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Desafios do crescimento industrial para a gestão da educação em Goiana/PE

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO PÚBLICA PARA O DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE

KATIA MARIA TAVARES DA SILVA

DESAFIOS DO CRESCIMENTO INDUSTRIAL PARA A GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM GOIANA/PE

RECIFE 2015

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KATIA MARIA TAVARES DA SILVA

DESAFIOS DO CRESCIMENTO INDUSTRIAL PARA A GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM GOIANA/PE

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Gestão Pública Para Desenvolvimento do Nordeste, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Gestão Pública.

Orientador: Prof. Dr. Denilson Bezerra Marques

RECIFE 2015

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Dissertação de Mestrado apresentada por Katia Maria Tavares da Silva ao Curso de Mestrado Profissional em Gestão Pública para o Desenvolvimento do Nordeste, da Universidade Fedederal de Pernambuco, sob o título: “Desafios do crescimento industrial para a Gestão da Educação em Goiania/PE” orientada pelo professor Denilson Bezerra Marques e aporvada pela Banca Examinadora formada pelos professores doutores:

Prof. Dr. Denilson Bezerra Marques Presidente

Profa. Dra. Cátia Wanderley Lubambo Examinadora Interna

Prof. Dr. Edson Francisco de Andrade Examinador Externo

Recife, 26 de fevereiro de 2015.

Profa. Dra. Alexandrina Saldanha Sobreira de Moura Coordenadora

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus. Sua presença é o meu sustento. A todos meus agradecimentos:

Aos amigos da Biblioteca Setorial de Educação, do Sistema de Bibliotecas da UFPE e Centro de Educação. Obrigada pelo espaço de partilha das experiências vividas no Mestrado.

Aos amigos, Adriana, Alessandra, Elisa, Ingrid, Janeide, Nísea e Régis, que ao me ouvirem contribuíram para esta construção.

As amigas Andréa, Karine, Lígia e Susana, pelo carinho da amizade.

Aos amigos da turma 12, do Mestrado em Gestão Pública, em especial a Andrea, Maria, Patrícia, Sueli, Joyce, Reginaldo, Fernanda, Renata e Marcelo. Obrigada a todos.

Ao meu orientador, professor Denilson Marques, pelas contribuições na orientação e no Grupo de estudo, e por sua paciência e humildade em me acompanhar nesta caminhada. Aos professores Cátia Lubambo e Edson Francisco de Andrade, pelas contribuições que promoveram meu aprendizado.

A contribuição imensa dos sujeitos da pesquisa. Institucionalmente representados pela Secretaria Municipal de Educação de Goiana, Conselho Municipal de Educação de Goiana, Sindicato dos Professores do Município de Goiana e Câmara Municipal de Vereadores de Goiana.

A minha família, que sem o apoio de vocês não teria conseguido. Meus irmãos Kassiano e Kassia. Minha mãe Noêmia, pela dedicação em cuidar dos meus pequenos, durante minhas ausências. Obrigada!

Meu esposo Sérgio, o teu amor fortaleceu a minha caminhada.

Meus filhos Dora e Pedro. A presença de vocês renova minha vida e esperanças.

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Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem. Hebreus 11:1

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RESUMO

O crescimento industrial do município de Goiana/PE e as implicações locais para a gestão da educação, é o tema central na investigação que apresentamos. O objetivo da pesquisa é analisar as mudanças do crescimento industrial para a gestão da educação no município. Considerações sobre o estabelecimento de políticas públicas para educação, que embasaram a pesquisa, apontam a pluralidade de relações, a rede de articulações e as reformas políticas, história, arranjos locais e financiamento de políticas públicas, como temas que permeiam a discussão (AZEVEDO, 2001; BALL, 2001; BURBULES E TORRES, 2004; LINGARD, 2004). Estas questões fortalecem a pesquisa da realidade municipal e suscitam o questionamento sobre como as questões econômicas, culturais e políticas locais se articulam e como a gestão da educação tem construído respostas no cenário de crescimento industrial. Para o levantamento de dados, realizamos observação local, entrevistas com atores da gestão da educação e análise de informações constantes em documentos. Na interpretação dos dados buscamos apropriar as discussões do quadro teórico ao conjunto de informações coletadas nas entrevistas e documentos. Aprofundamos as discussões teóricas a partir das categorias de análise proposta na concepção teórica de Giddens (1991). Constatamos que a elaboração da política educacional no município, promoveu mudanças com a instituição de instrumentos legais e Plano decenal, contudo, a política educacional se efetiva na execução de políticas planejadas pela União e pelo Estado. A ausência de planejamento, questões estruturais como a oferta inadequada de ensino, inexistência de gestão democrática e canais de participação, implicam na construção de respostas às demandas sociais historicamente constituídas e as do contexto mais recente. Dessa forma, consideramos a necessidade da gestão local promover o planejamento em consonância com o fortalecimento de canais de participação social, necessárias ao atendimento de demandas sociais que se apresentam.

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ABSTRACT

Goiana‟s, PE, industrial growth and its local implication to education management, is the main theme of the presented investigation. The objective of the research is to analyze the changes of the industrial growth regarding the city‟s education management. Considerations about the enforcement of public policies to education, that support the research, point the plurality of relations, the web of articulations, the political and historical reforms, local arrangements and funding of public policies, as topics that permeate the discussion (AZEVEDO, 2001; BALL, 2001; BURBULES E TORRES, 2004; LINGARD, 2004). These questions strengthen researches of the city‟s reality and promote the questioning about how local economic, cultural and political matters are articulated and how the education management have been developing answers in the industrial growth scenery. To gather data, there were local observations, interviews with the actors of the management of education and analysis of constant information in documents. To interpret data we worked to appropriate the discussions of the theoretical framework to the amount of collected information in interviews and documents. We deepened theoretical discussions from the analysis categories proposed in Giddens‟ (1991) theoretical conception. It was found that the elaboration of educational policies in a city, promoted changes with the institution of legal instruments and ten-year plan, however the tools of local planning are highlighted without relating with education management practice and the educational policies of the city effectively highlight the execution of policies planned by the Union and the State. The lack of planning structural matters, such as the inadequate offer of education, the inexistence of democratic management in the schools and participation nets, infer in the developing of answers to the social demands historically constituted and the ones of the most recent context, from industrial growth. Therefore, we considered the need of the local management to promote the planning in consonance with the strengthening the social participation nets, necessary to the attending of social demands presented.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Município de Goiana na Região da Mata Norte de Pernambuco ... 19 Figura 2 - Mapa rodoviário da Região da Mata Norte de Pernambuco ... 20 Figura 3 - Organograma da Secretaria de Educação do Município de Goiana ... 77

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade, conforme

o censo 2000 ... 21

Gráfico 2 - Distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade, conforme o censo 2010 ... 21

Gráfico 3 - Fluxo Escolar por Faixa Etária - Goiana - PE - 1991/2000/2010 ... 24

Gráfico 4 - Escolaridade da população de 25 anos ou mais de Goiana - 1991 ... 25

Gráfico 5 - Escolaridade da população de 25 anos ou mais de Goiana - 2000 ... 26

Gráfico 6 - Escolaridade da população de 25 anos ou mais de Goiana - 2010 ... 26

Gráfico 7 - Frequência escolar para o grupo etário de 18 a 24 anos... 27

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Relação de entrevistados ... 18 Quadro 2 – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal e seus componentes –

Goiana/PE ... 23 Quadro 3 – Empreendimentos industriais em funcionamento na Região da Mata Norte

do Estado de Pernambuco ... 30 Quadro 4 – Empreendimentos industriais em fase de implantação na Região da Mata

Norte do Estado de Pernambuco ... 32 Quadro 5 – Documentos Legais da Educação ... 107

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 13

1.1 PROBLEMA DE PESQUISA E OBJETIVOS ... 15

1.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 16

2 O MUNICÍPIO DE GOIANA ... 19

3 DESCONTINUIDADES E REFLEXIVIDADE: PERSPECTIVA TEÓRICA NA ABORDAGEN SOCIAL DE GIDDENS ... 34

3.1 CONTRIBUIÇÃO DA TEORIA SOCIAL DE GIDDENS PARA A PESQUISA EM GESTÃO DA EDUCAÇÃO ... 34

3.2 INSTITUIÇÕES MODERNAS NA TEORIA SOCIAL DE GIDDENS ... 39

4 GLOBALIZAÇÃO E EDUCAÇÃO ... 43

4.1 REFORMA DA GESTÃO PÚBLICA E GERENCIALISMO ... 52

4.2 DESCENTRALIZAÇÃO E POLÍTICA EDUCACIONAL ... 55

4.2.1 Regime de colaboração ... 61

4.2.2 Políticas de Financiamento ... 63

5 PODER LOCAL ... 70

6 A GESTÃO DA EDUCAÇÃO NO MUNICÍPIO DE GOIANA ... 75

6.1 A POLÍTICA EDUCACIONAL NO MUNICÍPIO DE GOIANA/PE ... 75

6.2 PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO ... 85

6.3 REGIME DE COLABORAÇÃO E OUTRAS FORMAS DE ARTICULAÇÃO E COOPERAÇÃO ... 92

6.4 GESTÃO DA CLASSE DOCENTE ... 98

6.5 FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO ... 103

6.6 INSTRUMENTOS LEGAIS DA EDUCAÇÃO NO MUNICÍPIO DE GOIANA: LEIS E REGIMENTOS ... 107

6.7 DESAFIOS DO CRESCIMENTO DOS SETORES PRODUTIVOS PARA A GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM GOIANA/PE ... 109

7 DESCONTINUIDADES E REFLEXIVIDADE: PANORAMA DA GESTÃO EDUCACIONAL NO MUNICÍPIO DE GOIANA/PE ... 117

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 124

REFERÊNCIAS ... 127

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1 INTRODUÇÃO

A gestão de políticas educacionais no âmbito municipal é enfatizada no que diz respeito à necessidade de conhecimentos mais específicos sobre a realidade social, participação e efetividade das políticas públicas. A gestão municipal materializa esse entendimento que

No caso dos Dowbor considera na discussão sobre a perspectiva do poder local nos países subdesenvolvidos. O autor registra que:

países subdesenvolvidos, a questão se reveste de particular importância na medida em que o reforço do poder local permite, ainda que não assegure, criar equilíbrios mais democráticos frente ao poder absurdamente centralizado das elites. (DOWBOR, 2008, p. 5).

A discussão desenvolvida por Dowbor relaciona o poder local às mudanças que envolvem participação, descentralização e desburocratização. A evidenciação do papel do poder público municipal, no tratamento apontado pelo autor, toma centralidade com as reformas da educação promovidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), conforme a qual a participação da gestão municipal é destacada na construção de políticas públicas locais.

Neste quadro a pesquisa sobre a gestão municipal nutre o conhecimento sobre o desenvolvimento de tais mudanças promovidas no contexto municipal. O movimento de construção, que é próprio de cada local é permeado pela história, por aspectos econômicos, sociais, culturais que incidem sobre a construção da agenda da gestão no município.

Respostas construídas pelo poder público local têm visibilidade pós reforma. A gestão local tem, entre outras questões, a possibilidade de instituição do sistema de ensino e, além disso, responsabilidades diante da descentralização financeira também são atribuídas nesse contexto. Sobre a discussão Colares menciona que:

Note-se que, traçadas as possibilidades que a União e os Estados ofereçam, cabe às prefeituras municipais, via secretários de educação, estabelecer os mecanismos de aplicação, procurar parcerias, estabelecer convênios e buscar diferentes formas de suporte para o desenvolvimento das ações previstas. (COLARES, 2005, p. 141).

A discussão apresentada enfatiza as novas competências da gestão municipal, diante do contexto da descentralização. As responsabilidades da gestão são fortemente caracterizadas

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em concordância com a realidade financeira local, o que dá evidências e responsabilidades ao poder público local.

Vale salientar outra dimensão sobre a evidência do poder local, que relaciona a descentralização na construção de políticas públicas de educação influenciadas ao esgotamento do projeto desenvolvimentista e pela globalização da economia. Sobre essa dimensão Sarmento menciona que:

O incentivo à descentralização faz parte do intento neoliberal de desonerar o governo federal, que centraliza os recursos e repassa responsabilidades tanto a governos estaduais, como a governos municipais e, também, a Organizações Não-Governamentais (ONGs). (SARMENTO, 2005, p. 1373).

Se, por um lado, as orientações da política local ganham centralidade, por outro lado há uma questão de fundo mais ampla relacionada às influências de diretrizes políticas no âmbito global. A autora também evidencia contrapontos à discussão sobre a influência da política neoliberal e registra que: “Nas últimas décadas, vários municípios têm realizado propostas inovadoras e buscado alternativas para diminuir as diferenças sociais em seu âmbito e a educação tem se mantido como uma questão prioritária nos discursos políticos” (SARMENTO, 2005, p. 1386). O entendimento é que a divisão de competências que evidencia o poder local abre também possibilidades de maior participação social nas decisões da política local. Dessa forma, a investigação da gestão local desvela questões sobre a realidade de tais orientações em um contexto próprio de cada município.

O crescimento industrial no município de Goiana, que é uma característica recente do município, fortalece a investigação nesse contexto de mudanças com o crescimento industrial. Uma nova agenda para a gestão local da educação se estabelece relacionada à transição entre o contexto agropecuário para o industrial.

Percebemos que lacunas sobre o conhecimento de tais mudanças registradas nos veículos de comunicação não elucidavam detalhes sobre aspectos organizativos da gestão da educação no município. Isso se tornou significativo para a consolidação do interesse sobre esse tema.

A pesquisa apresenta mudanças para a gestão da educação, estabelecidas no contexto de crescimento industrial no município, a partir da concepção de atores da gestão da educação local. O estudo que apresentamos não delimita período de análise, contudo o cenário de crescimento que identificamos está correlacionado a Agenda de Desenvolvimento Regional do estado de Pernambuco, que inicialmente se estabelece com a implantação da Hemobrás em 2010 e a investigação de campo se realizou nos meses de outubro a dezembro de 2014. As

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mudanças que apontamos incidem sobre a construção de uma nova agenda para as ações da gestão da educação. Esse quadro apresenta um movimento de mudanças iniciais em curso que possibilitam novas investigações.

1.1 PROBLEMA DE PESQUISA E OBJETIVOS

A gestão municipal da educação, diante das responsabilidades atribuídas na LDB, como a articulação com o Estado e a União, a gestão democrática com a participação da comunidade, a atuação de outras instituições como os Conselhos Municipais, entre outras questões, evidencia estratégias para a efetivação de uma política educacional voltada para o fortalecimento da gestão local.

As discussões sobre as responsabilidades da gestão municipal ganham um novo relevo diante de aspectos da realidade de cada município. Consideramos que o município de Goiana se constitui em um ambiente favorável a esta análise, por apresentar um quadro de mudanças socioeconômicas intensificado pelo crescimento do número de indústrias instaladas no município. Dessa forma, com o problema de pesquisa, buscamos responder ao questionamento: Como o contexto de crescimento industrial produz desafios para a gestão da educação em Goiana? Em Consideração a esse questionamento propomos o objetivo geral de: analisar os desafios do crescimento industrial para a gestão da educação em Goiana/PE. A partir da proposta de investigar os desafios apontados construímos os seguintes objetivos específicos:

 Caracterizar o município de Goiana e o contexto de construção da política educacional;

 Conhecer a estrutura de construção da política de educação;

 Identificar mecanismos de colaboração construídos no âmbito municipal;  Apontar as implicações do crescimento industrial para a gestão da educação.

Os objetivos que elencamos promovem o conhecimento sobre as responsabilidades atribuídas à gestão municipal por orientações legais, como a LDB, a descentralização e aspectos do próprio contexto da gestão municipal da educação de Goiana norteiam a investigação que realizamos.

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1.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A investigação que realizamos tem como foco o estudo da gestão municipal da educação. Em conformidade com os objetivos propostos, consideramos como fontes de informações: a consulta a atores envolvidos na gestão municipal e documentos sobre a política de educação no município. A abordagem qualitativa foi estabelecida como referencial de tratamento, para a compreensão dos dados que coletamos.

Quanto aos métodos, a análise de conteúdo foi utilizada por permitir oportunidades para o conhecimento sobre os aspectos da produção documental e suas implicações. Para atender a essa orientação, a identificação inicial dos documentos que tratam das diretrizes da gestão educacional, foi introdutória na análise que desenvolvemos.

A observação inicial e o levantamento de informações nutriram a necessidade de conhecimento sobre questões estruturais da política educacional como: o município tem sistema de ensino ou integra o sistema estadual? Quais instituições constituem as instâncias deliberativas da politica educacional? O que se registra nos documentos legais do município? Nessa etapa construímos o corpus1 da pesquisa documental.

Nessa fase percebemos correlações entre a instituição de um conjunto de leis municipais e o estabelecimento do sistema de ensino do município. A experiência que citamos se relaciona à concepção de análise de conteúdo registrada por Bardin (2004), que compreende a inferência sobre os aspectos do ambiente de produção da comunicação. Como ressalta a autora: “A intenção da análise de conteúdo é a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (ou eventualmente, de recepção), inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não)” (BARDIN, 2004, p. 34). Concordamos que a evidenciação de aspectos sociais, culturais, entre outros, foi relevante à construção sistemática do conhecimento sobre problema que investigamos.

Os fatores determinantes da produção mencionados é o contexto social da produção documental. Tomando como exemplo Goiana, a orientação teórica sobre a análise de conteúdo, fortaleceu a necessidade de conhecer práticas da política de educação local. A partir dessa discussão, consideramos a necessidade de conhecer a concepção da gestão através de atores da política local. Para tanto, a entrevista como fonte de dados complementou informações sobre a gestão municipal, para os procedimentos de análise. O levantamento de informações nessa fase buscou explorar a construção da política local, identificar os

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mecanismos de interação mantidos pelo município e apontar as implicações do crescimento industrial para a gestão da educação.

Para os procedimentos de seleção e análise dos documentos, atribuímos categorias de análise que subsidiassem interpretações para atender aos objetivos propostos como: Política de educação, Plano Municipal de Educação, Financiamento da educação, Gestão da Classe docente, são categorias de análise apresentada nessa pesquisa. Na construção do corpus da pesquisa documental, identificamos um conjunto de leis caracterizadas como “Marcos Legais da Secretaria de Educação do município de Goiana” 2. Essa publicação se constituiu no elemento orientador na identificação de documentos legais no momento inicial de levantamento de dados. Os documentos identificados nessa fase são elencados no Quadro 5 na página 107.

No que se refere às entrevistas, observamos as orientações dos autores Laville e Dionne (1999), que mencionam a potencialidade desse instrumento em levantar informações do contexto. Os autores mencionam que:

A flexibilidade adquirida permite obter dos entrevistados informações muitas vezes mais ricas e fecundas, uma imagem mais próxima da complexidade das situações, fenômenos ou acontecimentos, imagem cuja generalização será todavia delicada e exigirá cuidado e prudência por parte do pesquisador. (LAVILLE; DIONNE, 1999, p. 190).

A esse tipo de tratamento destacado, pelos autores, enfatiza a potencialidade na exploração de conhecimentos produzidos, por exemplo, por atores da gestão. O conhecimento adquirido por esse instrumento na visão dos autores se torna fecundo e possibilita o conhecimento de informações mais próximas. Dessa forma, a escolha desse instrumento se deve à flexibilidade para aprofundar o conhecimento sobre o quadro local, a partir da exploração da experiência de atores da gestão municipal da educação. O tratamento do conteúdo apresentado nas entrevistas é orientado igualmente pela análise de conteúdo. Para isso a construção do roteiro orientador das entrevistas pautou-se nos objetivos propostos na pesquisa. Em relação aos atores da gestão da educação no município que identificamos para entrevista, apresentam a seguinte vinculação institucional:

a) Secretaria Municipal de Educação de Goiana.

A consulta à Secretaria Municipal de Educação tinha por objetivo identificar dados que apresentassem a visão da instituição, como órgão executivo das políticas de Educação

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Básica no município. Esse objetivo não foi atingido através da entrevista. Contudo, o Secretário de Educação do município de Goiana, Horácio dos Reis Filho, respondeu aos questionamentos do roteiro de entrevista, que citamos ao longo da análise de dados.

b) Câmara Municipal de Goiana

Como órgão legislativo da administração municipal, identificamos objetivo de evidenciar o entendimento dessa instância sobre a construção da política local.

c) Conselho Municipal de Educação

O Conselho Municipal de Educação de Goiana (CMEG), assessora a Secretaria Municipal de Educação na construção de políticas locais. O Conselho apresenta funções de caráter normativo, deliberativo, consultivo e fiscalizador. Conhecer a concepção dessa instância é fundamentado pelo entendimento de que historicamente tal órgão se estabelece como mediador entre órgãos governamentais e sociedade e por fazer parte da construção da política de educação local.

d) Sindicato dos Professores do Município de Goiana

O Sindicato como instância que defende interesses dos profissionais do magistério, constituía relevância pelo caráter contestatório a ele atribuído. Dessa forma, a participação desse órgão subsidia a construção da pesquisa.

Das instituições citadas, apresentamos abaixo quadro com a organização das entrevistas: instituições, atores e quantidades das entrevistas realizadas:

Quadro 1 - Relação de entrevistados

Instituição Atores da política de Educação do

município de Goiana Número de entrevista Câmara Municipal de Goiana Vereador 01 Conselho Municipal de Educação

Conselheiro Municipal de Educação 01 Sindicato dos Professores do

Município de Goiana

Presidente do Sindicato dos Professores de Goiana

01 Fonte:Kátia Maria Tavares da Silva (2015).

A concepção metodológica que apresentamos contemplou os objetivos propostos. A reunião dos atores entrevistados teve o propósito de ampliar o conhecimento sobre a gestão da educação no município diante das mudanças do crescimento industrial. Os dados levantados a partir dessa concepção metodológica forneceu lastro para o conhecimento que apresentamos nesse estudo, diante das mudanças em curso que identificamos no município de Goiana.

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2 O MUNICÍPIO DE GOIANA

O município pernambucano de Goiana faz parte da Região de Desenvolvimento da Mata Norte (RD Norte) do estado. A divisão de regiões administrativas manifesta o objetivo de enfatizar a regionalização associada ao planejamento de atividades para o desenvolvimento local.

Os dados do município apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registram que Goiana tem uma área de 501,881 quilômetros quadrados. A formação do distrito de Goiana data de 1568 (IBGE, 2014). No ano de 2005, ocorre uma divisão territorial que compreende o município com a reunião de três distritos: Goiana, Ponta de Pedras e Tejucupapo. Na figura 1, observamos o município na região da Mata Norte de Pernambuco. E na figura 2, o mapa rodoviário da Região da Mata Norte de Pernambuco.

Figura 1- Município de Goiana na Região da Mata Norte de Pernambuco

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Figura 2 - Mapa rodoviário da Região da Mata Norte de Pernambuco

Fonte: Google mapas 2014.

O município de Goiana dentro da região é evidenciado como um dos mais populosos. A população, no ano de 2010, era de 75.644 habitantes (IBGE, 2014), sendo 43.531 de população urbana. A taxa de urbanização para o mesmo ano é de 76,71% e a população rural corresponde a 17.619 habitantes. Os dados do IBGE registram que houve uma diminuição do percentual entre os anos de 2000 a 2010, para domicílios particulares permanentes com saneamento inadequado. No ano de 2000, o percentual dessa categoria era de 17,53%; no ano de 2010, esse percentual decresce para 8,69 %. Em relação a informações da demografia do município, os dados do IBGE demonstram:

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Gráfico 1 - Distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade, conforme o censo 2000

Fonte: Pnud, Ipea, Fundação João Pinheiro e Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil

Gráfico 2 - Distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade, conforme o censo 2010

Fonte: Pnud, Ipea, Fundação João Pinheiro e Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil.

As pirâmides etárias com dados dos censos 2000 e 2010 apresentam algumas mudanças no perfil demográfico municipal, com estreitamento na base e alargamento no meio da figura. Isso significa um aumento do contingente da população na faixa etária entre 15 e 64 anos. O

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aumento do percentual desta faixa etária de 63,19% no ano 2000 para 67,27% em 2010 representa um aumento da taxa de envelhecimento.

Os dados apresentados sintetizam uma visão geral sobre os aspectos demográficos e de infraestrutura. Contudo, outras análises fornecem uma visão sobre os aspectos dessas categorias no município:

Goiana possui grandes contradições em relação aos serviços de infraestrutura urbana. O município, embora cortado por muitos rios e riachos, não possui um bom sistema de captação, armazenamento e distribuição de água para a população. [...] a grande quantidade de ruas não pavimentadas e consequentemente sem sistema de drenagem. Embora o cenário seja negativo existem obras em andamento que visam minimizar os efeitos negativos da ausência e precariedade de rede de coleta e tratamento de esgotos que contaminam o solo, as aguas e a população. (HEMOBRAS; FIOCRUZ, 2013, p. 37).

A análise demonstra que os problemas de infraestrutura municipal são considerados como comuns de grande cidade e que transformações socioespaciais, os quais vêm ocorrendo na região, agravam os problemas desse quadro. Sobre os problemas elencados estão:

Casas localizadas em áreas de risco (margens de rios e encostas); expansão urbana desordenada, ocasionando um processo de favelização de algumas áreas do município; infraestrutura precária de algumas casas que são construídas com materiais inadequados, como taipa e madeira, em áreas sem nenhuma estrutura. (HEMOBRAS; FIOCRUZ, 2013, p.38).

A análise apresentada pela pesquisa esclarece que atrativos como oportunidades de trabalho, vinculados ao crescimento industrial, respondem por parte dessa expansão desordenada.

Em relação ao Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – (IDHM) para Goiana é de 0,651, em 2010.Esse índice situa o município no grupo de municípios com IDHM médio. O Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento (PNUD) analisa que:

Entre 2000 e 2010, a dimensão que mais cresceu em termos absolutos foi Educação (com crescimento de 0,236), seguida por Longevidade e por Renda. Entre 1991 e 2000, a dimensão que mais cresceu em termos absolutos foi Educação (com crescimento de 0,126), seguida por Longevidade e por Renda. (NAÇÕES UNIDAS, 2014).

A tabela reproduzida abaixo evidencia os dados que fazem parte da composição do IDH e também apresenta dados sobre o panorama da educação no município.

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Quadro 2 - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal e seus componentes - Goiana – PE

IDHM e componentes 1991 2000 2010

IDHM Educação 0,214 0,340 0,576

% de 18 anos ou mais com ensino fundamental completo 19,98 28,75 47,80

% de 5 a 6 anos na escola 41,23 75,33 95,45

% de 11 a 13 anos nos anos finais do fundamental ou com fundamental completo

26,79 40,32 81,52

% de 15 a 17 anos com ensino fundamental completo 12,96 19,23 45,51 % de 18 a 20 anos com ensino médio completo 7,35 13,30 30,58

IDHM Longevidade 0,632 0,714 0,779

Esperança de vida ao nascer (em anos) 62,90 67,84 71,75

IDHM Renda 0,492 0,550 0,614

Renda per capita 170,58 245,01 364,77

Fonte: Pnud, Ipea, Fundação João Pinheiro e Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil.

Sobre o IDHM de Goiana, a análise do PNUD menciona um crescimento do município significativo em relação à média estadual e à média nacional. Sobre essa evolução, a pesquisa por período registra que:

Entre 2000 e 2010

O IDHM passou de 0,511 em 2000 para 0,651 em 2010 - uma taxa de crescimento de 27,40%. O hiato de desenvolvimento humano, ou seja, a distância entre o IDHM do município e o limite máximo do índice, que é 1, foi reduzido em 28,63% entre 2000 e 2010.

Entre 1991 e 2000

O IDHM passou de 0,405 em 1991 para 0,511 em 2000 - uma taxa de crescimento de 26,17%. O hiato de desenvolvimento humano, ou seja, a distância entre o IDHM do município e o limite máximo do índice, que é 1, foi reduzido em 17,82% entre 1991 e 2000.

Entre 1991 e 2010

Goiana teve um incremento no seu IDHM de 60,74% nas últimas duas décadas, acima da média de crescimento nacional (47%) e acima da média de crescimento estadual (52%). O hiato de desenvolvimento humano, ou seja, a distância entre o IDHM do município e o limite máximo do índice, que é 1, foi reduzido em 41,34% entre 1991 e 2010. (PNUD, 2014).

A análise evolutiva do IDHM é importante para fomentar o debate sobre o desenvolvimento municipal. Como ressalta o PNUD (2014), o IDH é um índice sintetizador, que pode ser potencializado quando se consideram outros aspectos como: democracia, participação, equidade, sustentabilidade, entre outros. Sobre esses aspectos apontados na análise do IDH, constatamos lacunas que incidem sobre a análise do IDH. Aspectos como a

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ausência de processo eletivo para os gestores das escolas municipais, ausência de atuação de Conselhos Escolares e problemas de sustentabilidade da política financeira da Secretaria de Educação são identificados nos relatos apresentados nas entrevistas. Esses aspectos levantados na análise de dados evidenciam sinais de uma estrutura que influencia a sustentabilidade de políticas públicas de educação e que tais questões tomam uma dimensão maior no cenário de crescimento industrial. Essa consideração é relacionada ao aumento de demandas por políticas públicas com o crescimento populacional do município, por exemplo.

Os dados sobre frequência por faixa etária, que compõem o IDHM, representados no Quadro 2, são visualizados no gráfico 3 e demonstram percentuais para os períodos entre 1991 a 2010. Os percentuais para as faixas etárias entre 5 a 6 anos, e 11 a 13 anos, tiveram uma elevação mais significativa como observamos no gráfico 3.

Gráfico 3 - Fluxo Escolar por Faixa Etária - Goiana - PE - 1991/2000/2010

Fonte: Pnud, Ipea, Fundação João Pinheiro e Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil.

Por outro lado a análise da pesquisa participativa da Hemobrás e FioCruz, em relação a matrículas referentes ao ano de 2011, posterior ao intervalo apresentado no gráfico 3, considera que:

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Em relação à educação infantil, o município apresentou uma baixa cobertura, segundo dados do censo escolar, em 2011 o número total de matriculas foi de 3.023, expressando uma cobertura de 49,6% (crianças na faixa de menor de 1 a 6 anos), destas 2.090 foram matriculadas na rede municipal (34%) e 963 (15,8%) na rede privada. (HEMOBRAS; FIOCRUZ, 2013, p. 99). A análise destaca lacunas na oferta de ensino no município, em relação à faixa etária de 1 a 6 anos. As lacunas nessa faixa etária representam que o município não tem cobertura efetiva de acesso ao ensino para a faixa etária pela qual a gestão municipal é responsável na LDB.

A taxa de analfabetismo é outro dado sobre a educação no município que apresentamos nos gráficos 4, 5 e 6. A taxa é representada na categoria Ensino Fundamental Incompleto e Analfabeto. Sobre a categoria, ressalta-se que os percentuais apresentam decréscimo no período que compreende 1991, 2000 e 2010.

Gráfico 4 - Escolaridade da população de 25 anos ou mais de Goiana – 1991

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Gráfico 5 - Escolaridade da população de 25 anos ou mais de Goiana - 2000

Fonte: Pnud, Ipea, Fundação João Pinheiro e Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil.

Gráfico 6 - Escolaridade da população de 25 anos ou mais de Goiana - 2010

Fonte: Pnud, Ipea, Fundação João Pinheiro e Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil.

O estudo da Hemobrás e FioCruz, apresenta uma análise mais especifica sobre o analfabetismo no município a partir de grupos territoriais. Os dados revelam discrepâncias relacionadas às diferenças entre os núcleos territoriais. Sobre essa discussão, o estudo menciona que “o município ainda apresenta percentual de analfabetismo quase duas vezes superior à média nacional” (HEMOBRAS; FIOCRUZ, 2013, p. 99). O estudo apresenta

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considerações sobre a discrepância das taxas, relacionando as diferenças às desigualdades entre áreas urbanas e rurais.

O gráfico 6 destaca o registro sobre a escolaridade da população de 25 anos ou mais. Na representação dos dados para o ano de 2010, o percentual dessa categoria com o ensino fundamental incompleto e analfabetos é de 22,7 %. Em relação a outras categorias, esse percentual, apesar de ter diminuído, ainda permanece elevado em relação a outros níveis de escolaridade como, por exemplo, o percentual da população com ensino fundamental completo e médio incompleto.

Gráfico 7 - Frequência escolar para o grupo etário de 18 a 24 anos

Fonte: Pnud, Ipea, Fundação João Pinheiro e Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil.

No gráfico 7 o percentual de jovens para a faixa etária 18 a 24 anos que não tem vínculo com atividades de ensino é elevado. Dados da pesquisa participativa da Hemobrás e Fiocruz (2013) destacam o aumento da oferta de ensino profissionalizante como necessidade de grupos jovens. Entendemos que esse quadro está relacionado a exigências do mercado de trabalho promovido pela instalação de indústrias no município. Esse contexto possibilita entender modificações do contexto municipal, que podem influenciar este percentual.

Em relação aos dados da população economicamente ativa, o gráfico 7 demonstra a organização por categorias.

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Gráfico 8 - Taxa de Atividade e de Desocupação 18 anos ou mais – 2010

Fonte: Pnud, Ipea, Fundação João Pinheiro e Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil.

A população economicamente ativa no ano de 2010 é de 28.978, o que equivale a um percentual de 56%. Enquanto a população economicamente ativa desocupada é de 7.908 habitantes. A população economicamente inativa representa 14.869 habitantes. Outra questão que está relacionada à ocupação da população e à distribuição por setores econômicos, que para o município indica os seguintes percentuais:

Em 2010, das pessoas ocupadas na faixa etária de 18 anos ou mais, 12,64% trabalhavam no setor agropecuário, 0,08% na indústria extrativa, 16,37% na indústria de transformação, 7,54% no setor de construção, 0,94% nos setores de utilidade pública, 17,07% no comércio e 39,77% no setor de serviços. (PNUD, 2014).

As informações sobre os percentuais de ocupação para o ano de 2010 apresentam uma expressiva ocupação no setor agropecuário, se comparado com os dados sobre a ocupação no setor da indústria para o mesmo ano. O cenário de crescimento industrial, que evidencia os dados para os anos posteriores a 2010, apresenta elevação para o percentual de ocupação no setor industrial, que podem ser evidenciados na pesquisa do CONDEPE/FIDEM3.

Inserida nessa discussão, a ocupação de novos postos de trabalho surgidos na indústria, que anuncia um deslocamento do percentual mencionado dá visibilidade a outra

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questão: as desvantagens da população local em relação à população que migra para o município para ocupação dos novos postos de trabalho. Sobre a discussão a pesquisa participativa da Hemobrás; FioCruz menciona:

Outro problema que teve visibilidade nas discussões durante a oficina foi a desvantagem da população local na ocupação dos novos postos de trabalho, demandada pela mudança da matriz econômica. Desvantagem determinada, dentre outros aspectos, pela baixa oferta de cursos profissionalizantes para a juventude, pela parcela da população adulta apresentar pouca ou nenhuma qualificação, pelo elevado percentual de analfabetismo e pela baixa escolaridade. (HEMOBRÁS; FIOCRUZ, 2013, p. 111).

O crescimento industrial do município de Goiana está relacionado ao objetivo de desenvolvimento regional do Estado de Pernambuco. De acordo com o estudo do CONDEPE/FIDEM (2011) o declínio de atividades econômicas ligadas à indústria têxtil, cana-de açúcar, produziu uma perda de importância econômica da Região de Desenvolvimento da Mata Norte do estado de Pernambuco. Dessa forma, a estratégia da Agenda de Desenvolvimento do Estado, com os incentivos para instalação de empreendimentos industriais nessa região, é de promover a retomada de crescimento regional. Sobre o contexto da região o estudo menciona que:

De origem canavieira desde os primórdios de sua colonização, o Norte Metropolitano e Goiana, após longo período de estagnação econômica, vem redesenhando o perfil de suas atividades econômicas, com a instalação de importantes plantas industriais, a exemplo do Polo Automotivo, impulsionado pela Fiat Automóveis, pelas indústrias de Vidros Planos e pelo Polo Farmacoquímico, de Hemoderivados e de Biotecnologia (CONDEPE/FIDEM, 2012, p. 21).

Os dados sobre o conjunto de indústrias estabelecidas na região mencionada no estudo do CONDEPE/FIDEM foram compilados a partir de informações da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Ad-Diper), prefeituras da região da Mata Norte de Pernambuco, Federação de Indústrias do Estado de Pernambuco (FIEPE) e sites das empresas. Conforme o estudo, o quadro de indústrias se apresenta da seguinte forma:

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Quadro 3 - Empreendimentos industriais em funcionamento na Região da Mata Norte do Estado de Pernambuco

NORTE METROPOLITANO E GOIANA – PRINCIPAIS EMPREENDIMENTOS INDUSTRIAIS INDÚSTRIAS EM FUNCIONAMENTO

EMPREENDIMENTO LOCALIZAÇÃO LINHA DE PRODUÇÃO

1 Klabin S/A Goiana Produção de papel ondulado

2 Fábrica Itapessoca Cimento Nassau Goiana Produção de cimento

3 Usina Santa Tereza Goiana Produção de Açúcar, Álcool e

Biodiesel

4 Gerdau Aços Longos Igarassu Fabricação de Vergalhões para

indústrias

5 Shinerai Motos Igarassu Fabricação de Motos

6 Unilever Brasil NE Igarassu Fabricação de produtos de limpeza

7 T & A Pré-moldados Igarassu Fabricação de pré-moldados de

concreto

8 Companhia de papeis e papelão ondulados do NE Igarassu Fabricação de toalhas de papel,

guardanapo, papel higiênico e

embalagens de papelão

9 Companhia Agro Industrial de Igarassu Igarassu Fabricação de Produtos Químicos

(Soda caustica, cloro, hipoclorito de sódio e hidrogênio gasoso)

10 Musashi do Brasil Ltda Igarassu Fabricação de engrenagens de

precisão para automóveis

11 Janga S. A. – Indústria e Comercio Igarassu Fabricação de Sacos Plásticos

12 Centauro – Formulários do NE Igarassu Fabricação de formulários

13 Cervejaria Nobel Igarassu Fabricação de cerveja

14 Usina São José Igarassu Fabricação de Açúcar e Álcool

15 Alcoa Aluminio S/A Itapissuma Fabricação de Perfis extrudados e

laminados para indústrias e

construção civil

16 Leon Himer S/A Paulista Fabricação de Geradores e

distribuidora de peças e ferramentas

17 Industrias Reunidas Raimundo da Fonte Paulista Fabricação de produtos de limpeza,

higiene pessoal, inseticida.

18 Cimento Poty – Grupo Votorantin Paulista Fabricação de cimento

19 Cintex Industria Têxtil Paulista Fiação e tecelagem

20 Vicunha Têxtil Paulista Fabricação de Malhas

21 A & S Têxtil Ltda. Paulista Fabricação de Malhas

22 Superfios Têxtil Ltda. Paulista Fiação e tecelagem

23 Brazmo Indústria e Comércio Paulista Fabricação de produtos químicos

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25 RDX Gestão e Higienização Têxtil Paulista Lavanderia industrial

26 Lavatec Paulista Lavanderia industrial e hospitalar

27 Formiline Indústria de Laminados Paulista Fabricação de Laminados de fórmica

28 Indústrias Renda S/A Abreu e Lima Fabricação de embalagens metálicas

e plásticas

29 Polífrio do NE Ltda. Abreu e Lima Fabricação de isolamentos, portas de

frigorífico e equipamentos para instalação de frigoríficos

30 Reprotêxtil Abreu e Lima Fiação e tecelagem

31 Rall Indústria e Comércio Abreu e Lima Fabricação de Borrachas e artefatos

32 Metalúrgica Champion Abreu e Lima Metalúrgica

33 Polígono Produtos e Ligas Plásticas Abreu e Lima Produção de Ligas Plásticas do Brasil

34 Metalmig Abreu e Lima Usinagem de Peças

35 Weber Saint-Gobain Abreu e Lima Fabricação de Argamassa para a

Construção civil

36 Venosan Brasil Ltda. Abreu e Lima Fabricação de meias compressivas

medicinais

37 Bombril Abreu e Lima Fabricação de produtos de limpeza

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Quadro 4 – Empreendimentos industriais em fase de implantação na Região da Mata Norte do Estado de Pernambuco

INDÚSTRIAS PREVISTAS /EM IMPLANTAÇÃO

EMPREENDIMENTO LOCALIZAÇÃO LINHA DE PRODUÇÃO

1 Hemobrás (Polo Farmacoquímico) Goiana Processamento anual de 500 mil

litros de plasma, matéria-prima dos hemoderivados. A partir de 2014 produzirá remédios fundamentais

para portadores de hemofilia,

imunodeficiência, câncer, Aids, cirrose e queimaduras graves.

2 Multilab (Polo Farmacoquímico) Goiana Fabricação de genéricos e Similares

3 RIFF – Laboratório farmacêutico (Polo

Farmacoquímico)

Goiana Fabricação de soros

4 AC Diagnóstico (Polo farmacoquímico) Goiana Kits de Diagnósticos

5 IonQuímica (Polo Farmacoquimico) Goiana Insumos para a Indústria

Farmacêutica

6 Lafepe Química (Polo farmacoquimico) Goiana Fabricação de Antirretrovirais

7 Companhia Brasileira de Vidros Planos (CBVP) Goiana Fabricação de 260 mil toneladas, o

equivalente a 30 milhões de metros quadrados de vidros planos por ano. Será a primeira fábrica de vidros planos do Nordeste.

8 Companhia Brasileira de Vidros Automotivos

(CBVA) (Polo Automotivo)

Goiana Fabricação de 25 mil toneladas/ano

de vidros automotivos

9 Unimetal Goiana Fabricação de Fios de Poliéster

10 Vita Derm Goiana Fabricação de Produtos de Beleza

11 FIAT – Indústria Automobilística (Polo

Automotivo)

Goiana Fabricação de automóveis, pista de

testes e Centro de Pesquisas.

12 Ambev Itapissuma Fabricação de cervejas e refrigerantes

13 Cervejaria Petrópolis Itapissuma Fabricação de cervejas

14 Dystar Paulista Produção de Insumos para a Indústria

Têxtil

15 Neotêxtil Paulista Fabricação de 12 milhões de metros

de tecido/ano. A ideia é fabricar

confecções, além de tecidos

esportivos de performance.

16 FL Pré-moldados de concreto Abreu e Lima Fabricação de artefatos de cimento

(pré-moldados) Fonte: Ad-Diper, Prefeituras da Região, FIEPE, Sites das Empresas

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O quadro de indústrias previstas e em fase de implantação apresentado nos quadros acima evidencia o município de Goiana com maior representação de estabelecimentos industriais em relação a outros municípios da região. O registro dessa fase é referenciado no estudo do CONDEPE/FIDEM em 2012. O estudo cita que: “Essa região tem um parque industrial composto por indústrias de pequeno, médio e grande porte, localizadas nos municípios do Paulista, Abreu e Lima, Igarassu, Itapissuma e Goiana” (CONDEPE/FIDEM, 2012, p. 21). E a implantação de novos empreendimentos é significativa para o contexto socioeconômico da região.

O contexto de crescimento industrial aponta para novas relações que influenciam aspectos econômicos, sociais e culturais. As relações desse contexto produzem desafios para a gestão local. Dessa forma, a gestão da educação do município também é permeada por essas mudanças e fica evidenciada a necessidade de estabelecimento de uma nova agenda para o desenvolvimento educacional no município.

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3 DESCONTINUIDADES E REFLEXIVIDADE: PERSPECTIVA TEÓRICA NA ABORDAGEM SOCIAL DE GIDDENS

Nessa seção apresentamos reflexões sobre a teoria social proposta por Giddens, com o intuito de destacar subsídios para a análise na pesquisa social sobre a gestão da educação que realizamos.

3.1 CONTRIBUIÇÃO DA TEORIA SOCIAL GIDDENS PARA A PESQUISA EM GESTÃO DA EDUCAÇÃO

A elaboração de políticas e práticas educacionais é permeada pela cultura, política e economia. A construção de políticas educacionais é vinculada ao contexto de construção, onde práticas locais também exercem mudanças na efetivação de políticas públicas. Dessa forma, a materialização de uma política pública reúne a dinâmica de construção e processos de organização e gestão. Sobre a dinâmica do processo educativo e a interação entre as dimensões da organização da gestão educacional, Dourado menciona que:

É fundamental não perder de vista que o processo educativo é mediado pelo contexto sociocultural, pelas condições em que se efetiva o ensino- aprendizagem, pelos aspectos organizacionais e, consequentemente, pela dinâmica com que se constrói o projeto político-pedagógico e se materializam os processos de organização e gestão da educação básica. (DOURADO, 2007, p. 922).

A construção de políticas educativas implica relações que tocam a maneira como as sociedades se organizam. E, por outro lado, a materialização de uma política pública norteia várias ações, como diretrizes governamentais, a organização política e social, recursos para financiamento e a prática social. Esse entendimento sobre a política educacional apresenta uma concepção de construção que não pode ser tomada de forma isolada e enfatiza que há influências que vão além da sua concepção no processo de materialização da política. A gestão educacional estabelece arranjos institucionais que contribuem para novas interações e essas por sua vez influenciam a materialização das políticas de educação.

A construção e o estabelecimento de políticas educacionais apontam para uma rede de relações. Essas relações ocorrem em um quadro contemporâneo permeado por um dinamismo atribuído à concepção de modernidade. Sobre essa concepção de modernidade Giddens afirma o seguinte: “Refere-se a um estilo, costume de vida ou organização social que emergiam na

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Europa a partir do século XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua influência”. (GIDDENS, 1991, p. 11).

Para Giddens, a concepção de modernidade inicialmente estava associada a um período de tempo e a uma localização geográfica. Contudo, as fontes de dinamismos da modernidade, tempo e espaço, promoviam o deslocamento das relações sociais do seu contexto geográfico. Isso para o autor produz um período que denomina como consequências da modernidade. Tais consequências estão se tornando cada vez mais radicalizadas e universalizadas que antes. Sobre essa discussão, o autor menciona:

O advento da modernidade arranca crescentemente o espaço do tempo fomentando relações entre outros “ausentes”, localmente distantes de qualquer situação dada face a face. Em condições de modernidade, o lugar se torna cada vez mais fantasmagórico: isto é, os locais são completamente penetrados e moldados em termos de influência sociais bem distantes deles. (GIDDENS, 1991, p. 27).

Outra questão enfatizada pelo autor é a discussão sobre as transformações institucionais, por entender que há uma relação entre as instituições modernas e o dinamismo contemporâneo. Para autor (1991, p. 65), as dimensões institucionais da modernidade: “capitalismo (acumulação de capital no contexto de trabalho e mercados de produtos competitivos), industrialismo (transformação da natureza: desenvolvimento do “ambiente criado”), poder militar (controle dos meios de violência no contexto da industrialização da guerra), a vigilância (controle da informação e supervisão social)” se articulam. Essas produzem um enfeixamento institucional que envolve e condiciona as fontes de dinamismo da modernidade, bem como facilita as transições históricas.

As transições históricas apontadas pelo autor, ao se referir às mudanças institucionais, estão relacionadas às rupturas com a tradição, ocasionadas pelas fontes de dinamismo moderno: o distanciamento do tempo-espaço, desencaixe e reflexividade.

Nessa perspectiva teórica, fundamentada na análise de influências mútuas, a proposta de análise volta-se para as práticas sociais. Essas práticas sociais representam o centro da discussão sociológica, atribuído em outras teorias ao indivíduo ou à sociedade. A partir dessa diretriz de análise o autor estabelece um método que evidencia categorias, a exemplo da descontinuidade, que é uma proposta que diverge da análise evolucionista da sociedade. Para o autor:

(37)

Desconstruir o evolucionismo social significa aceitar que a história não pode ser vista como uma unidade, ou como refletindo certos princípios unificadores de organização e transformação. Mas isto não implica que tudo é caos ou que um número infinito de “historias” puramente idiossincráticas pode ser escrito. Há episódios precisos de transição histórica, por exemplo, cujo caráter pode ser identificado e sobre os quais podem ser feitas generalizações (GIDDENS, 1991, p. 15).

A descontinuidade estudada pelo autor está representada por rupturas num processo histórico. Essas rupturas são interpretadas como a quebra de práticas sociais tradicionais, que são reforçadas continuamente, limitando a reflexividade e a reinterpretação das práticas sociais recorrentes. Sobre a concepção de tradição Giddens menciona que:

A tradição é um modo de integrar a monitoração da ação com a organização tempo-espaço da comunidade. Ela é uma maneira de lidar com o tempo e o espaço, que insere qualquer atividade ou experiência particular dentro da continuidade do passado, presente e futuro, sendo estes por sua vez estruturados por práticas sociais recorrentes. (GIDDENS, 1991, p. 44).

A análise proposta pelo autor apresenta a tradição como uma categoria que está ligada às sociedades pré-modernas. Dessa forma, a discussão sobre a modernidade apresenta essa categoria em contraposição à modernidade, que é associada a rupturas de um processo tradicional. Para exemplificar, o autor menciona que a emergência de um novo sistema social, a sociedade da informação, é uma ruptura da tradição. Como também as mudanças institucionais, a exemplo da transição da manufatura para a sociedade da informação.

A partir dessa fundamentação da teoria proposta por Giddens, consideramos como exemplo a redemocratização política brasileira. A redemocratização é entendida como uma ruptura que estabelece novas práticas sociais. As mudanças sociais desse quadro podem ser analisadas a partir de categorias destacadas pelo autor como o dinamismo, o escopo das mudanças e a natureza das instituições modernas.

Giddens destaca a necessidade de considerar as mudanças da modernidade, sabendo que:

A apropriação do conhecimento não ocorre de maneira homogênea, mas com frequência diferencialmente disponível para aqueles em posição de poder, que são capazes de colocá-lo a serviço de interesses seccionais; Os valores são mutáveis; Nenhuma quantidade de conhecimento acumulado sobre a vida social poderia abranger todas as circunstancias de sua implementação, mesmo que tal conhecimento fosse inteiramente distinto do ambiente ao qual ele é aplicado; O conhecimento é instável e mutável. (GIDDENS, 1991, p. 50).

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Os pontos apresentados pelo autor (GIDDENS, 1991, p. 12) enfatizam que a modernidade não se apresenta de forma totalizadora e “que se expressa na sensação de que não se pode obter conhecimento sistemático sobre a organização social”. Isso se materializa para o autor em outra sensação “de que muitos de nós temos sido apanhados num universo de eventos que não compreendemos plenamente, e que parecem em grande parte estar fora de nosso controle”. Essa discussão apresentada fortalece a análise “descontinuísta” do desenvolvimento social moderno.

Tomando ainda como exemplo a redemocratização política brasileira, a parir da categoria “descontinuidade” proposta por Giddens, mudanças vinculadas à redemocratização podem ser lidas como rupturas vinculadas a esse quadro histórico. As reformas educacionais, concebidas no contexto de mudanças, a promulgação da LDB no ano de 1996, o enfoque para gestão municipal registrado na lei são rupturas significativas de uma política anteriormente centralizadora.

O estudo da categoria “ruptura”, proposta por Giddens, considera na análise as características “intencionalidade” e “extencionalidade” indicadas pelo autor. A intencionalidade das mudanças apontadas por Giddens traz conhecimento sobre as características e a análise “extencionalista” esclarece as formas de interconexão social entre acontecimentos no contexto global.

Giddens discute outros conceitos no contexto da modernidade responsáveis pelo dinamismo das mudanças. A separação do tempo e do espaço, desencaixe dos sistemas sociais e ordenação e reordenação reflexivas das relações sociais. A categoria separação do tempo e do espaço discorre inicialmente sobre o controle social do tempo, com a criação do relógio mecânico, destacando também a discussão mais contemporânea sobre o “esvaziamento do espaço através do fomento de relações entre pessoas ausentes, localmente distantes de qualquer situação dada ou interação face a face” (GIDDENS, p. 27). Sobre a análise dessa categoria o autor menciona que:

A separação entre tempo e espaço não deve ser vista como um desenvolvimento unilinear, no qual não há reversões ou que é todo abrangente. Pelo contrário, como todas as tendências de desenvolvimento, ela tem traços dialéticos provocando caraterísticas opostas (GIDDENS, p. 27).

O caráter dialético destacado é evidenciado quando o rompimento entre tempo e espaço fornece base para novas combinações nas atividades sociais. Na análise de um sistema

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de gestão da educação, por exemplo, entendemos que essa categoria de análise remete à investigação da governabilidade e das influências que incidem sobre a política local num contexto de economia globalizada. Dessa forma, a gestão da educação, não pode ser entendida como resultado de um processo isolado.

Outra categoria destacada pelo autor é o desencaixe das relações sociais que está atrelado à separação entre tempo e espaço. O desencaixe significa “deslocamento das relações sociais de contextos locais de interação e sua reestruturação através de extensões indefinidas de tempo-espaço”. (1991, p. 29). O deslocamento significa como as relações sociais são fortemente imbrincadas no contexto de globalização.

A ordenação e reordenação reflexiva das relações sociais estão situadas na discussão do papel que tem a reflexividade na modernidade. Sobre isso, Giddens menciona:

Consiste no fato que as práticas sociais são constantemente examinadas e reformadas sobre estas próprias práticas, alterando assim constitutivamente seu caráter. [...] Em todas as culturas, as práticas sociais são rotineiramente alteradas a luz de descobertas sucessivas que passam a informá-las. Mas na modernidade a revisão da convenção é radicalizada para se aplicar a todos os aspectos da vida humana, inclusive a intervenção tecnológica no mundo material (GIDDENS, 1991, p. 45).

A “reflexividade” leva em consideração os aspectos de mudança, enfatizando a construção do conhecimento e a apreensão social do conhecimento que condicionam a mudança. Nesse processo, a comunicação e os suportes de informação são entre outros instrumentos que permeiam a constituição da reflexividade. Consideramos que a “reflexividade” e o dinamismo que a caracteriza, põe em revisão as formas tradicionalmente sedimentadas. Dessa forma, o papel da educação se torna fundamental para a revisão de práticas que promovem mudanças na organização social.

A teoria proposta por Giddens fornece caminhos de análise que embasam a investigação a partir da exploração de relações entre fatos, destacando as influências das categorias espaço e tempo e as rupturas com a tradição condicionada pela reflexividade da modernidade. Para o autor esse processo metodológico, centrado nas práticas sociais, tem um rebatimento sobre o papel das ciências sociais, como geradoras de conhecimento sobre a vida social moderna. Sobre essa discussão, Giddens considera que:

A sociologia não desenvolve conhecimento cumulativo da mesma maneira que, pode-se se dizer as ciências naturais. Pelo contrário, a introdução de

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noções sociológicas ou reinvindicações de conhecimento no mundo social não é um processo que possa ser imediatamente canalizado, nem por aqueles que propõem, nem mesmo por grupos poderosos ou agências governamentais. Ainda assim o impacto prático das teorias sociológicas e da ciência social é enorme, e os conceitos e descobertas sociológicas estão constitutivamente envolvidos no que a modernidade é. (GIDDENS, 1991, p. 24).

As descobertas sociológicas alimentam a “reflexividade” e são situadas como constitutivas da modernidade. Os recortes produzidos por investigações no campo da pesquisa social é parte do conhecimento produzido em outras pesquisas e o conhecimento gerado pela investigação contribui para a reflexividade.

3.2 INSTITUIÇÕES MODERNAS NA TEORIA SOCIAL DE GIDDENS

As instituições modernas fazem parte de um contexto, que de acordo com Giddens (1991, p.16), não apresenta correspondência em outros períodos. Para Giddens (1991, p. 150), o desenvolvimento das instituições sociais modernas e sua difusão em escala mundial promovem um novo tipo de organização social.

A relação entre transformações institucionais e as fontes de dinamismo da modernidade: o distanciamento do tempo-espaço, desencaixe e reflexividade são referências de um quadro globalizado.

Na era moderna, o nível de distanciamento tempo-espaço é muito maior do que em qualquer período precedente, e as relações entre formas sociais e eventos locais e distantes se tornam correspondentemente “alongadas”. A globalização se refere essencialmente a este processo de alongamento, na medida em que as modalidades de conexão entre diferentes regiões ou contextos sociais se enredam através da superfície da Terra como um todo (GIDDENS, 1991, p. 69).

Giddens enfatiza a relação entre modernidade e globalização. Nesse quadro, as instituições modernas são apresentadas como dimensões da globalização. Assim, o sistema de estados-nação, a economia capitalista mundial, a divisão internacional do trabalho e a ordem militar são dimensões da globalização, que se constituem em instituições modernas que evidenciam aspectos diferenciados no contexto contemporâneo.

A interdependência entre os estados, a construção de organizações intergovernamentais, entre outras discussões, aponta para o entendimento de perda de

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soberania dos estados-nação. Para Giddens “a soberania do estado moderno foi, desde o inicio, dependente das relações entre estados”. O sistema de estado-nação e as relações que se constroem entre os estados são permeados por questões políticas, econômicas, culturais, assim como por processos de desenvolvimentos desiguais como enfatiza o autor. A soberania do estado-nação está vinculada a essas questões e se fortalece a partir de acordos que se estabelecem no cenário de economia globalizada.

Para Machado (2004, p. 221), a importância do estado-nação não é diminuída, mas continua efetiva e se fortalece em outra instituição moderna que é o sistema capitalista. Sobre essa discussão, o autor menciona que:

O Estado-nação é importante para a reprodução do capitalismo tardio, já que é um grande centro de produção de imagens, um agente de fragmentação da realidade em identidades mediadas pelo mercado. É por meio dele que o capital internacional escapa da regulamentação – pois circula livremente – e é por meio dele que se desenvolve uma indústria cultural que tem como centro a comercialização de imagens essencializadas das identidades espalhadas pelo mundo. (MACHADO, 2004, p. 225).

O autor dá luz à discussão sobre a construção de uma cultura que colabora com a valorização do capital e aponta que o estado-nação é um instrumento fundamental nesse processo.

A economia capitalista mundial e a rede de conexões entre estados é um dos aspectos destacados na dimensão econômica da globalização. O estudo de Giddens apresenta a expansão capitalista com ênfase no processo de integração econômica desvinculada de um centro político. Sobre a importância do capitalismo para o quadro moderno, Giddens registra que “o capitalismo foi uma influência globalizante fundamental precisamente por ser uma ordem econômica e não política” (1991, p. 74). Por outro lado o autor demonstra que é relevante a análise que encadeia a dimensão econômica e política:

As distinções entre centro, semiperiferia e periferia (elas mesmas talvez de valor questionável), baseadas em critérios econômicos, não nos permite elucidar concentrações de poder político ou militar, que não se alinham de maneira exata as diferenciações econômicas.(GIDDENS, 1991, p. 74). Dulci (2009) é enfático ao apontar o encadeamento entre a dimensão econômica e política:

A hegemonia do capitalismo financeiro, ao ponto a que chegou, só poderia ser alcançada pela via política, mediante o manejo oportuno de recursos de poder. Pode-se buscar uma demonstração disso pelo estudo das relações

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entre elites econômicas e políticas nos diversos países do mundo. (DULCI, 2009, p. 115).

Imbricamento entre a dimensão econômica e política é um aspecto comum na análise de Giddens e Dulci. Nesse contexto, Giddens considera que os estados capitalistas mantêm em sua organização institucional um insulamento da dimensão econômica em relação à dimensão política, apesar de influências mútuas das duas dimensões. Isso para o autor, “possibilita um amplo escopo para as atividades globais das corporações”. (GIDDENS, 1991, p. 75). Além do poderio econômico, as corporações são capazes de exercer influências em sistemas políticos em localidades onde se instalam.

Os aspectos dessa dimensão da globalização e a ênfase como instituição moderna são destacados por Giddens, para enfatizar as formas de organização social produzidas pela modernidade. E mais especificamente consequências da modernidade.

Em relação à ordem militar como instituição moderna, Giddens destaca que as conexões no quadro contemporâneo, o avanço da indústria da guerra, o poder militar dos estados, como o dimensionamento de conflitos, em que conflitos locais se transformaram em questões de envolvimento global, são enfatizadas no quadro moderno. Essas questões envolvendo a ordem militar na modernidade direcionam acordos e limitam os estados a forjarem monopólios de estratégias militares dentro de seus territórios. Giddens destaca que a constituição dessa instituição moderna ocorre como resultado do poder destrutivo maciço do armamento moderno. Isso para o autor impulsiona os estados a possuírem uma força militar maior que em outros momentos históricos.

No que se refere à divisão global do trabalho, destaca que está estreitamente ligada ao desenvolvimento industrial. Nessa dimensão da globalização é destacada a divisão de atividades, sobretudo as especializações regionais, o que se refere ao “tipo de indústria, capacitações e a produção de matérias-primas” (GIDDENS, 1991, p. 80). Para Giddens, um dos principais impactos do industrialismo nessa dimensão institucional é a difusão mundial das tecnologias e como essa ocorrência afeta diretamente os aspectos da vida cotidiana.

A análise das instituições modernas apresentadas por Giddens dá lastro ao encadeamento de acontecimentos e fortalece o entendimento de como as instituições modernas permeiam as formas sociais de organização. Para o autor, o estudo de como a vida social é organizada, deve ser o ponto de partida do estudo social. Os aspectos institucionais e enfeixamento entre essas instituições modernas incidem sobre a organização social e promovem mudanças sobre estruturas organizativas. O estudo desse quadro evidencia a

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