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CAPÍTULO 3 A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO CAMPO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

3.3 Atores e iniciativas relevantes para a EaD no campo educacional brasileiro

Segundo Lima (2014), antes de 1996 a EaD no Brasil estava restrita a iniciativas isoladas de atores públicos e privados em torno da afirmação e divulgação da modalidade. Assim, em 1971, a Associação Brasileira de Teleducação (ABT), que reunia profissionais brasileiros e estrangeiros ligados à radiodifusão e que atuavam na aplicação de tecnologias na Educação, realizou os Seminários Brasileiros de Tecnologias Educacionais, publicou a Revista Tecnologia Educacional30 e, na década de 1980, ofereceu, de forma pioneira, cursos

de especialização com tutores a distância (BARAÚNA; ARRUDA; ARRUDA, 2012).

Em 1973 foi criado o Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação (IPAE), responsável, em 1989, pelo Encontro Nacional de Educação a Distância e, em 1993, pelo primeiro Congresso Brasileiro de Educação a Distância. Ambos os eventos se constituíram em espaços de debates em torno da modalidade, congregando não apenas intelectuais e

30 A Revista Tecnologia Educacional atualmente é publicada com periodicidade trimestral e pode ser acessada

estudiosos do tema, mas, também, políticos vinculados tanto ao setor público quanto à iniciativa privada. Baraúna, Arruda e Arruda (2012, p. 286) ressaltam que o IPAE “ajudou na normatização da EaD para disposição junto à LDB [...], o que contribuiu para a criação de uma secretaria de EaD31, a qual ficou incorporada ao MEC”.

No ano de 1995 foi fundada, por um grupo de educadores interessados no estudo e pesquisa sobre tecnologias na aprendizagem e EaD, a Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED)32, responsável pela realização de censos anuais sobre a modalidade,

congressos, compilação de legislações, divulgação de eventos da área e, ainda, pela publicação da Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distância (BARAÚNA; ARRUDA; ARRUDA, 2012).

Já nos anos de 1997 e 1998, cabe destacar a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) que, por meio do Programa de Apoio ao Aperfeiçoamento de Professores de 2º Grau de Matemática e Ciências (PROCIÊNCIAS), promoveu cursos de especialização para capacitar, em serviço, professores do ensino médio das redes pública e privada do Distrito Federal, das áreas de Biologia, Física, Matemática e Química. Lima (2014) ressalta esse programa como sendo um protótipo das parcerias que marcam o histórico da modalidade a distância no Brasil.

Como corolário das atividades desses atores, diversas discussões em torno das potencialidades da inclusão das tecnologias na Educação e, mais notadamente da modalidade a distância, ocorrem no congresso nacional, nas universidades públicas e no poder executivo, resultando em experiências concretas na oferta de cursos EaD, consubstanciadas nos consórcios. Assim, formados como “uma organização em rede que extrapola cada universidade isoladamente e faz com que recursos humanos, materiais e tecnológicos sejam compartilhados entre os membros” (MARTINS, 2006, p. 74), os consórcios foram criados especialmente para a oferta de cursos na área de formação de professores, com destaque para Pedagogia e Normal Superior.

No âmbito público merecem atenção o Centro de Educação Superior do Rio de Janeiro (CEDERJ), criado em 2000 por universidades públicas do estado fluminense em parceria com a Secretaria de Ciência e Tecnologia e prefeituras municipais; o Projeto Veredas, iniciativa da Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais, iniciado em 2002

31 Trata-se da Secretaria de Educação a Distância (SEED), que será abordada na seção seguinte.

que, em parceria com IES públicas e privadas ofereceu, em serviço, curso de Pedagogia a professores das séries iniciais de escolas da rede pública (SEGENREICH, 2009; CLÍMACO, 2011); a Universidade Virtual Pública do Brasil (UniRede), consórcio formado por 82 instituições públicas de ensino superior e apoiada pelo MEC, Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e, ainda, a Universidade Virtual do Centro-Oeste (UniVir-CO), consórcio formado por sete universidades estaduais e federais para cooperação técnica, científica e acadêmica.

Já no setor privado, enfatiza-se a Universidade Virtual Brasileira (Instituto UVB), associação de 10 instituições de ensino superior que, por ser constituída como instituto, possuía autonomia para oferecer cursos sem necessidade de credenciar cada universidade integrante e a Rede de Instituições Católicas de Ensino Superior (RICESU) (MORAN, 2002).

No que diz respeito à institucionalização da EaD no interior das IPES, nota-se que a formação dos consórcios foi importante no sentido em que favoreceu o momento de habitualização (TOLBERT; ZUCKER, 1999), pois os cursos propostos nas décadas de 1980 e 1990 funcionaram como terreno para a experimentação da EaD e o desenvolvimento de algumas práticas e teorizações que serviram de base para que, em 2004, o MEC, por meio da Secretaria de Educação a Distância (SEED), fomentasse um programa mais robusto de formação de professores a distância, o Pró-Licenciatura.

Outrossim, a organização em consórcios possibilitou pensar a modalidade como um sistema (MOORE; KEARSLEY, 2013), favorecendo a constituição de algumas estruturas organizacionais, como departamentos específicos para pesquisas sobre tecnologias na Educação e EaD. Nesse âmbito, Moran (2002) destaca a Universidade de Brasília (UnB) que, desde a década de 1980, oferecia cursos de especialização e participava da coordenação da UniRede e da UniVir-CO. Seus cursos utilizavam mídias impressas e internet. No ano de 2002, quando Moran publicou seu estudo, a UNB estava oferecendo um curso de “graduação a distância de Pedagogia para Professores em exercício no início de Escolarização” (MORAN, 2002, p. 290).

Outras duas instituições públicas integrantes da UniRede e UniVir-CO eram a Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). A primeira, no ano de 1995, numa parceria com a Secretaria de Educação do Estado do Mato Grosso e prefeituras, ofertou o curso de Licenciatura Plena em Educação

Básica 1ª a 4ª séries. À época do estudo de Moran, os polos presenciais contavam com estrutura administrativo-pedagógica, ou seja, havia pessoas que apoiavam as atividades de secretaria e orientadores acadêmicos que acompanhavam e orientavam o processo de ensino-aprendizagem, além de fazer a avaliação curricular. A proporção era de um orientador para cada 20 alunos. O polo também possuía um coordenador eleito entre os orientadores. Os materiais didáticos utilizados eram impressos e, também, disponibilizados em CD. Em relação à UFMS, Moran (2002) esclarece que a instituição ofertava, com carga horária dividida entre 50% presencial e 50% a distância, a graduação em Pedagogia. Embora os materiais didáticos utilizados fossem majoritariamente impressos, fazia-se uso da internet.

Também conveniadas à UniRede eram a Escola Paulista de Medicina (UNIFESP), a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A primeira contava com um laboratório de ensino a distância no departamento de Informática em Saúde. O laboratório dispunha de ambiente próprio e oferecia cursos de especialização lato sensu e extensão, além de algumas disciplinas on-line da graduação em Biomedicina, Medicina, Tecnologia Oftálmica e Fonoaudiologia (MORAN, 2002). Já a UFES oferecia graduação em Pedagogia para séries iniciais do Ensino Fundamental e preparava, para o ano de 2002, os cursos de Administração e Gestão Pública e Formação Pedagógica. Além desses, ofertava especializações. Seus cursos combinavam as modalidades presencial e a distância na proporção de um terço de atividades presenciais, realizadas via teleconferências, orientação acadêmica individual ou em grupos, apresentação de seminários e provas. Acerca da UFPE, Moran (2002) ressalta, desde o ano de 1996, o uso do ambiente virtual de aprendizagem Virtus desenvolvido pela instituição para a oferta de cursos de especialização e extensão.

Ainda de acordo com Moran (2002), na Universidade Federal do Paraná (UFPR), a EaD foi implementada em 28 de janeiro de 1999, por meio da aprovação no Conselho Universitário e, em 10 de fevereiro do mesmo ano, pela Portaria nº 370/99, foi criado o Núcleo de Educação a Distância. O curso oferecido pela instituição era “Licenciatura Plena em Pedagogia – Séries Inicias do Ensino Fundamental” (MORAN, 2002, p. 291).

Mereceu destaque por parte do autor, ainda, as iniciativas desenvolvidas pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), pioneira no uso de videoconferência e internet e que contava com o Laboratório de Educação a Distância do Curso de Engenharia

de Produção e pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) que, conveniada à UniRede, oferecia graduação em Pedagogia com 80% da carga horária a distância, ministrada em encontros presenciais semanais nos Núcleos de Formação, os quais contavam com um tutor (MORAN, 2002).

O avanço da institucionalização da EaD no campo educacional resultou na criação de uma Secretaria especialmente voltada à modalidade, conforme será abordado na seção seguinte.