• Nenhum resultado encontrado

5.2. Milhares de catadores & toneladas de recicláveis

5.2.2. Catadores avulsos: estimativas

Ao analisar os dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico – PNSB (2000) do IBGE, o próprio Instituto POLIS – referência na divulgação de informações sobre os catadores em São Paulo, admite a dificuldade e mesmo a ausência de dados precisos sobre a coleta de recicláveis realizada por catadores:

(...) Quanto aos resíduos reciclados, apenas uma parcela mínima (não contabilizada na pesquisa por sua pequena dimensão) é coletada seletivamente e destinada para a reciclagem por meio de programas municipais. No entanto, na metodologia do IBGE não foi contabilizada a parcela de resíduos destinada para a reciclagem pelo trabalho desenvolvido pelos catadores em todo o país. É preciso que se realize este levantamento urgentemente. (...) Os dados oficiais sobre a quantidade de resíduos produzidos na cidade de São Paulo são aferidos com base nas informações de coleta e destinação de resíduo sob responsabilidade da Prefeitura141. (...) Quanto à questão social, que envolve a

presença de catadores de rua, um grande desafio é saber quantas pessoas estão atuando nesta área, conhecer seu perfil, saber quantos dentre eles são organizados e como atuam, identificar a cadeia de intermediários (que compram seus materiais) entre outras informações. (Grimberg, 2007: 12; 14)142

Na ausência de dados mais precisos sobre o número de catadores, Elisabeth Grimberg apresentou em 2004 a estimativa de cerca de 20 mil catadores para a cidade de São Paulo. Diversos documentos, textos acadêmicos e jornalísticos utilizam esta informação. Mas ao apresentar a metodologia utilizada, o próprio Instituto POLIS adverte sobre a necessidade de dados mais precisos:

(...) estimativas do Instituto Polis (amplamente adotadas pela mídia e pelo próprio movimento de catadores) apontam a presença de cerca de 20 mil catadores. Na falta de um censo que apure o número exato de catadores que coletavam materiais recicláveis nas ruas da cidade em 2004, o Instituto Polis construiu a seguinte lógica para estimar o número de pessoas atuando nesta atividade: dados da Secretaria de Serviços e Obras indicavam a redução de 1.300

141

Grifo nosso. 142

A autora apresenta dados da FIPE (2000) sobre População de Rua, em que dos 9.000 moradores de rua, 32,2% dos entrevistados realizavam atividade da catação (2898 catadores).

toneladas de resíduos coletados por dia entre o ano 2000 e 2004. Multiplicando- se estas 1300 toneladas por 30 dias (um mês) e dividindo este valor (39000 toneladas) por duas toneladas (média que um catador organizado coleta por mês) chega-se ao número de 19.500 pessoas sobrevivendo de materiais recicláveis em São Paulo. (Estes números estão sujeitos a revisões, a partir da realização de um levantamento mais preciso.) Segundo estimativas do Comitê de Catadores de São Paulo existe cerca de 70 a 96 entidades de catadores (cooperativas, associações, grupos), aproximadamente 3 mil pessoas atuando na cidade de forma organizada143. (...) A discrepância de informações entre as fontes disponíveis e a sabida precariedade do trabalho de catação apontam a necessidade urgente de o poder público realizar um inventário desta situação. (Grimberg, 2007:14-15)

A estimativa de 20.000 catadores existentes na cidade de São Paulo foi revisada em 2005 pela mesma autora, conforme divulgado no artigo “Queremos mostrar o trabalho organizado” publicado na Folha de São Paulo:

Elisabeth Grimberg, do Instituto Pólis e coordenadora geral do Fórum Lixo e Cidadania da Cidade de São Paulo, revisando a estimativa, chegou a 10,8 mil. Ela considerou 700 catadores trabalhando nas centrais de triagem da prefeitura, e 2.300 em cooperativas. Os outros são estimados com base na redução de lixo coletado em São Paulo entre 2001 e 2004, 39 mil toneladas por mês, excluindo o volume de lixo levado às centrais de triagem. O movimento dos catadores considera que um catador recolhe 200 kg por dia, ou 5.000 toneladas por mês. Dividindo o total de redução pelo total coletado por catador (39 mil/5.000), chega- se a 7.800 catadores avulsos. Com os 3.000 organizados, são 10,8 mil. Os 20 mil estão errados? Não, resultam apenas do uso de outros parâmetros. "Um avanço", avalia Grimberg, que reforça a necessidade de melhorar a contagem muito mais – daí a cobrança no documento dos catadores. Enquanto isso, esperam que as políticas públicas municipais cheguem à mesa de discussão.

(Folha de São Paulo, Cotidiano, 03/10/2005)

Com o novo cálculo, o número de catadores diminuiu em cerca de 50% em relação à estimativa anterior. Isso porque, ao manter o montante de 39.000 toneladas por mês e aumentar as 2 toneladas144 para 5 toneladas145 por mês, necessariamente o número total de catadores diminuiria...

Porém, ao se considerar a possibilidade de um montante maior de resíduos passíveis de serem reciclados (o que é comprovado pelos altos Índices de Reciclagem apresentados no Capítulo IV), pode-se chegar a um resultado bem

143 Grifos nossos.

144 Média que um catador organizado coleta por mês, cálculo feito pela autora com base nos valores das Centrais de Triagem da Prefeitura de São Paulo)

145 Ou seja, 200 quilos por dia, segundo o MNCR, quantidade aplicável aos catadores não organizados.

diferente. Inclusive admitindo-se uma variação na quantidade de material coletado pelos catadores, que pode ser inferior a 2 toneladas ou até superior a 10 toneladas por mês, conforme identificado em trabalho de campo realizado, respectivamente, na periferia distante (Subprefeitura de Itaim Paulista) e na região central de São Paulo (Subprefeitura Sé). Nesta última, alguns catadores declararam carregar até 700 quilos de material reciclável numa única viagem.

Ora, a estimativa do número possível de catadores não deveria ser feita em relação à variação (redução ou acréscimo) da quantidade de resíduos que é coletada pelo sistema oficial, mas em relação ao que não é coletado pelo mesmo. Mas como faze-lo, se este é justamente o universo do que se passa para além do setor formal, e sem dados disponibilizados por uma pesquisa oficial dedicada ao tema?

Diante da imprecisão dos dados disponíveis, optou-se por uma outra estimativa, calculada no contexto da Tese, segundo a qual pode-se considerar a existência de algo em torno de 40.000 catadores no Município de São Paulo. Destes, cerca de 38.000 catadores seriam avulsos, além dos já indicados 2.500 catadores organizados (“GT Coleta Seletiva” complementado pelos integrantes das Centrais de Triagem da Prefeitura). Ou seja, o dobro do que normalmente é admitido. Assim, optou-se em considerar a existência de algo em torno de 40.000 catadores, e não 20.000.

Esta estimativa contou com as seguintes informações principais:

1º) Estimativa do número de catadores existentes na região central, divulgado pelos fóruns de atuação no tema da gestão dos resíduos sólidos urbanos e pelo MNCR; 2º) Estimativa do número de catadores existentes no Itaim Paulista, divulgado pelo FOACRI (Fórum ambiental dos catadores do Itaim Paulista) e Câmara de Animação Econômica da Sub-Prefeitura;

3º) Número de “locais com atividades de reciclagem”, identificados no banco de dados da Supervisão de Vigilância em Saúde (SUVIS), a qual monitora locais vulneráveis ao mosquito da dengue. Estes são denominados pela SUVIS como “Pontos Estratégicos”. A pesquisa se restringiu apenas aos “Pontos Estratégicos” relacionados com atividades da reciclagem, e foram aqui denominados de “Pontos

de Reciclagem”146. Utilizou-se, primeiro, esta informação para as Sub-Prefeituras Sé e Itaim Paulista, e depois para todo o Município. Como já assinalado, a metodologia utilizada foi incluída nos ANEXOS da Tese, sob o formato de um Quadro com Notas explicativas (Anexo 13).