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A REBELIÃO DE ROBERT

No documento O Mundo de Gelo e Fogo (páginas 146-150)

O QUE SE seguiu ao infame rapto de Lyanna Stark pelo príncipe Rhaegar foi a ruína da Casa Targaryen. A pro- fundidade total da loucura do rei Aerys foi revelada na sequência, em suas ações doentias contra Lorde Stark, seu herdeiro e seus apoiadores depois que eles exigiram reparações pelos erros de Rhaegar. Em vez de garantir-lhes uma audiência justa, o rei Aerys os assassinou brutalmente, e depois dessas mortes exigiu que Lorde Arryn execu- tasse seus antigos pupilos, Robert Baratheon e Eddard Stark. Agora muitos concordam que o verdadeiro início da Rebelião de Robert veio com a recusa de Lorde Arryn e a corajosa convocação de seus vassalos na defesa da justi- ça. Mesmo assim, nem todos os senhores do Vale concordaram com a decisão de Lorde Jon, e logo os combates começaram, quando os legalistas à coroa tentaram derrubar Lorde Arryn.

Os combates se espalharam pelos Sete Reinos como fogovivo, enquanto senhores e cavaleiros tomavam partido. Muitos vivos atualmente lutaram naquelas batalhas e podem falar sobre elas com mais conhecimento do que eu, que não estava lá. Por isso, deixo para esses homens escreverem a história verdadeira e detalhada da Rebelião de Robert; longe de mim ofender aqueles que ainda vivem, apresentando um sumário imperfeito dos acontecimentos, ou elogiando equivocadamente aqueles que desde então se provaram indignos. Em vez disso, olharei apenas para o senhor e cavaleiro que ascendeu ao Trono de Ferro no fim, reparando um reino quase destruído pela loucura.

Robert Baratheon provou ser um guerreiro destemido e indomável enquanto mais e mais homens se reuniam sob seus estandartes. Robert foi o primeiro sobre as muralhas de Vila Gaivota, quando Lorde Grafton ergueu seu estan- darte pelos Targaryen, e dali navegou até Ponta Tempestade ‒ arriscando ser capturado pela frota real ‒ para con- vocar seus vassalos. Nem todos vieram dispostos: a Mão de Aerys, Lorde Merryweather, encorajou certos senhores da tempestade a se erguer contra Lorde Robert. Mesmo assim, foi um esforço que se provou infrutífero após as vitórias de Lorde Robert em Solarestival, onde venceu três batalhas em um único dia. Suas forças rapidamente reunidas derrotaram lordes Grandison e Cafferen, e Robert acabou matando Lorde Fell em combate singular antes de tomar cativo seu famoso filho Machado de Prata.

Mais vitórias foram conquistadas por Lorde Robert e os senhores da tempestade enquanto marchavam para jun- tar forças com Lorde Arryn e os nortenhos que apoiavam sua causa. Corretamente famosa é a grande vitória de Robert no Septo de Pedra, também chamada de Batalha dos Sinos, onde ele matou o conhecido Sor Myles Mooton ‒ antigo escudeiro do príncipe Rhaegar ‒ e cinco homens além dele, e podia muito bem ter matado a nova Mão, Lorde Connington, se a batalha os tivesse colocado frente a frente. A vitória selou a entrada das terras fluviais no conflito, após o casamento das filhas de Lorde Tully com os lordes Arryn e Stark.

As forças reais foram enfraquecidas e espalhadas por essas vitórias, embora tenham feito o melhor possível para se reagrupar. A Guarda Real foi enviada para recuperar a força remanescente de Lorde Connington, e o príncipe Rhaegar retornou do sul para assumir o comando dos novos recrutamentos de soldados nas terras da coroa. Depois de uma vitória parcial em Vaufreixo, que levou à retirada de Robert, as terras da tempestade estavam abertas para Lorde Tyrell. Trazendo o poder da Campina em massa, os senhores da Campina varreram toda a resistência e se prepararam para sitiar Ponta Tempestade. Logo depois, o exército Tyrell se juntou à poderosa frota de Lorde Paxter Redwyne da Árvore, completando o cerco por terra e por mar. Aquele cerco durou até a conclusão da guerra.

De Dorne, em defesa da princesa Elia, dez mil lanças atravessaram o Caminho do Espinhaço e marcharam para Porto Real para reforçar o exército que Rhaegar reunia. Aqueles que estavam na corte na época contaram que o comportamento de Aerys era irregular. Ele desconfiava de qualquer um exceto sua Guarda Real ‒ e nem todos, pois manteve Sor Jaime Lannister por perto o tempo todo para servir com refém contra seu pai.

Quando, afinal, o príncipe Rhaegar marchou pela estrada do rei até o Tridente, todos os cavaleiros da Guarda Real que permaneciam em Porto Real (exceto um) seguiram com ele: Sor Barristan, o Ousado, Sor Jonothor Darry e o príncipe Lewyn de Dorne. O príncipe Lewyn assumiu o comando da tropa dornesa enviada por seu sobrinho, o príncipe Doran, mas dizem que só fez isso depois das ameaças do Rei Louco, que temia que os dorneses tentassem traí-lo. Só o jovem Sor Jaime Lannister permaneceu em Porto Real.

Sobre a famosa batalha do Tridente, muito foi escrito e dito. Mas todos sabem que os dois exércitos se enfrenta- ram na confluência que, depois disso, seria para sempre chamada de Vau Rubi pelos rubis espalhados da armadura do príncipe Rhaegar. Os adversários estavam em condições parecidas. As forças de Rhaegar somavam quarenta mil soldados, uma décima parte disso formada por cavaleiros ungidos, enquanto os rebeldes tinham um pouco menos homens, mas a maioria era experiente em batalha, enquanto grande parte da força de Rhaegar era crua e nova.

A batalha no vau foi feroz, e muitas vidas foram perdidas na briga. Sor Jonothor Darry foi morto no meio do conflito, assim como o príncipe Lewyn de Dorne. Mas a morte mais importante ainda estava por vir.

A batalha rugia ao redor de Lorde Robert e do príncipe Rhaegar, mas, pelo desejo dos deuses ou por acaso ‒ ou talvez por desígnio ‒, os dois se encontraram entre as águas rasas do vau. Os dois cavaleiros lutaram corajosamente sobre seus cavalos de guerra, segundo todos os relatos. Apesar de seus crimes, o príncipe Rhaegar não era covarde. Lorde Robert foi ferido pelo príncipe dragão em combate, mesmo assim, no fim, a força feroz de Baratheon e sua sede de vingar a vergonha trazida para sua noiva roubada provaram ser maiores. Seu martelo de guerra encontrou o alvo, e Robert enfiou o espigão no peito de Rhaegar, estilhaçando os caros rubis que brilhavam sobre a placa peito- ral do príncipe.

Alguns homens de ambos os lados pararam de lutar imediatamente, saltando no rio para recuperar as pedras preciosas. E um tumulto generalizado rapidamente começou, conforme os legalistas começavam a fugir da batalha.

Os ferimentos de Lorde Robert impediram que ele continuasse a perseguição, então ele deixou essa incumbên- cia nas mãos de Lorde Eddard Stark. Mas Robert provou seu cavalheirismo quando se recusou a permitir que o gravemente ferido Sor Barristan fosse morto. Em vez disso, mandou seu próprio meistre cuidar do grande cavalei- ro. Dessa forma, o futuro rei ganhou a fiel devoção de seus amigos e aliados ‒ pois poucos homens já foram tão generosos e misericordiosos quanto Robert Baratheon.

O FIM

AVES VOARAM E mensageiros correram para levar a notícia da vitória no Vau Rubi. Quando as novidades che- garam à Fortaleza Vermelha, dizem que Aerys amaldiçoou os dorneses, certo de que Lewyn traíra Rhaegar. Ele mandou sua rainha grávida, Rhaella, e seu filho mais jovem e novo herdeiro, Viserys, para Pedra do Dragão, mas a princesa Elia foi obrigada a permanecer em Porto Real com os filhos de Rhaegar como reféns contra Dorne. Tendo queimado vivo sua Mão prévia, Lorde Chelsted, por maus conselhos durante a guerra, Aerys agora indicava outro para ao cargo: o alquimista Rossart ‒ um homem de origem humilde, com pouco a recomendar além de suas cha- mas e trapaças.

Enquanto isso, Sor Jaime Lannister estava a cargo das defesas da Fortaleza Vermelha. As muralhas estavam ocupadas por cavaleiros e vigias, esperando o inimigo. Quando o primeiro exército que chegou tinha o Leão de Rochedo Casterly tremulando ao vento, com Lorde Tywin no comando, o rei Aerys ordenou ansiosamente que os portões fossem abertos, pensando que pelo menos seu velho amigo e antiga Mão viera ao seu resgate, como fizera no Desafio de Valdocaso. Mas Lorde Tywin não viera salvar o Rei Louco.

Dessa vez, a causa de Lorde Tywin era pelo reino, e ele estava determinado a trazer um fim ao reinado que a loucura tinha destruído. Uma vez dentro das muralhas da cidade, seus soldados atacaram as defesas de Porto Real, e sangue correu vermelho pelas ruas. Um grupo de homens escolhidos a dedo seguiu para a Fortaleza Vermelha para atacar as muralhas e procurar pelo rei Aerys, para que a justiça fosse feita.

A Fortaleza Vermelha logo foi invadida, mas no caos a infelicidade caiu sobre Elia de Dorne e seus filhos, Rha- enys e Aegon. É trágico que o sangue derramado na guerra possa ser tão facilmente do inocente quanto do culpado, e aqueles que estupraram e assassinaram a princesa Elia escaparam da justiça. Não se sabe quem matou a princesa Rhaenys em sua cama, ou esmagou a cabeça do príncipe Aegon, ainda bebê, contra uma parede. Alguns sussurram que isso foi feito por ordem de Aerys, quando ele descobriu que Lorde Lannister assumira a causa de Robert, en- quanto outros sugerem que foi a própria Elia, por medo do que aconteceria com seus filhos nas mãos dos inimigos de seu marido morto.

A Mão de Aerys, Rossart, foi morto em um portão traseiro depois de tentar covardemente fugir do castelo. O úl- timo de todos a morrer foi o próprio rei Aerys, pelas mãos de seu cavaleiro da Guarda Real, Sor Jaime Lannister. Como o pai, Sor Jaime fez o que achou ser melhor para o reino, trazendo um fim ao Rei Louco.

E assim terminaram tanto o reinado da Casa Targaryen quanto a Rebelião de Robert ‒ a guerra que colocou um fim em quase trezentos anos de governo Targaryen e marcou o início de uma nova era dourada sob os auspícios da Casa Baratheon.

No documento O Mundo de Gelo e Fogo (páginas 146-150)