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CAPÍTULO 1 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: SUBSÍDIOS

1.4 Considerações sobre a Teoria Institucional como referencial teórico para

institutos federais.

A opção teórica pelo Institucionalismo, claramente exposta nas pesquisas de Martins (2006), Lima (2013), Bizarria (2014) e Melo (2016) corrobora o referencial teórico dos pesquisadores brasileiros discutido na segunda seção. Além disso, em termos metodológicos, ficou evidente que as pesquisas qualitativas com base em estudo de caso predominam. Para a coleta de dados, os documentos e as entrevistas semiestruturadas são os instrumentos mais utilizados, para os quais se aplicam os princípios da análise de conteúdo.

Vale notar, contudo, a escassez de pesquisas acerca da institucionalização da EaD, especialmente em nível de doutorado, uma vez que foram encontradas apenas sete teses que versam sobre a temática.

Embora as pesquisas que abordam a temática da institucionalização da EaD geralmente centrem-se na análise de casos únicos ou múltiplos, quando tomadas em conjunto, oferecem subsídios para a constituição do panorama do processo nas IPES brasileiras contribuindo, assim, para o debate em torno das possibilidades e limitações oferecidas pela modalidade à Educação Superior.

1.4 Considerações sobre a Teoria Institucional como referencial teórico para análises de institucionalização

As discussões apresentadas neste capítulo foram motivadas pela necessidade de se compreender o que é a institucionalização e como o conceito tem sido utilizado nos estudos brasileiros que enfocam as mudanças e adaptações realizadas pelas universidades públicas para ofertar cursos na modalidade EaD.

Em virtude dos estudos teóricos realizados desde o início da pesquisa, constatou-se que a Teoria Institucional tem se mostrado profícua para as análises que abarcam a

temática enfocada nesta tese. Isso porque, ao buscar compreender a dinâmica de interação entre organização e seu ambiente, os institucionalistas enfocam questões como as pressões exercidas pelos atores do ambiente ou do campo organizacional, a busca de legitimidade por parte da organização, isto é, sua permanência frente às pressões sofridas e as contínuas e graduais adaptações pelas quais a organização passa nesse processo, considerando, também, seu arranjo estrutural interno. Sendo assim, a Teoria Institucional permite análises que combinam elementos exógenos e endógenos às organizações.

Ao ser utilizada como lente teórica (CRESWELL, 2010) para investigar a institucionalização da EaD nas IPES, a Teoria Institucional possibilita entender, da perspectiva exógena, que a Reforma do Ensino Superior da década e 1990 configurou-se num mecanismo coercitivo (DIMAGGIO; POWELL, 2005; CARVALHO; VIEIRA; LOPES, 1999) utilizado pelo Estado brasileiro como forma de homogeneizar a atuação das IFES no campo educacional, limitando sua autonomia por meio da submissão ao controle estatal e mercantil (CHAUÍ, 1999; CATANI; OLIVEIRA, 2000; SGUISSARDI, 2000) e, ainda, instaurando uma lógica de competitividade no campo da Educação Superior pública (CHAUÍ, 1999). No entendimento de Chauí (1999, p. 5), a autonomia universitária ficou reduzida “à gestão de receitas e despesas, de acordo com o contrato de gestão pelo qual o Estado estabelece metas e indicadores de desempenho, que determinam a renovação ou não renovação do contrato”.

Compreende-se, assim, que, a partir da Reforma, o campo da Educação Superior no qual as IFES estão inseridas abarcará elementos simbólicos que definem seu papel na sociedade, como o de propiciar o saber enquanto direito coletivo e condição para o exercício da cidadania (SGUISSARDI, 2000), mas, também, fatores técnicos (SCOTT, 1999) por meio dos quais será avaliado, em termos quantitativos, o cumprimento de sua função social. Na prática, significa que as IFES atuarão socialmente com uma lógica instrumental, ou seja, suas ações consistirão em estratégias adotadas tendo em vista os critérios mercadológicos de eficiência e eficácia (CHAUÍ, 1999), uma vez que passarão a competir entre si (BELLONI; OBINO NETO, 2000; DOURADO, 2002) por recursos e consumidores (DIMAGGIO; POWELL, 2005), melhor dizendo, alunos, e, ainda, serão avaliadas periodicamente como forma de legitimar-se no campo educacional.

Nesse âmbito, a EaD institui-se como modalidade com potencial para democratizar o acesso à Educação Superior e, por meio de políticas públicas, adentra o ambiente interno

das universidades, induzindo-as a reverem seus arranjos estruturais para inserir sistemicamente a modalidade e ofertar cursos a distância com qualidade. Sendo assim, do ponto de vista endógeno, a institucionalização da EaD implica em mudanças nas práticas, procedimentos, normas, estruturas e valores das universidades que buscam, com isso, legitimar-se socialmente.

É relevante mencionar que existem autores, dos quais Misoczky (2003) e Peci (2006) são exemplos, que tecem críticas à Teoria Institucional, especialmente devido às influências que recebeu da corrente funcionalista. Assim, para Misoczky (2003), as análises que se pautam no Institucionalismo privilegiam aspectos de permanência, sendo a mudança sempre atrelada à estabilidade (MISOCZKY, 2003). Além disso, não explicariam a interação entre os atores sociais, sua compreensão acerca do ambiente ou campo do qual fazem parte, tampouco as adaptações de comportamento a partir de suas percepções (MISOCZKY, 2003).

Também para Peci (2006), a perspectiva institucional não ofereceria subsídios para se pensar a mudança e nem para a compreensão de campos organizacionais concretos, uma vez que pouco explora as dimensões temporais e espaciais de sua constituição. No entanto, conforme visto na primeira seção deste capítulo, para Selznick (1971) entender o histórico da organização é importante para explicar a institucionalização e também Machado-da-Silva, Fonseca e Crubellate (2010) consideram as variáveis históricas e temporais na estabilidade das estruturas institucionalizadas.

Dito isso, concorda-se com Versiani, Rezende e Pereira (2016) sobre as potencialidades do referencial da Teoria Institucional para analisar organizações educacionais, como escolas e universidades especialmente públicas, por serem sensíveis aos valores sociais e, ainda, por dependerem de recursos governamentais para sua manutenção. Nesse sentido, as adaptações e mudanças que realizam em suas estruturas, normas e procedimentos internos, inclusive relacionados à gestão, resultam, em última instância, das interações que estabelecem com o campo educacional e são influenciadas pelos padrões nele institucionalizados.

Feitas essas considerações, o capítulo subsequente enfocará os aspectos metodológicos da pesquisa.