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PARTE II – A obra setecentista na Sé

3. A edificação da nova capela-mor

3.4. A pedraria

Os mármores alentejanos (brancos e negros/cinzentos raiados), sobretudo da região de Borba (apesar de alguma pedra ter vindo de Estremoz), e a pedra vermelha, preta e amarela (estas duas últimas em menor quantidade) da zona de Sintra estiveram

367 Cfr. ACP, Bispado de Elvas, Maço 11, Processo 18, Despesas com a obra da capela-mor da Sé,

Relação da semana que terminou a 3 de Agosto de 1737.

368

Idem, Relasão das despezas, que fis com as obras da Sé desta cidade, 21 de Fevereiro de 1738.

369 Cfr. idem, Processo 21, Despesas com a obra da capela-mor da Sé, Relação da semana que terminou

a 20 de Dezembro de 1737.

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Idem, Processo 18, Despesas com a obra da capela-mor da Sé, Relação da semana que terminou a 11

na base da construção e adorno da capela-mor da Sé de Elvas. Diga-se, no entanto, que a pedra amarela, embora tenha sido comprada, não seria usada no revestimento interior da edificação.

As fontes de arquivo dão-nos um quadro bem vivo acerca da azáfama com que decorria a extracção e o transporte da pedraria dos seus locais de origem para o seu destino último.

A pedra arrancada em Sintra era transportada para a costa, seguindo depois em barcas por mar, as quais subiam o estuário do Tejo e, por via fluvial, chegava a Benavente (daí que na documentação ela seja denominada pedra de Benavente), sendo, finalmente, conduzida por carretas puxadas por bois para a cidade alentejana. Por um documento de 19 de Setembro de 1736, sabe-se que em Benavente José de Lima Pinheiro e Aragão era o responsável pelo envio da pedraria de Sintra para Elvas (doc. 23).

Em Borba os “cabouqueiros” extraíam o mármore, o qual era transportado também em carretas de bois para Elvas. A pedreira nesta vila situava-se na Herdade da Vaqueira, pertença do lavrador Miguel Gonçalves, pois este recebeu 13.400 réis, a 24 de Dezembro de 1737, da dita herdade “…em que se arenquo a pedra do caboco de Borba.”371

Ainda que a Mitra dispusesse de “carretas” e “juntas de boes” próprias para a obra, elas eram insuficientes, tendo, por isso, de recorrer ao aluguer desses meios para a condução da pedraria:

“As juntas de boes se alugavão para ajudarem as da Mitra se pagavão a 1500 reis por

junta e a 1600 reis em cada jornada comforme a necessidade dellas e distancia da condução as carretadas da pedraria de Benavente que não podia vir nas carretas da Mitra por não serem estas bastantes[?] para a condusão de toda a pedraria se pagarão hüas a 4800 reis e outras a 4000 reis comforme a necessidade que havia de aviamentos para se trabalhar na obra” (doc. 37).

A 3 de Agosto de 1735, realizou-se um pagamento com “…hum proprio[?] que foi a Evora sobre a deligencia a respeito de carretas…” para o transporte da pedraria.372

371 Idem, Documento 17, Relasão das despezas que se fizerão com as obras da cappela mor athe que se

suspenderão por ordem de Sua Magestade participada pello Sacratario de Estado que forão carregadas no mapa e se individuão na forma seguinte, 25 de Maio de 1741, fl. não numerado.

372

A primeira relação de trabalhadores a laborarem nos caboucos de Borba por conta da Mitra de Elvas data do período compreendido entre 10 e 21 de Julho de 1736. Nela constam oito trabalhadores: o mestre Manuel Mendes – que encabeça a lista -, um aprendiz e cinco cabouqueiros, bem como “hum homem com sua besta” (doc. 21). A última relação é de 25 de Janeiro de 1738 (doc. 34 ). Entre a primeira e a última relação não houve interrupção na extracção da pedra de mármore. Refira-se, no entanto, que se a primeira relação da pedreira de Borba corresponde a Julho de 1736, isso não significa, de modo algum, que só a partir desse período a pedra mármore tenha começado a afluir à obra.

Vejamos agora alguns carregamentos de pedra destinados à edificação da capela maior, sendo de realçar que a documentação que passamos a citar especifica, por vezes, a função a que cada bloco de rocha estava destinado a ter na estrutura arquitectónica:

a) a 30 de Julho de 1735, deram-se 78.160 réis a Manuel Cardoso da Cruz pela pedra mármore que veio de Estremoz para a cimalha, arquitraves, degraus e friso e por duas lajes. Fez-se ainda o pagamento a “…hum homem que foi a Estremos sobre a pedraria…” (doc. 19);

b) a 9 de Janeiro de 1736, fez-se a despesa de 153.080 réis com o mármore de Borba destinado aos pés direitos e à “volta” do arco, aos degraus, às janelas e à cimalha (doc. 20);

c) a 2 de Setembro de 1736, Sebastião Soares fez vários gastos “…com a pedraria [da região de Sintra] e mais aviamentos que mandei vir da sidade de Lixboa para a obra da capela major da Santa Sée de Elvas…”, nomeadamente despesas com pedra amarela, vermelha e preta (doc. 22);

d) entre 1 e 12 de Outubro de 1736, chegou a Elvas pedraria vermelha e amarela (de Sintra), vinda de Benavente, e mármore de Borba (doc. 24);

e) a 24 de Novembro de 1736, pagaram-se 30.330 réis a António Francisco de “…trezentos e trinta e sete palmos de pedra [de Borba] da ruivina…” (doc. 27); f) a 1 de Dezembro de 1736, fizeram-se despesas com vários materiais, entre os

quais com pedra vermelha (transportada de Benavente), com cinco pedras pretas que se compraram a Manuel Antunes de Estremoz e com mais pedra preta (doc. 28);

g) a 10 de Maio de 1737, despenderam-se 27.450 réis com “pedraria preta” de

Borba (doc. 29); h) na semana que findou a 15 de Junho de 1737, chegaram à obra “duas carretas

que trouserão os capiteis”;373

i) a 18 de Junho de 1737, concretizou-se o gasto de 348.900 réis com várias pedras de Sintra (assim como com outros materiais necessários à obra) destinadas às “hombreiras”, às “vergas de volta“, às “couzeiras de volta”, aos “paineis e o caixilho todo da boca da terbuna”, etc. (doc. 30);

j) a 10 de Agosto de 1737, fez-se o pagamento de “4 juntas que vierão com a mizulla”;374

l) a 17 de Agosto de 1737, despenderam-se 6000 réis com “4 juntas que vierão com a mizula do coreto”;375

m) a 19 de Agosto de 1737, António Francisco “cabouqueiro da pedra” recebeu “…des mil cento e setenta reis de 113 palmos de pedra, que deu para a obra, e vinte mil reis pelo trabalho de discobrir o penedo para as colunas…” (doc. 32).

Pensamos que à data da interrupção da obra, em Janeiro de 1738, já praticamente todo o mármore bem como as restantes rochas calcárias destinadas à construção estariam em Elvas.