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O Reino Glorioso

No documento O Mundo de Gelo e Fogo (páginas 150-155)

DESDE A QUEDA da Casa Targaryen, o reino prosperou muito. Robert, Primeiro de Seu Nome, ficou a cargo de uma Westeros fraturada e rapidamente curou-a das muitas enfermidades infligidas pelo Rei Louco e seu filho. Co- mo primeiro ato, o rei solteiro pegou para esposa a mais bela mulher do reino, Cersei da Casa Lannister ‒ e a partir daí garantiu para a Casa Lannister todas as honras que Aerys negara. E embora todos saibam que Lorde Tywin poderia muito bem ter se tornado Mão novamente, o rei, em sua graça, deu o cargo ao seu antigo amigo e protetor, Lorde Jon Arryn. O sábio e justo Lorde Arryn de fato ajudou o rei a guiar o reino para a prosperidade.

Mas isso não quer dizer que o reinado de Robert tenha sido completamente sem problemas. Seis anos depois de sua coroação, Balon Greyjoy se levantou ilegalmente contra seu rei ‒ não que algum dano tivesse sido cometido a ele ou ao seu povo, mas por simples ambição injustificada. Lorde Stannis Baratheon, irmão do meio de Robert, liderou a frota real contra Lorde Greyjoy, enquanto o próprio rei Robert cavalgava diante de um poderoso exército. Grandes feitos nas armas foram realizados pelo rei Robert até que, depois de um tempo, Pyke foi tomada e subju- gada. O rei então fez Balon Greyjoy ‒ o pretendente da coroa das Ilhas de Ferro ‒ dobrar o joelho para o Trono de Ferro. E, como garantia de sua lealdade, seu único filho sobrevivente foi levado como refém.

Agora o reino está em paz, e tudo o que a ascensão de Robert ao trono prometeu no passado está sendo cumpri- do. Nosso nobre rei tem acompanhado um dos verões mais longos em muitos anos, repleto de prosperidade e boas colheitas. Mais do que isso, o rei e sua amada rainha deram ao reino três herdeiros dourados para garantir que a Casa Baratheon reine suprema por muito tempo. E, embora um falso Rei-para-lá-da-Muralha recentemente tenha se declarado, Mance Rayder é um perjuro fugido da Patrulha da Noite, e a Patrulha da Noite sempre leva rapidamente a justiça para aqueles que a traem. Esse rei não conseguirá nada, assim como aconteceu com outros reis selvagens antes dele.

Pode ser que não seja assim. Como a história tem mostrado, o mundo viu muitas eras. Muitos milhares de anos se passaram desde a Era da Aurora até hoje. Castelos foram erguidos e destruídos, assim como reinos. Camponeses nasceram, cresceram para trabalhar nos campos e morreram de velhice, acidente ou doença, deixando para trás filhos para fazer o mesmo. Príncipes nasceram, cresceram para usar a coroa e morreram na guerra, na cama ou em torneios, deixando para trás reinos grandiosos, esquecíveis ou decompostos. O mundo conheceu o gelo na Longa Noite, e conheceu o fogo na Perdição. Da Costa Gelada até Asshai da Sombra, esse mundo de gelo e fogo revela uma história rica e gloriosa ‒ embora exista muito a ser descoberto. Se mais fragmentos dos manuscritos do Meis- tre Gyldayn forem localizadas ‒ ou se outros tesouros tão incomparáveis (pelo menos aos olhos dos meistres) fo- rem revelados ‒, mais da nossa ignorância pode ser resolvida. Mas uma coisa pode ser dita com certeza. Enquanto os próximos mil anos de desdobram ‒ e milhares depois deles ‒, muitos mais nascerão, viverão e morrerão. E a história continuará a se desdobrar, tão estranha, complexa e convincente quanto a que minha humilde pena foi ca- paz de colocar diante de vocês aqui.

Nenhum homem pode dizer com certeza o que o futuro reserva. Mas, talvez, sabendo o que já ocorreu, possa- mos todos fazer nossa parte para evitar os erros dos nossos antepassados, imitar seus êxitos e criar um mundo mais harmonioso para nossos filhos e para os filhos deles, nas gerações que estão por vir.

Em nome do glorioso rei Robert, Primeiro de Seu Nome, eu humildemente concluo esta história dos reis dos Se- te Reinos.

O NORTE

O VASTO E gélido reino dos Reis do Inverno, os Stark de Winterfell, é, em geral, considerado o primeiro e mais antigo dos Sete Reinos, na medida em que tem resistido e permanecido inconquistado por mais tempo. Os capri- chos da geografia e da história distinguem o Norte de seus vizinhos do sul.

Com frequência é dito que o Norte é tão grande quanto os outros seis reinos juntos, mas a verdade é um pouco menor: o Norte, como governado atualmente pela Casa Stark de Winterfell, compreende um pouco mais de um terço do reino. Começando na fronteira sul do Gargalo, os domínios dos Stark se estendem ao norte até a Nova Dádiva (que fazia parte do reino até que o rei Jaehaerys I convenceu Winterfell a ceder essas terras para a Patrulha da Noite). No Norte, há grandes florestas, planícies varridas por ventos, colinas e vales, costões rochosos e monta- nhas cobertas de neve. O Norte é uma terra fria ‒ grande parte de suas charnecas e planaltos dão lugar a montanhas na extremidade norte ‒ e isso o torna muito menos fértil do que as campinas do sul. A neve é conhecida por cair até durante o verão, e é mortal no inverno.

Porto Branco, a única cidade verdadeira do Norte, é a menor dos Sete Reinos. As cidades mais proeminentes no Norte são a ―cidade de inverno‖, sob as muralhas de Winterfell, e Vila Acidentada, nas Terras Acidentadas. A pri- meira fica vazia durante grande parte da primavera e do verão, mas enche de gente até explodir no outono e no inverno, com aqueles que buscam proteção e amparo de Winterfell, para ajudá-los a sobreviver aos tempos magros. Não só os citadinos chegam das vilas e plantações periféricas, mas muitos filhos e filhas dos clãs das montanhas são conhecidos por se mudarem para a cidade de inverno quando a neve começa a cair de verdade.

Vila Acidentada é, de certo modo, uma curiosidade ‒ um lugar de reunião construído ao lado do conhecido tú- mulo do Primeiro Rei, que antigamente governava supremo sobre todos os Primeiros Homens, se as lendas podem ser levadas a sério. Erguida no meio de um planalto amplo e vazio, a cidade prosperou graças à administração sa- gaz dos Dustin, vassalos leais aos Stark que governam as Terras Acidentadas em nome de seus senhores desde a queda do último Rei das Terras Acidentadas.

Os homens do Norte são descendentes dos Primeiros Homens, seu sangue se misturando lentamente com o dos ândalos que oprimiram os reinos do sul. O idioma original dos Primeiros Homens ‒ conhecido como Idioma Anti- go ‒ agora é falado apenas pelos selvagens além da Muralha, e muitos outros aspectos de sua cultura desaparece- ram (como os aspectos mais sinistros de sua religião, quando criminosos e traidores eram mortos e seus corpos e entranhas pendurados nos galhos de represeiros).

Mas os nortenhos ainda mantêm um pouco do jeito antigo em seus costumes e modos de ser. A vida deles é mais difícil, e eles são endurecidos por ela, e os prazeres que, no sul, são considerados nobres são vistos como in- fantis e menos dignos do que a caça e as brigas que os nortenhos amam mais do que tudo.

Há séculos tem sido costume falar sobre os Sete Reinos de Westeros. O uso conhecido deriva dos sete grandes reinos que dominavam grande parte do continente ao sul da Muralha durante os anos que precederam imedia- tamente a Conquista de Aegon. Mas mesmo então o termo estava longe de ser exato, pois um desses ―reinos‖ era governado por uma princesa, em vez de um rei (Dorne), e o reino do próprio Aegon Targaryen, Pedra do Dragão, nunca foi incluído na contagem.

Mesmo assim, o termo permanece. Assim como falamos sobre os Cem Reinos de outrora, embora nunca tenha existido uma época em que Westeros realmente esteve dividido em cem estados independentes, deve- mos nos curvar ao uso comum e falar em Sete Reinos, apesar da imprecisão.

A coroa enferrujada sobre o brasão de armas da Casa Dustin deriva da afirmação deles de que são descenden- tes do Primeiro Rei e do Rei das Terras Acidentadas que governou na sequência. As velhas histórias registra- das em Passagens da Morte, de Kennet, afirmam que uma maldição foi lançada no Grande Monte que não permitia que homem algum rivalizasse com o Primeiro Reino. Essa maldição fazia que os pretendentes ao título ficassem com aparência cada vez mais cadavérica, como se lhes fossem sugadas a vitalidade e a vida. Isso não é mais do que lenda, certamente, mas que os Dustin partilham o sangue e a descendência dos Reis das Terras Acidentadas de antigamente parece correto.

Até seus nomes os distinguem, pois os Primeiros Homens usavam nomes curtos, contundentes e que iam direto ao ponto; nomes como Stark, Wull, Umber e Stout, todos derivam dos dias em que os ândalos não tinham influên- cia no Norte.

Um costume notável que é mais caro para os nortenhos do que qualquer outro é o direito de hóspede, a tradição de hospitalidade pela qual um homem não pode causar dano a um hóspede sob seu teto, nem um convidado ao seu anfitrião. Os ândalos tinham algo parecido com isso também, mas é algo muito menos presente nas mentes sulistas. No texto Justiça e Injustiça no Norte: Julgamentos dos Três Senhores Stark, Meistre Egbert observa que crimes no Norte nos quais o direito de hóspede fora violado eram raros, mas eram invariavelmente tratados com a mesma dureza da mais terrível das traições. Só o assassinato de parentes é considerado tão pecaminoso quanto as violações das leis da hospitalidade.

Como o título de cavaleiro é raro no Norte, um torneio de cavaleiros com sua pompa e nobreza é tão raro quanto dente de galinha ao norte do Gargalo. Os nortenhos lutam montados, com lanças de guerra, mas rara- mente disputam justas por esporte, preferindo corpo a corpo que estão bem próximos de batalhas. Há relatos de disputas que duraram meio dia e deixaram campos pisoteados e vilarejos meio destruídos. Ferimentos sé- rios são comuns em tais corpo a corpo, e mortes não são descartadas. Em um grande corpo a corpo na Última Lareira, em 170 d.C., dizem que não menos do que dezoito homens morreram e metade desse total estava seriamente mutilado quando o dia terminou.

No Norte, existe a história do Rato Cozinheiro, que serviu a um rei ândalo ‒ identificado por alguns como rei Tywell II do Rochedo, e por outros como rei Oswell II do Vale e das Montanhas ‒ a carne do filho do próprio rei, cozida em uma torta. Por isso, foi punido, transformando-se em um rato monstruoso que comia sua própria prole. Mesmo assim, a punição se deu não por matar o filho do rei, ou por alimentar o rei com ele, mas por desrespeitar os direitos de hóspedes.

No documento O Mundo de Gelo e Fogo (páginas 150-155)