• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 4 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA EAD NA UFSCAR: RELAÇÕES COM O CAMPO

4.1 A Universidade Federal de São Carlos e o campo da Educação Superior:

4.1.3 A EaD no PDI 2013-2017

No que diz respeito ao PDI 2013-2017, evidenciou-se que foi formulado para atender ao Decreto nº 5.773, de 9 de maio de 2006, que especifica as funções de regulação, supervisão e avaliação das IES, seguindo a já mencionada Lei nº 10.861/2004. Sendo assim, também abarca o Projeto Pedagógico Institucional (PPI)49, no qual são apresentados “os

princípios orientadores das políticas para as atividades de ensino, pesquisa, extensão e gestão acadêmica” (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, 2013b, p. 12). No âmbito dos objetivos dessa investigação, vale notar, acerca das diretrizes para processos de formação descritas no PPI, a formulação de alguns questionamentos referentes à modalidade EaD, possivelmente suscitados pela experiência institucional na oferta dos cursos de graduação do Sistema UAB:

como garantir cursos na modalidade a distância com o mesmo nível de qualidade dos presenciais? Como garantir a inserção plena dos estudantes da modalidade a distância nas atividades universitárias? Como articular processos de ensino e aprendizagem presencial e à distância? (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, 2013b, p. 17).

Tais questionamentos são reveladores da complexidade inerente à incorporação sistêmica da modalidade a distância, especialmente quando se considera sua implementação por parte de instituições historicamente ofertantes de educação presencial, como é caso das parceiras do Sistema UAB. Além disso, demonstram uma preocupação, por parte da UFSCar, com a oferta de cursos a distância segundo parâmetros de qualidade.

A análise do PPI deixou claro, ainda, que, embora os princípios sejam estabelecidos pela comunidade acadêmica e efetivados pelas políticas internas, estas podem ou não ser favorecidas pelas políticas externas propostas pelo MEC, Ministério da Saúde, da Ciência e Tecnologia e do Meio Ambiente (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, 2013b). Assim, novamente, denotam-se as relações de interdependência estabelecidas entre a universidade e os atores que compõem seu campo organizacional.

Dito isso, dentre as diretrizes gerais para o desenvolvimento das atividades acadêmicas na UFSCar estabelecidas no PDI 2013-2017, destacam-se as que foram organizadas no Quadro 4.12, por mencionarem a EaD.

Quadro 4.12 – Diretrizes gerais das atividades acadêmicas da UFSCar expostas no PDI 2013-2017 que abrangem a educação a distância

 Promover ações de valorização da graduação, pós-graduação, pesquisa e extensão, em todas as modalidades (presencial e a distância), garantindo sua indissociabilidade.

 Promover a articulação e sinergia das atividades de ensino, pesquisa e extensão em todas as modalidades (presencial e a distância), garantindo a qualidade de todas as atividades e o equilíbrio entre elas.

 Promover a interdisciplinaridade, a multidisciplinaridade e a transdisciplinaridade, bem como a pluralidade epistemológica, nas atividades de ensino, pesquisa e extensão em todos os níveis de formação e modalidades (presencial e a distância).

 Analisar continuamente a necessidade de ampliação da oferta de cursos e do número de vagas em todas as modalidades (presencial e a distância), a partir de estudos de demanda e de impacto e de diagnóstico dos recursos disponíveis, realizando a expansão com equilíbrio entre as áreas do conhecimento e manutenção da qualidade da formação oferecida.

 Garantir e aprimorar continuamente a qualidade dos cursos de graduação, pós-graduação e extensão em todas as modalidades (presencial e a distância).

 Incentivar a utilização de referenciais de qualidade nas atividades de ensino, pesquisa e extensão envolvendo a modalidade a distância.

Fonte: Organização própria com base no PDI 2013-2017 (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, 2013b, p. 15).

Pelo que se pode observar no Quadro 4.12, a universidade mostra-se sensível ao campo no que se refere às inovações tecnológicas e às políticas implementadas com vistas a ampliar as vagas na Educação Superior do país. Nesse âmbito, alinha-se às concepções pedagógicas que reconhecem que a educação do adulto pode se dar em tempos e espaços

diferentes, o que favorece a proposição da modalidade a distância como uma alternativa de formação de profissionais (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, 2013b, p. 16).

A EaD também é mencionada nas políticas institucionais específicas para a extensão e a pesquisa estabelecidas no PDI 2013-2017, segundo nota-se no Quadro 4.13, abaixo.

Quadro 4.13 – Diretrizes institucionais para políticas de extensão e pesquisa elaboradas no PDI 2013-2017 da UFSCar e que abarcam a modalidade a distância

 Promover condições e valorizar o trabalho interdisciplinar em ensino, pesquisa e extensão na UFSCar e entre a UFSCar e outras instituições de ensino e pesquisa, intra e inter cursos, grupos, redes, projetos e culturas e em todas as modalidades (presencial e a distância), estimulando a inserção dos(as) estudantes nessas iniciativas.

 Institucionalizar, expandir e aprimorar continuamente a política para educação a distância na UFSCar.  Garantir a oferta e incentivar a participação da comunidade interna e externa na formação e

capacitação de profissionais na área de Educação a Distância.

 Valorizar a diversidade de metodologias de ensino e de processos de ensino e aprendizagem (tradicionais, ativas e, também, nas modalidades presencial e a distância).

 Fortalecer a interface entre o ensino presencial e a educação a distância, estimulando o uso de ferramentas e recursos de EaD nos cursos presenciais.

 Apoiar as ações que utilizem a modalidade a distância nos cursos de graduação, pós-graduação e extensão da UFSCar.

 Estimular a oferta de atividades curriculares de cursos presenciais na modalidade a distância, com possibilidade de participação de estudantes de todos os campi da Universidade, visando, inclusive, contribuir para a integração entre eles.

 Ampliar os mecanismos de inserção dos(as) estudantes dos cursos de graduação a distância em atividades de pesquisa e extensão.

 Incentivar e apoiar a geração de material didático, em diferentes mídias e tecnologias e para as diferentes modalidades de ensino, a partir do conhecimento produzido na Universidade.

 Incentivar o desenvolvimento de novas tecnologias no ensino para os cursos presenciais e a distância.

 Promover princípios e ações de letramento informacional nas atividades curriculares presenciais e a distância.

 Consolidar a política de planejamento, acompanhamento e avaliação do processo de ensino e aprendizagem na educação a distância.

 Implantar, acompanhar, avaliar e garantir a continuidade de ações voltadas para a excelência dos processos de ensinar e aprender em todas as modalidades (presencial e a distância).

Fonte: Organização própria com base no PDI 2013-2017 (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, 2013b, p. 18-20).

As informações organizadas no Quadro 4.13 denotam a preocupação da UFSCar em propiciar aos estudantes dos cursos a distância a participação em atividades de pesquisa e extensão, além do ensino, assim como ocorre com os alunos dos cursos presenciais. Contudo, conforme se verá nos capítulos subsequentes, a maneira como o Sistema UAB induziu a oferta dos cursos e seus parâmetros de financiamento configuraram-se como elementos limitantes a essas ações.

Acerca do PDI 2013-2017, a EaD é contemplada, ainda, em uma diretriz voltada à produção e disseminação de conhecimento:

Incentivar e fortalecer a produção e disseminação de conhecimentos em Educação a Distância e Tecnologias de Informação e Comunicação, bem como

investir no desenvolvimento tecnológico visando a produção de material didático em diferentes mídias e tecnologias (objetos de aprendizagem, ambientes virtuais, espaços de aprendizagem, dentre outras) (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, 2013b, p. 27).

É importante assinalar que o PDI 2013-2017 aborda, outrossim, a articulação entre seu planejamento institucional e as políticas públicas para a expansão do ensino superior, ao mencionar sua adesão ao REUNI, ocorrida em 2009, e à EaD, que se deu por meio da oferta de cursos pelo Sistema UAB.

Vale ressaltar a interpretação da universidade com relação à adesão ao REUNI visando legitimar suas ações frente à dinâmica do campo. Nesse sentido, o Relatório de Autoavaliação Institucional referente ao ano de 2012 explicita que o “REUNI [...] demonstrou, por meio de suas diretrizes, alto grau de compatibilidade com os princípios e diretrizes do PDI-UFSCar” (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, 2013a, p. 26) e destaca, além disso, a importância do planejamento para a gestão universitária para que esteja preparada “para as oportunidades que se apresentam, nos diferentes momentos institucionais” (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, 2013a, p. 26). A esse respeito, pode-se dizer com base em Selznick (1971, p. 61) que as “preocupações internas, os compromissos institucionais, também incluem aqueles objetivos decididos externamente e que devem ser aceitos se se quiser evitar limitações sérias.”. Nesse sentido, destaca-se a fala do Participante B:

A gente fica com a falsa sensação de que a gente está fazendo transformação, enquanto na verdade a gente está fazendo, a gente está mais servindo às necessidades de capitanear recursos, ter seus índices e poder conseguir mais financiamento no exterior [...]. A gente batalhou aquilo com unhas e dentes, pensando nos seres humanos, pensando na formação de uma pessoa que não teve condição, pensando na abertura para as classes populares poderem estar na universidade, dos negros, dos indígenas, da mulher que o marido não deixa estudar, é assim que a gente pensa a educação, é assim que a gente pensa a educação, a gente pensou na EaD, a gente pensou em ampliar o acesso ao ensino superior, ele vem junto com a política do REUNI, então a gente não pode desvincular uma coisa da outra, a gente estava num momento em que a gente estava implantando o REUNI, a gente implantou a EaD também que é uma ampliação do acesso ao ensino superior. Então, é esse o lugar da EaD, ampliação do acesso ao ensino superior (PARTICIPANTE B, 13/11/2017).

O excerto em destaque demonstra que, em decorrência das pressões exercidas pelo campo, a universidade adequa seu planejamento não apenas para evitar limitações, mas para se manter. Com isso, reforça-se a ideia de que, em virtude da Reforma da Educação Superior, ocorrida na década de 1990, a universidade teve que se inserir na lógica capitalista, passando a competir por recursos para sustentar suas atividades.