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CAPÍTULO 5 O “JEITO UFSCAR DE FAZER EAD”: NOVOS ARRANJOS ESTRUTURAIS NA

5.2 A política de educação a distância da UFSCar

A política de EaD da UFSCAr está disposta na Portaria GR nº 1.502, de 23 de outubro de 2012. A análise pormenorizada do documento revela, primeiramente, a concepção de EaD adotada pela universidade, reforçando-a como modalidade educacional, em consonância com a normatização do campo.

Art. 1º. Para os fins desta Portaria, a Educação a Distância (EaD) é caracterizada como modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino-aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos, nos termos do Decreto nº. 5.622, de 19 de dezembro de 2005 (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, 2012b).

Já o segundo artigo do documento prescreve que, na UFSCar, a EaD poderá ser ofertada em cursos de graduação, de extensão cultural e universitária, aperfeiçoamento e atualização profissional, especializações e, ainda, em cursos de pós-graduação stricto

sensu. Quanto a esse último nível, vale dizer que até o momento de conclusão da

investigação não foram ofertados cursos de mestrado ou doutorado na modalidade, mesmo porque não havia normatizações do campo para regulamentar tais ofertas56.

Considera-se relevante notar que, em seu quarto capítulo, a Portaria nº 1.502/2012 estabelece 10 indicadores de qualidade na oferta dos cursos a distância pela instituição, os quais foram organizados no Quadro 5.16.

56 A regulamentação desses cursos foi dada recentemente pela Portaria CAPES nº 275, de 18 de dezembro de

Quadro 5.16 – Indicadores de qualidade dos cursos a distância da UFSCar, segundo a Portaria nº 1.502/2012

Indicador Descrição

1. Planejamento

Adoção de modelo pedagógico que favoreça a colaboração, a construção do conhecimento, a autonomia e a constante reflexão de professores e alunos sobre o processo de ensino-aprendizagem, o que envolve aspectos organizacionais (objetivos de aprendizagem, organização do tempo, atuação dos alunos, organização das turmas), aspectos metodológicos (técnicas, sequências didáticas e procedimentos de avaliação) e aspectos tecnológicos (definição e uso de tecnologias de informação e comunicação).

2. Processo de ensino-

aprendizagem

Oferta de atividades coerentes com as definidas pelo perfil de profissional a ser formado pela UFSCar, que promovam aprendizagens ativas e o protagonismo dos estudantes em práticas de pesquisa e no desenvolvimento de projetos.

3. Comunicação entre os agentes

Processo de ensino e aprendizagem baseado na interatividade entre professores, tutores e estudantes.

4. Material didático

Uso do ambiente virtual de aprendizagem como mídia principal, complementado com material impresso, audiovisual e webconferências, com base no trabalho compartilhado de professores e membros de equipes técnicas de produção de material didático.

5. Avaliação

Articulação de mecanismos que promovam o permanente acompanhamento dos estudantes, pautados em processo dialógico de feedback formativo, construtivo e analítico, que permita a identificação e resolução de dificuldades de aprendizagem.

6. Professores e tutores

Realização de capacitação específica em EaD pelos professores e tutores, que ofereça subsídios para construção de uma visão técnica e pedagógica necessária ao desenvolvimento da docência e das atividades de tutoria virtual, considerando as especificidades da modalidade.

7. Profissionais de apoio aos professores

Ampla estrutura de apoio aos professores durante os processos de planejamento, produção e oferta do curso ou disciplina, por meio de equipe multidisciplinar, composta por pedagogos, projetistas educacionais, revisores de texto, diagramadores, ilustradores, webdesigners, produtores de vídeos e animações, analistas, programadores e técnicos em tecnologia da informação.

8. Discentes

Conhecimento da população a ser atendida, com informações que sirvam de base para as ações docentes e a organização das atividades, propiciando maior envolvimento e aproveitamento dos alunos.

9. Infraestrutura Infraestrutura proporcional ao número de estudantes, aos recursos tecnológicos envolvidos e à extensão do território a ser alcançado.

10. Gestão acadêmico- administrativa

Gestão acadêmica integrada e articulada às demais instâncias e processos da Universidade, que proporcione aos estudantes da modalidade de educação a distância o acesso a todos os serviços disponíveis na UFSCar, bem como a avaliação dos processos educacionais, material pedagógico, atuação de docentes e tutores. Fonte: Elaboração própria com base na Portaria nº 1.502/2012.

O debate em torno da qualidade na educação a distância relaciona-se às especificidades inerentes à modalidade e, segundo Martins e Mill (2018), sua definição compreende, por um lado, aspectos subjetivos relacionados às expectativas dos envolvidos no processo educacional e que podem impactar na permanência, evasão e motivação dos estudantes em relação ao curso. Por outro lado, a busca pela qualidade implica na mensuração e avaliação das ofertas dos cursos por meio de indicadores que, no caso da UFSCar, estão descritos no Quadro 5.16 acima.

Conforme apontado no terceiro capítulo, em 2003 foram elaborados os Referenciais de Qualidade para a EaD que, em 2007, passaram por uma revisão. Segundo o documento, não há um único modelo de EaD, mas a natureza do curso que será ofertado, bem como as necessidades dos alunos são fatores imprescindíveis a serem considerados na estruturação dos sistemas. O documento ressalta, ainda, que os sistemas devem abarcar ao menos três dimensões: pedagógica, recursos humanos e infraestrutura. Nelas devem estar contemplados: a concepção de educação e de currículo quanto ao processo de ensino- aprendizagem; os sistemas de comunicação; o material didático; a avaliação; a equipe multidisciplinar; a infraestrutura de apoio aos alunos; a gestão acadêmico-administrativa e a sustentabilidade financeira.

No que se refere à UFSCar, então, é possível dizer que os parâmetros de qualidade contemplaram o que consta nos Referenciais (BRASIL, 2007b), no sentido em que o sistema de gestão criado abrangeu os aspectos tidos como relevantes pelo documento, inclusive enfatizando, conforme mencionado na seção anterior, a criação de uma coordenadoria dedicada à formação dos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem a distância. Conforme o Relatório da CPA (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, 2009a), a busca de qualidade na oferta dos cursos a distância representou, para a instituição, formar profissionais competentes, por um lado e, por outro, atender à demanda social. Além disso, conforme a fala do Participante K, a busca pela manutenção da qualidade nos cursos ofertados tornou-os caros, inviabilizando sua continuidade após a mudança nos parâmetros de financiamento do Sistema UAB, conforme será discutido no sexto capítulo. ah, porque alguém fala “ah, não mas a UFSCar ela, a proposta de EaD da UFSCar ela é melhor do que outras propostas de EaD”, inclusive a gente acredita nisso e usa isso como argumento que não é um curso de qualquer jeito, não é um curso a distância que você faz só pra dizer que fez, um sem qualidade, vamos dizer. É um curso com qualidade, a mesma qualidade de um curso presencial. Essa que é a nossa filosofia, certo? É isso que a gente busca. Eu acredito que isso é verdade e que não é só a gente busca, né, que isso aconteça e o diferencial que faz com que isso acontecer, eu penso que é, a gente ter a visão de que não é barato fazer um curso a distância. Ou seja, os nossos cursos a distância eles não são baratos porque dá trabalho, tem que ter muito material, tem que ter variedade de material, demanda equipe, demanda um monte de coisa, não dá... demanda o tempo do professor em fazer uma boa aula, um bom material, em fazer um bom acompanhamento, demanda tutor, demanda tarefas que têm um alto grau de dificuldade, vamos dizer, demanda de tempo para ser corrigidas, vamos dizer assim, em vários casos acontece isso, várias disciplinas, né? (PARTICIPANTE K, 19/12/2017).

Os pontos destacados pelo Participante K em relação à qualidade dos cursos ofertados pela UFSCar coincidem com os que Costa (2007) aponta. Para o autor, há quatro concepções básicas que devem constituir a escolha de modelos de qualidade para a educação superior a distância: professores e alunos atuando em diferentes espaços; necessidade de tutoria para mediar o processo; necessidade de apoio ao estudante; aluno como centro do processo de ensino-aprendizagem.

Dito isso, nas seções seguintes serão abordadas a gestão acadêmico-pedagógica e administrativa da EaD na UFSCar, com especial destaque para a concepção didático- pedagógica dos cursos, a organização da polidocência, os materiais didáticos e as tecnologias, ações voltadas aos discentes, articulação com os polos de apoio presencial e financiamento. Com base em Rumble (2003), é possível dizer que tais elementos merecem destaque na gestão de sistemas de EaD, uma vez que apresentam especificidades decorrentes da maneira como se organiza o processo de ensino-aprendizagem na modalidade.