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CAPÍTULO I QUESTÕES DO APRENDER: CADA LUGAR NA SUA COISA

CAPÍTULO 3 A CENA TEATRAL SERGIPANA (COM ZOOM SOBRE ARACAJU): FORMAÇÃO E PRÁTICA ARTÍSTICA

3.1.7 Centro de Cultura e Arte/CULTART/UFS

O CULTART se encontra instalado na Av. Ivo do Prado, centro antigo, em um prédio datado de 1874, onde, até 1891, funcionou o orfanato Asilo Nossa Senhora da Pureza, que igualmente abrigou o Grupo Escolar Barão de Maruim e já na década de 1950 acolheu o prédio da Faculdade de Direito da UFS. Posteriormente, atrelou-se à Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da Universidade Federal de Sergipe, constituindo-se, ainda como um dos mais importantes espaços de convergência em que

a classe artística produziu formação e prática artístico-pedagógica na arte cênica sergipana.

Longe do vigor cultural outrora vivido, em nossos dias o CULTART sofre o abandono do histórico Teatro Juca Barreto, que se encontra desativado e abriga os ensaios do coral da universidade e as atividades administradas pela Divisão de Música e Artes Cênicas - DIMAC, e a Divisão de Artes Visuais - DIARVIS, assim como o trabalho artístico-pedagógico para a formação em pintura, desenho e cerâmica. Um tempo culturalmente aquém de um período mais rico, quando o espaço promovia o movimento cultural da Sexta D’Art e, consequentemente a apresentação de diversos artistas locais.

O Teatro Juca Barreto foi criado pelo Prof. Clodoaldo Alencar e pelo iluminador teatral Mendes Filho, vindo a funcionar, no espaço do CULTART, como um interessante local de encontro entre os artistas e a juventude sergipana de então. Amaral Cavalcante o elege como

Um teatrinho de bolso delicioso, com a caixa cênica, que tinha o essencial, né? E foi criado, quando a universidade desenvolvia uma importante ação cultural na comunidade. A universidade se desassociou completamente dessa extensão, que ela tinha com a cultura e a sociedade aracajuana. Aqueles eventos culturais do CULTART era muito importante para a cabeça da nossa geração, né? Porque, a gente se encontrava, era uma coisa muito saudável, eu pude assistir várias peças interessantíssimas, no Teatro Juca Barreto, que infelizmente a Universidade Federal deixou se acabar, né? O Juca se acabou e nós precisamos de Teatro de Bolso porque, hoje, o teatro é caro, fazer uma pequena peça, uma montagem, é caro. Mas, será que alguns grupos teatrais não poderiam ocupar aquele espaço, como o fez, no passado, o Grupo Teatral Imbuaça, quando chegou a ocupar aquela parte de baixo do porão, pra ali produzir seus vestuários, seus equipamentos de cenas? Mas isso tudo se perdeu, a universidade se dissociou completamente da vida cultural e artística (CAVALCANTE, 2013).

Contribuindo para a formação teatral em Aracaju, no final dos anos de 1970, sob a coordenação da Profa. Aglaé Fontes, a UFS criou um projeto denominado Bolsa/Trabalho/Arte, que era mantido pela FUNARTE e no CULTART se estabeleceu, abrindo inscrições para alunos da universidade que tinham interesse em realizar

pesquisas artístico-pedagógicas sobre a cena social sergipana. Fontes descreve que a iniciativa

Permitia ao bolsista trabalhar com várias vertentes de arte, né? Tinha área de música, área de teatro, área de pesquisa folclórica, de dança folclórica, tinha isso tudo. E então, com essa Bolsa/Trabalho/Arte, surgiu dois nomes que você já deve ter ai, que é o Imbuaça. Lindolfo Amaral entrou como bolsista, aqui, o bolsista fazia um projeto e desenvolvia o projeto. Essa experiência revelou muita gente boa aqui, descobriu o pessoal do Cata Luzes, na área de música, os irmãos de Amaral, de Lindolfo. E, na área de dança, é, Mariano, ai veio Jorge Lins que era bolsista e depois criou o Grupo Raízes, então, você vai vivendo, como essa formação embora fugaz que não era um curso formal, mas era um trabalho de a arte com orientação e metodologia, entendeu? Foi um projeto que abriu, assim, muito a cabeça, porque como não tinha escola formal, nem de música, na universidade que estou falando né, tinha escolas particulares, mas não tinha escola formal de arte na universidade. Esse Bolsa/Trabalho/Arte ajudou muito nessa formação que cada área tinha um coordenador, esse coordenador, eu mesmo, a gente fazia apostila, a gente fazia seminário, forma de estudar, porque eu sempre acreditei que talento só não faz ninguém. Aí, esse Bolsa/Trabalho/Arte é como se fosse um esboço de uma futura escola, entende? Só depois, a universidade criou o Campus das Artes em Laranjeiras. Eu fiquei na maior inveja porque eu já tinha saído da universidade, oh meu Deus, tanto sofrimento antes. Aí, veio também, via Universidade Federal de Sergipe, o Festival de Arte São Cristóvão. Vem muito disso, porque o que acontecia com festival de arte? A ideia do Festival de Arte foi de Núbia Marques e de Alencar, pra festejar o sesquicentenário da independência, e foi tão bom que aí ficou, ficou 35 anos. Era um lugar onde tudo isso, que o bolsa trabalho fazia que cada um: você é de música, você criava um grupo de música; você era de teatro, você também... começou a caminhar né, na verdade porque era uma espécie, era uma espécie de uma pré-formação, tá entendendo? Porque a gente fazia seminário, a gente, cada área, por exemplo, área de dança, estudava, tinha apostila, tinha isso, tinha aquilo, tinha aquilo, os projetos caminhavam. E o FASC era uma espécie de vitrine aonde esses grupos apresentavam seus trabalhos. Então, se apresentavam os grupos teatrais, Raízes, Mamulengo do Cheiroso, Imbuaça, Mambembe, entendeu? O festival era o momento de louvor, de celebração, de tudo que fez no ano (FONTES, 2013).

Seguramente, o projeto Bolsa/Trabalho/Arte se mostra como uma maneira da universidade contemplar a área das artes, principalmente, pela inexistência de cursos de arte no estado, o que, naquela ocasião e, por muito tempo depois, ainda provocava a

saída das pessoas para outras localidades, em busca de alternativas de formações teatrais não formais, como foi o caso de diversos artistas sergipanos, entres eles Bosco Scaffs, Luís Reis e Severo D’Acelino, que foi aluno da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia.

Tendo a prática artística como objetivo e levando-se em conta o fato de produções cênicas dessas pesquisas do projeto Bolsa/Trabalho/Arte se apresentarem anualmente no próprio CULTART e no Festival de Arte de São Cristóvão /FASC, Fontes considera que esse projeto foi a semente para o atual curso de teatro na UFS, mas lamenta que não tenha sido um bacharelado, ao invés de uma licenciatura, uma vez que os artistas sergipanos desejavam era aprender as especificidades da carpintaria teatral. Sobre essa questão ela pondera que

Repare bem, lá é licenciatura, então você está formando professor, né? Tem duas coisas assim: quando esses cursos foram criados eu estava me aposentando da universidade, mas eu dizia sempre, “oh, vocês vão abrir vários cursos de uma vez só?”. Porque eu achei que era muito curso de uma vez, eu tinha preferido, assim, bota dois, três, Não, mas eles abriram cinco cursos de uma vez só, na área de artes: dança, teatro, museologia, arquitetura e arqueologia. Então, porque, até o primeiro ano, colocava todos os alunos para fazerem o básico de artes em geral, né? (FONTES, 2013).

Quando se trata de formação teatral, a professora Aglaé Fontes se mostra preocupada com um tipo de prática em que um determinado grupo de atores se reúne e instala um curso de teatro, sem uma formação adequada para as especificidades da carpintaria teatral. Preocupada com a questão pedagógica, Aglaé Fontes sinaliza para o medo que sente para esse tipo de formação, porque é fundamentalmente importante que o indivíduo que esteja passando o conhecimento tenha as informações necessárias para tal tarefa.

Por exemplo, se o assunto é voz, é preciso ter alguém que trabalha a dicção, etc, eu acho que é uma coisa que você tem que ser especialista em voz, não pode ser alguém porque a pessoa é legal. Eu vi muito isso e ficava assim, meio desconfiada com o resultado daquilo. Eu digo muito, brincando, que aqui em Aracaju é o lugar do amanhecer. Você começa a pintar, daqui a pouco você só quer uma exposição sozinho, porque você é o artista. Você toma parte de um grupo de teatro, daqui a pouco você é o diretor, entendeu? Então, eu brinco muito com esta questão nossa, então esses cursos eram cursos assim ousados, vamos

dizer assim, que as pessoas não tinham essa informação toda, mas se arriscavam de ensinar ao outro que não tinha nenhuma (FONTES, 2013).

Por outro lado, Fontes reflete que, apesar da pequenez geográfica do estado de Sergipe e da lenda de que muitos sergipanos se sentem intimidados diante dos outros, justamente pela questão geográfica

Ao mesmo tempo eu percebo no sergipano uma ousadia do fazer, de meter a cara de fazer fazendo, e de ter até uma dignidade. Eu sinto essa dignidade e até de certo bairrismo, de gostar muito de Sergipe. Em meu caso, quando eu fui ministrar a minha primeira aula de música lá no curso da Bahia, era aluno do Brasil inteiro, eu tive medo, porque eu estava vindo de um estado pequeno. Mas eu tinha que cumprir a tarefa, então, veio esse sentimento, mas como teve a provocação não é, na mesma hora eu fiquei capaz, e eu nunca mais tive esse sentimento, nunca mais. Então, eu acho que a gente pode até achar que, em determinadas coisas, nós não estamos no nível tão desenvolvido. Não por incapacidade de fazer, mas talvez por espaço de fazer, e aí vem esse sentimento bom, eu quero provar que eu também eu sei, pode até alguém dizer “esse trabalho não presta”, mas eu vou. Acho que no teatro acontece muito, muito, muito, muito (FONTES, 2013).

A apreensão por algo mais consistente, em termos de formação teatral, sempre acompanhou a trajetória de vida e arte de Aglaé Fontes e, por isso mesmo, ela afirma que, no início dos anos de 1980

Quando eu era secretária de cultura e a gente tentou fazer um curso oficial de teatro, que funcionaria no espaço do CULTART ou o Centro de Criatividade, esse porque foi criado comigo, lá tinha curso livre de teatro, tinha curso livre de dança, de tudo isso, e aí fazendo esse negócio, a gente ia usar o espaço do centro, para aula, para tudo, mas a gente sonhou demais, e Maurício Cavalheira até morreu precocemente, né? Era um jovem maravilhoso, e a tese de mestrado dele foi muito em cima dessa ideia. Eu não sei se você conheceu Maurício Cavalheira. E aí, a gente queria fazer um curso aqui, Lindolfo me ajudou muito, a gente montou até uma grade, ajudada por Maurício Cavalheira, que era professor da Universidade Federal de Alagoas. E eu dizia que a gente pode fazer a base aqui em Sergipe, porque Sergipe está aqui no meio né? A gente pode trazer professores da UFBA, da Bahia, e professores UFAL, de Alagoas. Daí, quando eu vejo os cursos de arte funcionando na minha UFS, eu fico muito alegre porque a gente sonhou muito com essas coisas. Nós preparamos uma grade, ela foi aprovada mas, quando nós fomos estudar a demanda, o recurso que se ia aplicar nisso aqui, todo mundo ficou

com medo, inclusive eu, pela responsabilidade do meu cargo no estado. Porque, quando eu fui refletir como é que a gente ia alimentar essas pessoas, tinha que fazer convenio com a UFS, com a UFBA, pra poder você manter esse povo aqui. Então, Lindolfo fez levantamento de quantas pessoas tinham interesse, nem todo mundo queria fazer o curso. Porque também isso é uma característica nossa, daqui de Sergipe. Como muita gente já estava fazendo teatro e já participava de um grupo de teatro, entrar em um curso de teatro era meio que admitir que não sabia, era a pessoa admitir que estava fazendo alguma coisa e não tinha informação, tá entendendo? Isso acontece na área de artes plásticas, em teatro, em dança, em toda área. Quem já está em cima, não quer vim aqui fazer o curso, que todo mundo vai dizer: “oh, agora você tá junto nesse curso com fulano e fulano que não sabe nada?” Havia uma reação, sobre isso, e aí nós voltamos atrás dessa ideia maravilhosa (FONTES, 2013).

De toda maneira, além do projeto Bolsa/Trabalho/Arte, é importante que se diga que o CULTART/UFS também sediou outro espaço de formação teatral, o projeto artístico- pedagógico do Curso Livre Profissionalizante de Teatro/CPT, com duração de dois anos, tendo, na grade docente com vistas à formação teatral de novas gerações de atores, as presenças dos artistas Isaac Galvão, Olga Gutierrez, Cícero Alberto dos Santos e Walkiria Sandes, responsáveis que foram pelos primórdios da profissionalização de diversos artistas sergipanos.

Gutierrez alerta que o CPT foi “a primeira iniciativa de formalizar um curso de formação teatral mais extenso, de colocar disciplinas, com material didático, aulas teóricas e práticas, avaliação processual, até então as pessoas aprendiam fazendo”

(GUTIERREZ, 2013) 16. Isaac Galvão17, por sua vez destaca que durante os três anos

em que se deu o CPT, no CULTART, instituído como um Curso de Extensão, quando o Pró-reitor da UFS era Eduardo Oliva, era Avelar Seixas a pessoa responsável pela organização interna do curso.

A atriz Valkíria Sandes conta que foi trabalhar no CULTART, em 1971, no tempo que o CULTART ainda funcionava na Rua Itabaiana, “ainda não era ali na Rua da Frente não” (SÁ, 2013). Era a época de Albertina Brasil, a responsável pela execução do projeto do Festival de Artes de são Cristóvão: “Essa criatura era uma pessoa que

16 GUTIERREZ, Olga Maria Silva. Atriz, dançarina e produtora cultural. Nesta tese, a autora se referirá à

artista através de seu nome artístico: Olga Gutierrez. Entrevista concedida em 16.08.2013.

17 GALVÃO, Isaac Enéas. Diretor Teatral, ator, professor de teatro e gestor cultural. Nesta tese, a autora

gostava muito de arte, de uma cabeça, eu não sei não, uma inteligência igual àquela, ela morreu com quase noventa anos e trabalhando no MEC”, conta (SÁ, 2013).

No CULTART/UFS, já instalado na Rua da Frente, Sandes viveu uma interessante experiência profissional: “Essa gente que fez curso com a gente era uma turma boa, estão todos aí fazendo coisa boa e ensinando” (SÁ, 2013), comemora. Ela não sobreviveu apenas do teatro, uma vez que era funcionária da Universidade Federal de Sergipe, ainda no final dos anos de 1960. Aposentou-se na UFS, tendo sido, na década de 1980, diretora do Teatro Juca Barreto. Ela recorda que o funcionamento do teatro proporcionava um importante espaço de prática teatral, “era na época de Aglaé Fontes, era bom, porque no começo do ano, por exemplo, em meados de março, ela fazia uma Semana de Teatro, para a seleção das peças, do ano anterior, que iriam se apresentar no Festival de Arte de São Cristovão daquele ano” (SÁ, 2013), festeja com notória saudade.

Cícero Alberto destaca a grande contribuição de Lânia Duarte à frente do CULTART, em um período muito próspero, segundo ele, e, mesmo considerando que pode haver críticas quanto à sua administração, ele louva a capacidade de criação e liderança de Duarte.

Eu comecei a frequentar o CULTART, a partir de 1984, quando Lânia Duarte assumiu a sua direção. Um período muito rico em atividades, você entrava ali qualquer hora e tinha grupos ensaiando. Era grupo folclórico ensaiando, era gente dando aula de teatro (SANTOS, 2012)18.

Entre os alunos que participaram do curso de formação teatral, podemos citar César Leite, Stefany Teles, Andreia Vilela, Tiago Melo, Diane Veloso, entre outros. A atriz Stefany Teles conta que em 1993 participou do CPT e que o curso era organizado em módulos, sob a responsabilidade de professores/atores sergipanos, compromissados na formação teatral de futuras gerações de atores sergipanos. Entre eles, é fundamental que se apresente a atriz Olga Gutierrez, uma “professora de corpo, muito exigente, disciplinada, pontual, inteira nos exercícios e nas propostas de laboratório, muito

18 SANTOS, Cícero Alberto Bento dos. Dramaturgo, diretor de teatro, ator, professor de teatro e produtor

cultural. Nesta tese, a autora se referirá ao artista através de seu nome artístico: Cícero Alberto. Entrevista concedida em 14.12.2012.

interessante sua técnica de criação e interpretação” (BERNARDES, 2013) 19, destaca, acrescentando, ainda que a atriz Walkíria Sandes era uma “professora de voz, ela era taaaaaão doce e agregadora, fazia uns exercícios em círculos, muito legais, trabalhava com trava língua, essas coisas de voz” (BERNARDES, 2013).

De igual modo, ela revela que o ator Isaac Galvão era “aquele professor amigão, trabalhava com interpretação de exercícios itinerantes, já era um momento de contato com a emoção, com os sentimentos, com o autoconhecimento, aquelas descobertas dos primeiros momentos teatrais “(BERNARDES, 2013). E o ator e diretor Cícero Alberto, era ele “quem ficava com análise de textos, ele trazia o conteúdo da História do Teatro, ele era ótimo” (BERNARDES, 2013), conclui, com memória saudosa. Seu relato mostra que, ao final desse curso foi realizada uma montagem de Édipo Rei, texto de Sófocles, na área externa do CULTART, com cenário e figurino de Isaac Galvão e Cícero Aberto, “que se envolviam com tudo, desde texto até os adereços” (BERNARDES, 2013), lembra.

O depoimento de Stefany Teles me faz constatar que, de fato, o Curso Profissionalizante de Teatro/CPT, realizado no CULTART proporcionou um ambiente onde circularam conhecimentos variados sobre a carpintaria teatral e uma relação de saberes, entre alunos de teatro em formação não formal e professores/atores de teatro, todos formando uma importante referência artística daqueles anos de 1990. Foi uma geração que aprendeu a fazer teatro fazendo na prática e no exercício de oficinas específicas sobre o saber teatral e das montagens que produzia.

Destacou-se principalmente por conta de respeitáveis trabalhos teatrais, como a

emblemática montagem Esperando Godot, texto do irlandês Samuel Beckett, sob a

direção de Sidnei Cruz, tendo no elenco, além de Olga Gutierrez e Isaac Galvão, também a presença de Luis Carlos Dussustus e Luis Carlos Reis, atores na ativa do teatro sergipano daquela época. A encenação foi realizada no Teatro Juca Barreto e pode ser considerada um divisor de águas na história do teatro sergipano, especialmente pelo seu caráter inovador, naquele momento.

19 BERNARDES, Stephane Teles de Paula. Atriz, dramaturga e produtora cultural. Nesta tese, a autora se

Stefany Teles revela que a sua geração foi plateia desses atores que produziam a cena teatral sergipana de então, porque

A gente não tinha acesso a quem dirigia o ator Reis, eram artistas muito distante de nós. Eles eram intelectuais, professores da UFS, se reuniam em suas casas, bebiam vinho e conversavam entre eles. A academia era um sonho. Então, percebi que eu gostava de me colocar próximo a esse universo cultural sergipano e passei a frequentar os espaços sociais onde eles transitavam. Eu me lembro do grupo de Ilma Fontes, Amaral Cavalcante, Lu Spinelli, Antonio Leite, Davi Leite, Irineu Fontes, Pascoal Maynard e muitos outros. A experiência com a cultura teatral me levou ao contato com os recitais poéticos, em espaços alternativos da cidade, as Sextas D'Art, que aconteciam no CULTART, aos encontros no foyer do Teatro Atheneu, onde as pessoas ficavam conversando, antes das apresentações artísticas, mas onde os espetáculos eram caros e, consequentemente com a boemia aracajuana. Naquelas mesas de bares, entre eles o Gosto Gostoso, o Acauã, entre outros, onde eles falavam de todas as linguagens artísticas, era um grande transito de ideias. Nesse período, eu também via Aglaé Fontes com Isaac Galvão, no Al Bar, de Paulo Lobo, que ficava na rua Hermes Fontes, próximo ao viaduto (BERNARDES, 2013).

De todo jeito, as imagens trazidas por Stephane Teles e a sua memória permite compreender uma cena teatral aracajuana, uma teatralidade ancestral muito própria da cidade, de fato, teatral, pois que é mesmo a história teatral de uma cidade. Trata-se da memória de uma cidade em relação ao teatro que a sua sociedade produziu e formou cidadãos. Então, quem são esses cidadãos e o que eles estabeleceram como redes de