• Nenhum resultado encontrado

A política de licenciamento ambiental: um exemplo de coordenação bem sucedida

4. GOVERNANÇA E GOVERNABILIDADE: OS PAPÉIS DO MINISTÉRIO DE MINAS E

4.3 As múltiplas facetas da política ambiental no âmbito da exploração do pré-sal

4.3.1 A política de licenciamento ambiental: um exemplo de coordenação bem sucedida

O Entrevistado nº 9127, gerente de Meio Ambiente do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis afirma que:

“Não há nenhum diploma legal de meio ambiente voltado exclusivamente para a partilha. Há diplomas legais para cuidar

126

Trata-se de um termo técnico usado para designar a retirada, extração ou obtenção de recursos naturais, geralmente não renováveis, para fins de aproveitamento econômico.

127

das atividades de E&P offshore, quer seja concessão, quer seja partilha.”

Neste sentido, o Entrevistado nº 9 destaca algumas iniciativas recentes para aperfeiçoar o licenciamento ambiental tanto dos blocos que tem sido ou podem vir a ser explorados sob o contrato de concessão, como daqueles que serão explorados sob o contrato de partilha. Estas iniciativas denotam um esforço conjunto de coordenação entre o MME e o MMA para aperfeiçoar os procedimentos relativos ao licenciamento ambiental de petróleo e gás no país que, conforme a Resolução CONAMA 237/97, é realizado pelo IBAMA128. Como a operação no pré-sal sob a partilha acarretará investimentos gigantescos, eventuais atrasos têm um custo de oportunidade elevadíssimo para o país. Ele destaca duas portarias: a 422 do Ministério do Meio Ambiente de outubro de 2011 e a Portaria Interministerial MMA/MME nº 198/2012.

É possível que a iniciativa de realizar essas mudanças – que culminaram nas duas portarias - tenha partido da atual Ministra do Meio Ambiente, Izabella Mônica Vieira Teixeira, empossada em 2010 durante o Governo Lula e mantida no cargo pela Presidenta Dilma Rousseff129. Em janeiro de 2008 ela defendeu sua tese de doutorado, pelo Programa de Planejamento Energético da COPPE, em que discute “a oportunidade de uso da Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) no processo de concessão de blocos exploratórios de petróleo e gás natural no Brasil.” Neste trabalho, embora ressalte “os avanços nas relações interinstitucionais e na adoção de processos mais articulados de abordagem das questões ambientais pelo ciclo de planejamento de oferta de blocos exploratórios”, Teixeira argumentou que “o processo de adoção da AAE em etapas requer a convergência dos processos de planejamento ambiental e de planejamento energético” (2008, p.266-7). Em seu trabalho, ela defende que o planejamento setorial deve ser feito de forma mais abrangente, permitindo a participação de stake olders que até então não eram ouvidos, como pescadores ou a sociedade civil, e os impactos sócio- econômicos de uma forma mais ampla. Neste sentido, com base na experiência internacional, sua tese procurou ainda discutir as possíveis “bases e os requisitos técnicos, institucionais, legais e de governança necessários à adoção da AAE” (p.267),

128

A resolução estabelece que cabe ao IBAMA o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades potencialmente capazes de gerar impacto ambiental significativo localizadas ou desenvolvidas conjuntamente no mar territorial e na plataforma continental. Assim, para as atividades de sísmica, exploração e produção offshore, a responsabilidade é do IBAMA (IBP, 2012, p.18).

129

Por outro prisma, pode-se entender que a sua disposição de aperfeiçoar a integração entre os processos ambiental e de planejamento energético - dando celeridade e segurança aos processos de licenciamento ambiental – pode ter justificado sua escolha como Ministra.

com o objetivo de criar um modelo adequado aos novos desafios e à nova escala da indústria do petróleo no Brasil.

Fazendo menção à primeira portaria, que visa a aperfeiçoar os “procedimentos para o licenciamento ambiental federal de atividades e empreendimentos de exploração e produção de petróleo e gás natural no ambiente marinho e em zona de transição terra- mar”, para o Entrevistado nº 9 o processo de licenciamento ambiental no âmbito do petróleo melhorou muito nos últimos anos. Para ele, com a criação de um comitê temático de meio-ambiente no PROMINP em 2008 começou-se a discutir formas para melhorar a política ambiental e dar maior segurança jurídica ao acesso aos blocos. Assim, durante dois anos o MME, o MMA, o IBP e as operadoras - em especial a Petrobras - discutiram a elaboração de uma portaria para melhorar o licenciamento, aventando a possibilidade de não fazê-lo mais individualmente, mas por área. Segundo ele:

“Desde o ano passado já existe uma portaria que permite à operadora que ela tenha um número de poços que ela possa operar por ano naquela área que ela estudou previamente. À medida que a área aumenta, ela só faz um estudo ambiental em que ela tem poços. A Petrobras tem licenças de áreas que podem ter mais de 50 poços por ano, podendo chegar até 100. Outras operadoras tem um número menor, 5-6. Ainda assim, é uma licença por área, você estuda a área toda, define os riscos associados, você tem licença para explorar naquele período tantos poços. É uma liberdade muito grande. Outra coisa que essa portaria também permite é que uma vez um estudo ambiental sendo aprovado por uma determinada operadora ele ficará disponível publicamente para que um outro operador que vá para essa área tenha acesso a um diagnóstico já feito e aprovado. Ele não precisaria repetir os diagnósticos, o que dá celeridade ao processo. Ainda está em fase de implementação, ainda não está funcionando por que a portaria é recente, do ano passado130.”

Por sua vez, a segunda portaria, interministerial, institui a “Avaliação Ambiental de Área Sedimentar - AAAS, disciplinando sua relação com o processo de outorga de blocos exploratórios de petróleo e gás natural, localizados nas bacias sedimentares marítimas e terrestres, e com o processo de licenciamento ambiental dos respectivos empreendimentos e atividades”. O Entrevistado nº 9 afirma que seu objetivo é também aumentar a segurança jurídica dos blocos arrematados em rodadas de licitação. Como

130

explica o Entrevistado nº 9, no modelo atual de avaliação de quais blocos são ofertados a ANP identificaria os blocos que ela gostaria de ofertar, submetendo-os a um grupo de trabalho composto pelo MME, ICMBIO e pelo IBAMA. Caberia a esse GT aprovar os blocos que seriam passíveis de licenciamento e vetar aqueles em que perceberiam um risco elevado de veto futuro. O próximo passo seria assinar um documento chamado resolução conjunta, que é encaminhado ao CNPE para que este monte o cardápio de blocos. Segundo o Entrevistado nº 9 a rodada 11 já teria passado por esse procedimento, faltando somente o aval da Presidência. Assim, para ele era necessário:

“fazer um processo mais institucionalizado, como é feito em outros países para ofertar durante 5 anos os blocos. Então o mesmo cardápio de blocos vai ser ofertado durante esse prazo. Aí a ANP coloca em discussão pública através de uma concorrência uma avaliação ambiental de uma área sedimentar, onde estudos ambientais regionais vão ser prévios à oferta de blocos. Esses estudos ambientais vão ter consulta pública. A academia vai poder colaborar tanto fazendo o estudo, como dando opinião. O estudo é concluído dizendo quais blocos são aptos e quais não são. Aqui o interesse de preservação é maior que a própria exploração. Esses blocos nós temos dúvidas, isso é colocado para eventualmente ser estudado numa fase posterior. São 3 categorias ao final desse estudo. Só após o estudo os blocos serão ofertados. Além dos blocos serem ofertados cada um deles poderá estar carregado de recomendações específicas para o licenciamento, feito pelo IBAMA, pela ANP e pelo ICMBIO. Dá muito mais segurança do que o que o GT faz hoje, que é sim ou não para os blocos.”