei e seus descendentes, mas o Conquistador, na verdade, datava o início de seu reinado no dia em que foi coroado e ungido no Septo Estrelado pelo Alto Septão da Fé. A coroação ocorreu dois anos depois do Desembarque de Ae- gon, bem depois que todas as três maiores batalhas das Guerras da Conquista foram lutadas e vencidas. Assim, percebe-se que a maior parte da conquista real de Aegon ocorreu entre os anos 2-1 a.C.

Os Targaryen tinham sangue valiriano puro, eram senhores de dragões de linhagem antiga. Doze anos antes da Perdição de Valíria (114 a.C.), Aenar Targaryen vendeu suas propriedades na Cidade Franca e nas Terras do Longo Verão e se mudou com todas as esposas, riquezas, escravos, dragões, irmãos, parentes e filhos para Pedra do Dra- gão, uma cidadela em uma ilha sombria sob uma montanha fumegante no mar estreito.

No auge, Valíria foi a maior cidade do mundo conhecido, o centro da civilização. Dentro das muralhas brilhan- tes, quarenta casas rivais disputavam poder e glória na corte e no conselho, ascendendo e caindo em uma disputa sutil, infinita e, muitas vezes, selvagem pelo domínio. Os Targaryen estavam longe de ser os mais poderosos entre os senhores dos dragões, e seus rivais viram sua fuga para Pedra do Dragão como um ato de rendição, uma covar- dia. Mas a filha donzela de Lorde Aenar, Daenys ‒ depois disso conhecida para sempre como Daenys, a Sonhadora ‒, previra a destruição de Valíria pelo fogo. E quando a Perdição chegou, doze anos mais tarde, os Targaryen foram os únicos senhores de dragões a sobreviver.

Pedra do Dragão fora o posto avançado mais ocidental do poder valiriano por dois séculos. Sua localização, no extremo da Goela, deu aos seus senhores poder sobre a Baía da Água Negra, e permitiu que os Targaryen e seus aliados mais próximos, os Velaryon de Derivamarca (uma casa menor de descendência valiriana), enchessem os cofres com o comércio na passagem. Os navios Velaryon, juntamente com os de outra casa valiriana aliada, os Cel- tigar da Ilha da Garra, dominavam o curso médio do mar estreito, enquanto os Targaryen governavam os céus com seus dragões.

Mesmo assim, durante grande parte dos cem anos após a Perdição de Valíria (o que foi corretamente chamado de Século de Sangue), a Casa Targaryen olhou para leste, não para oeste, e demonstrou pouco interesse nos assun- tos de Westeros. Gaemon Targaryen, irmão e marido de Daenys, a Sonhadora, sucedeu Aenar, o Exilado, como Senhor de Pedra do Dragão, e se tornou conhecido como Gaemon, o Glorioso. O filho de Gaemon, Aegon, e sua filha Elaena governaram juntos após sua morte. Depois deles, o domínio passou para o filho Maegon e seu irmão Aerys, e para os filhos de Aerys, Aelyx, Baelon e Daemion. O último dos três irmãos era Daemion, cujo filho, Ae- rion, os sucedeu em Pedra do Dragão.

O Aegon que entrou para a história como Aegon, o Conquistador, ou Aegon, o Dragão, nasceu em Pedra do Dragão em 27 a.C. Era o único herdeiro homem, e segundo filho de Aerion, Senhor de Pedra do Dragão, e da Se- nhora Valaena da Casa Velaryon, ela também meio Targaryen pelo lado materno. Aegon teve duas irmãs legítimas; uma mais velha, Visenya, e uma mais jovem, Rhaenys. Era um costume de longa data entre os senhores dos dra- gões de Valíria casar irmão e irmã, para manter as linhagens puras, mas Aegon tomou as duas irmãs como noivas. Pela tradição, esperava-se que ele se casasse apenas com a irmã mais velha, Visenya; a inclusão de Rhaenys como uma segunda esposa era incomum, ainda que não sem precedentes. Alguns dizem que Aegon se casou com Visenya por dever e com Rhaenys por desejo.

Os três irmãos tinham mostrado serem senhores de dragões antes de se casarem. Dos cinco dragões que voaram de Valíria com Aenar, o Exilado, apenas um sobreviveu até os dias de Aegon: o grande animal chamado Balerion, o Terror Negro. Os outros dois dragões restantes ‒ Vhagar e Meraxes ‒ eram mais jovens, nascidos em Pedra do Dragão.

Um mito comum, com frequência ouvido entre os ignorantes, afirma que Aegon Targaryen nunca colocou os pés no solo de Westeros até o dia em que partiu para conquistar o continente, mas isso não é verdade. Anos antes dessa viagem, a Mesa Pintada fora esculpida e decorada sob ordem de Lorde Aegon: uma prancha de madeira ma- ciça, com mais de quinze metros de comprimento, esculpida no formato de Westeros e pintada para mostrar todas as florestas, rios, cidades e castelos dos Sete Reinos. Claramente, o interesse de Aegon em Westeros era muito an- terior aos acontecimentos que o levaram à guerra. Além disso, há relatos confiáveis de Aegon e sua irmã, Visenya, visitando a Cidadela de Vilavelha na juventude, e caçando com falcões na Árvore, como convidados de Lorde Re- dwyne. Ele também pode ter visitado Lannisporto; os relatos divergem.

A Westeros da juventude de Aegon era dividida em sete reinos briguentos, e dificilmente havia um período em que dois ou três desses reinos não estavam em guerra uns com os outros. O Norte, vasto, frio e pedregoso, era go- vernado pelos Stark de Winterfell. Nos desertos de Dorne, os príncipes Martell dominavam. As terras ocidentais, ricas em ouro, eram governadas pelos Lannister de Rochedo Casterly, a fértil Campina pelos Gardener de Jardim de Cima. O Vale, os Dedos e as Montanhas da Lua pertenciam à Casa Arryn... mas os reis mais beligerantes da época de Aegon eram os dois cujos reinos ficavam mais próximos de Pedra do Dragão, Harren, o Negro, e Argilac, o Arrogante.

De sua grande cidadela em Ponta Tempestade, os Reis da Tempestade da Casa Durrandon chegaram a governar a metade oriental de Westeros, desde Cabo da Fúria até a Baía dos Caranguejos, mas seus poderes foram diminuin- do ao longo dos séculos. Os Reis da Campina tinham mordiscado seus domínios a oeste, os dorneses assediaram as regiões ao sul, e Harren, o Negro, e seus homens de ferro tinham tomado para si o Tridente e as terras ao norte da Torrente da Água Negra. O rei Argilac, o último Durrandon, deteve esse declínio por um tempo6, impedindo uma invasão dornesa quando ainda era menino, cruzando o mar estreito para se juntar à grande aliança contra os ―tigres‖ imperialistas de Volantis, e assassinando Garse VII Gardener, rei da Campina, na Batalha do Campo de Verão, vinte anos mais tarde. Mas Argilac envelheceu; sua famosa cabeleira negra ficou grisalha, e suas proezas nas armas se esvaneceram.

Ao norte da Água Negra, as terras fluviais eram governadas pela mão ensanguentada de Harren, o Negro, da Casa Hoare, Rei das Ilhas de Ferro e dos Rios. O avô nascido no ferro de Harren, Harwyn Mão-Dura, tomou o Tri- dente do avô de Argilac, Arrec, cujos antepassados haviam derrubado o último dos reis do rio séculos antes. O pai de Harren estendeu seus domínios para leste, até Valdocaso e Rosby. O próprio Harren devotou grande parte de seu longo reinado ‒ de quase quarenta anos ‒ à construção de um castelo gigantesco ao lado do Olho de Deus, mas com

No documento O Mundo de Gelo e Fogo (páginas 36-68)