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CAPÍTULO I QUESTÕES DO APRENDER: CADA LUGAR NA SUA COISA

CAPÍTULO 3 A CENA TEATRAL SERGIPANA (COM ZOOM SOBRE ARACAJU): FORMAÇÃO E PRÁTICA ARTÍSTICA

3.1.11 Teatro Atheneu

Por conta da carência de espaços teatrais na cidade, o auditório do Colégio Atheneu Sergipense foi uma referência de esporte no estado de Sergipe, mas também se

afirmou como o único ambiente destinado à apresentação de espetáculos sergipanos e de outros estados, desde o período áureo da SCAS, na década de 1960.

Nos anos de 1990, o auditório foi palco do Festival Arlequim de Mármore, um projeto do governo do estado, o qual premiava os melhores trabalhos apresentados. Sobre este período, Tetê Nahas destaca que “foi uma época muito rica em termos de cultura, a cena era crescente, eram vários espetáculos, tínhamos prêmios, incentivos, festivais, era maravilhoso, qualquer jovem se empolgava e seguia na arte, pois tínhamos

oportunidade” (SANTOSapud VIEIRA, 2010, p. 30).

A performer Maicyra Leão lembra que se tratava de um circuito profissional de teatro da cidade, com encenações de grande importância para o teatro sergipano, entre elas, Ratos de Esgoto, com Isaac Galvão e Luís Carlos Reis; O Arquiteto e o Imperador

da Síria, os monólogos de Walmir Sandes, entre outras apresentações de artistas da cena

teatral da cidade. Maycira Leão explica que

Denys Leão tinha uma boa articulação como iluminador. Como ele andava nesse circuito profissional, ele conseguiu infiltrar o nosso Grupo de Teatro Arquibancada, que ele dirigia com nós, alunos do Colégio Arquidiocesano, uma vez que era nosso professor de teatro. Mas isso ocorreu porque ele entendia que o nosso trabalho teatral tinha qualidade para participar de um festival daquele porte, mesmo sendo um grupo de escola. E ganhamos prêmios e indicações (LEAO, 2012).

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Foi o tempo em que Nestor Braz era o cenógrafo dos espetáculos ditos mais tradicionais que se produziam na cidade, tendo partido em longa temporada, contratado pelo ator Procópio Ferreira, quando aqui esteve para apresentar-se na cidade. A atriz Valkíria Sandes lembra que ele era

Um cenógrafo muito bom e também era iluminador do Teatro Tiradentes, da UNIT. Ele fazia a iluminação de lá, fazia o plano de luz, aliás, a gente fazia o plano de luz, porque eu também fui iluminadora, sou iluminadora, sonoplasta, sou tudo, porque no teatro não tem segredo. Nestor concebia o cenário, mas se o diretor não soubesse, não entendesse de cenografia, se ele não entendesse, ele tinha que aprovar o cenário, porque não compreendeu, mesmo, entendeu? Nestor conversava e dizia onde deveria colocar: “Bote essa cadeira aqui, essa mesa aí não fica bem pra cena, vai ficar uma coisa fora do cenário, fora do contexto”, porque tem as dimensões, os tamanhos, o volume. Então, não podia botar essa cadeira aqui nessa mesa, tem que botar aqui, e essa cadeira ficar aqui no canto. Ele pode

dá assim as ideias. É o diretor, se ele entende, ele aprova ou não (SÁ, 2013).

Maria Beliza Alves Braz foi casada com Nestor Braz. Ela conta que ao conhecê- lo ele já era marceneiro na oficina do próprio pai, que ainda existe na Rua Riachão, agora administrada pelo seu irmão Cleante Pereira Braz: “Ele vivia com o martelo na

mão, porque ele trabalhava de carpinteiro”32, lembra, entusiasmada pela sua habilidade

no universo da carpintaria, ofício que o levou à cenografia, desde o final dos anos de 1960, conforme Beliza Braz.

Quando envolveu-se com os desfiles dos Jogos da Primavera, no Colégio Jackson, porque, lá havia os carros alegóricos, com cenários temáticos construídos por ele. Depois, enveredou-se pelo universo do teatro e, foi lá onde ele conheceu Procópio Ferreira. O técnico de Procópio não chegava e nada de começar a montagem, quando ele chegou não conseguia ajeitar as coisas. E Nestor, sempre muito inquieto, chegou lá e olhou, olhou e falou: “´É isso que vocês vão fazer? Espere um pouco, me deixe dar uma mãozinha”. Aí tomou o martelo e fez o que era preciso. Aí Procópio se apaixonou por ele e o levou em sua Companhia Teatral, por cinco anos, onde ele foi maquinista e cenógrafo e carpinteiro (BRAZ, 2013).

Valquíria Sandes explica que

O maquinista é aquele que trabalha com a bambolina, que precisa botar a iluminação, porque o maquinista trabalha lá no palco, lá em cima, pra puxar corda ou fechar cortina. É diferente do iluminador, que trabalha com a iluminação, com a mesa de luz. É diferente do sonoplasta, que trabalha com a música e os efeitos sonoros e em conjunto com o iluminador e é diferente do contra regra, que tem a responsabilidade de tudo do cenário. Você não pode botar o cenário errado, se você botar o cenário errado, eu, como diretor da peça, vou cair em cima de você, não em cima dos atores. Porque qualquer mudança no ambiente muda tudo: se você tirar essa cadeira daqui e botar ali o ator ou a atriz já fica sem saber onde é que vai, entendeu? Se isso acontecer, eles vão ter que improvisar em cima da hora (SÁ, 2013).

Beliza Braz recorda que ainda no Rio de Janeiro Nestor Braz adoeceu e o seu pai, Silvino Braz, o trouxe de volta para Aracaju para que se restabelecesse mas, depois de recuperado, ele não quis voltar à capital carioca. Ela conta que, em Aracaju, depois da experiência na companhia Procópio Ferreira, o marido trabalhou diversas vezes, como aderecista e cenógrafo, em montagens realizadas pelo Grupo de Teatro da SCAS, dirigido por João Costa e que eles sempre se procuravam, porque a convivência os tornou grandes amigos. Com tristeza, lembra que a memória de Nestor Braz foi usurpada.

Eu tinha tudo de Nestor, as entrevistas com ele, jornais, tudo da vida de Nestor, eu tinha, a vida dele, do teatro tudo, mas, minha filha, chegou uma pessoa aqui e tomou emprestado e levou tudo embora, e eu não tenho nada mais nada, não sobrou nada. Me levaram tudo de Nestor (BRAZ, 2013).

Apesar de entender de iluminação cênica, não era Nestor Braz quem conduzia essa área, no Teatro Atheneu. O iluminador oficial dos eventos era Mendes Filho, contratado que era da Universidade Federal de Sergipe, mas ali prestava atendimento técnico em luz, principalmente ao Teatro Atheneu, e mereceu a homenagem de intitular a premiação na área de luz. A iluminação cênica sergipana deve ao alagoano Mendes Filho os primórdios de uma formação não formal em iluminação cênica, uma vez que as gerações de iluminadores, que o sucederam, especialmente Denys Leão, estiveram ao seu lado na história da luz sergipana. E este inclusive é o motivo principal pelo qual escolhi Mendes Filho como um relicário do teatro sergipano, sobretudo porque é preciso visibilizar os mestres orais e colocá-los na memória escrita, como uma referência para os que virão.