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Federação de teatro amador de Sergipe/FETAS e Sindicato dos Artistas/ SATED

CAPÍTULO I QUESTÕES DO APRENDER: CADA LUGAR NA SUA COISA

CAPÍTULO 3 A CENA TEATRAL SERGIPANA (COM ZOOM SOBRE ARACAJU): FORMAÇÃO E PRÁTICA ARTÍSTICA

3.1.8 Federação de teatro amador de Sergipe/FETAS e Sindicato dos Artistas/ SATED

Desde os primeiros passos na arte teatral, quando participou de uma oficina de iniciação teatral, ministrada por Isaac Galvão, o ator Milton Leite já ouvia o mestre alertando para a necessidade de profissionalização da classe teatral.

Ele já era presidente da Federação de Teatro Amador de Sergipe/FETAS, que funcionava nas dependências do CULTART/UFS e era ligada a Confederação Nacional de Teatro/COFENATA e vivia dizendo para que nós participássemos da FETAS, que fizéssemos o cadastro, porque era preciso organizar, pelo menos, o Teatro Amador, uma vez que ainda não tínhamos o teatro profissional. Aliás, além de Isaac, também os atores Douglas e Valfran de Brito nos alertavam para que nós pudéssemos nos organizar (LEITE, 2013)20.

Leite recorda que, nos anos de 1980, a Federação de Teatro Amador de Sergipe/FETAS marcou presença na cena teatral sergipana, inclusive acolhendo diversos eventos artísticos, que se apresentavam durante as comemorações do Dia Mundial do Teatro, oferecendo cursos de formação teatral não formal e abrindo espaço para as apresentações dos grupos teatrais sergipanos. De toda maneira, é importante considerar que foi a partir da necessidade de diversas reinvindicações da classe artística amadora, em virtude do expressivo número de grupos teatrais que surgiram em Aracaju e, principalmente para organizar a cena teatral.

O ator e diretor teatral Luiz Carlos Dussantus produziu um importante relatório sobre o nascimento da FETAS, como entidade de classe e fomentadora do surgimento e do fortalecimento dos grupos teatrais sergipanos. Seu compromisso político com essa história revela um cuidado especial com a memória do teatro sergipano.

Na minha maneira de ver, o embrião da FETAS foi a realização pelo CULTART/UFS, no Teatro Maria Clara Machado (em frente à Escola Normal), em 1979, da I Semana Sergipana de Teatro. Participaram os grupos teatrais: Imbuaça, com a encenação Teatro Chamado Cordel, de diversos autores e direção de Lindolfo Amaral; Cenário, com

20 LEITE, Milton Raimundo. Dançarino e produto cultural. Nesta tese, a autora se referirá ao artista

Canção de Fogo, de Jairo Lima e direção de Valdir Oliveira; Raízes, com A Lua Lilás, texto e direção de Jorge Lins; Expressionista, com As Quixotescas Aventuras de Lampião e Beija-Flor, de José Bezerra e direção de Fernando Teixeira; Experimental da UFS, com As Hienas, de Bráulio Tavares e direção de Bosco Seabra e “Opinião”, com Cordélia Brasil, de Antonio Bivar e direção de Mauro Oelson. No encerramento, o ator José Valfran de Brito, do Grupo Teatral Experimental, da UFS, apresentou um documento que foi lido para os presentes pelo ator Luiz Carlos Alves dos Santos (Grupo Cenário) fazendo uma exposição de motivos para justificar a criação de uma entidade de classe dos artistas de teatro. O documento foi aclamado por todos e, depois de devidamente assinado, foi entregue ao Diretor do CULTART/UFS, Profº Clodoaldo Alencar. Algum tempo depois, em 1980, Lindolfo Alves Amaral Filho (Grupo Imbuaça), que já vinha mantendo contatos com a CONFENATA (Confederação Nacional de Teatro Amador), presidiu uma reunião, realizada no DCE/UFS, com os Grupos Cenário, Imbuaça, Comunicativo D’arte, Opinião, Raízes e União, para discutir os registros dos grupos e criar a Federação de Teatro. Em novembro de 1981, a Subsecretaria de Cultura e Arte (SUCA)/SEEC, promoveu o Seminário “Teatro Sergipano: uma realidade”, onde participou Francisco Gregório, coordenador da área de Teatro do Serviço Nacional de Teatro. Deste Seminário, sob a coordenação do SNT – foi tirado uma comissão provisória para instalar a Federação de Teatro, formada por Lindolfo Amaral, Jorge Lins de Carvalho, Aglaé Fontes de Alencar e Walkiria Sandes de Sá. Como resultado do trabalho desta comissão, em 27 de março de 1982, era finalmente criada a tão sonhada Federação Estadual de Teatro Amador de Sergipe (FETAS); tendo como filiados-fundadores os Grupos Imbuaça, Comunicativo D’Arte, União, Opinião e Raízes. Após a aprovação dos estatutos, a assembleia realizou sua primeira eleição e elegeu a diretoria da FETAS para o biênio 82/83, imediatamente empossada e assim constituída: Presidente: Lindolfo Alves do Amaral Filho (Grupo Imbuaça). Vice-Presidente: Maria Angélica de Gois (Grupo Raízes). 1ª Secretária: Maria Isabel Santos (Grupo Imbuaça). 2ª Secretária: Ana Virginia (Grupo Raízes). 1ª Tesoureira: Maria das Dores Santos (Grupo Imbuaça). Conselho Fiscal: José Alves do Amaral (Grupo Imbuaça). Jorge Lins de Carvalho (Grupo Raízes). Nivaldo Menezes (Grupo Opinião). Suplentes: Isaac Enéas Galvão (Grupo Opinião). Feliciano José dos Santos (Grupo Comunicativo D’Arte). Valmir Sandes de Sá (Grupo Opinião) (SANTOS, 1987, p. 1-2) 21.

A atriz Valmir Sandes, contudo chama a atenção para a produção do teatro sergipano, entre os anos de 1971 e 1981, a que se refere como “uma época de amor ao teatro, quando nos apresentávamos no Teatro Atheneu e nem pauta eles nos cobravam”

21 SANTOS, Luiz Carlos Alves dos. Diretor de teatro, ator, radialista e produtor cultural. Nesta tese, a

autora se referirá ao artista através de seu nome artístico: Luiz Carlos Dussantus. Entrevista concedida em 25.10.2012.

(SÁ, 2012)22. Por isso, Sandes reflete que o surgimento da FETAS foi positivo no sentido de viabilizar projetos teatrais, mas

A arte em si, caiu muito, porque os artistas começaram a se focar na questão financeira. O interesse de muitos passou a ser apenas o dinheiro. O interesse, de muitos é apenas o cachê, é teatro como emprego, mas é preciso amar o teatro. Nem todo mundo nasceu para fazer teatro e dizer um texto não é apenas fazer uma leitura em voz alta, é preciso muito mais (SÁ, 2012).

Por outro lado, Cicero Alberto sinaliza que a mentalidade do povo de Aracaju, de alguma maneira, modificou-se, com a chegada da Federação de Teatro Amador na cena sergipana.

Quando eu comecei a fazer teatro, na década de 1970, éramos vistos como veado e as meninas putas, depois éramos maconheiros, veado e puta. Veja bem, todo mundo naquela época era marginal. Já em meados dos anos 1980, começou a se reverter e as pessoas começaram a perceber que nosso próprio trabalho era organizado em Federação de Teatro Amador, começou a dar credibilidade a luta dos grupos para uma política cultural para o teatro, música e cinema. Começamos a aparecer, a qualidade do teatro começou a melhorar e mesmo assim não tinha público e acredito que até hoje sofremos desse mal (SANTOS, 2012) 23.

De 1982 até os anos de 1990, os artistas do teatro sergipano estavam atrelados à

FETAS. Jorge Lins24 informa que fundou o Sindicato dos Artistas/ SATED, na década

de 1990, tendo sido o seu primeiro presidente. Naquele período, precisava viajar com o Grupo Raízes pelo nordeste brasileiro e os seus atores precisavam ter o DRT, provisório ou definitivo. Portanto, a criação do SATED objetivava a profissionalização do ator sergipano.

A atriz Tetê Nahas observa que, “com a abertura política e a criação do Sindicato dos Artistas e Técnicos de Sergipe, o artista amador dá lugar ao artista

22 SÁ, Valmir Sandes de. Atriz e professora de teatro. Nesta tese, a autora se referirá à artista através de

seu nome artístico: Entrevista concedida em 11.12.2012.

23 SANTOS, Cícero Alberto Bento dos. Nesta tese, a autora se referirá ao artista através de seu nome

artístico: Cícero Alberto. Entrevista concedida em 14.12.2012.

24 CARVALHO, Jorge Lins de. Dramaturgo, diretor de teatro, produtor cultural. Nesta tese, a autora se

profissional” (SANTOS apud VIEIRA, 2010, p. 31) 25. Ela acredita, porém, que “os artistas passaram a se preocupar mais com os ganhos financeiros e menos com a formação. Os espetáculos passam a ser montados para gerarem lucros” (SANTOS apud VIEIRA, 2010, p. 31). Contudo, a afirmação da atriz não exclui a necessidade de recursos financeiros para gerir qualquer movimento teatral. Ao contrário, Nahas sinaliza para a importância de uma formação técnica vigorosa em que o artista possa se preparar cotidianamente para o devido conhecimento da sua arte teatral.