• Nenhum resultado encontrado

6 A GESTÃO DA EDUCAÇÃO NO MUNICÍPIO DE GOIANA

6.4 GESTÃO DA CLASSE DOCENTE

As mudanças do cenário de crescimento industrial permeiam também a atuação docente. Ball considerando as mudanças ocorridas pela concepção gerencialistas para as políticas educacionais, menciona que: “cenários diferentes oferecem diferentes possibilidades e limites para o profissionalismo” (BALL, 2005, p. 547). O entendimento é que as novas

orientações são introduzidas e que tais condições “remodelam as relações de poder e afetam como e onde são feitas as opções de políticas sociais” (BALL, 2005, p. 547). Podemos interpretar que o cenário de mudanças econômicas do município repercute nos papeis da classe docente e impulsionam a construção de novas perspectivas profissionais.

A construção de perspectivas profissionais no cenário de crescimento industrial insere nova demanda à atuação profissional. Apontamentos como capacitação, rendimento profissional, abertura de concursos para contratação profissional e reformulação do Plano de Cargos e Carreiras (PCC) são alguns dos dados tratados sobre o tema nos relatos coletados nas entrevistas. Sobre esse quadro o trecho da entrevista registra que:

[...] Temos elaborado proposições com as demandas principais. Hoje tem demanda que a gente não vai esperar o Plano Municipal, por que hoje a gente tem estagiários na rede, alguns contratos que são pouquíssimos, precisamos de um concurso, para que essas vagas sejam ocupadas por profissionais. (Conselheira Municipal de Educação do Município de Goiana 2011-).

A realização de concursos e ocupação de cargos, atualmente exercidos por estagiários, é apontada como uma necessidade de adequação no cenário de crescimento industrial. O depoimento apresentado esclarece certa urgência de tratamento desse assunto, visto que a medida deve anteceder a reformulação do Plano Municipal.

O PME do município de Goiana, no que se refere ao tratamento da classe docente, tem inicio com a construção de um diagnóstico. O levantamento desse tema no diagnóstico aponta para a insuficiência da política local em relação à classe docente. Sobre a discussão, o PME registra:

a) Formação insuficiente do corpo docente; b) Desvalorização do curso normal médio; c) Currículo que dicotomiza teoria e pratica; d)Falta de incentivos à formação continuada; e)Falta de motivação dos professores; f)Múltipla jornada de trabalho; g)Salários dos profissionais de educação nivelados por baixo; h)Baixos níveis de aproveitamento na aprendizagem, combinando os elevados índices de repetência com a evasão escolar; i) Número excessivo de alunos por sala de aula; j) Falta de materiais didáticos de apoio ao trabalho pedagógico; k)ausência dos pais no cotidiano da escola; l)Falta de acompanhamento psicopedagógico e psicológico; m)Articulação ineficiente entre a Secretaria, Escola, Conselho Tutelar e comunidade. (GOIANA, 2008, p. 100).

O elenco de dados do diagnóstico repercute nas ações construídas no plano, com o objetivo de mudança no ponto em que a política local é provocada a atender, como se registra,

a valorização do professor. As ações previstas na construção do Plano registram que a valorização implica os requisitos de formação do profissional, programa de educação continuada, organização de jornada de trabalho, adequação salarial e compromisso social e político do magistério.

É pertinente considerar, como pontuamos ao longo da discussão, que o Plano Municipal de Educação, não se constitui como uma política de Estado. Portanto, lacunas nas ações de valorização do magistério são evidenciadas e intensificadas diante do contexto de crescimento industrial:

Hoje nós temos uma grande preocupação com o Plano de Carreiras. Nós temos um Plano de Carreiras que está prestes a ser reformulado também, além do Plano decenal, é o PCC do Magistério, ele precisa ser reformulado. Então ao mesmo tempo que seja o setor econômico que vai fomentar mais imposto, mais tudo, a gente sonhou em ter um Plano de Carreiras mais adequado as nossas necessidades. O custo de vida da cidade aumentou. Então se o reajuste nosso anual que é dado pelo Governo Federal foi um problema este ano para repassar, eu tenho uma preocupação hoje, se amanhã se em janeiro a gente vai ter um aumento de 13, 65 %, então minha preocupação é essa: que não seja cumprido. (Conselheira Municipal de Educação do Município de Goiana 2011-).

A atenção nesse contexto de mudanças está em torno do Plano de Cargos e Carreira e Remuneração do Grupo Ocupacional de Apoio Administrativo do Magistério (PCCRR) ou, como é falado nas entrevistas, o Plano de Cargos e Carreiras (PCC), instituído pela Lei Municipal 2.065, de 12 de maio de 2008. A sanção da Lei 2. 095, de 09 de março de 2009, adequa a remuneração dos profissionais do Magistério Público da Educação Básica do município de Goiana ao piso salarial nacional. Ainda em 2009, o Plano recebe alteração, instituída pela Lei Municipal 2.123 de 30 de dezembro de 2009, que está em vigência.

O respaldo legal existe, mas impasses influenciam o que é estabelecido legalmente. Essa situação é alertada na fala da depoente, quando exemplifica que no acordo de reajuste houve problemas no repasse. Também é pertinente observar outros impasses como o fato de que, ao mesmo tempo em que o descumprimento do que legalmente já foi estabelecido vem à tona, o PCC vigente não atende às expectativas da classe e é apontada a necessidade de atualizações que acompanhem o contexto de mudanças locais.

No trecho da entrevista em que apresentamos o cenário de mudanças e a repercussão no aumento do custo de vida do munícipio, são apontadas questões significativas que influenciam a necessidade de reformulação do PCC. As exigências profissionais do cenário de

crescimento industrial também são evidenciadas como justificativa para a reformulação da valorização profissional no PCC.

A reformulação do PCC do município é requisitada no que diz respeito à qualidade da educação e à valorização profissional, como verificamos nos depoimentos:

Os planos de cargos e carreiras, eles não incentivam o professor para dar esse salto de qualidade no seu trabalho. (Presidente do Sindicato dos Professores do Município de Goiana 2013-).

[...] Acham que o nosso Plano é muito ousado, e o impacto para a educação não estão relacionados, a cobrança que vem, com as formações. A cobrança para estarmos preparados. (Conselheira Municipal de Educação do Município de Goiana 2011-).

As observações da entrevistada apontam para uma política de valorização do profissional por parte da gestão local. Além disso, em outro trecho a entrevistada deixa evidente que esse cenário de crescimento industrial requer uma postura profissional mais participativa:

Com relação ao preparo do professor, ele hoje não se prepara se ele não quiser. Eu estou inscrita em três cursos. Para melhorar o nosso atendimento, adequar a escola à demanda que está aí, tá batendo na nossa porta, não. Ela já chegou, então tem a preocupação que as pessoas tenham capacitações, tenham outros cursos. Hoje temos conhecimento que na nossa cidade temos doutores, mestres, e isso era uma coisa rara. (Conselheira Municipal de Educação do Município de Goiana 2011-).

Observamos que o contexto de crescimento industrial rebate em uma nova concepção de planejamento, que se articula com a reformulação de instrumentos legais a abertura de espaços de participação da comunidade, com objetivo de interlocução entre segmentos da sociedade, participação profissional e consolidação de uma política local contínua.

Outra dimensão da gestão da classe docente, evidenciada no relato que transcrevemos, é o acompanhamento das atividades profissionais. O trabalho do professor, nessa visão, deve ter um acompanhamento que explicite orientações de rendimento, que observe condições norteadoras para que o trabalho alcance o objetivo de aprendizagem. Esse aspecto é evidenciado em correlação com a qualidade de educação. O entrevistado menciona:

Não há esse sistema de acompanhamento da gestão sobre o trabalho do professor, é uma pena. E esse sistema de gestão de acompanhamento ele devia ter uma regra clara no Plano de Cargos e Carreiras. A gente ali devia estabelecer os parâmetros, do que o professor precisa fazer e qual o

rendimento que ele precisa ter, para que o seu desempenho seja aproveitado, no sistema de ensino e aprendizagem e isso a gente não tem. (Presidente do Sindicato dos Professores do Município de Goiana 2013-).

Percebemos que o relato do entrevistado citado acima materializa questões das práticas sociais da gestão local da classe docente, bem como a ausência de objetivos norteadores para a prática docente que realcem a ligação entre prática e planejamento.

Por um lado a discussão apontada no relato citado evidencia fragilidades da gestão da classe docente, por outro aponta para uma reflexão apropriada na discussão sobre a gestão da classe docente. Tal reflexão se refere às críticas aos modelos de gestão que permeiam o trabalho docente, que tolhem o exercício da atividade do professor, em afirmação de uma política que enfatiza a padronização de processos e controle de rendimentos, como considera de maneira pertinente Ball (2005, p. 546):

As organizações educacionais reformadas estão agora “povoadas” de recursos humanos que precisam ser gerenciados; a aprendizagem é reapresentada como o resultado de uma política de custo-benefício; o êxito é um conjunto de „metas de produtividade.‟

Os docentes são atores sociais que compõem esse cenário de crescimento. E o desafio para a política local é o de construção de uma política educativa que esteja correlacionada com a realidade do município, a fim de alcançar o que defende o PNE em relação à construção de uma política educacional que busque a qualidade:

Um quadro de profissionais da educação motivados e comprometidos com os estudantes de uma escola é indispensável para o sucesso de uma política educacional que busque a qualidade referenciada na Constituição Brasileira. Planos de carreira, salários atrativos, condições de trabalho adequadas, processos de formação inicial e continuada e formas criteriosas de seleção são requisitos para a definição de uma equipe de profissionais com o perfil necessário à melhoria da qualidade da educação básica pública. (BRASIL, 2014, p. 12).

As orientações registradas no PNE no que diz respeito aos sistemas de ensino relacionam a melhoria da qualidade da educação a requisitos de valorização. Dessa forma, o ambiente proposto para a construção de uma política educacional envolve a valorização dos profissionais da educação integrada à oferta e à qualidade da educação.

As diretrizes da política de educação para a classe docente evidenciada no Plano Municipal de Educação não está correlacionada a visão de valorização profissional apresentada, por exemplo, pelo Conselho Municipal de Educação e Sindicato dos

Profissionais de Educação em Goiana. De acordo com os relatos há impasses em relação a contratação, realização de concursos, cumprimento de acordos salariais, entre outras questões são apontadas. Este quadro da política educacional no cenário de crescimento econômico apresenta novas dimensões para a valorização profissional; Plano de Cargos e Carreiras para o Magistério e a política de formação continuada, estão na pauta das reivindicações e mudanças são apontadas como necessárias em função das exigências do cenário de crescimento industrial. Os desafios desse cenário, nos relatos apresentados, evidencia a discussão da valorização profissional, da qualidade da educação em correlação as mudanças socioeconômicas do município, por outro lado as questões da política de gestão da educação para a classe docente, também registradas nos relatos, demonstram impasses entre as práticas da gestão local e as expectativas da classe em relação a valorização profissional.