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As irmãs de Baelor

No documento O Mundo de Gelo e Fogo (páginas 105-111)

Daena é a mais famosa das três irmãs, e foi a mais amada ‒ tanto por sua beleza quanto por sua coragem feroz. Era conhecida por ser uma amazona experiente, uma arqueira temível com o arco dornês que seu irmão Daeron trouxe- ra de suas conquistas, e tinha prática em cavalgar na arena (embora nunca tenha tido permissão de cavalgar em um torneio, apesar de seus esforços ao contrário). Daena rapidamente se tornou conhecida como a Desafiante, pois era a mais inquieta das três irmãs aprisionadas, e em três ocasiões distintas escapou disfarçada de criada ou de plebeia. Até conseguiu, no final do reinado de Baelor, ficar grávida ‒ embora alguns digam que teria sido melhor se ela fosse menos desafiante, por causa de todos os problemas que seu filho trouxe ao reino.

Entre as outras irmãs de Baelor, Rhaena era quase tão piedosa quanto o irmão, e com o tempo se tornou septã. Elaena, a mais nova, era mais voluntariosa do que Rhaena, mas não tão bonita quanto as outras irmãs. Dizem que, enquanto estava na Arcada das Donzelas, ela cortou a ―coroa gloriosa‖ ‒ o cabelo comprido, prateado com mechas de ouro ‒ e a mandou para o irmão, implorando por liberdade, com a promessa de que, despojada como estava, seria feia demais para tentar qualquer homem. Seus pedidos caíram em ouvidos surdos, no entanto.

Elaena sobreviveu aos irmãos e teve uma vida tumultuada depois que se viu livre da Arcada das Donzelas. Se- guindo os passos de Daena, deu à luz os gêmeos bastardos Jon e Jeyne Waters de Alyn Velaryon, Lorde Punho de Carvalho. Esperava se casar com ele, está registrado, mas, depois de um ano do desaparecimento dele no mar, ela desistiu e concordou em se casar com outro.

Ela se casou três vezes. Seu primeiro casamento foi em 176 d.C., com o rico, mas idoso, Ossifer Plumm, que, segundo dizem, morreu consumando o casamento. Elaena engravidou, pois Lorde Plumm cumpriu seu dever antes de morrer. Mais tarde, rumores indecentes chegaram a sugerir que Lorde Plumm, de fato, morreu com a visão de sua noiva em sua nudez (este rumor era colocado em termos mais lascivos ‒ termos que teriam divertido Cogume- lo, mas que não precisamos repetir), e que a criança que ela concebeu naquela noite era do primo Aegon ‒ que, mais tarde, se tornou o rei Aegon, o Indigno.

Seu segundo casamento foi a mando do sucessor de Aegon, o Indigno, o rei Daeron, o Bom. Daeron casou-a com seu mestre da moeda, e essa união originou mais quatro crianças... e Elaena se tornou conhecida como a ver- dadeira mestre da moeda, pois dizem que seu marido era um senhor bom e nobre, mas sem grande facilidade para números. Ela rapidamente se tornou influente, e tinha a confiança do rei Daeron de que, em todas as coisas, ela trabalhava em seu benefício e do reino.

O terceiro casamento foi o único de sua escolha, depois que ela se apaixonou por Sor Michael Manwoody, um dornês que assistia à princesa Mariah em sua corte. Manwoody, que no início da vida estudara na Cidadela, era um homem culto, de grande sabedoria e conhecimento, que se tornou um empregado de confiança do rei Daeron depois do casamento com a rainha Mariah. Ele foi mandado para Bravos para negociar com o Banco de Ferro em várias ocasiões, e há registros de uma correspondência entre eles e os chaveiros do Banco de Ferro (com seu selo e assi- nado com seu nome, mas aparentemente feito pelas mãos de Elaena) a respeito dessas negociações.

Elaena se casou com Sor Michael, aparentemente com as bênçãos de Daeron, não muito depois que seu segundo marido morreu. Anos mais tarde, Elaena diria que não foi a inteligência de Lorde Manwoody que a fez amá-lo, mas o amor dele pela música. Ele era conhecido por tocar harpa para ela, e, quando Manwoody morreu, Elaena ordenou que sua efígie fosse esculpida segurando uma harpa, e não a espada e esporas de cavaleiro como era comum.

VISERYS II

EMBORA OS DOIS filhos do rei Aegon III estivessem mortos, suas três filhas ainda viviam, e havia alguns entre o povo ‒ e até entre os senhores ‒ que achavam que o Trono de Ferro devia por direito passar agora para a princesa Daena. Eram poucos, no entanto; uma década de isolamento na Arcada das Donzelas deixaram Daena e suas irmãs sem aliados poderosos, e a lembrança das desgraças ocorridas no reino na última vez em que uma mulher sentara no Trono de Ferro ainda estavam frescas. Além disso, Daena, a Desafiante, era vista por muitos senhores como sendo inculta e intratável... e lasciva também, pois, no ano anterior, dera à luz um filho bastardo que recebeu o no- me de Daemon e cujo pai ela se recusou a revelar.

Os precedentes do Grande Conselho de 101 d.C. e a Dança dos Dragões ainda eram citados, e as reivindicações das irmãs de Baelor foram deixadas de lado. Em vez disso, a coroa passou para o tio delas, a Mão do Rei, príncipe Viserys.

Está escrito que, enquanto Daeron guerreava e Baelor rezava, Viserys governava. Por catorze anos, ele serviu como Mão para seus sobrinhos, e, antes, servira seu irmão, o rei Aegon III. Dizem que era a Mão mais astuta desde o Septão Barth, embora seus esforços tenham se desvanecido no reinado do Rei Quebrado, que não tinha desejo algum de agradar seus súditos ou ganhar o amor deles. Em sua obra Vidas de Quatro Reis, o Grande Meistre Kaeth parece não ter opinião formada, boa ou má, sobre Viserys... mas há aqueles que dizem que, por direito, o livro de- via ser sobre cinco reis, incluindo Viserys. Em vez disso, Viserys é preterido por uma discussão sobre seu filho, Aegon, o Indigno.

Depois de seus anos como refém em Lys, na época da Dança, Viserys voltou a Porto Real com uma bela esposa lisena, Larra Rogare, filha de uma casa nobre, rica e influente. Alta e esguia, com o cabelo louro prateado e os olhos púrpura de Valíria (pois o sangue ainda corria forte em Lys), ela era sete anos mais velha do que Viserys. Também era uma mulher que nunca participara da corte e nunca foi realmente feliz ali. Mesmo assim, deu-lhe três filhos antes de, por fim, voltar à sua terra natal.

O mais velho era Aegon, nascido na Fortaleza Vermelha em 135 d.C., depois que Viserys voltou de Lys. Era um menino robusto que cresceu para se tornar um rapaz bonito e charmoso, e também irresponsável e caprichoso, de- votado aos seus prazeres. Trouxe muitos problemas e dores de cabeça para o pai, e muita dor para o reino.

Em 136 d.C., nasceu Aemon. Era tão robusto quanto Aegon quando criança, e tão bonito quanto ele, mas as fa- lhas do irmão não estavam nele. Provou ser um grande combatente de justas e espadachim na sua época ‒ um cava- leiro digno de usar a Irmã Negra26. Ficou conhecido como o Cavaleiro do Dragão pela crista com um dragão de três cabeças feita em ouro branco sobre seu elmo. Até os dias de hoje, alguns o consideram o cavaleiro mais nobre que já viveu e um dos nomes mais célebres que já serviu na Guarda Real.

A última das herdeiras de Viserys foi sua única filha, Naerys, nascida em 138 d.C. Dizem que tinha uma pele tão pálida que parecia quase translúcida. Tinha constituição pequena (e tornava-se ainda menor por ter pouco apeti- te), com feições muito elegantes, e os cantores escreveram músicas em louvor aos seus olhos ‒ um violeta de tom escuro e muito grandes, emoldurados por cílios claros.

Aemon era o irmão que ela mais amava, pois ele sabia como fazê-la rir ‒ e ele tinha algo da mesma piedade que ela possuía, mas Aegon não. Ela amava os Sete com o mesmo carinho que amava o irmão, se não mais, e teria se tornado septã se o senhor seu pai tivesse permitido. Mas Viserys não permitiu e, em vez disso, casou-a com o filho Aegon, em 153 d.C., com a bênção do rei Aegon III. Os cantores dizem que tanto Aemon quanto Naerys choraram durante a cerimônia, embora as histórias nos contem que Aemon brigou com Aegon no banquete de casamento, e que Naerys chorou durante a noite de núpcias em vez de no casamento.

Há quem escreva que muitas das tolices do Jovem Dragão e de Baelor, o Abençoado, se originaram no príncipe Viserys, enquanto outros argumentam que Viserys moderou o pior das obsessões dos sobrinhos o melhor que pô-

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Nota: Há uma frase adicional, segundo o site westeros.org, que foi cortada do texto publicado: ―In 136 AC, Aemon followed.

He was as robust as Aegon as an infant, and as beautiful to look upon, but his brothers faults were not in him. He proved the greatest jouster and swordsman of his age ‒ a knight worthy to bear Dark Sister which Prince Daemon, King Jaehaerys I,

King Maegor I, and Queen Visenya had each borne before him.‖ Traduzindo de forma livre, fica: “Em 136 d.C., nasceu

Aemon. Era tão robusto quanto Aegon quando criança, e tão bonito quanto ele, mas as falhas do irmão não estavam nele. Provou ser um grande combatente de justas e espadachim na sua época ‒ um cavaleiro digno de usar a Irmã Negra que o

de27. Embora seu reino tenha durado pouco mais de um ano, é instrutivo considerar suas reformas na criadagem real e em suas funções; o estabelecimento de uma nova casa da moeda real; seus esforços para aumentar o comér- cio através do mar estreito; e suas revisões do código de leis que Jaehaerys, o Conciliador, estabeleceu durante seu longo reinado.

Viserys II tinha dentro de si a capacidade de ser um novo Conciliador, pois nenhum rei fora mais perspicaz ou mais capaz. Tragicamente, uma doença súbita o levou em 172 d.C.

Não é necessário dizer que alguns acham a doença e sua rapidez suspeitas, mas ninguém ousou falar sobre isso na época. Seria preciso mais de uma década antes que a primeira acusação fosse colocada no papel, afirmando que Viserys fora envenenado por ninguém menos do que seu sucessor, seu filho Aegon.

Há verdade nessa suspeita? Não podemos dizer com certeza. Mas dadas todas as realizações infames e perverti- das de Aegon, o Indigno, tanto antes quanto depois de assumir o trono, isso não pode ser desconsiderado.

AEGON IV

COM A MORTE do pai, em 172 d.C., Aegon, Quarto de Seu Nome, finalmente chegou ao trono que cobiçara des- de menino. Ele fora formoso na juventude, habilidoso com a lança e a espada, um homem que amava a caça, a fal- coaria e a dança. Era o mais brilhante príncipe na corte em sua geração e admirado pela inteligência. Mas tinha um grande defeito: não conseguia se controlar. Sua luxúria, sua gula, seus desejos ‒ todos o dominavam completamen- te. Sentado sobre o Trono de Ferro, seu desgoverno começou com pequenos atos de prazer, mas com o tempo seus apetites não conheciam limites, e sua corrupção levou a ações que assombraram o reino por gerações. ―Aenys era fraco, mas Maegor, cruel‖, Kaeth escreve, ―e Aegon II era ganancioso, mas nenhum rei antes ou depois praticaria tanta má administração intencional‖.

Aegon logo encheu a corte com homens escolhidos não pela nobreza, pela honestidade ou pela sabedoria, mas pela habilidade em divertir e bajular. E as mulheres da corte eram em grande parte escolhidas da mesma maneira, deixando-o saciar sua luxúria sobre seus corpos. Por capricho, ele com frequência tirava de uma casa nobre para dar para outra, como fez quando, por acaso, se apropriou das grandes colinas dos Bracken, chamadas Tetas, e as deu de presente para os Blackwood. Por causa de seus desejos, distribuiu presente de valor inestimável, como quando deu à sua Mão, Lorde Butterwell, um ovo de dra- gão em troca do acesso às suas três filhas. Privou homens de suas heranças legítimas quando desejava a riqueza de- les, como rumores afirmam que fez após a morte de Lorde Plumm no dia de seu casamento.

Para o povo, seu reino era uma fonte de fofocas e di- vertimento. Para os senhores do reino que não ficavam na corte e que não desejavam que Aegon tomasse liberdades com suas filhas, ele pode ter parecido forte e decidido, frívolo, mas em grande parte inofensivo. Mas, para aque- les que ousavam entrar em seu círculo, ele era muito in- constante, muito ganancioso e muito cruel para ser qual- quer outra coisa além de perigoso.

Dizem que Aegon nunca dormia sozinho e que não considerava uma noite completa até não ter ficado com uma mulher. Seus desejos carnais eram saciados por todos os tipos de mulheres, das princesas de nascimento mais elevado até a prostituta mais insignificante, e ele não pare- cia fazer distinção entre elas. Em seus últimos anos, Ae- gon afirmava ter dormido com pelo menos novecentas mulheres (o número exato lhe escapava), mas que só ama- ra de verdade nove. (A rainha Naerys, sua irmã, não estava entre elas). As nove amantes vieram de perto e de lon- ge, e algumas lhe deram filhos bastardos, mas cada uma e todas (exceto a última) foram mandadas embora quando ele se cansou delas. Mas um desses filhos bastardos veio de uma mulher que não é considerada sua amante: a prin- cesa Daena, a Desafiante.

Daemon foi o nome que Daena deu a essa criança, por causa do príncipe Daemon, que fora a maravilha e o ter- ror em sua época, e, tempos mais tarde, isso foi visto como um aviso do que o menino se tornaria. Daemon Waters era seu nome completo quando nasceu, em 170 d.C. No início, Daena se recusou a dizer quem era o pai, mas mes- mo aí havia a suspeita do envolvimento de Aegon. Criado na Fortaleza Vermelha, esse belo jovem recebeu instru- ção dos meistres mais sábios e dos melhores homens de armas da corte, incluindo Sor Quentyn Ball, o feroz cava- leiro conhecido como Bola de Fogo. Ele não amava nada mais do que os feitos com armas, destacando-se neles, e muitos viam nele um guerreiro que um dia seria outro Cavaleiro do Dragão. O rei Aegon consagrou Daemon cava- leiro aos doze anos, quando o menino venceu um torneio de escudeiros (com isso, ele se tornou o cavaleiro mais jovem da época dos Targaryen, superando até Maegor I), e chocou a corte, os parentes e o conselho ao lhe conceder

a espada de Aegon, o Conquistador, a Blackfyre, assim como terras e outras honrarias. Daemon assumiu o nome de Blackfyre depois disso.

A rainha Naerys ‒ a única mulher com quem Aegon IV se deitou não tirou prazer algum ‒ era piedosa, gentil e frágil, e o rei não gostava de nenhuma dessas coisas. Dar à luz também provou ser um desafio para Naerys, pois era pequena e delicada. Quando o príncipe Daeron nasceu, no último dia de 153 d.C., o Grande Meistre Alford avisou que outra gravidez poderia matá-la. Dizem que, então, Naerys enfrentou o irmão: ―Cumpri meu dever com você e dei-lhe um herdeiro. Imploro que vivamos daqui para frente como irmão e irmã‖. E dizem que Aegon respondeu: ―É o que estamos fazendo‖. Aegon continuou a insistir que a irmã cumprisse com as obrigações matrimoniais pelo resto da vida.

As coisas entre eles eram ainda mais inflamadas por causa do príncipe Aemon, irmão deles, que fora inseparável de Naerys quando jovens. O ressentimento de Aegon em relação ao nobre e cele- brado irmão era claro para todos, pois o rei adorava menosprezar Aemon e Naerys a todo momento. Mesmo depois que o Cavaleiro do Dragão morreu em sua defesa e a rainha Naerys morreu durante o parto um ano depois, Aegon IV fez pouco para honrar a memória deles.

As brigas do rei com seus parentes próximos ficaram ainda piores depois que seu filho Daeron cresceu o suficiente para expressar suas opiniões. Vidas de Quatro Reis, de Kaeth, deixa claro que as falsas acusações de adultério da rainha, feitas por Sor Morgil Hastwyck, foram instigadas pelo próprio rei, embora, na época, Aegon negasse. Essas alegações foram refutadas pela morte de Sor Morgil em um julgamento por combate contra o Cavaleiro do Dragão. Que essas acusações tenham parecido na mesma época em que Aegon e o príncipe Daeron estavam brigando por causa dos pla- nos do rei de iniciar uma guerra não provocada contra Dorne certamente não foi coincidência. Tam- bém foi a primeira vez (mas não a última) que Aegon ameaçou nomear um de seus bastardos como herdeiro, em vez de Daeron.

Depois das mortes dos irmãos, o rei começou a fazer referências mal veladas à suposta ilegitimi- dade do filho ‒ algo que ousava apenas porque o Cavaleiro do Dragão estava morto. Os cortesãos e bajuladores imitaram o rei, e a calúnia se espalhou.

Nos últimos anos do reinado de Aegon, o príncipe Daeron provou ser o principal obstáculo aos desgovernos do pai. Alguns senhores do reino claramente viam uma oportunidade no rei cada vez mais glutão e corpulento que podia ser convencido a intervir com honras, cargos e terras pela pro- messa de prazeres. Outros, que condenavam o comportamento do rei, começaram a se reunir com o príncipe Daeron. Pois, apesar de todas as ameaças, calúnias e brincadeiras de mau gosto, o rei nunca renegou formalmente o filho. Os relatos diferem sobre o motivo: alguns sugerem que alguma parte atrofiada de Aegon ainda sabia o que era honra, ou pelo menos vergonha. A causa mais provável, no entanto, era que ele sabia que tal ato traria guerra ao reino, pois os aliados de Daeron ‒ o príncipe de Dorne, com cuja irmã Daeron se casara, era o principal deles ‒ defenderiam seus direitos. Talvez tenha sido por esta razão que Aegon voltou sua atenção para Dorne, usando o ódio pelos dorneses que ainda ardia nas marcas, nas terras da tem- pestade e na Campina para subornar alguns dos aliados de Daeron e usá-los contra seus apoiadores mais poderosos. Felizmente para o reino, os planos do rei de invadir Dorne em 174 d.C. provaram ser um completo fracasso. Embora Sua Graça tenha construído uma frota imensa, pensando em ter sucesso como Daeron, o Jovem Dragão, tivera, os navios foram destruídos e espalhados por tempestades no caminho para Dorne.

Mas isso estava longe de ser a maior tolice da invasão natimorta de Dorne de Aegon IV, pois Sua Graça também se voltou para os duvidosos piromantes da antiga Guilda dos Alquimistas, ordenando-lhes que ―me construam dra- gões‖. Essas monstruosidades de madeira e ferro, equipadas com bombas que disparavam fogovivo, talvez pudes- sem ter sido usadas de algum modo em um cerco. Mas Aegon propôs arrastar esses dispositivos através do Cami- nho do Espinhaço, onde há lugares tão íngremes que os dorneses esculpiram degraus.

Eles não chegaram muito longe, no entanto, pois o primeiro dos dragões pegou fogo na mata de rei, bem longe do Caminho do Espinhaço. Logo, todos os sete estavam queimando. Centenas de homens pereceram naquelas cha- mas, juntamente com quase um quarto da mata de rei. Depois disso, o rei desistiu de suas ambições e nunca mais falou de Dorne.

O reinado desse monarca indigno chegou ao fim em 184 d.C., quando o rei Aegon tinha quarenta e nove anos de idade. Estava demasiado gordo, mal era capaz de andar, e alguns se perguntavam como sua última amante ‒ Sere-

nei de Lys28, mãe de Shiera Seastar ‒ podia suportar seus abraços. O rei teve uma morte horrível, o corpo tão in- chado e obeso que não podia mais levantar da cama, os membros apodrecidos e cheios de vermes. Os meistres afirmaram nunca terem visto algo assim, enquanto os septões declararam que era um julgamento dos deuses. Aegon recebeu leite de papoula para aplacar a dor, mas fora isso pouco podia ser feito por ele.

No documento O Mundo de Gelo e Fogo (páginas 105-111)