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6 A GESTÃO DA EDUCAÇÃO NO MUNICÍPIO DE GOIANA

6.5 FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO

A política de financiamento da educação, a partir do respaldo legal disposto no artigo 212 da Constituição Federal de 1988, fixa percentual à União e aos entes, destinados à manutenção e desenvolvimento do ensino. A construção legal está atrelada à concepção da descentralização e à divisão de responsabilidade, no contexto da democratização política.

O financiamento da educação, nesse quadro político, evidencia a autonomia dos entes federados e repercute sobre a descentralização financeira, ou seja, a responsabilidade que cada instância de gestão tem com recursos financeiros, necessários às políticas públicas locais.

Em consideração a esse entendimento de autonomia, evidencia-se a discussão sobre o sentido de descentralização e gestão sistêmica que restringe apoio técnico e financeiro. A crítica se fortalece tomando como referência o contexto de desigualdades regionais, em que as instâncias locais lidam com a insuficiência de recursos.

Outros mecanismos de distribuição de recursos são instituídos na política de financiamento da educação, como FUNDEF em 1996 e FUNDEB em 2006. A presença desses fundos em momentos diferentes consolida a previsão de recursos destinados a políticas de educação, embora sejam apontadas exiguidades de tais recursos.

A autonomia concebida, permeada pela insuficiência de recursos para alguns municípios, influencia o planejamento político da gestão da educação municipal. Percebemos que uma das dimensões que fortalece a dependência é a ausência de gestão sistêmica, inexistência de regulamentação de mecanismos de cooperação e a exiguidade de recursos de alguns municípios.

Outra dimensão do financiamento de políticas públicas é a gestão pública de recursos e o controle social. A participação popular e a construção de espaços que promovam o acompanhamento da gestão, o quadro econômico local, o planejamento político da gestão municipal, instrumentos legais, são dimensões, entre outras, que permeiam o financiamento de políticas públicas. Dessa forma, o financiamento de políticas públicas deve ser considerado além dos recursos que efetivamente são destinados. Esse processo envolve, sobretudo, gestão pública, controle social dos recursos, entre outras questões.

Considerar o financiamento de políticas públicas de maneira integrada envolve o entendimento de que a construção de política pública congrega uma amplitude de temas, que embasam os objetivos de um programa. Sobre esse aspecto, o documento “Diagnóstico para Gestão de Políticas e Programas Sociais em Âmbito Municipal”, publicação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, registra que:

Para desenvolver programas no campo da Educação Básica, por exemplo, é preciso conhecer não apenas as condições de acesso à escola, a infraestrutura escolar, o desempenho dos alunos, mas também aspectos relacionados às condições de vida dos estudantes como as condições de moradias, nível de pobreza e rendimento familiar, acesso a serviços de saúde, escolaridade dos pais, fatores esses que certamente podem afetar ou potencializar as ações programáticas específicas. (BRASIL, 2008, p. 1).

O entendimento é que a elaboração de um diagnóstico, a partir da integração de temas, fortalece o caráter propositivo na construção de políticas públicas. A sistematização de dados é compreendida como fonte que retrata aspectos da realidade e fornece subsídios para o planejamento público.

Em relação ao financiamento da educação no município de Goiana, o PME aborda fontes de recursos, objetivos, metas e ações. Contudo, o documento não relaciona a os recursos, dados de diagnóstico e objetivo das ações. Esse quadro demonstra desarticulação entre planejamento e execução políticas. A desarticulação é apontada no relato do Secretário de Educação Municipal ao se referir à construção do PME, ou seja, a construção do Plano ocorre fora do contexto de crescimento de setores produtivos. A desarticulação tem, nesse quadro, o reforço das lacunas da gestão da educação local.

Sobre os recursos para o financiamento das políticas publicas de educação Reis Filho menciona:

O investimento em Educação passa, basicamente, pela vinculação existente, que expressa à aplicação de, no mínimo, 25% dos recursos provenientes de impostos arrecadados pelo Município e das transferências de impostos realizadas pelo estado e pela União. (REIS FILHO, 2014, não paginado).

Em relação ao quadro de crescimento industrial no município e a relação com os recursos disponíveis para a educação nesse contexto, a análise feita pelo secretário registra que:

A fixação de Setores Produtivos em uma determinada região, principalmente no Norte e Nordeste do País, é acompanhada de benefícios fiscais por um período razoável e a contra partida que as Empresas se submetem, quase sempre não responde às necessidades e às demandas sociais provenientes do aumento populacional que exige, de imediato, prestação de serviços públicos na área de Educação, Saúde, Moradia, Segurança e Infraestrutura Urbana. (REIS FILHO, 2014, não paginado).

A análise enfatiza os impasses entre o estabelecimento das empresas e as mudanças no quadro de arrecadação. Reis Filho reconhece a otimização do quadro econômico, mas, por outro lado, destaca que necessidades de investimento social repercutem rapidamente para a gestão municipal. Sobre esse aspecto Reis Filho menciona:

Observa-se, portanto, uma grande distância entre o que o Município arrecada e a necessidade de gastos e investimentos, diante da nova malha social que, nessa situação, se estabelece na Cidade. E este novo contexto econômico e social repercute nos indicadores educacionais que retratam o acesso à Educação, levando o Município a ter que aumentar a oferta e consequentemente ampliar o seu quadro de pessoal para responder à demanda, sem contar com recursos novos para isto. É, portanto, um grande desafio que leva o Gestor a arrochos fiscais sucessivos na perspectiva de dias melhores a médio e longo prazo. (REIS FILHO, 2014, não paginado).

No relato a ênfase é dada às respostas que o município precisa construir diante, por exemplo, do crescimento populacional. Carece de um novo quadro de recursos, em função de tais respostas. Por outro lado, questões estruturais repercutem de maneira mais incidente sobre a gestão dos recursos.

A ausência de autonomia financeira da Secretaria de Educação no Município é apontada em outra análise, em que se evidencia que a Secretaria de Educação, tem os recursos administrados pela Secretaria de Administração e Finanças:

Assim, a questão de fundo que parece envolver a precariedade da infraestrutura e a não autonomia da Secretaria Municipal de Educação na gestão financeira dos recursos. Sendo este, possivelmente, um aspecto que tem dificultado a execução das ações, com perda de agilidade nas definições e implementação das ações necessárias. (HEMOBRAS; FIOCRUZ, 2013, p. 103).

O estudo explicita impasses na gestão da educação, que envolvem questões estruturais. O contexto de ausência de autonomia citado, favorece a desarticulação, a descontinuidade de políticas e reforça mecanismos de centralização e de gestão burocrática.

O quadro de financiamento também é alterado pela presença de novos atores que produzem, nesse cenário de crescimento industrial, formas de articulação que incidem sobre a gestão da educação. Reis Filho menciona que:

A Secretaria de Educação e Inovação visa criar parcerias com os Setores Produtivos na perspectiva de apoio estrutural das Escolas Públicas Municipais, em particular, das Creches construídas com o apoio do Governo federal. (REIS FILHO, 2014, não paginado).

O apoio apontado no relato é citado na entrevista da página 97, em que a parceria para atender a questões de estrutura física é registrada pela depoente. No cenário atual Reis Filho (2014) também aponta a presença de convênios com Organizações não Governamentais, para a oferta de Educação Infantil.

O financiamento de políticas públicas de educação local é fortemente influenciado pela ausência de orientação do Plano Municipal de Educação e esse desajuste se intensifica no cenário de crescimento de setores produtivos. A necessidade de recursos para atender às demandas relacionadas ao crescimento populacional, por exemplo, aponta para a necessidade de instrumentos de gestão que antes não estavam evidenciados. Sobre essa discussão, Reis Filho registra:

É importante que em sendo redefinido o PME, em 2015, ele seja referência para a definição e/ou atualização dos importantes instrumentos de Gestão Municipal (PPA, LDO e LOA)10. Com isso, estaremos oferecendo as condições para que as metas sejam atingidas. (REIS FILHO, 2014, não paginado).

Os comentários de Reis Filho esclarecem que a aquisição de recursos em curto prazo é necessária e que a resposta da gestão local para a demanda social por serviços de saúde, educação, segurança, entre outros, não dispõe de instrumentos no momento atual para atendimento efetivo, seja no que se refere ao Plano Municipal de Educação, seja em relação a diretrizes orçamentárias que consolidem o cumprimento de metas.

6.6 INSTRUMENTOS LEGAIS DA EDUCAÇÃO NO MUNICÍPIO DE GOIANA: LEIS E