• Nenhum resultado encontrado

A POLÍTICA EDUCACIONAL NO MUNICÍPIO DE GOIANA/PE

6 A GESTÃO DA EDUCAÇÃO NO MUNICÍPIO DE GOIANA

6.1 A POLÍTICA EDUCACIONAL NO MUNICÍPIO DE GOIANA/PE

A política educacional no município de Goiana é estabelecida tendo o lastro de documentos legais como a Lei Municipal nº 1998, de 13 de outubro 2006, que “dispõe sobre a criação e organização do sistema de ensino de Goiana-PE, e dá outras providências” (GOIANA, 2006). A instituição do “Sistema Municipal de Ensino Municipal” acompanha a diretriz da Lei de Diretrizes de Bases da Educação sobre a opção de construção de sistema de ensino próprio.

A Lei Municipal citada acima, registra que os órgãos do Sistema Municipal de Ensino compreendem a Secretaria Municipal de Educação, como órgão executivo das políticas de educação básica. A Secretaria é assessorada, na execução da política de educação no município, pelo Conselho Municipal de Educação de Goiana (CMEG), que exerce a função normativa, das escolas da rede municipal de educação básica e das unidades escolares da educação infantil privada.

Como instância do Sistema Municipal de Educação, a Secretaria, que foi criada anteriormente, pela Lei Municipal nº 1.985, de 30 de abril de 1986, tem objetivos voltados para elaboração, planejamento, coordenação, execução, supervisão e avaliação de políticas públicas de educação do munícipio. A participação da Secretaria abrange de acordo com a lei citada, uma atuação que excede o caráter de órgão executivo. Dessa forma, a participação da Secretaria na construção do Plano Municipal de Educação, atende às finalidades, estabelecidas pela Lei citada acima, para organização e administração do Sistema Municipal de Educação.

No Regimento Interno do município, o organograma da estrutura organizacional da Secretaria, apresenta as instâncias, competências e respectivas relações hierárquicas. A seguir, na figura 3, reproduzimos a imagem do organograma da Secretaria registrada no regimento:

Figura 3 - Organograma da Secretaria de Educação do Município de Goiana

A estrutura organizativa da Secretaria demonstra uma visão seccionada, com distribuição de competências, que pode ser entendida como uma orientação descentralizadora. Contudo, a representação aponta para uma orientação que tende mais à verticalização. O planejamento é disposto na seção denominada de Assessoria de Planejamento e Avaliação, seção que tem a competência de construir o planejamento e a qual compete a “formulação de finalidades; objetivos e diretrizes das políticas educacionais” (GOIANA, 2008, p.12). Contudo, a articulação e a integração entre diversas coordenadorias mencionadas, não é explicitada.

A presença de outras instâncias é registrada em documento produzido pelo Secretário de Educação do Município:

Conselhos de Controle Social, no âmbito da Alimentação Escolar (CAE), do Transporte Escolar e do Fundo Municipal de Controle e Acompanhamento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB); um Fórum Municipal de Educação e 42 (quarenta e duas) Escolas nas Etapas e Modalidades de sua competência. (REIS FILHO, 2014, não paginado).

As instâncias apresentadas não estão evidenciadas no organograma apresentado na figura 3, porém tramita na Câmara Municipal de Goiana projeto de Lei que apresenta modificações à atual estrutura organizativa. No depoimento abaixo a entrevistada evidencia a tramitação e a necessidade de coerência com o contexto de mudanças locais:

A Câmara recebeu um projeto de lei, onde deve tá alterando, pois há muito tempo que existe esta estrutura e deixa ainda muito a desejar diante do crescimento, tanto da cidade, quanto dos programas e projetos que ultimamente tem sido feito convênios [...] Precisa e muito de pessoal pra se ter condição de trabalhar. (Vereador da Câmara Municipal de Goiana 2013-).

Na concepção apresentada, a visão de reconstrução da estrutura organizativa da Secretaria, passa pelo entendimento de atualização voltada para a realidade do crescimento de setores produtivos, como também da necessidade de aumento do quadro de pessoal para desenvolvimento de atividades relacionadas à gestão.

A construção do sistema é ressaltada como fortalecimento da perspectiva local. Verificamos isso na ênfase à presença do Conselho Municipal de Educação junto à Secretaria na organização da gestão da educação. Sobre esse aspecto o depoente destaca:

Nós temos em Goiana um Conselho. E este Conselho participa da elaboração da política educacional. E sempre que possível, a gente tá sendo chamado. A gente tem uma interação na construção dessa política. Não chegamos ao desejável [...], mas a gente tem participação nessa política. (Presidente do Sindicato dos Professores do Município de Goiana 2013-)

A instituição do CMEG, como órgão que assessora a Secretaria na política educativa, segue um objetivo de integração com o estabelecimento do Sistema de ensino local. O Conselho foi criado pela Lei Municipal de nº 1.138 de 1969. Contudo, recebem modificações das leis municipais, nº 1.785 de 1996, Lei nº 1997 de 2006 e da Lei 2021 de 2007. As modificações que sucedem a criação do CMEG, nos anos de 1996, 2006 e 2007, dispõem sobre a competência e funcionamento de caráter normativo, deliberativo, consultivo e fiscalizador do órgão. A integração entre o Conselho e a instituição do sistema de ensino no município, representa a composição de uma política local, enfatizada pela necessidade de construção de diretrizes legais do município. Esse caráter normativo do Conselho é registado pela entrevistada:

[...] o conselho tem feito resoluções para que a educação reforce seus objetivos e busque uma educação de qualidade. Nós temos a resolução da EJA, a resolução dos anos iniciais, do nono ano, que foi inserido no município, através de resolução do Conselho e temos também uma resolução para a educação infantil [...]. Tem a resolução da educação infantil onde se faz adequações necessárias para que as crianças tenham seu espaço adequado, na mesinha onde senta, no refeitório. Então a gente tem preparado resoluções pra que o munícipio seja auxiliado por essas resoluções, para que tenha seus compromissos cumpridos. (Conselheira Municipal de Educação do Município de Goiana 2011-).

A instituição do conselho reforça a atuação desse órgão no assessoramento e no alcance de objetivos educativos voltados para a qualidade da educação na visão apresentada acima. A opção de construção do sistema próprio reforça o significado da política educativa local, em relação à participação e à autoridade para legislar do governo municipal. Essa compreensão permeia o entendimento sobre a atuação do Conselho e como isso recai em responsabilidades da gestão local. A discussão sobre a autonomia local para legislar e atender assim a necessidades mais específicas da dinâmica do município é registrada no depoimento abaixo:

[...] a constituição de 88, elevou aos municípios a digamos a autoridade de criar seu sistema. Goiana é sistema desde 2004. Então nós optamos por organizar o nosso sistema. Aqueles municípios que não criaram seus sistemas, ou não organizaram seus sistemas, ainda absorvem as diretrizes do

Estado. (Presidente do Sindicato dos Professores do Município de Goiana 2013-).

Outro aspecto da política educativa é a presença de Conselhos de Controle social, que, no depoimento da Conselheira, auxiliariam na organização administrativa e têm rebatimentos na captação de recursos para financiamento de políticas públicas locais:

Além do Conselho municipal que é um dos órgãos principais dentro do município, por ser um sistema, ele é normativo, ele deliberativo, fiscalizador, mas também tem o Conselho do FUNDEB, o Conselho do CAE da Merenda, temos o Fórum municipal, que é integrado com várias pessoas da sociedade civil também. Temos o PAC, que é uma parceria do Governo Federal com o município, temos uma comissão do PAR, onde nós nos reunimos para fazer uma avaliação das propostas para saber se foram atendidas, se não foram atendidas, nós temos dado retorno para o Governo Federal, e temos sido atendidos com creches, com escolas, com reformas, com mobiliários, chegaram os aparelhos de ar-condicionado para serem instalados nas escolas. E eu estou muito feliz! As quadras, as obras estão finalizando e tem outras que já estão iniciando. (Conselheira Municipal de Educação do Município de Goiana 2011-).

O caráter normativo é enfatizado nos depoimentos, em correlação com a instituição do sistema de ensino próprio. Por outro lado, o caráter sistêmico de funcionamento, atribuído a um sistema de ensino, demonstra necessidade de consolidação, conforme é registrado no trecho da entrevista abaixo:

Eu não posso dizer ainda que é sistema, por que sistema significa uma articulação. Uma articulação em prol de alguma coisa. Em prol de uma finalidade. E a gente não nota que exista essa articulação. Existe uma diretriz que os municípios ou seguem, ou não seguem. Aqueles que seguem têm os melhores resultados, ganham os investimentos, os recursos. E aqueles que não seguem ficam à margem e não há nada, entendeu? Então um sistema que é uma coisa concatenada, organizada, definido quais são os papeis. Este é o grande debate nacional: o Regime de colaboração, discussão do que é sistema, e qual é a responsabilidade dos entes: municípios, Estados e União, nessa questão da execução do sistema, tornar o sistema vivo, dinâmico. E que cumpra os objetivos para o qual foi criado. (Presidente do Sindicato dos Professores do Município de Goiana 2013-).

A subordinação entre as esferas governamentais tem sido compreendida na fala anterior vínculada à condição de recebimento de recursos. O depoimento enfatiza que há lacunas entre o que é veiculado ou compreendido em relação à constituição de um sistema e o que ocorre em gestões locais. Essa compreensão aponta para a ocorrência de incorporação de sistemas de controles padronizados que vêm junto com recursos, condicionados pelas

políticas de financiamento. Como tal, as formas estabelecidas dessa natureza reforçam a subordinação e a existência de uma orientação central que permeia a gestão local produzindo também limites à autonomia.

A fundamentação teórica aponta para o entendimento de que a gestão e as políticas públicas de educação devem ser compreendidas para além das concepções e processos, como afirma Dourado (2007). Além disso devem ser incluídas as regulações subjacentes, que implicam na materialização dessa política. Dessa maneira, o entendimento de Sarmento (2005) de que a descentralização no nível municipal é alvo de divergências entre políticos e educadores, enfatiza dimensões da concepção e da prática de estabelecimento de uma política. Como observamos, quando o depoente registra que a interação entre a Secretaria e instâncias como Conselho Municipal de Educação ainda não chegou ao desejado para a construção da Política de Educação Municipal, evidencia as divergências entre atores dessa política.

A participação embora seja enfatizada, não atende ainda a uma perspectiva de construção descentralizada, em que os papeis de Conselho e Secretaria possam exercer funções conjuntas para a política local. Podemos observar no relato abaixo que é algo requerido, mas que não se consolidou na prática local:

[...] A gente já discutiu sobre isto, tem até alguns documentos. Muitas vezes as políticas são implantadas no improviso, não existe um planejamento, um espaço para discussão e o pior, não existe uma análise, uma avaliação, se aquilo que foi implantado deu certo, precisa melhorar em que? Então não existe esse retorno daquilo que foi implantado. (Presidente do Sindicato dos Professores do Município de Goiana 2013-).

O relato demonstra que a construção política não tem alcançado uma perspectiva de participação desejada, a qual apresente planejamento participativo, espaços de discussão e uma política de avaliação. O entendimento é que a gestão local ainda não consolidou espaços de participação política e esse quadro esclarece uma diretriz política centralizada, que por sua vez, desfavorece espaços de fortalecimento de sujeitos políticos.

Nos relatos que coletamos, a participação normativa do Conselho é ressaltada. O que demonstra uma dinâmica de ações voltadas para a formulação de instrumentos legais da gestão municipal. Por outro lado, a dimensão de mediação entre sociedade civil e gestão governamental, não recebe o mesmo destaque nos relatos.

Outra questão apontada no relato acima é a construção política de um planejamento solidificado que represente conhecimento da realidade local e tenha objetivo de promover

avanços de qualidade e que não tenha um caráter transitório relacionado à imprevisibilidade. Esse aspecto é fortalecido por um processo de avaliação de políticas, que de acordo com o relato exposto inexiste.

Outra dimensão da construção da política educativa no município é a transparência e o uso racionalizado dos recursos. No trecho da entrevista que reproduzimos abaixo é explicitado que a participação na construção da política educacional no município não favorece a proposição de instâncias como, por exemplo, o Conselho, no uso de recursos para as politicas públicas. E, por outro lado, a própria transparência desses recursos fica a desejar:

E o outro lado é a questão do investimento, do dinheiro, do capital que é investido. Isso fica ainda muito a desejar, por que a gente não tem conhecimento pleno do capital, o que a gente poderia fazer mais barato, se realmente aquele foi um investimento necessário para desenvolver aquela política. (Presidente do Sindicato dos Professores do Município de Goiana 2013-).

O depoimento citado faz menção à constituição de um espaço participativo, de fortalecimento do poder decisório para as instâncias como o Conselho Municipal de Educação. Apesar de reconhecer que há uma interação na construção da política de educação local o depoente declara que faltam elementos que favoreçam uma gestão descentralizada. Quando questionado sobre o que seria desejável à construção de políticas de educação local, o depoente responde:

Então quando eu falo do desejável, ele tá nessa balança aí, entre o planejamento, deixar o improviso mais de lado e a questão da plenitude na deliberação dos investimentos para que a gente soubesse, para que a gente discutisse esses investimentos. Então para a gente chegar ao desejável a gente precisa tomar conta dessas duas ações. (Presidente do Sindicato dos Professores do Município de Goiana 2013-).

Os dois aspectos indicados na citação acima, a decisão sobre os investimentos e a consolidação de um planejamento local, implicam na construção de uma política que tem o objetivo de ser participativa. O improviso ao qual se refere o entrevistado aponta para a ausência de planejamento que caracteriza a descontinuidade de políticas.

A gestão municipal registra que instituiu a realização de conferências municipais, com o objetivo de promover espaços de participação social. De acordo com o Secretário de Educação do município:

No ano passado a Gestão instituiu, por Decreto Municipal, o Fórum Municipal de Educação, responsável pela organização das Conferências Municipais de Educação e pela Coordenação do Processo de Reformulação do Plano Municipal de Educação (PME). (REIS FILHO, 2014, não paginado).

O entendimento sobre a constituição de Fóruns de discussão é registrado pelo Secretário em entrevista à União Nacional dos Dirigentes Municipais (UNDIME):

O Fórum amplia a participação e traz entidades e grupos que não estão contempladas na composição do CME e em outros órgãos de controle essenciais na área educacional, como o conselho do Fundeb [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação] e o Conselho de Alimentação Escolar (REIS FILHO, 2014, não paginado).

A participação apontada pelo Secretário é uma oportunidade para a inclusão de grupos locais que influenciam a construção do plano municipal e o estabelecimento de propostas voltadas para a realidade local. A visão de participação contida nos Fóruns Municipais de Educação é de articulação entre as instâncias executivas, legislativa e sociedade:

É importante o Fórum se instituir como órgão sistêmico e articulador das políticas educacionais definidas no município. O Plano Municipal de Educação é um instrumento desta articulação e o Fórum deve fazer a interlocução entre o poder executivo, o poder legislativo e a sociedade por meio das metas e diretrizes definidas no Plano. (REIS FILHO, 2014, não paginado).

Os Fóruns, na visão registrada por Reis Filho (2014), promovem uma construção participativa, agregando espaço de participação e planejamento. O entendimento não é sobreposição da dimensão do planejamento em relação a espaços de participação, mas de construção conjunta. Contudo, o que observamos é que o próprio processo de planejamento não evidencia uma agenda de participação.

A fala de outro entrevistado menciona a experiência dos Fóruns de discussão e registra a dinâmica vivida, mas reforça que existe uma necessidade de se fomentar as organizações dos Fóruns Municipais de Educação:

Nós temos atas, nós fazemos debates sobre os temas discutidos. Há a participação do segmento de pais de estudantes, de gestores, de professores, dos Conselhos. Nas reuniões temos uma pauta e aquela pauta ela pode até se estender, mas a gente busca o consenso e se esse Fórum for fomentado mais

vezes a gente consegue atingir objetivo de participação. (Conselheira Municipal de Educação do Município de Goiana 2011-).

A experiência de realização dos Fóruns Municipais de Educação, na visão da entrevistada, é positiva quanto à abertura de participação política. No relato verificamos que a Conselheira entende que esse é um movimento de “empoderamento” de representações participantes, pois promove a construção de uma política educativa de forma conjunta.

O interesse em estabelecer esses espaços faz parte do entendimento da atual gestão, como podemos perceber no trecho abaixo:

Existe uma clara intenção do Secretário em ativar o fórum, mas o fórum é uma experiência aqui no nosso município que não deu bons frutos. A comunidade para atuar em fórum é difícil. Mas existe uma boa vontade da Secretaria em relação aos fóruns. (Presidente do Sindicato dos Professores do Município de Goiana 2013-).

A dimensão de participação social na visão do entrevistado não constitui uma experiência efetivada no município. Além disso, uma agenda de realização de Fóruns ainda não foi estabelecida.

O sistema de ensino compreende “uma ordenação articulada dos vários elementos necessários à consecução dos objetivos educacionais preconizados para a população à qual se destina”, como afirma Saviani (1999, p. 120). Dessa maneira, a constituição de espaços de participação é uma atividade da ação sistematizada. Saviani reforça o debate entre a ação sistêmica e objetivos educacionais, apontando que o resultado da ação sistematizada é o planejamento.

O plano de educação é, nesse quadro, a materialização dos esforços empreendidos no planejamento da política educacional. Nesse aspecto, de acordo com a concepção teorica explicitada acima, a constituição de espaços de participação, a colaboração entre os entes, a racionalidade do uso dos recursos são, entre outros, frutos de uma ação sistematizada.

Assim, verificamos que o município empreendeu a construção da legislação educacional, de acordo com a orientação legal constante na Lei de Diretrizes e Bases, mas a legitimação de espaços de participação, que compreendam uma visão de gestão descentralizada não é evidenciada.

O planejamento da política educacional vislumbrada na construção do Plano de Educação Municipal, são sinais da formalização do planejamento da política de educação local. Contudo, o cenário de mudanças ocasionada pelo crescimento industrial promove novas

questões para a política de educação que não estavam evidenciadas na construção do Plano. Como exemplo, o aumento do número de matrículas apontado pelos entrevistados, é um impasse entre o planejamento estabelecido e o quadro municipal atual. Dessa forma, a política de educação tem desafios potencializados pelo cenário de crescimento industrial e o Plano Municipal de Educação também demonstra necessidade de atualização relacionado ao cenário de crescimento.