• Nenhum resultado encontrado

ANÁLISE DOS DADOS: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE A ATUAÇÃO DA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DA EDUCAÇÃO NO DISTRITO

4.4 A percepção da gestão escolar sobre a atuação da PROEDUC

A direção da escola entende que a função atribuída ao Ministério Público pela Constituição Federal de 1988 é de “amparar as pessoas nos seus direitos”. Tem conhecimento da existência de uma Promotoria especial para a defesa do direito à educação, entretanto, surpreendentemente desconhece em que situações ela atua e que direitos defende.

Os contatos da direção da escola pesquisada com a PROEDUC aconteceram por meio de uma reunião promovida pelo Ministério Público com a Gerência de Ensino do Plano

Piloto. Na época foram convocados os diretores, vice-diretores e secretários das escolas. Outro momento foi quando a escola foi chamada a se pronunciar junto ao Ministério Público para responder sobre alguma denúncia feita por alunos ou pais de alunos contra a instituição.

Julga a gestora que é importante a comunidade exercer o seu papel de cidadã buscando fazer valer os seus direitos, quando entender que os mesmos são violados no universo da escola, entretanto, pensa que, primeiro, esta deve procurar conhecer a escola em que seu filho estuda e saber de fato o que está acontecendo antes de recorrer ao Ministério Público como primeira instância. Quanto à Promotoria, sugere que esta antes de agir busque apurar melhor os fatos.

De acordo com a direção, a escola procura responder à Promotoria dentro do que foi solicitado. Entretanto, fica para a escola a sensação de medo e distanciamento e a visão de que o órgão existe apenas para punir. A direção acredita que deve se estabelecer um canal estreito de comunicação entre aquele que advoga a favor da educação e aquela que é responsável por promover o processo educativo, pois a gestão se sente perdida entre os diferentes problemas vivenciados no cotidiano escolar que não sabe como resolver e a quem recorrer.

Acredita-se que o sentimento de insegurança com o qual a gestão declara conviver, quando é solicitado pela Promotoria que a escola se pronuncie diante de alguma reclamação feita ao órgão de defesa da educação, pode estar relacionada ao total desconhecimento que a gestão tem sobre as funções que são atribuídas à PROEDUC. Isso também contribui para que os professores entrevistados alimentem uma visão tão negativa da atuação deste órgão junto à escola. Quanto à afirmação da gestora de não saber a quem procurar frente aos problemas que se apresentam no cotidiano da escola, entende-se que não procede tal desconhecimento, pois um profissional que aceita assumir um cargo de direção, no mínimo deve ser conhecedor das diferentes instâncias que compõem o universo escolar e a função que cada um deve desempenhar dentro deste contexto de relações. Não pode alegar o desconhecimento da Lei.

Segundo a Direção, os problemas mais recorrentes na escola são: falta de professor, demora na reposição do professor afastado, uso de drogas, ausência da família no acompanhamento do desenvolvimento do aluno e na participação do processo ensino/aprendizado e a indisciplina. A gestão afirma que a atuação do Ministério Público e do

Conselho Tutelar não acompanha a velocidade e a dinâmica dos acontecimentos da escola, pois a partir de encaminhamentos burocráticos atuam de forma lenta.

Quanto ao Conselho Escolar, afirma a diretora que ele existe porque é obrigatório, mas que não funciona, apenas responde às exigências legais e burocráticas, como, por exemplo, a realização da ata de prioridades para receber as verbas para a escola. As reuniões acontecem mensalmente, ou quando se faz necessário. As eleições são realizadas com dificuldades porque de um universo de 1.000 pessoas comparecem 30 e o comparecimento dos conselheiros às reuniões é fraco, por alegarem não terem disponibilidade de tempo.

Pelas declarações feitas pela gestora entrevistada sobre o funcionamento do Conselho Escolar, percebe-se que esta é portadora do mesmo descaso que têm os professores entrevistados para com o conhecimento das funções atribuídas às diferentes instâncias, responsáveis por garantir que a gestão democrática se efetive na escola. Se já é inaceitável que os professores se declarem desconhecedores das funções atribuídas ao Conselho Escolar, mais preocupante ainda é a condição em que se encontra a gestão da escola, quando afirma que o mesmo existe apenas porque é obrigado por Lei, e que, por isso, sua única função seria a de responder às exigências legais e burocráticas previstas, como, por exemplo, o recebimento de verbas.

Na discussão deste aspecto se faz pertinente retomar o pensamento de Bobbio (2000) quando se refere aos obstáculos que o modelo de governo democrático tem encontrado para manter os princípios que fundamentam e garantem a sua existência, pois realidades não democráticas pensam soluções para os problemas de realidades democráticas. Portanto, existe a possibilidade de se exercer a democracia em um universo não-democrático? Como pode uma gestão pensar a construção e a promoção de um espaço escolar democrático, quando demonstra desconhecer a importância da existência do Conselho Escolar no âmbito da escola?

Acredita-se que para que a gestão democrática se efetive não basta que isso tenha sido determinado por Lei. Isso, por si só, não assegura que a instituição escolar promova as transformações necessárias para que a gestão democrática aconteça. Por meio do que foi declarado pela gestora entrevistada, entende-se que a mesma desconhece quais são as suas incumbências como gestora para que por meio da atuação do Conselho Escolar a gestão democrática se concretize na escola a qual tem a responsabilidade de administrar.

Com relação à ação da Promotoria, a diretora acredita que já avançou no contato com a gestão, como foi o caso da reunião realizada com a Gerência de Ensino do Plano Piloto. Entretanto, entende que este trabalho não deve acontecer apenas com os gestores, mas também com aqueles que estão na linha de frente do processo ensino/aprendizagem, como professores e alunos. Considera importante a existência desta Promotoria, mas pensa que a mesma só será vista como útil se procurar se aproximar mais da escola para conhecer a realidade a qual defende e para desmistificar a visão de terror que o órgão representa dentro da escola, pois, de acordo com a direção: “[...] de uns tempos pra cá o Ministério Público para a gente virou um terror”.

Declara a diretora que a Promotoria de Defesa da Educação pode atuar tanto no sentido de cobrar atitudes da escola como também unir esforços na busca de soluções, ou prevenção de problemas. Coloca que não consegue visualizar a atuação da Promotoria como algo útil na busca da melhoria da qualidade do ensino e nas relações processadas no cotidiano da escola. Considera que isso pode acontecer se a mesma estreitar relações com a escola e a sua realidade.

A reivindicação da diretora entrevistada para que a PROEDUC estabeleça uma relação maior de proximidade com a escola, para que está conheça melhor as suas particularidades, é meio contraditória, pois a própria diretora declarou que a PROEDUC buscou estabelecer um contato direto com os diretores, vice-diretores e secretários de varias escolas por meio da Gerência de Ensino do Plano Piloto, da qual as mesmas fazem parte. Preocupante também é a afirmação da diretora de que a existência da Promotoria de Defesa da Educação só poderá ser vista como útil quando a mesma conseguir manter uma relação direta e permanente com a escola. Acredita-se, que a diretora, ao fazer uma declaração desta natureza, mostra desconhecimento não só do seu papel como gestora, como também da importante função que deve desempenhar o Ministério Público como defensor constitucional dos direitos sociais e individuais indisponíveis da criança e do adolescente.

Entende-se que, assim como a direção acredita ser necessário que a Promotoria busque conhecer cada escola em suas particularidades, é necessário, também, que um gestor se interesse por conhecer qual é a função atribuída à Promotoria de Defesa da Educação, seu campo de atuação e a estrutura de que dispõe para realizar um trabalho de natureza tão particularizada como solicita a diretora. Pergunta-se: será que diretores, vice-diretores e

funcionários da secretária de uma escola não têm competência para expor à Promotoria de Defesa da Educação as necessidades com que se defronta a escola a qual os mesmos têm a função de representar? Será que os mesmos também não possuem legitimidade para levar ao corpo docente e discente de suas escolas as informações fornecidas pela PROEDUC por meio da Gerência de Ensino?

Com o que foi extraído do depoimento da gestão e dos professores pesquisados, pode- se dizer que ambos, por serem desconhecedores das atribuições que foram designadas à Promotoria de Justiça de Defesa da Educação, por meio da Portaria nº56/2000, estão numa situação não muito confortável para expressarem suas opiniões sobre a atuação deste órgão na defesa do direito à educação. Como também de julgar se a atuação da PROEDUC tem contribuído para a melhoria do processo educativo em suas diferentes dimensões. O que se observa é que os discursos se constroem a partir de um conhecimento superficial e preconceituoso quanto às ações implementadas pelo Ministério Público, para que o ingresso e a permanência bem-sucedida da criança e do adolescente na educação básica sejam garantidos.

A entrevista com a diretora sugere que a gestão escolar está muito longe de entender o importante papel que foi atribuído ao Ministério Público,quando afirma que a Promotoria desenvolve ações pouco significativas do ponto de vista estrutural da educação, pois limita-se à resolução de problemas de ordem específica.

Como mostra Garrido de Paula (2000), o Ministério Público procura atuar com o objetivo de assegurar que um significativo número de crianças e jovens possam transpor a marginalidade para o exercício da cidadania, pois o mesmo na defesa dos direitos indisponíveis recorrerá às instâncias devidas para que o direito que foi negado no cotidiano possa se efetivar de fato. De acordo com o autor: “A força do Ministério Público, emprestada à criança e ao adolescente, equilibra suas relações com o mundo adulto, fazendo-os sujeitos de direito.” (GARRIDO DE PAULA, 2000, p. 207)

Sabe-se que muitos obstáculos deverão ser enfrentados para que o ideal, dentro do possível, passe a ser real. Para tanto, é necessário que os diferentes atores, responsáveis por garantir que o direito a educação de qualidade se efetive, assumam cada um as responsabilidades que lhe são cabíveis dentro do processo. Trabalhando no sentido de

convergir esforços para que as necessidades individuais referentes à educação se cumpram de forma satisfatória, tanto no aspecto quantitativo (acesso à educação básica), quanto no aspecto qualitativo (egressos portadores de competências para a continuidade de estudos, sua inserção no mundo do trabalho, no convívio em coletividade e no exercício pleno da cidadania), atendendo assim, o que é garantido por Lei para os titulares daquele direito. .