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A presença do SESC na formação teatral sergipana

CAPÍTULO I QUESTÕES DO APRENDER: CADA LUGAR NA SUA COISA

CAPÍTULO 3 A CENA TEATRAL SERGIPANA (COM ZOOM SOBRE ARACAJU): FORMAÇÃO E PRÁTICA ARTÍSTICA

3.1.13 A presença do SESC na formação teatral sergipana

Jorge Lins ressalta que a primeira vez que o SESC se envolveu com formação teatro, em Aracaju, foi com o ator e diretor Bosco Scafs “que, apesar de estar inserido em um contexto de uma empresa, desenvolveu um trabalho teatral alternativo, de vanguarda comportamental e transgressor de padrões sociais daquela época” (CARVALHO, 2012).

Milton Leite dedicou dezesseis anos da sua trajetória profissional, desde 1986, ao trabalho cultural no SESC/Serviço Social do Comércio, de Aracaju. Nesse período ele ministrou oficinas de Danças Populares Sergipanas, com crianças e, posteriormente com a terceira idade. Esse interesse remonta ao trabalho artístico desenvolvido junto ao Grupo de Dança Caçuá, oriundo da Universidade Federal de Sergipe, ao lado dos atores “Valfran de Brito, Paulo Roberto, Douglas, Maria Aurelina e Rivaldino Santos” (LEITE, 2013).

Leite conta que, posteriormente, já nos anos de 1990, o SESC teve a coordenação artística do ator Raimundo Venâncio, que foi contratado pela entidade para movimentar as atividades culturais de suas instalações. No início dos anos de 1990, surgiram as Oficinas de Formação Artística do SESC e, dentre elas, merece destaque o Curso Técnico Profissionalizante Cena Presente, com duração de um ano. À frente dos eventos teatrais do SESC, havia a presença do diretor teatral cearense Raimundo Venâncio que produziu importantes trabalhos cênicos, na cena teatral sergipana, especialmente, o Ciclo Dramático de Brecht.

Foi o período em que se deu o Circuito Nacional de Teatro, sob a coordenação teatral do diretor carioca Sidney Cruz, que era Diretor do SESC Nacional e responsável pela itinerância das caravanas teatrais que aconteciam nos núcleos SESC de todos os estados brasileiros.

A sua presença em Aracaju é responsável por algumas relevantes atividades do

campo teatral sergipano. Venâncio lembra que no final dos anos de 1980, viabilizou a tournée nacional que possibilitou vivenciar o Grupo Teatral Mambembe, com a peça Quem Matou Zefinha?, tendo no elenco os atores: Virginia Lúcia, Raimundo Venâncio, Tonhão, Wolney, Joana Angélica, Batatinha, Sérgio Torres e Jadilson

Moreno35.

É preciso, além disso, considerar o importante encontro artístico que se deu, entre o diretor Sidney Cruz e os atores Olga Gutierez, Luiz Carlos Dussantus, Luiz Carlos Reis e Isaac Galvão, que veio produzir a emblemática montagem Esperando

Godot, de Samuel Beckett. A atriz Gutierez lembra que

35 VENÂNCIO, Raimundo de Medeiros. Diretor de teatro, ator e professor de teatro. Nesta tese, a autora

se referirá ao artista através de seu nome artístico: Raimundo Venâncio. Entrevista concedida em 17.09.2013.

Foi uma experiência que surgiu a partir de uma conversa informal entre nós todos e que mudou minha concepção do fazer teatral. Até então, eu fazia teatro, mas ia fazendo sem fundamentação teórica. Ali, com Sidney Cruz, eu passei a enxergar mais além. Mexeu muito comigo, inclusive com minha estrutura pessoal (GUTIERREZ, 2013)36.

A importância ao fato teatral se põe tanto pela encenação proposta por Cruz, quanto pela importância de Samuel Beckett, no contexto teatral do século XX, uma vez que o irlandês é considerado um precursor do pós-modernismo e um crítico irônico a respeito da modernidade. Um dos escritores fundamentais no chamado Teatro do Absurdo é justamente Esperando Godot, a sua peça mais conhecida no Brasil. Beckett, Prêmio Nobel de Literatura em 1969, acreditava que todos nós nascemos loucos, porém alguns permanecem. Sua obra é sarcástica, critica a modernidade e coloca em cena a condição humana.

Coordenando o setor Técnico de Teatro do SESC, Raimundo Venâncio, dinamizou as Oficinas Teatrais que o SESC oferecia. Em 1996, a atriz Diane Veloso participou do Curso Semi Profissionalizante Cena Presente, sob a orientação de: “Virgínia Lúcia, com Interpretação Teatral; Cícero Alberto, com História do Teatro; Raimundo Venâncio, com Jogos e Voz, Iradilson, com Corpo; Denys Leão, com Iluminação e Valkíria Sandes, com Maquiagem” (VENÂNCIO, 2013).

Após assistir a Esperando Godot, ainda uma iniciante na arte teatral, Diane Veloso se aproximou de Sidnei Cruz, estabelecendo uma importantes parceria cênica, no final dos anos de 1990, com a montagem de Bodas de Sangue, de Garcia Lorca, ao lado de Fábio Rocha, Tiago, Vanuzia, Rita Maia, Jane Fernandes e Anderson Dias (ARAÚJO, 2012). Ela recorda que

A encenação contou com uma equipe formada por: Raimundo Venâncio, na Assistência de Direção, Iradilson, com a preparação corporal; Milton Leite, com Danças Folclóricas: Denys Leão, na Iluminação e Virgínia Lúcia, no Figurino e na Cenografia. Sidnei queria uma coisa que misturasse dança popular sergipana com a cultura espanhola, um encontro de culturas. Ele bebia da nossa cultura e dialogava sobre a cultura dele. A peça se passava em um acampamento cigano e Virgínia criou um figurino se utilizando de redes. Ficou muito lindo. A metodologia do processo de Sidnei é um

36 GUTIERREZ, Olga Maria Silva. Atriz, dançarina e produtora cultural. Nesta tese, a autora se referirá à

trabalho de muita exaustão física, com base nas técnicas de Grotovski, Artaud e a teoria do Jogo do Duende, que era um jogo que ele iniciava todos os trabalhos de ensaio, especialmente para criar o clima e “instalar” os atores no jogo teatral. Era uma espécie de desafio em que os atores executavam uma disputa através da dança. Foi um trabalho muito importante porque eu pude me aventurar mais na arte teatral. Sidnei provocou uma grande mudança em meu olhar, porque eu sempre me identifiquei com o teatro e o texto contemporâneo (ARAÚJO, 2012) 37.

Em 1997, o ator André Luiz de Jesus Santana também participou de uma das edições do Curso Cena Presente. Ele conta que o curso trazia uma equipe de professores, sem formação formal nas Artes Cênicas, mas que

Raimundo Venâncio, ministrava Interpretação e Jogos. Ele trabalhava muito com temas e improvisação e solicitava a participação dos ouvintes; Valkíria Sandes era por responsável Técnica Vocal, utilizando apostilas que mostravam imagens do aparelho fonador, fazia exercícios de repetição, de trava língua, fazia jogos, lia textos e buscava reflexões; Valmir Sandes, com Maquiagem; Dussantus, com as aulas de Interpretação, trabalhava com as técnicas de Stanislavski, com a imaginação, memória afetiva, jogos e aquecimento, se utilizando de folguedos populares como reisado, guerreiro, etc; Iradilson Bispo ministrava Expressão Corporal, e ele é bailarino, fazia muito aquecimento, alongamento, ensinava como se deslocar no espaço, como cair, coisas do espaço e Cícero Alberto ministrava História do Teatro, até mesmo sobre o Teatro Sergipano. Era uma aula tipo papo, ele ia lendo a apostila, com a gente, e ia conversando. Esse material que ele preparou, ainda datilografado, serviu para a prova teórica do SATED/SE (SANTANA, 2013)38.

De um modo geral, o SESC e a sua inserção cultural no contexto do teatro não apenas sergipano mas também brasileiro merece um estudo mais cuidadoso que possa refletir sobre seus projetos, intercâmbios, exposições e atividades culturais. O SESC é um grande celeiro de memória e promoção social nas cidades em que atua.

37 ARAÚJO, Diane Veloso de. Atriz. Nesta tese, a autora se referirá à artista através de seu nome

artístico: Diane Veloso. Entrevista concedida em 29.10.2012.

38SANTANA, André Luís de Jesus. Ator e produtor cultural. Nesta tese, a autora se referirá ao artista