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REGIME DE COLABORAÇÃO E OUTRAS FORMAS DE ARTICULAÇÃO E

6 A GESTÃO DA EDUCAÇÃO NO MUNICÍPIO DE GOIANA

6.3 REGIME DE COLABORAÇÃO E OUTRAS FORMAS DE ARTICULAÇÃO E

A construção de ações pactuadas e o fortalecimento de ações cooperativas que visem à construção sistêmica da política de educação refletem o entendimento sobre o Regime de Colaboração. Nesse quadro, a definição de responsabilidades fortalece a descentralização que é um princípio da gestão sistêmica e o apoio técnico e financeiro ressalta também a cooperação. O entendimento é de partilha de responsabilidades, atividades e recursos.

O regime de colaboração é referendado para a construção de uma política da nação, na qual a articulação entre União e os entes federados respaldem ações que promovam a política educacional. O entendimento registrado no PNE sobre o regime de colaboração destaca que é “forma republicana, democrática e não competitiva de organização da gestão, que deve ser estabelecida entre os sistemas de ensino, para assegurar a universalização do ensino obrigatório” (BRASIL, 2014, p.17). Dessa forma, o objetivo de universalização do ensino, pressupõe a articulação, ou seja, o apoio necessário ao cumprimento de responsabilidades locais como, por exemplo, a participação dos municípios nesse processo.

A dinamização do regime de colaboração para além do registro Constitucional encontra entraves fortalecidos na falta de apoio técnico e financeiro, nas diferenças regionais e na própria dinâmica de gestão local. Essa crítica encontra resposta na menção que o plano faz a respeito das estratégias para dinamização do regime de colaboração, na qual lemos que “a maioria das estratégias apresentadas no PNE tem como ancoragem o acionamento de mecanismos que pressupõem a dinamização do regime de colaboração” (BRASIL, 2014, p. 17). O entendimento é de que a articulação entre os entes fortaleça o apoio para a concretização dos objetivos da gestão da educação. Anteriormente a socióloga Silke Weber fez críticas a modelos burocráticos estabelecidos na construção do plano. Weber questiona a relação entre o modelo de gestão do plano e o alcance de objetivos da qualidade na educação. Sobre essa discussão Weber menciona que:

O que cabe perguntar é se tais instrumentos irão subsidiar (ou não) a regulação, atividade de Estado que visa ao ordenamento e desenvolvimento do conjunto das unidades escolares da educação básica, com o fito de oferecer os seus diversos tipos e modalidades de ensino em padrões de qualidade que se coadunem com as exigências inerentes à formação e ao exercício da cidadania requeridas pela sociedade brasileira atual. (WEBER, 2008, p. 315).

Weber afirma que as regras devem ser estabelecidas e observadas para se tornarem referências nas instituições escolares. A autora evidencia o distanciamento entre a concepção de regras e as práticas locais. No tocante à política educativa, o alcance de objetivos pode ser ofuscado pelos arranjos locais. A crítica da autora permanece atual diante dos relatos sobre o que é estabelecido em gestões locais.

O PNE reconhece lacunas em relação à regulamentação do regime de colaboração e evidencia que promover a construção do regime de colaboração, está correlacionado à atuação da União, representada pelo Ministério, e também dos entes federativos. Sobre a discussão, o PNE registra que:

O Ministério da Educação exerce, nesse contexto, sua função de coordenação federativa, tendo como desafio estimular que as formas de colaboração entre os sistemas de ensino sejam cada vez mais orgânicas, mesmo sem que as normas de cooperação ainda estejam regulamentadas. (BRASIL, 2014, p. 8).

O reconhecimento do papel dos entes federativos na consolidação do regime de colaboração é explicitado no PNE. O entendimento é que as lacunas podem ser superadas por uma atuação mais participativa da gestão local. Por outro lado, é relevante entender que limites financeiros se tornam impeditivos da construção de iniciativas locais. O destaque do regime de colaboração converge para a orientação de que “as estratégias delineadas no novo PNE só serão efetivas se o pacto federativo se consolidar com a delimitação, no regime de colaboração, da assunção das responsabilidades específicas dos entes federativos” (BRASIL, 2014, p. 49). Nesse contexto, a concepção do PNE é de promover a articulação e a construção de uma política educativa unificada.

As discussões sobre o regime de colaboração no âmbito do município e as articulações entre setores reafirmam o entendimento de que a cooperação é necessária ao cumprimento das responsabilidades locais. Sobre a discussão, verificamos no trecho da entrevista abaixo:

Tem que existir uma articulação, até por que esta engrenagem não funciona. Porque se o Conselho, ele normatiza. Se o Conselho debate sobre as políticas públicas educacionais que são executadas pela Secretaria de Educação, então tem que haver essa interação. (Presidente do Sindicato dos Professores do Município de Goiana 2013-).

A interação entre setores permeia a construção normativa como é evidenciado na fala do entrevistado. A discussão evocada nessa fala é que a articulação é necessária ao cumprimento das ações, esse entendimento é fortalecido pelo mesmo entrevistado no trecho abaixo:

[...] A lei define, qual o sistema educacional, e qual é o papel, que os estados, os munícipios e a União tem nesse regime de colaboração, que está estabelecido lá na Constituição e na Lei de Diretrizes e Bases. [...] outras pessoas dizem, que estes papeis está bem claro e definidos nos planos e nas leis de sistema. Mas aí não se chega a um norte, a um denominador comum. Então este é um debate, o que é regime de colaboração? Quais os papeis? O que cada ente desempenha no seu sistema? Como esse sistema pode ser mais dinâmico para atingimento do seu papel e metas. Então esse é o grande debate hoje tanto em nível nacional, quanto estadual, e também a gente pode dizer que tem esse debate no nosso município. Afinal de contas, a gente não vai ter condições de cumprir as metas do Plano Nacional de Educação se a gente não tiver aí, uma boa articulação entre o Estado, União e municípios. (Presidente do Sindicato dos Professores do Município de Goiana 2013-).

A articulação é relacionada no depoimento ao cumprimento das metas do PNE. Essa discussão reafirma a atenção ao alcance de metas do Plano que, entre outras questões, são significativas à política de financiamento e viabilizam políticas locais. Nesse trecho da entrevista, são identificadas práticas locais de colaboração no estabelecimento de políticas públicas:

[...] o que eu posso dizer, é que existe colaboração do transporte. Do transporte municipal, afinal de contas a rede do município é grande e tá bem definido que o estado só oferta ensino médio e todo ensino fundamental é com a prefeitura, mas todo ensino médio é responsabilidade do estado, então existe esse transporte dos estudantes, então há essa colaboração bem visível no transporte. (Presidente do Sindicato dos Professores do Município de Goiana, 2013-).

A colaboração apontada do transporte escolar é situada em relação à articulação entre estado e município. Também é referendado na Lei Orgânica do Município (LOM) o apoio do município ao transporte para atividades de ensino. Nos artigos 150 e 185 da LOM, lê-se que o município:

XV – Promoverá, gratuitamente, na forma da lei, o transporte de estudantes residentes no Município, para frequentarem, na Capital do Estado de

Pernambuco ou nas localidades com o mesmo itinerário, cursos inexistentes no Município;

VII – Atendimento ao educando, no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. (GOIANA, 2010, p. 55).

O deslocamento de alunos para atividades de ensino é inserido na LOM em apoio ao desenvolvimento educacional, tratado como inciativa do município. Sobre as ações colaborativas o Secretário de Educação do município menciona que:

Além da relação colaborativa com a União, a Secretaria de Educação e Inovação mantém parcerias com o Estado, na perspectiva da requalificação de Espaços Educacionais e implementação de Programas envolvendo o Transporte Escolar, a Distorção Idade Série e a Educação de Jovens e Adultos (REIS FILHO, 2014, não paginado).

Outras articulações são identificadas no trecho da entrevista, mas o programa de apoio ao deslocamento de alunos para atividades de ensino aparece com ênfase nos depoimentos. Outras formas de colaboração são identificadas nesse trecho da entrevista:

Existem parcerias com relação ao transporte escolar dos alunos do estado também para outras escolas. Parceria de programas, como o “Se Liga”. E do Governo Federal nós temos a parceria do “Programa Mais Educação”, do “Escola Aberta”, do mobiliário, das construções, dos transportes, tudo é contrapartida, que é feita entre os entes federados. (Conselheira Municipal de Educação do Município de Goiana 2011-).

As articulações apontadas pela depoente são identificadas como parcerias importantes para o melhoramento da estrutura física, como também de desenvolvimento de programas voltados para a formação educacional. As articulações apontadas no depoimento são compreendidas como proposta para o desenvolvimento educacional local, pois criam oportunidade de financiamento das atividades.

Em outra visão, entretanto, as ações que são apontadas ainda não celebram uma proposta integradora do regime de colaboração. No trecho abaixo, o depoente trata das parcerias e articulações:

Uma obra ou outra é apoiada pelo Estado [...]. Há ações, uma política integrada não. Ações entre estado e município, uma política integradora, uma intencionalidade, no geral não existe. Existe muito diagnóstico, existe muito entendimento da realidade, mas a gente não notou ainda, não percebeu, uma política integradora dos órgãos, dos setores. (Presidente do Sindicato dos Professores do Município de Goiana 2013-).

As ações incidem sobre o desenvolvimento estrutural das escolas, mas as articulações, como são tratadas pelo depoente, não representam uma política integradora, que envolva subsídios para uma perspectiva colaborativa inserida numa visão de gestão sistêmica. Como observamos acima, algumas lacunas demonstram a ausência de normas de cooperação que não foram regulamentadas, para consolidação do regime de colaboração. Esse quadro incide na articulação entre instâncias governamentais, e não promove a continuidade. Como relata o depoente “são ações” e dessa forma não se constituem em uma política de Estado.

Nos relatos, outras formas cooperativas, que não constituem o regime de colaboração entre União e os entes, são apontadas. Porém tais iniciativas constituem formas cooperativas de interação entre o poder público local e atores do entorno. Tais iniciativas incidem no contexto da educação no município e são correlacionadas ao crescimento industrial. Sobre esse aspecto a entrevistada registra que:

A Hemobrás ela disponibiliza um projeto. E o papel do município é construir um projeto e ela vai e financia. Então existe contrapartida. Por exemplo: tem um projeto agora, tentando ser aprovado, O financiamento é da empresa e a Secretaria de Educação tem que fazer um projeto. Então há contrapartidas deles investindo na nossa educação. (Conselheira Municipal de Educação do Município de Goiana 2011-).

A oferta de projetos de educação inseridos numa perspectiva social do empresariado local é identificada no trecho da entrevista. A presença de instituições de outras instâncias do governo federal e estadual também se estabelece no município. O trecho da entrevista evidencia a questão:

Uma Escola Técnica foi implantada acerca de um ano. A gente vai ter uma escola do SENAI. A partir do ano que já começa a ser construída. A gente sente que tá sendo oferecido vários cursos de formação. (Presidente do Sindicato dos Professores do Município de Goiana 2013-).

Nesse trecho, a oferta de outras instituições de formação provoca uma dinâmica na oferta de formação, que se relaciona a um momento mais recente do município. Esse quadro é reconhecido no trecho da entrevista que apresentamos abaixo:

O SESI tem investido bem mais em educação em Goiana, do que há alguns anos atrás. Antes era só a Educação Infantil e ultimamente, já tem até o ensino médio. A Câmara aprovou um projeto de lei doando um terreno ao SENAI e já está lá pra ser construído. O SESC Ler também tá chegando, ele já estava previsto. O SESC ler, vai além do ensino regular eles tem escola de

formação. Eles trazem cursos de formação profissional. (Vereador da Câmara Municipal de Goiana 2013-).

A fala evidencia que a presença de instituições formativas, como o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), SESC (Serviço Social do Comércio) e SESI(Serviço Social da Indústria) incide sobre a oferta educacional no munícipio. E o estabelecimento dessas instituições é compreendido como cooperativo no atendimento de demandas atribuídas ao contexto de crescimento industrial. Contudo, a Secretaria de Educação do município não tem participação na efetivação dessa cooperação como afirma o Secretário de Educação do munícipio:

A Cooperação com outros Órgãos (SENAI, SENAC, etc.) na perspectiva da qualificação profissional é efetivada, no Município, pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia. (REIS FILHO, 2014, não paginado).

Apesar de o estabelecimento dessas instituições incidir sobre a oferta da educação, a Secretaria não participa da efetivação dessas relações. A articulação é compreendida na perspectiva de construção de uma política integradora entre as instituições públicas, privadas e de economia mista para a oferta de ensino no município.

Em relação à cooperação que se apresenta a partir da inciativa do empresariado, representantes das indústrias que se instalaram no cenário recente, como por exemplo, FIAT e a Hemobrás, a cooperação se apresenta em iniciativas para melhoramento da estrutura física de algumas escolas, como se percebe no trecho da entrevista:

Um grupo de diretores de empresas já tem dado olhar para esse lado social. Em iniciativas, já recuperaram creches, além da estrutura física, todos os equipamentos, de montagem das salinhas, tem a parte de cozinha, já deixaram estruturado. (Conselheira Municipal de Educação do Município de Goiana 2011-).

A cooperação em relação à estrutura física também é apontada pelo Secretário de Educação do Município:

A Secretaria de Educação e Inovação visa criar parcerias com os Setores Produtivos na perspectiva de apoio estrutural das Escolas Públicas Municipais, em particular, das creches construídas com o apoio do Governo federal. (REIS FILHO, 2014, não paginado).

As formas cooperativas com empresas são situadas em uma perspectiva de futuro das ações da Secretaria. Por outro lado, percebemos que a participação do empresariado das indústrias e de outras instituições de economia mista ocorre e incide sobre a oferta de formação e sobre os recursos nesse cenário recente vinculado ao crescimento industrial. As articulações são também destacadas como ocorrências do cenário de crescimento industrial como é registrado no trecho da entrevista:

[...] Então ações existem. E muitas motivadas por causa destes investimentos. Mas isso já repercutiu na rede em si. Eu posso te dizer que ainda não. (Presidente do Sindicato dos Professores do Município de Goiana 2013-)

Observamos que várias questões são consideradas no contexto de articulações, sejam no estabelecimento do regime de colaboração entre as instâncias governamentais, seja nas formas de cooperação de setores industriais. As articulações apontadas nos relatos são repercussões do cenário de crescimento industrial e influenciam a construção da política de educação local. Porém, mesmo reconhecendo as influências na visão do entrevistado, o cenário de mudanças ainda não promove mudanças na Rede de Educação. Consideramos que o planejamento local é impactado nesse contexto de crescimento, contudo a construção de um planejamento que envolva esses representantes não se apresenta como ação organizada da política de educação do município, diante dos desafios que se colocam nesse cenário de crescimento e de articulações com atores governamentais e Não-governamentais.

Neste quadro as ações que se apresentam, de atores do entorno como, por exemplo, as ações realizadas por empresários que direcionam investimentos, sinalizam a presença de novos atores no cenário de gestão da política local. Esse quadro apresenta de acordo com relatos que coletamos possibilidades de parcerias entre atores institucionais e atores vinculados a indústrias e instituições formadoras de economia mista como o SENAI, SENAC, SESC.