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Conselho de Educação e Ministério Público: uma relação necessária, uma aliança a se construir

ANÁLISE DOS DADOS: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE A ATUAÇÃO DA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DA EDUCAÇÃO NO DISTRITO

4.2 Conselho de Educação e Ministério Público: uma relação necessária, uma aliança a se construir

O Conselho de Educação do Distrito Federal foi criado pelo Decreto nº 171, de 7 de março de 1962, e reestruturado pela Lei nº 2.383, de 20 de maio de 1999. Sua existência marca uma constância na atuação como órgão consultivo-normativo, pouco diferindo das atribuições concebidas desde a origem. Nesse sentido, suas ações se traduzem em fatos disciplinadores da realidade. Assim, os atos do Conselho definem normas e diretrizes que respondem às necessidades e exigências operacionais do sistema de ensino do Distrito Federal (DISTRITO FEDERAL, 2002).

A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional define que os Conselhos de Educação possuem autonomia para estabelecer as funções que lhe serão atribuídas. Bordignon (2004) mostra que o Conselho de Educação do Distrito Federal compõe seu colegiado a partir do critério de notório saber e experiência na educação, somando um total de dezoito conselheiros que se tornam membros a partir das seguintes categorias e formas de escolhas: quatro cargos da Secretária de Educação/Membros natos; nove de livre escolha do Governo; três instituições universitárias não vinculadas ao sistema de ensino do Distrito Federal, uma Universidade Pública e a Associação Brasileira de Educação Comparada/Listas tríplices indicadas pelas entidades. Segundo Gomes (2003): “[...] A composição dos conselhos, na Lei

e na prática, tem tido um papel importante na modelagem da sua atuação e nas funções que desempenham”. (GOMES, 2003, 87)

De acordo com Bordignon (2001), o Conselho de Educação do Distrito Federal representa parte do todo que compõe a estrutura administrativa da área educacional do Distrito Federal. Assim, entende-se que neste trabalho é relevante conhecer qual a relação que se estabelece entre o órgão responsável por normatizar as ações educacionais no Distrito Federal e a instituição responsável por fiscalizar o cumprimento da mesma, pois, de acordo com Bobbio (2006), a concessão de direitos requer a criação de mecanismos eficazes que possibilitem a inviolabilidade dos mesmos. Desse modo, para que uma norma se torne efetiva, deve existir uma inter-relação entre a normatização, o cumprimento das normas e a fiscalização do seu cumprimento.

Comungando do pensamento de Bobbio, Gomes (2003) entende que, para que uma legislação ou norma se torne eficaz é necessário que haja um trabalho de acompanhamento e fiscalização na sua execução. Pensa que a eficácia de uma lei ou norma não se assenta na sua publicação, mas na garantia do seu cumprimento.

Na entrevista realizada com os ex-conselheiros do Conselho de Educação do Distrito Federal, afirma o entrevistado conselheiro 1 (C1) que no período de 1999 a 2007 pouco foi o contato do Conselho de Educação do Distrito Federal com o Ministério Público – PROEDUC. No primeiro momento, quando a Promotoria encaminhava algumas demandas para a apreciação do Conselho, elas eram vistas quase como incômodo, só recentemente se estabeleceu uma melhor relação entre ambos.

O depoimento mostra que o canal de comunicação entre os dois órgãos que estão diretamente ligados à realidade educacional a partir de suas competências, uma normativa e a outra fiscalizadora, é quase sempre distanciada e a rotina de trabalho é muitas vezes isolada de outras instâncias que tratam do cotidiano das escolas. Isso remete ao pensamento de Medeiros (2001) quando pontua que os avanços previstos pela Constituição Federal de 1988, no que se refere ao direito à educação, só poderão possibilitar a superação da desigualdade social a partir dos princípios democráticos propostos, se a sociedade dispuser de mecanismos adequados para a proteção e a garantia destes direitos.

Entende-se, portanto, que a relação constante e transparente entre aquele que normatiza e o que fiscaliza o cumprimento do que foi deliberado é de fundamental importância, pois possibilita estabelecer no meio social o que Corrêa (2006) chama de cidadania plena, ou seja, a interdependência entre simbólico e concreto, o que é legalmente previsto e o que é concretamente garantido.

Declara o ex-conselheiro C1 que no período de oito anos duas foram as visitas feitas pela Promotoria ao Conselho de Educação, uma para esclarecer sobre as atribuições da Promotoria e a outra, para propor um trabalho conjunto com o Conselho, encaminhando à apreciação do órgão, alguns dos problemas que chegassem à Promotoria. Ao ser indagado sobre a freqüência da presença da Promotoria nas reuniões que acontecem no Conselho de Educação semanalmente, o entrevistado respondeu:

Como eu falei, extremamente rara, uma vez ela foi convidada, uma outra vez houve um evento em que uma promotora não do DF, mas federal, esteve presente fazendo uma palestra na questão do avanço de estudos sobre o vestibular. [...] discutindo o tema, mas foram muito poucos os momentos em que se fez presente. (Entrevistado C1).

A entrevistada conselheira 2 (C2) declara também que foram duas as visitas feitas pela Promotoria ao Conselho de Educação, uma delas para falar sobre a necessidade da realização de um trabalho conjunto entre ambos e, a segunda, para participar da Conferência de Educadores realizada pelo Conselho em 2006. Contudo, no período em que a mesma permaneceu como conselheira no órgão não teve conhecimento de encaminhamento de qualquer natureza que solicitasse a apreciação do Conselho, como também não houve uma rotina de trabalho realizado entre ambos.

Os ex-conselheiros pensam que a realização de audiências públicas pela Promotoria seria uma ótima oportunidade para se discutir educação com os diferentes segmentos sociais, mas isto não acontece, pois o Conselho acompanha e somente fica sabendo das ações da Promotoria por meio do que chega ao protocolo, pela imprensa ou pela página da Promotoria na Internet. Esse depoimento confirma o que declara a promotoria quando expõe que há o desejo da PROEDUC de realizar audiências públicas para que se discutam os problemas e as demandas educacionais do Distrito Federal com os diferentes segmentos da sociedade, mas que isso ainda não passou de uma vontade.

Os conselheiros declaram que não têm conhecimento de como a Promotoria realiza a fiscalização do funcionamento dos Conselhos Escolares, espera que ambos estejam trabalhando juntos, que a Promotoria não apenas realize o trabalho de fiscalização, mas também de acompanhamento e orientação do funcionamento dos Conselhos Escolares, para que eles venham a cumprir o seu papel na gestão democrática da educação. Acredita o entrevistado C1 ser importante que o Conselho trabalhe junto com o Ministério Público para que os Conselhos Escolares cumpram sua missão.

A partir do que foi declarado pela Promotoria, o órgão não concretiza o trabalho nem de orientação, nem de acompanhamento, nem de fiscalização junto aos Conselhos Escolares. Pelo desencontro das declarações, constata-se que, de um lado, está o Ministério Público vivendo na expectativa de poder atuar no sentido de fazer cumprir o que prevê a Lei, quanto ao funcionamento efetivo dos Conselhos Escolares como proposta de gestão democrática nas escolas e, do outro lado, o órgão normatizador, desconhecendo completamente como a Promotoria atua junto aos Conselhos Escolares das escolas da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal.

Os ex-conselheiros desconhecem, também, como a Promotoria realiza o trabalho de divulgação para professores (as), alunos (as), pais de alunos (as) e os cidadãos de modo geral, para que saibam como, onde e quando devem recorrer à Promotoria, pois a única forma de divulgação que conhecem é a página do Ministério Público na Internet.

Também expressam que desconhecem o trabalho conjunto entre a PROEDUC e o Conselho Tutelar, contudo, têm a impressão de que esta parceria se realiza. Entendem que o Conselho de Educação deveria ter uma relação de proximidade com as representações do Ministério Público – PROEDUC, do Conselho Tutelar e dos Conselhos Escolares para a realização de ações conjuntas, ou seja, estabelecer o estreitamento das relações por meio de um diálogo permanente, transparente e democrático em prol da melhoria do funcionamento da vida escolar. Segundo a entrevistada C2:

[...] deveria haver todo um entrosamento entre setores para que as políticas públicas em relação à educação pudessem ser políticas mais amplas e de maior poder de apoio dentro destes setores para que ela realmente fosse cumprida.”

Mostram os ex-conselheiros que existe um diálogo incipiente, esporádico ou inconsistente entre o Ministério Público - PROEDUC e o Conselho de Educação do Distrito Federal. Pensam que uma relação de aproximação ativa da Promotoria de Educação com o Conselho seria fundamental para a melhoria da educação no Distrito Federal, como também para a mudança do perfil do Conselho que permanece cartorial e burocrático. Declaram que o Conselho tem contribuído para a melhoria da educação no âmbito normativo, não no âmbito pedagógico. Segundo o entrevistado C1:

[...] o papel do Conselho na melhoria da educação tem sido muito forte numa preocupação normativa. Mas eu costumo dizer que normas não mudam o caráter das pessoas, e a postura, o caráter, é muito mais importante e efetivo do que a norma pra mudar a qualidade da educação.

De acordo com o entrevistado C1 entre a PROEDUC e a Secretária de Educação do Distrito Federal a relação que se estabelecia se restringia às demandas e indagações da Promotoria para com a Secretária, que tinha como tendência assumir uma postura de defesa, de justificativa e não de aceitação do problema para pensá-lo e resolvê-lo. Essa afirmação sugere que a Secretaria de Educação parece defender interesses particulares e não interesses coletivos referentes à educação.

De acordo com Goyard-Fabre (2003), a democracia se constitui a partir do pressuposto de “liberdade limitada”, isso se dá em decorrência das imperfeições humanas que constituem as ações e as relações dos indivíduos na vida em coletividade. Representa, portanto, uma crise entre opostos, onde interesses particulares e coletivos podem se confrontar. Desse modo, a proposta de vida em coletividade orientada por meio de princípios democráticos deve permanentemente ser pensada e reformulada, a partir da visão do todo em que está situada na voz hegemônica das diferentes categorias sociais, representada pela sociedade civil.

Diante disso, se faz importante refletir sobre o que discute a Recomendação nº1/2005 do Conselho de Educação do Distrito Federal, de 22 de janeiro de 2005, quando sugere a atualização da legislação distrital no que diz respeito à forma de composição e de escolha dos representantes da sociedade civil para ocuparem os cargos de conselheiros no Conselho de Educação do Distrito Federal. (DISTRITO FEDERAL, 2005)

Entende-se que para que o princípio da paridade Governo/sociedade civil venha efetivamente representar a proposta de gestão democrática na educação, é importante chamar a atenção para o que mostram os estudos que resultaram na Recomendação acima citada, pois, segundo Bordignon:

[...] A Constituição de 1988 e a nova LDB, sob a égide do principio da gestão democrática do ensino público, passaram a requerer dos conselhos de educação uma nova natureza, não mais de órgão de governo, mas de órgão de Estado. [...]. (BORDIGNON, 2006, p. 51)

Como mostra o autor acima citado, o Conselho de Educação a partir do princípio de gestão democrática da educação, precisa desempenhar o papel de mediador entre as demandas sociais no âmbito educacional e o Governo. Para tanto, se faz necessário que este desempenhe suas funções a partir de diferentes percepções da realidade, portanto, se torna relevante que a composição do Conselho possibilite a participação de várias representações para que o Conselho delibere em nome do todo social.

Segundo a Recomendação acima citada, hoje a atual composição do Conselho não permite que este seja espaço onde a sociedade civil tenha relevante representatividade. De acordo com os estudos realizados para a criação da Recomendação nº1/2005 a composição do Conselho de Educação do Distrito Federal não observa o princípio da paridade, pois com a extinção da Fundação Educacional do Distrito Federal, os cargos que davam origem aos quatro membros natos não existem mais, assim, de acordo com a Recomendação: “o artifício de situar 4 (quatro) cargos da Secretária como representantes institucionais altera para 72,2% a livre escolha do governo e 27,8% as indicações da sociedade civil.”, isso situa o Conselho de Educação do Distrito Federal no rol das instituições que falam em nome do governo e não da sociedade. (DISTRITO FEDERAL, 2005)

Diante disso, pode ser pertinente a proposta para que o Conselho de Educação do Distrito Federal, frente à possibilidade de mudanças no que sugere a Recomendação 1/2005, pensasse na importância de conceder um assento de conselheiro a um representante do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios – Promotoria de Justiça de Defesa da Educação, pois, a partir da Portaria 56/2000. à PROEDUC, é atribuída a função de advogar a favor do direito à educação no Distrito Federal. Entende-se, portanto, que a presença da Promotoria, com direito de voto é importante para que o Conselho de Educação do Distrito Federal seja a arena onde a educação será pensada a partir de princípios democráticos.

A proposta para que Conselho de Educação do Distrito Federal passe a ter no seu colegiado a presença de um representante da Promotoria de Defesa da Educação, tem como base os estudos realizados por Bordignon (2006). Este mostra que muitos Conselhos Municipais de Educação já contam com a participação de diferentes categorias na sua composição. Isso possibilita que esta instituição passe a ser porta voz da sociedade, caracterizando-se como um órgão de Estado. Segundo o autor: “[...] Quanto mais a pluralidade das vozes da sociedade se fizerem presente, mais os conselhos se caracterizam como órgão de Estado. [...]”. (BORDIGNON, 2006, p. 55)

Assim, considera-se importante a possibilidade de o Ministério Público – PROEDUC ser uma dessas vozes que venha representar a pluralidade social na composição do colegiado do Conselho de Educação do Distrito Federal. Segundo o entrevistado C2: “[...] Desafiaria o Conselho ao seu verdadeiro papel e não a um papel quase que exclusivamente cartorial e burocrático. Seria fundamental essa ação do Ministério Público junto aos conselhos para mudar o seu perfil. [...]”.

Quando perguntado aos ex-conselheiros sobre a relação que se estabelece entre as condições de trabalho proporcionadas aos professores nas escolas da Rede Pública de Ensino no Distrito Federal e os resultados qualitativos da educação, entende o entrevistado C2 que deve existir um olhar especial das instituições sobre as condições de trabalho oferecidas aos professores nas escolas da Rede Pública de Ensino, pois acredita que há uma relação direta entre a formação do professor, a remuneração, as condições de trabalho para cumprir com o que prevê o projeto político pedagógico da escola e as respostas positivas do sistema de ensino nas avaliações nacionais e internacionais.

Quanto ao entrevistado C1, o mesmo pensa que há uma relação direta entre condições de trabalho do professor e resultados qualitativos na educação, mas ela não pode ser absolutizada. Para ele a relação se estabelece mais forte entre gestão escolar e qualidade da educação, pois uma escola pode ter um quadro excelente de professores, mas se ela não tiver uma gestão motivadora e desafiadora estes professores perdem o estimulo para produzir. Contudo, entende também que sem condições adequadas fica difícil aprender.

O entrevistado C2 reconhece que a PROEDUC tem uma estrutura de competência definida, mas pensa que seria importante que fosse feito um estudo para possível ampliação

das atribuições de atuação da Promotoria no que se refere à avaliação das condições de trabalho do professor, pois seria importante que aquele que se preocupa em saber se o professor está capacitado para exercer certa função, se preocupe em saber também se este dispõe de condições adequadas para realizar a função designada nas escolas.

Quanto à realização de ações efetivas da Promotoria de Educação para minimizar a desigualdade social por meio da educação, o entrevistado C1 declara que não saberia responder, por ter sido pouco o contato efetivo com a Promotoria. Mas defende a existência da PROEDUC como guardiã dos direitos educacionais dos cidadãos nos diferentes setores da sociedade. Pensa na necessidade que existe de a Promotoria ser vigilante, colaboradora, presente e não apenas coercitiva na defesa do direito à educação.

A impressão que o entrevistado C1 tem da ação da Promotoria é de que esta tem procurado desempenhar o seu papel de parceira da sociedade, pois tem pensado em desenvolver um trabalho pró-ativo, colaborativo e muito antes de ser coercitivo, se antecipar para que os problemas não aconteçam. Contudo, declara que muito ainda tem que caminhar a Promotoria para realizar este trabalho, pois as intenções são boas, mas as ações ainda são incipientes. Quanto à entrevistada C2, concorda com o que expõe o entrevistado C1 quanto à importância da existência da PROEDUC na defesa da educação, pois é mais uma possibilidade que o cidadão pode ter para o seu desenvolvimento.

Os Conselheiros pensam que é importante que a PROEDUC realize um trabalho de divulgação do seu papel dentro das escolas, trabalhando ao mesmo tempo direitos e deveres. De acordo com a entrevistada C2, é necessário que esteja claro dentro das escolas e fora delas que o aluno dê uma resposta positiva no cumprimento dos seus deveres, pois ter direito a bons professores, ao transporte escolar e outros, tem como decorrência natural o cumprimento de vários deveres. Sugere que a Promotoria procure estreitar relações, se integrando mais com o Conselho de Educação e que cada vez mais evolua nas suas programações de atuação, sem deixar de pensar na possibilidade de ampliação das suas atribuições.

O entrevistado C1 declara que desconhece quais são as condições de que dispõe a Promotoria de Defesa da Educação para se fazer presente em tantas escolas do Distrito Federal, mas como o Ministério Público representa a âncora para fazer valer os direitos da cidadania educacional ele precisa se fazer presente nas escolas de alguma forma.

4.3 A visão dos Professores sobre a atuação da PROEDUC: a atuação que separa e a