• Nenhum resultado encontrado

Como temos vindo a estudar, os dados pessoais em matéria tributária assumem uma importância fundamental na atividade da administração tributária, uma vez que permitem, através da sua recolha e do seu tratamento, a observação e a verificação das realidades tributáveis que ocorram no ordenamento jurídico-tributário, a fiscalização do cumprimento das obrigações tributárias - e, por conseguinte, o combate à evasão e a fraude fiscal -, bem como a realização dos valores de igualdade e de justiça fiscal.

A necessidade da cedência e da recolha dos dados pessoais tornou-se ainda mais evidente quando o legislador careceu de consagrar meios inspetivos que permitissem a fiscalização do cumprimento das obrigações tributárias instituídas com as reformas fiscais operadas nos anos 80132, as quais vieram conferir - através da atribuição da presunção de verdade - valor legal aos atos jurídicos de natureza fiscal praticados pelos privados. Em termos simples, estas obrigações declarativas e de informação permitiram que os dados cedidos e recolhidos pela administração tributária viessem colmatar as omissões dos atos dos privados (permitindo à administração tributária reagir em situações de incumprimento das obrigações tributárias).

No sistema tributário contemporâneo, os dados relevantes para efeitos fiscais são conseguidos principalmente através de duas vias, nomeadamente, através do cumprimento das obrigações acessórias de natureza declarativa e contabilista a que o sujeito passivo está adstrito, ou através das inspeções realizadas pelos orgãos competentes da Administração Tributária reguladas pelo RCPIT133.

A cessão dos dados pessoais em matéria tributária consubstancia-se na entrega unilateral - por via eletrónica ou em suporte papel -, de faturas e documentos que suportem determinados atos, dados e informações, permitindo deste modo a

132 Cfr. MARIA EDUARDA AZEVEDO, “As reformas fiscais portuguesas do século XX-Um enfoque analítico”…

op. cit. p.183; VITOR FAVEIRO, O Estatuto do Contribuinte… op. cit. p.53; Idem, O Estatuto do Contribuinte… op. cit. p.53; J. L. SALDANHA SANCHES, "A reforma fiscal portuguesa numa perspetiva constitucional”, in Ciência e Técnica Fiscal N.º354, Abril-Junho1989, Boletim da Direção-Geral das Contribuições e Impostos, Ministério das Finanças, Lisboa, 1989, pp.41-73.

133 Cfr. ANTÓNIO CARLOS DOS SANTOS, CLOTILDE CELORICO PALMA, “A Administração Tributária e

os sistemas de informação – entre transparência e proteção do sigilo fiscal”, in “Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal”, Ano 5, n.º4, inverno, Coimbra, 2013, p. 148.

91

observância dos deveres tributários em cumprimento dos atos que preencham determinado substracto factológico relevante para efeitos tributários.

Em direta contraposição, a recolha dos dados pessoais em matéria tributária surge através da fiscalização dos orgãos de administração tributária, visando principalmente a verificação das obrigações tributárias, bem como a prevenção de irregularidades e o combate à evasão e à fraude fiscal 134, podendo abranger as diligências que para tanto sejam consideradas necessárias (previstas, estas, nos artigos 63.º da LGT e 29.º do RCPIT).

Para além destes instrumentos, temos ainda, como fonte de dados e informações relevantes para efeitos fiscais, as denúncias efetuadas por qualquer pessoa considerada “terceira” à relação jurídica tributária(cf. artigo 70.º da LGT), a qual comporta um impulso processual que dará origem a uma série de atos de recolha de dados do denunciado, e que findará com uma decisão - baseada nas informações e dados recolhidos - por parte da Administração Tributária.

Também o intercâmbio de informação entre entidades públicas ou privadas, que a Administração tributária requeira no âmbito das suas funções, surge como fonte de dados pessoais em matéria tributária, na medida em que sejam requeridas para a prossecução da sua atividade principal, como é a busca da verdade material efetiva135.

Por último, também as trocas de informações com outros países ao abrigo dos instrumentos internacionais a que se encontra vinculado, tanto na OCDE como na União Europeia, nomeadamente, através do disposto no artigo 26.º da Convenção Modelo da OCDE, do Acordo modelo de 2002, dos vários acordos bilaterais sobre troca de informações existentes, da Diretiva da Poupança e dos mecanismos de assistência mútua e de cooperação administrativa136, constituem fontes de dados e informações em matéria tributária.

134 Cfr. ANTÓNIO CARLOS DOS SANTOS, CLOTILDE CELORICO PALMA, “A Administração Tributária e

os sistemas de informação – entre transparência e proteção do sigilo fiscal”… op. cit. p.148.

135 Cfr. ASSOCIAÇÃO PARA A PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE DA

INFORMAÇÃO, Transparência e sigilo na administração pública: a questão dos dados Fiscais, 2013, disponível http://www.apdsi.pt/uploads/news/id650/Tomada%20de%20Posição_GAN_APDSI_24%20de%20abril%202013.p df, consultado a última vez em 14/02/2016

136 Cfr. ASSOCIAÇÃO PARA A PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE DA

INFORMAÇÃO, Transparência e sigilo na administração pública: a questão dos dados Fiscais, 2013, disponível http://www.apdsi.pt/uploads/news/id650/Tomada%20de%20Posição_GAN_APDSI_24%20de%20abril%202013.p df, consultado a última vez em 14/02/2016

92

Pelo exposto, concluímos que a Administração tributária dispõe de um vasto arsenal de meios no acesso a dados e informações (com relevância para efeitos fiscais) dos contribuintes, os quais constituem meios necessários à prossecução das suas tarefas, nomeadamente, com o fim de conseguir um cruzamento das informações recolhidas a fim de conseguir um maior controlo e fiscalização do cumprimento - ou do incumprimento - das obrigações tributárias pelos contribuintes. Assim, será possível concretizar os valores de justiça e de igualdade fiscal, permitindo que cada contribuinte suporte a carga tributária que o legislador prescreveu e que justamente esteja subjacente à sua situação económica.

Verfica-se, deste modo, que o acesso a estes dados necessários para a concretização da eficácia do sistema de gestão fiscal pode ser conseguido através de várias prerrogativas concedidas à Administração, nomeadamente, através da ação voluntária do contribuinte (através da cessão dos dados e informações tributárias), até à recolha conseguida através da troca de informação com outras Administrações tributárias.

4. A “Recolha” e a “Cessão" como Formas de Recolha Administrativa de Dados

Documentos relacionados