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CAPÍTULO 5 O “JEITO UFSCAR DE FAZER EAD”: NOVOS ARRANJOS ESTRUTURAIS NA

5.7 Articulação com os polos de apoio presencial

O polo consiste numa “unidade acadêmica que dá apoio pedagógico, tecnológico e administrativo às atividades de ensino e de aprendizagem dos cursos e dos programas ofertados a distância por instituições de ensino superior” (BRASIL, 2013a, p. 16). Nesse sentido, é um importante ator para a oferta dos cursos a distância no âmbito do Sistema UAB ao oferecer as condições de infraestrutura física e tecnológica para que o estudante tenha acesso à mediação didático-pedagógica e possa estudar a distância com qualidade.

Para tanto, seus ambientes devem contar com boa iluminação, ventilação, climatização e mobiliários adequados às finalidades propostas. Segundo o Guia de Informações Básicas sobre o Sistema UAB (BRASIL, 2013a), o polo deve apresentar a seguinte estrutura física, tecnológica e de pessoal para ser bem avaliado e habilitado para a oferta de cursos a distância:

 Infraestrutura física e tecnológica:

a) Ambientes administrativos: sala para coordenação do polo (obrigatória); sala para secretaria (obrigatória) e sala para reunião;

b) Ambientes acadêmicos: salas multiuso, ou seja, para tutoria, aulas, realização de provas, apresentação de vídeos e webconferências, entre outras atividades (no mínimo uma sala é obrigatória); laboratórios pedagógicos (específicos para cada curso);

c) Ambientes de apoio: laboratório próprio de informática, conectado à internet e com instalações elétricas adequadas (obrigatório); biblioteca com espaço para estudo (obrigatório);

d) Ambientes gerais: banheiros com acessibilidade.

 Equipe de trabalho: coordenador de polo, tutores presenciais, secretário ou apoio administrativo de polo, técnicos de informática, biblioteconomista ou auxiliar de biblioteca, segurança, serviços gerais para limpeza e manutenção e, quando for o caso, técnicos de laboratório pedagógico.

Quanto às relações institucionais com os polos de apoio presencial, a pesquisa constatou que a UFSCar estabeleceu uma lista de responsabilidades, sistematizadas no Quadro 5.19, que eram acordadas com os municípios e/ou estados por ocasião das assinaturas do Termo de Cooperação Técnica para a oferta dos cursos UAB-UFSCar. Esse Termo, desenvolvido pela UFSCar, serviu como referência para que a SEED/MEC, à época, criasse o Acordo de Cooperação Técnica (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, 2011g).

Quadro 5.19 – Responsabilidades do polo de apoio presencial parceiro da UFSCar na oferta dos cursos a distância

 Implantar, implementar e/ou aprimorar os Polos de Apoio Presencial em seu município, conforme estabelecido pela UFSCar;

 Dar visibilidade ao Polo de Apoio Presencial, por intermédio de placas, iluminação apropriada e segurança local para acesso dos alunos matriculados junto aos Cursos da UAB-UFSCar e da equipe técnica que trabalhará no local;

 Assegurar a instalação do Polo em lugar de fácil acesso, garantindo ao aluno a participação nas atividades presenciais do curso, tais como avaliações e outras atividades a serem realizadas;

 Assegurar a instalação e adequada manutenção dos equipamentos e serviços de comunicação, tais como Internet, telefonia, fax e correio nos Polos de Apoio Presencial de seus municípios;

 Prover a biblioteca do Polo com exemplares das obras indicadas pela UFSCar e que constituem o referencial bibliográfico necessário às atividades complementares de estudo dos alunos;

 Proporcionar e manter a infraestrutura básica, tais como terminais de computador e software que atendam as especificações técnicas adequadas para instalação e ativação dos equipamentos e serviços e biblioteca presencial, contendo a bibliografia básica dos cursos, providenciando sua atualização sempre que necessário;

 Garantir a aquisição e a manutenção dos materiais necessários, através de recursos próprios ou parcerias devidamente formalizadas, para compor os laboratórios específicos dos cursos;

 Adequar as instalações físicas do imóvel onde será instalado o Polo de Apoio Presencial para assegurar a acessibilidade e utilização por pessoas com necessidades especiais;

 Garantir que esteja prevista no orçamento do município a destinação de verbas para manutenção do Polo durante o período de oferta do curso de graduação da UFSCar;

 Manter a infraestrutura física (prédios, biblioteca, salas), lógica (sistemas computacionais, rede de comunicação) e de recursos humanos (coordenação, tutoria e outros que pertencerem ao quadro) em pleno funcionamento de acordo com agenda estabelecida no início do curso;

 Manter os laboratórios de informática em pleno funcionamento (manutenção contínua dos computadores, com rápida substituição de partes do computador quando necessário como fontes queimadas, mouses e teclados defeituosos, placas com problemas, etc.);

 Manter os laboratórios dos cursos de Engenharia Ambiental e Tecnologia SucroAlcooleira em perfeito estado de utilização (substituição de peças quebradas, reposição de material de consumo, etc.). Fonte: Universidade Federal de São Carlos (2013a, p. 189-191).

A observação dos itens do Quadro 5.19 mostra que as responsabilidades estabelecidas pela universidade estão de acordo com o que é preconizado pelo Guia de Informações Básicas sobre o Sistema UAB (BRASIL, 2013a) para a organização da infraestrutura física e tecnológica dos polos de apoio presencial.

Considera-se relevante apontar, contudo, a fala do Participante A sobre a frequência dos alunos nos polos presenciais:

a gente tem um perfil de aluno que morava, do polo, muito longe. No edital se eu não me engano era orientado que ele ficasse no máximo a 100 km do polo. 100 km do polo os nossos alunos vão fazer prova e encontro presencial e acabou. Ele não frequenta o polo para estudar. Teve polo que ele insistiu para montar grupo de estudo. Não, os alunos não usufruem do polo dessa forma e eles moram há muito mais do que 100 km de distância uma boa parte deles. Teve um grupo, se eu não me engano G5 em Jales, entraram acho que 30 alunos não lembro direito, era menos que 50, e eu perguntei “quantos aqui moram em Jales?”. Ninguém. Morava na redondeza, Fernandópolis, Votuporanga, mas em Jales ninguém (PARTICIPANTE A, 13/12/2017).

Das palavras do Participante A é possível inferir que, mesmo apresentando a infraestrutura material, tecnológica e de pessoal que favoreça os estudos dos cursistas a distância, o polo não é aproveitado integralmente, pois muitos estudantes residem em cidades distantes e, portanto, por condições econômicas, de trabalho ou mesmo pela logística, não usufruem do espaço para além das avaliações presenciais obrigatórias.

Isto posto, para aproximar-se dos polos de apoio presencial e torná-los efetivamente ambientes acadêmicos para os estudantes dos cursos a distância, a gestão da EaD na UFSCar criou um ambiente virtual específico para a interação com os coordenadores dos polos constituindo, assim, uma comunidade virtual de aprendizagem com vistas à socialização das dificuldades enfrentadas e a busca de soluções em conjunto (ABIB; ARAÚJO; ABREU-E-LIMA, 2011). Na Figura 5.18, abaixo, está representada a estrutura organizacional para o acompanhamento dos alunos nos polos de apoio presencial parceiros da SEaD/UFSCar.

Figura 5.18 – Estrutura organizacional básica do sistema de acompanhamento direto ao aluno da UAB- UFSCar

Fonte: Universidade Federal de São Carlos (2009a, p. 112).

Vale mencionar que, embora os polos passem por avaliações da CAPES quanto ao atendimento da infraestrutura mínima para a oferta dos cursos a distância, a pesquisa levantou que a SEaD, por meio da CORI, realizou visitas para avaliar as condições tanto

físicas dos locais quanto de funcionamento dos equipamentos, laboratórios e bibliotecas (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, 2013a). O Participante P dá maiores detalhes sobre isso no seguinte excerto:

Então os polos, por exemplo, quando desejavam abrir algum curso, né, eles entravam em contato com a CORI, aí a CORI ia avaliar esse polo. Na verdade fiz muito disso, quer dizer, avaliar o próprio polo. Não só tinha essa avaliação da parte da nossa, da CORI, como também, e principalmente, a avaliação da CAPES. Então a CAPES ia nos polos, até hoje eles vão ainda no polo, mas diminuiu um pouquinho, [...] para avaliar se o polo tinha condições de estar abrigando cursos ali da UAB. [...] Quando falava polo, falava também do tutor presencial, estava envolvido os tutores, né [...]. Também no processo de cessão de equipamentos que, por exemplo, a CAPES financiava os equipamentos que vinham para os polos e aí tinha que ser via universidade, então a universidade praticamente fornecia sob cessão, quer dizer, depois do uso tem que devolver o equipamento, mas ficava dentro dos polos, então a gente também tinha que ter esse controle porque o patrimônio desses equipamentos estava ligado à universidade, né? E ainda isso ocorre, ainda existe esse processo, né? (PARTICIPANTE P, 26/02/2018).

No segundo semestre de 2011, a SEaD deu início a atividades de consultoria nos polos com o objetivo de fazer um diagnóstico das condições oferecidas e propor metas de qualidade. Para tanto, constituiu três equipes para atuar em três frentes de trabalho. A Equipe Técnica Especializada em Questões Administrativas (ETAP) era responsável por auxiliar na melhoria da gestão de polo; a Equipe Técnica Especializada em Questões Pedagógicas (ETePP) atuava na melhoria da gestão pedagógica dos cursos a distância e; a Equipe Qualidade de Polos (EQuaP) era voltada a apoiar logisticamente as ações das demais equipes (ABIB; ARAÚJO; ABREU-E-LIMA, 2011). Contudo, devido às mudanças nos parâmetros de financiamento dos cursos, o trabalho de consultoria foi descontinuado a partir de 2015 (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS 2015a, p. 85-86)

No que diz respeito aos polos, considera-se relevante mencionar, segundo a análise da ata da 20ª reunião do Conselho de Graduação, realizada em nove de maio de 2011 (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, 2011d), que, naquele ano, a CAPES, por meio de sua Diretoria de Educação a Distância, recomendou a não oferta de cursos do Sistema UAB em polos externos ao estado de origem da instituição. Sobre isso, Costa (2007, p. 15) esclarece que, as diretrizes do Sistema UAB, desde o início de sua implantação, “induziam a participação de instituições em uma zona de proximidade geográfica, de modo que o deslocamento de docentes e tutores ao polo pudesse ocorrer por via terrestre.”. No entanto, como poucos polos foram selecionados no Edital UAB1, a orientação não foi

considerada rigidamente, o que explica o fato da UFSCar manter polos em municípios muito distantes de sua sede, conforme apontado no segundo capítulo.

Acerca das relações com os polos de apoio presencial contata-se, então, que a UFSCar buscou atuar com proximidade, inclusive dando assessoria para sua gestão com vistas a torná-lo efetivamente um espaço acadêmico de estudo para os cursistas, o que é preconizado entre os indicadores de institucionalização da modalidade, segundo o (BRASIL, 2013a). No entanto, de acordo com o que será discutido no sexto capítulo, isso não foi suficiente para impedir que problemas relacionados à gestão do polo interferissem no desenvolvimento dos cursos, configurando-o num dos elementos indicados pelos participantes da investigação como limitadores à institucionalização da EaD.

Dito isso, na seção seguinte aborda-se aspectos relacionados ao financiamento dos cursos de graduação a distância ofertados pela UFSCar em parceria com o Sistema UAB.