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2.7 O Ministério Público Brasileiro

2.7.1 Constituição Brasileira de

Nogueira (1999) mostra que, inspirada no constitucionalismo inglês, a Carta Magna de 1824 foi estruturada em princípios teocêntrico e escravocrata que atribuíam ao imperador a maior soma de poder decisório. A partir dessa idéia, a Carta Constitucional foi elaborada e aprovada de acordo com os interesses da Coroa, legislando em prol da reprodução dos princípios ideológicos da classe dominante. De acordo com Sauwen Filho (1999, p. 120): “[...] era pouco provável que dela pudessem surgir condições para o advento de um Ministério Público eficiente.” Portanto, neste período no Brasil, o governo era a verdadeira expressão das vontades da elite, que negava a participação política das massas, negligenciando a defesa dos direitos coletivos, o exercício da cidadania e a necessidade de uma reforma social.

Partindo deste ponto, Sauwen Filho (1999) dispõe que a realidade organizacional do Ministério Público passava por deficiências que retratavam a condição precária na qual o mesmo funcionava. Essa realidade comprometia a sua unidade, a articulação interna necessária para o seu bom funcionamento, a delimitação precisa das atribuições de seus

membros, a seleção adequada quanto à competência técnica necessária para o preenchimento do seu quadro de pessoal, inclusive no que se refere aos cargos que necessariamente deveriam ser ocupados por bacharéis diplomados, tudo isso, era agente comprometedor da sua eficiência.

Mesmo com a previsão de existência de pelo menos um Promotor de Justiça na Corte, em cada Comarca e em cada Relação, o mesmo não foi mencionado constitucionalmente, e se organizou a partir do que dispunha a Lei de 18 de setembro de 1818. Gonçalves (2000) reforça a discussão ao afirmar que, “[...] Em 1824, sobre a égide do Imperialismo, não cuidou a Constituição em fazer referências ao Ministério Público.” (GONÇALVES, 2000, p. 38)

Nogueira (1999) mostra que, o capítulo da Constituição de 1824, que trata das competências do “Poder Judicial”, parece ser o mais deficiente desta Constituição. Apesar de a Carta Constitucional do Império reconhecer a existência de quatro poderes políticos Executivo, Legislativo, Moderador e Judiciário e afirmar no seu artigo 151 a independência do Poder judiciário, para o Executivo não interessava promover esta autonomia, pois este se julgava no direito de interferir nas decisões dos diferentes Poderes, como também em punir todos aqueles que se opusessem aos interesses do Imperador. De acordo com o que dispõe o artigo 98:

O poder Moderador é a chave de toda a organização política, e é delegada privativamente ao Imperador, como Chefe Supremo da Nação, e seu primeiro representante, para que incessantemente vele sobre a manutenção da Independência, equilíbrio e harmonia dos mais poderes políticos.

Sauwen Filho (1999) sugere que era clara a condição incipiente na qual se encontrava o Ministério Público, regido pelo que previa a Lei de 18 de setembro de 1828. Todavia, duas Leis foram importantes na transição entre a Constituição de 1824 e a de 1891. Foram elas: a Lei 16 de janeiro de 1838 e a Lei nº 261, de 3 de dezembro de 1841, regulamentada pelo Decreto nº 120, de 21 de janeiro de 1843. A primeira definia os Promotores de Justiça como “fiscais da Lei” e os Curadores, como “verdadeiros advogados”, mostrando, portanto, a definição do papel a ser desempenhado pelos membros do Ministério Público acima referido.

A segunda Lei referente à reforma do Código do Processo Criminal, que ao dedicar um capítulo ao Ministério Público destacava a existência dos Promotores Públicos; a

subordinação da instituição ao poder executivo; a limitação e precariedade do poder decisório de seus membros; a nomeação e demissão dos Promotores a cargo da vontade do Imperador ou, em certas circunstâncias, dos Juízes, mostrando uma evidente subordinação destes a ambos; a clara dependência dos Promotores em relação ao desempenho de suas funções, pois, conforme dispunha a lei, estes deveriam ocupar a função pelo “tempo que convier” e a equiparação dos Promotores a qualquer outro funcionário por meio da remuneração “arbitrado”, pois esta se caracterizava como uma remuneração proporcional às tarefas desempenhadas pelos mesmos. Portanto, segundo o autor:

Assim, sob o império da Lei 261 de 3 de dezembro de 1841, tínhamos no Brasil um Ministério Público funcionando precariamente e de forma subordinada ao Poder Judiciário de quem fazia as vezes de órgão coadjuvante e seus membros nomeados e demitidos livremente pelo Imperador ou pelos Presidentes das Províncias e, em casos especiais, pelos próprios Juízes. Exerciam, sem qualquer independência, na maioria das vezes, simples funções auxiliares da Justiça. (SAUWEN FILHO, 1999, p. 122)

Segundo Cury (2000), é em 1824 que a legislação educacional se formaliza pela primeira vez no Brasil. Nesse período, nem a educação aparece como um direito social e nem o Ministério Público tem como atribuição a defesa dos direitos sociais e individuais indisponíveis. No que se refere à educação, vale salientar o artigo 179, inciso XXXII, que menciona a gratuidade da educação primária a todos os cidadãos. Entretanto, convém ressaltar que, de acordo com esta Carta Constitucional, não eram considerados cidadãos os negros e índios, que compunham uma grande parcela da população brasileira. Isso mostra as limitações do modelo educacional .

2.7.2 Constituição Brasileira de 1891

Segundo Baleeiro (1999), o século XIX foi de intensas transformações sociais, políticas e econômicas. Neste contexto foi promulgada, em 24 de fevereiro de 1891, a primeira Constituição Republicana do Brasil. A nova Carta Constitucional foi inspirada na Constituição dos Estados Unidos da América do Norte, que orientou a organização do regime presidencialista de governo, dividido em três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.

Sauwen Filho (1999) mostra que foi a partir dos ideais políticos do Governo Provisório que houve o empenho dos legisladores de fazer do Ministério Público uma instituição organizada para o desempenho de suas funções. Partiam do pressuposto de que o Ministério

Público era uma das instituições indispensáveis para a consolidação de um governo estruturado em princípios democráticos. Assim, foram instituídos os seguintes Decretos: Decreto nº 848, de 11 de outubro de 1890, cuja exposição de motivos afirmava que este órgão deveria zelar pelo cumprimento das leis, decretos e regulamentos coercitivos instituídos pelo Poder Central e aplicados pela Justiça Federal e o Decreto nº 1.030, de 14 de novembro de 1890 que vinha definir o funcionamento do mesmo e as atribuições dos seus membros.

As esperanças de que esse entendimento finalmente triunfasse no espírito dos constituintes, resgatando os valores da Instituição, relegada na legislação imperial à condição subalterna de mera auxiliar do Poder Judiciário e dependente do Poder Executivo, cedo se desvaneceria.

A Constituição de 24 de fevereiro de 1891, ao contrário do que esperavam aqueles que militavam nas fileiras do Ministério Público, silenciou sobre a Instituição [...]. (SAUWEN FILHO, 1999, p. 128)

Ribeiro (2003) mostra que foi a partir do Decreto nº 848, de 11 de novembro de 1890 e da Constituição Brasileira de 1891 que pela primeira vez a denominação de Procurador-Geral da República aparece nos dispositivos legais. Este termo, por sua vez, teve sua origem na Proclamação da República em 15 de novembro de 1889, a qual designava aquele que deveria ocupar a respectiva Procuradoria e, portanto, teria a função de zelar pelos interesses e direitos do governo federal.

Nesse contexto de mudanças estruturais, os dispositivos constitucionais da Carta de 1891 na Seção reservada ao Poder Judiciário dispõem em oito artigos o que é de competência desse Poder. Nesse tocante, o artigo 58, § 2º expressava que era da competência do Presidente da República escolher e nomear o Membro do Supremo Tribunal Federal que deveria ocupar o cargo de Procurador-Geral da República. Assim, como mostra Gonçalves (2000, p. 38): “[...] Deste modo, o Ministério Público era exercido pelo Judiciário, mas com designação do Presidente da República.”

Esta Carta Constitucional, ao vincular a ocupação deste cargo à vontade do executivo e restringir a escolha do ocupante do mesmo aos membros do Judiciário, dava outra roupagem às velhas práticas no que se refere ao papel social do Ministério Público. Segundo Sauwen Filho: “A República deixava de agilizar o Ministério Público, dotando-o de meios para se constituir verdadeiramente em órgão de defesa da cidadania. [...] a Carta republicana, antes de inovar, apenas reafirmava velha prática monarquista.” (SAUWEN FILHO, 1999, p. 129)

Os artigos referentes à educação na citada Constituição se estruturavam em uma proposta curricular bastante distanciada e desvinculada das necessidades educacionais da sociedade. A mesma não se refere à gratuidade e à obrigatoriedade do ensino primário, revelando um retrocesso nas conquistas educacionais, pois, a Constituição de 1824 pelo menos fazia referência à gratuidade do ensino primário como direito de todo cidadão.

Apesar de todas as deficiências legais referentes à educação, a Constituição de 1891, no seu artigo 62, refere-se à laicidade do ensino público. Levando em consideração o período histórico onde a tradição religiosa perpassava praticamente todas as práticas sociais, pode-se dizer que foi uma conquista, que representou um grande avanço em nível nacional de direitos sociais e individuais, pois, segundo Cury (2000), a República, ao romper com a tradição da obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas oficiais, reafirma a liberdade de expressão e culto das diferentes crenças. Para o autor, esta talvez tenha sido uma das únicas medidas republicanas que teve alcance nacional no que se refere à educação.

Com relação ao Ministério Público os dispositivos da Constituição de 1891 apenas o tratam como um órgão representante e defensor dos interesses do Poder Executivo. Este tinha o dever de defender exclusivamente os interesses do Estado, fossem em tribunais singulares ou coletivos. Segundo o autor “[...] fora da defesa dos direitos e interesses do Estado, ineficiente era a ação do Ministério Público, principalmente na defesa de interesses outros que com aqueles confrontavam.” (SAUWEN FILHO, 1999, p.139). Se ao Ministério Público cabia apenas defender os interesses do Estado, não havia qualquer relação do órgão com a defesa do acesso e permanência do aluno na educação formal.

2.7.3 Constituição Brasileira de 1934

A partir dos acontecimentos da “Revolução de 1930”, a sociedade brasileira desperta para as causas de seu subdesenvolvimento: a pobreza, o analfabetismo e o anacronismo das suas estruturas políticas e econômicas. De acordo com Ribeiro (1998), o modelo econômico agrário de exportação não oferecia mais condições de desenvolvimento para o país e a dependência econômica do Brasil o deixava num lugar desconfortável na divisão do comércio internacional como importador de manufaturados e exportador de produtos agrícolas e do extrativismo.

A Carta Constitucional promulgada em 16 de junho de 1934, de acordo com Poletti (1999), foi resultado das Revoluções de 1930 e 1932. Esta Carta representou um salto significativo em relação às conquistas sociais e políticas, destacando-se por suas idéias modernizadoras. Seu texto constitucional, apesar de ter tido pouco tempo de vigência, mostra de certa forma os primeiros passos em direção à democratização brasileira. Pois, como mostra o autor:

[...] Pouco importa seu diminuto tempo de vigência e eficácia. Soubemos, depois dela, da insuficiência das Cartas Constitucionais, sobretudo para a realização do regime democrático. Elas não bastam a isto. Encerram em si apenas alguns dos elementos necessários à democracia. (POLETTI, 1999,p. 54-55)

Portanto, pensava-se em uma nova República e a Constituição foi reflexo das novas aspirações. Ao Ministério Público foi dispensada atenção diferenciada das Cartas Constitucionais anteriores. O destaque desta instituição aparece no Capítulo VI, seção I, disposto em quatro artigos, como um dos órgãos cooperadores das atividades governamentais. O artigo 95 dispõe que: “O Ministério Público será organizado na União, no Distrito Federal e nos Territórios por lei federal e, nos Estados, pelas leis locais”.

O artigo 95 ainda expressa que o chefe do Ministério Público seria o Procurador-Geral da República; este seria nomeado pelo presidente, com o aval do Senado Federal; estaria sujeito à demissão caso o Presidente achasse necessário; os chefes da instituição no Distrito Federal e demais Territórios seriam nomeados pelo Presidente da República e os demais membros do órgão teriam sua nomeação mediante concurso público e só poderiam ser demitidos caso sofressem sentença judicial ou administrativa. Isso consolidava legalmente a estabilidade funcional dos seus membros. Este texto constitucional, nos quatro artigos destinados ao Ministério Público e nos §§ 1º e 2º do artigo 95 evidencia a permanência da vinculação deste ao Poder Executivo e a desvinculação do mesmo do Poder Judiciário.

De acordo com Sauwen Filho (1999), o Ministério Público na Constituição de 1934, foi uma instituição pensada dentro dos parâmetros ideológicos de Getúlio Vargas, portanto, o mesmo representava um instrumento político particular do Poder Executivo. Com propriedade, o Presidente Vargas considerou, tratou e utilizou esta instituição como um órgão auxiliar da sua ação política. Percebia como necessária a subordinação do mesmo ao Poder

Executivo. Assim, dentro desta perspectiva, este deveria se comportar como um órgão cooperador direto das políticas de ação do governo. Segundo o autor:

[...] cabe aqui registrar que nenhum outro depositário do Poder Executivo levou tão longe esse entendimento quanto o Presidente Vargas, afirmando que ‘o Ministério Público é um órgão que coopera na atividade do Governo’ e que ‘por Governo se deve entender aqui o Poder Executivo’ [...]. (SAUWEN FILHO, 1999, p.143)

Cabe ressaltar o artigo 76, § 3º, que já aponta ações que caracterizam as funções do Ministério Publico hoje, quando se refere ao que é de competência da Corte Suprema,: “rever, em beneficio dos condenados, nos casos e pela forma que a lei determinar, os processos findos em matéria criminal, inclusive os militares e eleitorais, a requerimento do réu, do Ministério Público ou de qualquer pessoa”. Comentando este artigo, Sauwen Filho (1999, p. 144) mostra que “Tal dispositivo sufragava a tese de que o Ministério Público, como instrumento de defesa da sociedade que é, não patrocina interesses em conflitos, mas direitos ameaçados ou violados.”

Apesar de na década de 1930 terem ocorrido mudanças significativas no âmbito educacional como a criação do Ministério da Educação e Saúde em 1931, a Reforma do Ensino Superior, a Organização do Ensino Secundário e a Alteração do Ensino Comercial para Curso Propedêutico, havia certo descontentamento e frustração por parte dos educadores. Este sentimento foi lançado ao público por meio do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, escrito por Fernando de Azevedo e assinado por vários educadores expressivos. A proposta representava a preocupação dos intelectuais em estabelecer uma política nacional de educação que contemplasse as diferentes modalidades de ensino para as diferentes realidades de classes sociais. (RIBEIRO, 1998)

No que se refere às conquistas educacionais na Carta Constitucional de 1934, vale ressaltar a gratuidade do ensino primário integral; a freqüência obrigatória do aluno matriculado neste nível de ensino; a extensão da gratuidade aos adultos; a possibilidade de haver a extensão desta gratuidade à etapa posterior ao primário; a atribuição de competências ao Conselho Nacional de Educação; a fixação do Plano Nacional de Educação; a coordenação e a fiscalização da execução do Plano em todo o território nacional; o estabelecimento dos Conselhos de Educação Estaduais e do Distrito Federal na construção do sistema de ensino

nacional; os recursos que deveriam ser destinados à educação; o ensino religioso facultativo nas escolas particulares e a laicidade do ensino oferecido pela rede oficial.

De certo modo a Constituição de 1934, foi a mais progressista em relação às anteriores e, em relação ao papel do Ministério Público foi a mais detalhada. Sobre a educação, a Carta expressou um avanço considerável, pois era a primeira vez que a educação recebia o seu devido valor como estrutura fundamental de desenvolvimento nacional.

2.7.4 Constituição Brasileira de 1937

De acordo com Porto (1999), a modernização estava em pauta, mas contradições à parte, a conjuntura na qual se encontrava o país não permitia que a sociedade vivesse um regime constitucional de caráter democrático. Neste momento, os cidadãos são privados dos seus direitos de livre expressão e opinião em nome dos bons costumes. O chefe de governo acreditava ser a sua pessoa e seus atos a verdadeira expressão do Poder Constituinte, subtraindo do povo as garantias do exercício pleno do poder constitucional.

Foi assim que o povo brasileiro assistiu impassível à dissolução do Congresso Nacional e à suspensão da Constituição de 1934. O argumento para o ato arbitrário foi que o povo não se encontrava em condições de exercer a democracia. Assim que Getulio Vargas desfechou o golpe de Estado, estabelecendo o chamado Estado Novo e, em 10 de novembro de 1937, o governo Vargas outorgou a quarta Constituição Brasileira.

Nos dispositivos da Carta Magna de 1937, o Poder Judiciário aparece como órgão cooperativo do Poder Executivo, que não poderia se pronunciar sobre temáticas políticas, conforme determina o artigo 94: “É vedado ao Poder Judiciário conhecer de questões exclusivamente políticas”. Quanto ao Ministério Público que na Carta Magna anterior aparece em uma sessão própria dando a expectativa de avanços, nesta vem mencionado apenas no artigo 99, no que se refere ao Supremo Tribunal Federal. Como comenta Sauwen Filho (1999, p. 145): “Esta nova Constituição entrou imediatamente em vigor, revogando integralmente a anterior, impondo um severo retrocesso à instituição do Ministério Público que dela não mereceu mais que algumas referências esparsas.”

Gonçalves (2000) destaca que nesta Constituição o Ministério Público continuou a figurar como auxiliar do Poder Executivo. Contudo, Sauwen Filho (1999) argumenta que, se por um lado, esta Carta Constitucional representou um momento de grande retrocesso para o Ministério Público quanto aos artigos que compunham seu texto, por outro, foi no período de vigência da mesma que esta instituição teve ampliado o seu campo de atuação. Isto foi possível a partir da publicação do Decreto-Lei nº 1.608, de 18 setembro de 1939, que esta instituição, entre outras atribuições, tinha o poder de ser integrante no processo civil, ora como parte, ora como órgão interveniente, nos processos que envolvessem interesses de pessoas incapazes. Como também, a partir do Código de Processo Civil de 3 de outubro de 1941, o Ministério Público conseguiu ampliar seu campo de atuação.

As conquistas no campo educacional se encontram no artigo 130, quanto à gratuidade acompanhada da obrigatoriedade do ensino primário; no artigo 133, no que diz respeito à manutenção do caráter facultativo do ensino religioso nas escolas primárias, normais e secundárias, e no artigo 129, ao preceituar que é dever da Nação, dos Estados e dos Municípios assegurar às crianças e aos adolescentes o acesso à educação adequada nas escolas da rede oficial de ensino.

Quanto aos retrocessos, vale ressaltar a ausência de referência às competências dos Conselhos: Nacional, Estaduais e do Distrito Federal; aos recursos que deveriam ser destinados à educação e ao que dispôs também o artigo 129 quando determina que a educação profissional deveria ser destinada aos filhos dos menos favorecidos. Ribeiro (1998), ao discutir este parágrafo do artigo 129 da Constituição de 1937, mostra que, apesar do regime autoritário de Vargas e de sua Carta Constitucional apresentarem significativos recuos no que diz respeito à educação, é importante observar que esta foi, de acordo com seus dispositivos, a mais avançada em termos de possibilidades de formação popular para o mercado de trabalho. Como mostra o autor:

Já por este texto fica explicitada a orientação político-educacional capitalista de preparação de um maior contingente de mão-de-obra para as novas funções abertas pelo mercado. No entanto, fica também explicitado que tal orientação não visa contribuir diretamente para a superação da dicotomia entre trabalho intelectual e manual, uma vez que se destina ‘às classes menos favorecidas’ [...] Isso equivale ao simples reconhecimento de que o estágio que pretendem alcançar exige uma mão-de-obra qualificada de origem social pré-determinada [...]. (RIBEIRO, 1998, p. 129)

Ao analisar a realidade educacional vivida neste período, Ribeiro (1998) destaca que um dos principais desafios enfrentados pelos defensores da educação popular era o de manter as propostas de educação nacional que contemplavam investimentos e proteção a todos os níveis de escolaridade, mas, principalmente, ofertar educação de qualidade às camadas sociais menos favorecidas. Segundo o autor, este é o contexto de surgimento do sistema público de ensino.

Cabe ressaltar que o artigo 127 da Constituição de 1937 dispõe que é um dever do Estado assegurar condições físicas e morais indispensáveis à infância e à juventude do individuo; que o Estado deve assumir o papel de provedor da educação e da guarda dos mesmos caso seja negligenciado a estes por parte de seus responsáveis e que o mesmo deve ser invocado para a assistência e a proteção de subsistência e educação de crianças e adolescentes pertencentes às famílias miseráveis. Nos contextos históricos que serviram de cenário para a elaboração das Constituições brasileiras de 1934 e 1937, a figura do Ministério Público continua totalmente distanciado do âmbito educacional e suas demandas sociais.

2.7.5 Constituição Brasileira de 1946

Na década de 1940, sopravam ventos que apontavam para a normalização democrática do país. Mais uma vez atualizavam-se as instâncias institucionais do Brasil e, assim, no dia 18