• Nenhum resultado encontrado

A produção de materiais primas a partir da base da indústria da reciclagem

A ESTRUTURAÇÃO RECENTE DA INDÚSTRIA DA RECICLAGEM

4.2. A produção de materiais primas a partir da base da indústria da reciclagem

No Brasil, a indústria da reciclagem vem se estruturando no contexto de políticas neo-liberais, arregimentando o trabalho sobrante dos mais diversos setores produtivos. Neste processo, milhares de catadores são (re)inseridos no conjunto de atividades que integram a base desta indústria.

Como foi visto no sub-capítulo anterior, o processo de reciclagem é geralmente apresentado como sendo dividido em três principais etapas. Porém, entende-se que a primeira etapa, chamada de “recuperação” deve ser repensada em relação ao que se define como “a reciclagem propriamente dita”, atribuída à terceira e última etapa, que é a de “transformação”.

Vejamos. Na etapa de “recuperação” são realizadas as atividades da catação (quando o catador “garimpa” os recicláveis em meio ao lixo) ou coleta seletiva (quando o catador recolhe os materiais recicláveis minimamente separados pela fonte geradora), separação dos materiais, denominada de triagem, sucedidas pelas atividades de prensagem e enfardamento, estas últimas condicionadas ao uso de equipamentos.

A segunda etapa é definida como “revalorização” dos materiais, através de beneficiamento com uso de equipamentos, resultando em produtos intermediários.

A terceira etapa corresponde à “transformação” dos materiais recicláveis, sendo considerada como a etapa da “reciclagem propriamente dita”, quando são finalmente transformados em novos produtos.

Porém, da forma como o processo de reciclagem está descrito, a indústria da reciclagem – a reciclagem propriamente dita- corresponde às duas últimas etapas, mais precisamente à terceira que é definida como processo de “transformação”.

Da forma como estas etapas estão apresentadas, o trabalho do catador que se concentra na primeira delas, aparece como muito distante, completamente apartado do processo produtivo que torna evidente na última das etapas.

Porém, é justamente na primeira etapa do processo de reciclagem que se realiza a base da indústria, e nela, a relação entre indústria e catador. De fato, aí ocorre a chamada “recuperação” dos materiais recicláveis, ou seja, a retirada dos recicláveis da condição de lixo, sendo esta a função elementar da atividade da catação ou coleta realizada pelos catadores. Ademais, quando os catadores procedem à triagem, à prensagem e enfardamento estão inseridos no processo de produção das matérias-primas. Isto porque o valor dos materiais recicláveis, em seu processo de transformação em matéria-prima, não advém somente da transferência do valor dos equipamentos aos produtos (basicamente do uso de prensas), mas porque em todas estas atividades existe o dispêndio, o consumo da energia vital dos próprios catadores. Ou seja, a transformação dos materiais recicláveis em matéria- prima se inicia no chão dos catadores, por isso estes territórios abrigam a base da indústria da reciclagem. Porque é parte integrante e profundamente contraditória da indústria, incrustada no circuito comercial, nos territórios empobrecidos, no urbano periférico – seja no centro ou na periferia propriamente ditos da metrópole.

As trocas comerciais realizadas no percurso que vai da catação, ou coleta (atividade que inicia a primeira etapa do processo de reciclagem, denominada de recuperação) à transformação do reciclável em novo produto (terceira e última etapa do processo de reciclagem), caracterizam-se como descontinuidades do processo global da reciclagem. Porém, estas descontinuidades são freqüentemente analisadas como rupturas no interior do processo de reciclagem, representadas pela intermediação dos comerciantes que se atravessam entre catadores e indústria.

Disto decorre a falta de compreensão, em alguns casos intencional, de que se trata tão somente de um único processo global.

Rodrigues (1996:183-184) já havia apontado para a “fragmentação” do processo de produção envolvido na reciclagem, sob outra perspectiva: não se

considera todo o circuito do produto: ora se analisa os resíduos de um tipo de indústria (mas em suas diversas etapas segmentadas) ora se analisa os resíduos do consumo.

São, de fato, etapas distintas, de certa forma descontínuas na passagem de uma para outra, mas não são rupturas. Trata-se etapas que se sucedem no processo de produção de matérias-primas, desde a base da indústria da reciclagem.

Ademais, a forma de organização do processo produtivo desta nova indústria está justamente relacionada com as condições de produção dos resíduos da sociedade do consumo. Vejamos. A produção dispersa dos materiais recicláveis não pode ser suprimida, posto que os resíduos do consumo, sobretudo o improdutivo, se faz presente em toda a extensão do espaço urbano. Porém, para que estes resíduos possam ser transformados em matérias-primas, devem passar por um processo de produção. E, para que a reciclagem se realize como processo produtivo, deve superar a forma dispersa da coleta ou catação para que, como qualquer outro processo produtivo, concentre-se em determinados pontos do espaço.

De um modo geral, o capital tem que superar barreiras espaciais para se reproduzir, sendo imprescindível a existência de “configurações espaciais fixas e imóveis” para sua reprodução, mais ainda quando se considera este ramo de atividade que é por natureza dispersa. De acordo com Harvey (2005:146):

o capital e a força de trabalho devem se reunir em algum ponto específico do espaço para ocorrer a produção. A fábrica é o ponto de reunião, enquanto a forma industrial de urbanização pode ser vista como a resposta capitalista específica à necessidade de minimizar o custo e o tempo de movimento sob condições da conexão interindústrias, da divisão social do trabalho e da necessidade de acesso tanto à oferta de mão-de- obra como aos mercados dos consumidores finais. (...) A capacidade de dominar o espaço implica na produção de espaço.

Em O Capital, Marx fala da “retransformação dos resíduos” como novos elementos da produção, quando disponíveis em abundância. O aproveitamento dos “resíduos” enquanto matéria-prima resulta em economia de custos com esta parte constitutiva do capital constante, e conseqüente aumento da taxa de lucro:

Toda essa economia, que se origina da concentração de meios de produção e de sua utilização em massa, pressupõe, porém, como condição essencial, a concentração e a atuação conjunta dos trabalhadores [cooperação], portanto combinação social do trabalho. (...) O mesmo é válido quanto ao segundo grande ramo da economia nas condições de produção. Referimo-nos à retransformação dos excrementos da produção, seus assim chamados resíduos, em novos elementos de produção, seja no mesmo, seja em outro ramo industrial; aos processos mediante os quais esses assim chamados excrementos são relançados no ciclo da produção e, portanto do consumo – produtivo ou individual. (...) É a abundância, correspondente a essa escala, desses resíduos que os torna novamente objetos de comércio e, assim, novos elementos da produção. Só como resíduos da produção em comum, e portanto da produção em larga escala, eles ganham essa importância para o processo de produção, continuam a ser portadores de valor de troca. Esses resíduos – abstraindo os serviços prestados como novos elementos da produção – barateiam, à medida que se tornam novamente vendáveis, os custos da matéria-prima, no quais sempre está calculado seu resíduo normal, ou seja, o quantum que acaba em média se perdendo em sua elaboração. A diminuição dos custos dessa parte do capital constante eleva portanto a taxa de lucro com dada grandeza de capital variável e dada taxa de mais-valia. (Marx, v.3, t.1, 1983: Pp. 62-63)

Com base nesta passagem de O Capital observa-se que o interesse maior do desenvolvimento da reciclagem diz respeito à possibilidade de aumento da taxa de lucro que resulta da economia em capital constante (parte circulante) para as indústrias consumidoras desta matéria-prima mais barata. Mas, do ponto de vista do seu processo de produção, pode-se observar algumas características da estrutura industrial, em termos de sua composição orgânica. Como a base desta indústria se realiza no urbano, o meio ambiente construído está diretamente implicado nisto.

Em Os limites do capitalismo e a teoria marxista114, Harvey dedica um capítulo desta obra para discorrer sobre O capital fixo (Capítulo 8 do referido livro), sobretudo com base nas obras O Capital e Grundrisse. O capital fixo enquanto uma das categorias relacionais dentro da produção do capital, a circulação do capital fixo e algumas de suas formas especiais de circulação, bem como suas relações com o

114

HARVEY, David. Los límites del capitalismo y la teoría marxista. Ciudad del México: Fondo de Cultura Económica, 1990. [1ª edição em inglês de 1982]

capital circulante são alguns dos temas aprofundados pelo autor115, culminando com o entendimento do ambiente construído para a produção, a troca e o consumo. Vejamos o esquema a seguir116, seguido de algumas passagens do texto de Harvey (1990):

Formas materiais Produção de mais-valia Movimento do capital

Edificações e equipamentos Infra-estruturas físicas

da produção CAPITAL CONSTANTE CAPITAL FIXO Matérias-primas

Materiais auxiliares

CAPITAL CIRCULANTE Força de trabalho CAPITAL VARIÁVEL

Fonte: Harvey (2005:212). Adaptação: Rosalina Burgos (2008)

115 Em primer lugar, puesto que el capital es definido como “valor en movimiento”, se deduce que el capital fijo también se debe considerar en esta forma. El capital fijo no es una cosa sino un proceso de circulación de capital por medio del uso de objetos materiales, como las máquinas. (...) Sólo los instrumentos de trabajo que se usan realmente para facilitar la producción de plusvalía son clasificados como capital fijo. (...) El capital fijo es, entonces, sólo aquella parte de la riqueza social total, la reserva total de bienes materiales, que se usan para producir plusvalía. La segunda característica que distingue al capital fijo es su peculiar “modo específico de valorización, en el modo de rotación [y] en el modo de reproducción” (Grundrisse, II, p.138). Esto liga la definición del capital fijo al proceso de rotación de otros elementos del capital constante, [pois] el tiempo de rotación no es homogéneo de ninguna manera. La distinción entre el capital fijo y el circulante, por tanto, en el primer caso es una mera distinción cuantitativa que “se solidifica” y pasa a ser una diferencia cualitativa a medida que se usan instrumentos de trabajo más durables (Grundrisse, II, pp.105-106). El capital fijo y el circulante se convierten entonces en “dos modos diferentes de existencia del capital”, que exhiben características de circulación muy distintas. (Harvey, 1990:211-212)

116 Las categorías del capital como “fijo” y “circulante” organizan nuestros pensamentos en formas

fundamentalmente diferentes a los implicados por las categorías de capital “constante” y “variable” (...). Ambos conjuntos de categorías tienen esto en común: se definen ‘dentro’ de la producción116. El capital en forma de mercancías o dinero está ‘en una forma que no es ni fijo ni circulante’. Puesto que todo el capital debe tomar la forma de dinero o mercancía en algún momento de su existencia, podemos deducir que la relación entre el capital fijo y el circulante así como la relación entre el capital constante y variable es ‘mediada’ por los intercambios de mercancías y dinero y modificada por la existencia del capital en estas otras formas (El Capital, II, pp.181-183). Sin embargo, dentro de la esfera de la producción podemos identificar ahora dos formas muy diferentes de conceptuar la forma orgánica del capital. (...)(Harvey, 1990:212-213)

Segundo Harvey (1990):

(...) La tarea que tenemos ante nosotros es llegar a entender los procesos de circulación del capital a través de la producción, por medio de los conceptos del capital fijo y circulante. (Harvey, 1990:214) Marx sostenía que “el capital fijo es premisa para la producción del capital circulante, lo mismo que el capital circulante lo es para la del capital fijo” (Grundrisse, II, p.140). Tanto las máquinas que se usan como capital fijo como los insumos del capital constante circulante son producidos en primer lugar por medio del uso del capital fijo y circulante (El capital, II, p.183). Además, como el capital fijo pierde su valor cuando no se usa, un flujo continuo de capital circulante – de fuerza de trabajo y materias primas – es una condición necesaria para la realización de su valor. (Harvey, 1990: 221) (...) la concepción de un ‘ambiente construido’ que funciona como un vasto sistema de recursos creado por los seres humanos, que comprende valores de uso cristalizados en el paisaje físico, que se pueden utilizar para la producción, el intercambio y el consumo (...) estos valores de uso pueden considerarse como precondiciones generales de la producción y como fuerzas directas dentro de ella. (...)

Os materiais recicláveis constituem matéria-prima para diversos ramos industriais, cujos produtos fabricados são constituídos por diferente tipos de materiais: plásticos, papéis, metais, vidros, para citarmos apenas os grupos principais. Enquanto matéria-prima, os materiais recicláveis constituem elemento do capital circulante no movimento do capital, ou ainda, são integrantes do capital constante no processo de produção do capital.

Porém, os materiais recicláveis só se tornam parte constitutiva do capital ao serem transformados novamente em matéria-prima. Misturados ao lixo, os materiais recicláveis não apresentam valor algum. Ao contrário! Na contabilidade das administrações públicas, do setor produtivo e do comércio, os resíduos sólidos significam custos caracterizados por taxas e gastos públicos e/ou privados na logística de disposição final do lixo. Neste sentido, perderam seus valores de uso e de troca. Porém, a partir do ato da catação (realizada pelos catadores que trabalham individualmente) ou da coleta seletiva (forma de atuação das cooperativas de reciclagem e de empresas de limpeza urbana que oferecem este tipo de serviço, e da qual faz parte a disciplina dos consumidores que separam na fonte os diferentes tipos de resíduos117), temos o início do processo de produção da matéria-prima

117

Rodrigues (1996:128-129) já identificava: a reciclagem passa para “dentro” das casas, mesmo que

provisoriamente, pois é necessário lavar alguns dos materiais, separá-los por tipo de material a ser reciclado.

“material reciclável” que, ao passar pelo processo de transformação se tornará “material reciclado”.

Ou seja, assim como foram produzidos anteriormente como matéria-prima que constitui os materiais recicláveis, estes deverão ser transformados novamente em matéria-prima (produto semi-elaborado ou intermediário)118 para o consumo produtivo, ainda que a matéria-prima original e aquela proveniente da reciclagem resultem de processos de trabalho e de valorização diferenciados. Vejamos o que Marx nos explica, em “O Capital”, a respeito da matéria-prima:

Se (...) o próprio objeto de trabalho já é, por assim dizer, filtrado por meio de trabalho anterior, denominamo-lo matéria-prima. (...) Toda matéria-prima é objeto de trabalho, mas nem todo objeto de trabalho é matéria-prima. O objeto de trabalho apenas é matéria-prima depois de já ter experimentado uma modificação mediada por trabalho. O meio de trabalho é uma coisa ou um complexo de coisas que o trabalhador coloca entre si mesmo e o objeto de trabalho e que lhe serve como condutor de sua atividade sobre esse objeto. (...) Exceto as indústrias extrativas, cujo objeto de trabalho é preexistente por natureza, como mineração, caça, pesca, etc. (...), todos os ramos industriais processam um objeto que é matéria-prima, isto é, um objeto de trabalho já filtrado pelo trabalho, ele mesmo já produto do trabalho. (Marx, v.1, 1983:150;152)

Devemos considerar que os materiais recicláveis contém trabalho pretérito, em relação ao qual a mais-valia já foi realizada, pois são produtos que foram comprados, consumidos e descartados após findar seu valor de uso e de troca. Ao serem reinseridos novamente na produção a partir da coleta ou catação, os materiais recicláveis são apresentados aos seus compradores como produto, em todas as etapas que integram o processo de reciclagem. No entanto, ao ingressarem novamente nas sucessivas etapas do processo produtivo como meios de produção, tornam-se novamente fatores objetivos do trabalho vivo.

Embora todo o fluxo do processo de reciclagem esteja direcionado à produção da matéria-prima como mercadoria a ser consumida produtivamente,

118

Um produto que existe numa forma pronta para o consumo, pode tornar-se, de novo, matéria-prima

de outro produto, como a uva torna-se matéria-prima do vinho. Ou o trabalho despacha seu produto em formas em que só pode ser usado, de novo, como matéria-prima. Matéria-prima nessa condição se chama produto semi-elaborado e seria bem denominada produto intermediário (...). Embora mesmo já sendo produto, a matéria-prima original pode ter que percorrer todo um escalão de processos diferentes, nos quais funciona sempre de novo, em forma cada vez mais alterada, como matéria- prima, até o último processo de trabalho que a expele como meio acabado de subsistência ou meio acabado de trabalho. (Marx, O Capital, v.I, p.152)

existem elos intermediários nos quais o material reciclável assume outras formas específicas.

Segundo Marx,

Um produto que existe numa forma pronta para o consumo, pode tornar-se, de novo, matéria-prima de outro produto, como a uva torna-se matéria-prima do vinho. Ou o trabalho despacha seu produto em formas em que só pode ser usado, de novo, como matéria-prima. Matéria-prima nessa condição se chama produto semi-elaborado e seria mais bem denominada produto intermediário, como, por exemplo, algodão, linho, fio, etc.(...) Vê-se: o fato de um valor de uso aparecer como matéria-prima, meio de trabalho ou produto, depende totalmente de sua função determinada no processo de trabalho, da posição que nele ocupa, e com a mudança dessa posição variam essas determinações. Ao entrar em novos processos de trabalho como meios de produção, os produtos perdem, por isso, o caráter de produto. Eles só funcionam agora como fatores objetivos do trabalho vivo. (Marx, v.1, 1983:152)

Assim, antes de se constituírem em matéria-prima, os materiais recicláveis adentram a esfera do mercado de recicláveis, no qual são trocados por dinheiro (moeda). Como toda mercadoria, os materiais recicláveis são produzidos em processos de trabalho com maior ou menor grau de produtividade, onde a valorização destes materiais acontece pelo dispêndio maior ou menor de força de trabalho e de instrumentos de trabalho interpostos entre o trabalhador e o objeto de trabalho.

Na base da indústria da reciclagem, os instrumentos de trabalho geralmente são produzidos e improvisados pelos próprios catadores, ou por seus exploradores diretos (comerciantes que atuam no setor), tais como carroças, sacos (para o transporte), tambores, mesas (para a triagem), além de balanças e prensas amplamente utilizadas nos locais com atividades de reciclagem, para citarmos apenas alguns. Assim, nas etapas que precedem a transformação final, os recicláveis já aparecem como produto intermediário (Marx, v.1, 1983:152).

Já para os recicladores, os materiais recicláveis são comprados como matérias-primas para a fabricação de produtos semi-elaborados ou intermediários,

em forma cada vez mais alterada, como é o caso da fabricação de flakes (flocos

plásticos), pellets (grãos plásticos) e fios sintéticos, agora destinados à fabricação de produtos variados, com destaque para a indústria têxtil.

Para a indústria produtora de mercadorias destinadas ao consumo final, os recicláveis são matérias-primas cujo valor, produzido e acumulado como resultado do processo de trabalho existente nos elos intermediários das cadeias produtivas, será cabalmente realizado através da venda dos mais diversos produtos no mercado consumidor, como “meio acabado de subsistência ou meio acabado de trabalho”.

Se há variação crescente dos materiais recicláveis (em forma cada vez mais alterada), e que se expressa na elevação dos preços em direção ao topo das cadeias produtivas, isto não corresponde exatamente, ou não somente, ao “valor agregado” em função do uso dos elementos constitutivos do capital fixo (incremento de edificações, maquinaria e equipamentos diversos). Neste caso, temos que considerar a maior produtividade do trabalho em direção ao topo das cadeias produtivas. Por outro lado, quanto mais se avança em direção à base da indústria da reciclagem, menor é a composição orgânica do capital. Mas este já é o universo dos comerciantes de recicláveis, no qual a indústria tem suas cadeias produtivas incrustadas.

Cadeias produtivas incrustadas no mercado de recicláveis, porque na

prática do comprar para vender mais caro que caracteriza o capital comercial119,

ocorre, simultaneamente, algumas das etapas iniciais do processo de reciclagem propriamente dito, ou seja, da produção da matéria-prima. Portanto, não se trata de simples “mudança de mãos” de um mesmo produto.

Na literatura sobre o tema, seja no âmbito da pesquisa científica ou nas notícias veiculadas pela mídia, não existe consenso acerca da definição de qual seja o nível de base das cadeias produtivas que integram a indústria da reciclagem. Aqui, compreende-se que o processo de trabalho realizado pelos catadores corresponde à