• Nenhum resultado encontrado

INSTITUIÇÕES MODERNAS NA TEORIA SOCIAL DE GIDDENS

3 DESCONTINUIDADES E REFLEXIVIDADE: PERSPECTIVA TEÓRICA NA

3.2 INSTITUIÇÕES MODERNAS NA TEORIA SOCIAL DE GIDDENS

As instituições modernas fazem parte de um contexto, que de acordo com Giddens (1991, p.16), não apresenta correspondência em outros períodos. Para Giddens (1991, p. 150), o desenvolvimento das instituições sociais modernas e sua difusão em escala mundial promovem um novo tipo de organização social.

A relação entre transformações institucionais e as fontes de dinamismo da modernidade: o distanciamento do tempo-espaço, desencaixe e reflexividade são referências de um quadro globalizado.

Na era moderna, o nível de distanciamento tempo-espaço é muito maior do que em qualquer período precedente, e as relações entre formas sociais e eventos locais e distantes se tornam correspondentemente “alongadas”. A globalização se refere essencialmente a este processo de alongamento, na medida em que as modalidades de conexão entre diferentes regiões ou contextos sociais se enredam através da superfície da Terra como um todo (GIDDENS, 1991, p. 69).

Giddens enfatiza a relação entre modernidade e globalização. Nesse quadro, as instituições modernas são apresentadas como dimensões da globalização. Assim, o sistema de estados-nação, a economia capitalista mundial, a divisão internacional do trabalho e a ordem militar são dimensões da globalização, que se constituem em instituições modernas que evidenciam aspectos diferenciados no contexto contemporâneo.

A interdependência entre os estados, a construção de organizações intergovernamentais, entre outras discussões, aponta para o entendimento de perda de

soberania dos estados-nação. Para Giddens “a soberania do estado moderno foi, desde o inicio, dependente das relações entre estados”. O sistema de estado-nação e as relações que se constroem entre os estados são permeados por questões políticas, econômicas, culturais, assim como por processos de desenvolvimentos desiguais como enfatiza o autor. A soberania do estado-nação está vinculada a essas questões e se fortalece a partir de acordos que se estabelecem no cenário de economia globalizada.

Para Machado (2004, p. 221), a importância do estado-nação não é diminuída, mas continua efetiva e se fortalece em outra instituição moderna que é o sistema capitalista. Sobre essa discussão, o autor menciona que:

O Estado-nação é importante para a reprodução do capitalismo tardio, já que é um grande centro de produção de imagens, um agente de fragmentação da realidade em identidades mediadas pelo mercado. É por meio dele que o capital internacional escapa da regulamentação – pois circula livremente – e é por meio dele que se desenvolve uma indústria cultural que tem como centro a comercialização de imagens essencializadas das identidades espalhadas pelo mundo. (MACHADO, 2004, p. 225).

O autor dá luz à discussão sobre a construção de uma cultura que colabora com a valorização do capital e aponta que o estado-nação é um instrumento fundamental nesse processo.

A economia capitalista mundial e a rede de conexões entre estados é um dos aspectos destacados na dimensão econômica da globalização. O estudo de Giddens apresenta a expansão capitalista com ênfase no processo de integração econômica desvinculada de um centro político. Sobre a importância do capitalismo para o quadro moderno, Giddens registra que “o capitalismo foi uma influência globalizante fundamental precisamente por ser uma ordem econômica e não política” (1991, p. 74). Por outro lado o autor demonstra que é relevante a análise que encadeia a dimensão econômica e política:

As distinções entre centro, semiperiferia e periferia (elas mesmas talvez de valor questionável), baseadas em critérios econômicos, não nos permite elucidar concentrações de poder político ou militar, que não se alinham de maneira exata as diferenciações econômicas.(GIDDENS, 1991, p. 74). Dulci (2009) é enfático ao apontar o encadeamento entre a dimensão econômica e política:

A hegemonia do capitalismo financeiro, ao ponto a que chegou, só poderia ser alcançada pela via política, mediante o manejo oportuno de recursos de poder. Pode-se buscar uma demonstração disso pelo estudo das relações

entre elites econômicas e políticas nos diversos países do mundo. (DULCI, 2009, p. 115).

Imbricamento entre a dimensão econômica e política é um aspecto comum na análise de Giddens e Dulci. Nesse contexto, Giddens considera que os estados capitalistas mantêm em sua organização institucional um insulamento da dimensão econômica em relação à dimensão política, apesar de influências mútuas das duas dimensões. Isso para o autor, “possibilita um amplo escopo para as atividades globais das corporações”. (GIDDENS, 1991, p. 75). Além do poderio econômico, as corporações são capazes de exercer influências em sistemas políticos em localidades onde se instalam.

Os aspectos dessa dimensão da globalização e a ênfase como instituição moderna são destacados por Giddens, para enfatizar as formas de organização social produzidas pela modernidade. E mais especificamente consequências da modernidade.

Em relação à ordem militar como instituição moderna, Giddens destaca que as conexões no quadro contemporâneo, o avanço da indústria da guerra, o poder militar dos estados, como o dimensionamento de conflitos, em que conflitos locais se transformaram em questões de envolvimento global, são enfatizadas no quadro moderno. Essas questões envolvendo a ordem militar na modernidade direcionam acordos e limitam os estados a forjarem monopólios de estratégias militares dentro de seus territórios. Giddens destaca que a constituição dessa instituição moderna ocorre como resultado do poder destrutivo maciço do armamento moderno. Isso para o autor impulsiona os estados a possuírem uma força militar maior que em outros momentos históricos.

No que se refere à divisão global do trabalho, destaca que está estreitamente ligada ao desenvolvimento industrial. Nessa dimensão da globalização é destacada a divisão de atividades, sobretudo as especializações regionais, o que se refere ao “tipo de indústria, capacitações e a produção de matérias-primas” (GIDDENS, 1991, p. 80). Para Giddens, um dos principais impactos do industrialismo nessa dimensão institucional é a difusão mundial das tecnologias e como essa ocorrência afeta diretamente os aspectos da vida cotidiana.

A análise das instituições modernas apresentadas por Giddens dá lastro ao encadeamento de acontecimentos e fortalece o entendimento de como as instituições modernas permeiam as formas sociais de organização. Para o autor, o estudo de como a vida social é organizada, deve ser o ponto de partida do estudo social. Os aspectos institucionais e enfeixamento entre essas instituições modernas incidem sobre a organização social e promovem mudanças sobre estruturas organizativas. O estudo desse quadro evidencia a

organização social e suas práticas. Para o autor, esse é um ponto de partida para o estudo social.

Giddens considera que a modernidade é inerentemente globalizante, e que as características básicas das instituições modernas evidenciam as conexões entre acontecimentos localmente distantes. Giddens destaca que:

Assim, quem quer que estude as cidades hoje em dia, em qualquer parte do mundo, está ciente de que o que ocorre numa vizinhança local tende a ser influenciado por fatores – tais como dinheiro mundial e mercados de bens – operando a uma distância indefinida da vizinhança em questão. (GIDDENS, 1991, p. 70).

As considerações do autor destacam a importância com o encadeamento de acontecimentos na pesquisa. De acordo com Giddens (1991), as estruturas sociais que se apresentam na modernidade estão associadas a novos conhecimentos sobre o mundo. Esse entendimento dá visibilidade ao tratamento da pesquisa em educação, percebendo as mudanças que se colocam. As relações políticas entre estado e educação, o contexto onde se estabelecem as políticas, a história local, entre outras questões, fazem parte do contexto de construção de políticas e são pressupostos para pesquisa em um quadro globalizado.